As nuvens cobriam o céu noturno, encobrindo a lua, sinal de que a chuva era possível...
Desde o início do dia Nefestus sentira-se um tanto estranho. Não sentira fome, não sentira vontade de trabalhar, sentia, porém, um enorme vazio em seu coração. Não era amor, pois tinha certeza de que amava sua namorada Anne Laura e não a trocaria por nada neste munto, mas ainda assim... Algo faltava. Tivera febre alta não há muito, e algumas protuberâncias azuladas incomuns mostravam-se na face. Perambulando pelas ruas de Évora, notou que algumas crianças afastavam-se ou apontavam os dedos. Não tinha espelhos, não sabia qual o motivo, mas também não importava. Estava muito focado para dar importância a tais constatações. Talvez quem lhes desse espaço fosse seu inconsciente, que sem sua guarda arquitetava secretamente o maior de todos os seus planos. Dirigiu-se à paróquia. Observou os fiéis, o pároco, a água benta que usara muitas vezes para muitas coisas, a estrutura toda em si e então refletiu. Não precisou refletir muito até que houvesse um efêmero momento sem a presença de qualquer ser na igreja (inclusive Jah). Então refletiu com água benta em sua face (estava tomando sua bênção), note-se que ele estava num estado deprimente e com uma certa doença altamente contagiosa. Saiu na ponta dos pés sem que ninguém percebesse e então arrumou seus bens. Olhou de relance os seus dois campos, sua casa, as tavernas, ah, as tavernas... e então, no calar da noite, deixou sua povoação natal, não para mais uma de suas muitas viagens pelo reino, mas para uma última grande viagem, que não se limitaria aos limites portugueses. Visitaria muitos lugares e veria muitas culturas diferentes, faria amigos e inimigos, comeria coisas boas e más. Entretanto o destino principal, o seu destino, era o último local esperado, Roma.
Quem tem boca vai a Roma.
Quem tem a peste vai a Roma.
Chegando a Roma, Nefestus muito provavelmente já estava em estado avançado da peste negra e muito debilitado, inclusive transmitindo a pestilêncio a uma massa considerável da população, possivelmente o suficiente para eventualmente fazer ruir a cidade. Especula-se que Nefestus tenha feito muitas coisas antes de partir para o além, mas, apesar de suas aventuras, suas descobertas e seus feitos, o seu grande momento fatídico não poderia ser confundido. Diz-se que, em suas últimas horas, Nefestus arengou o povo que pôde e, com tochas, rumaram à sede da Igreja Aristotélica. Nefestus morrera feliz.