Sylarnash
Os dias sem que o Conde escrevesse no seu pequeno livro sucediam-se, o trabalho era verdadeiramente muito, o tempo para reflexão e planificação era de tal maneira escasso que pouco ou nenhum sobrara.
O Conde de Óbidos encontrava-se na sua residência em Aveiro, naquele momento tratava de alguns documentos da Real Chancelaria quando o seu fiel Senescal pedira licença para entrar e conversar um pouco. Como habitual, Sylarnash cedeu algum do seu escasso tempo para ouvir o velho mas fiel amigo.
- Senhor Conde, chego agora da praça. - disse Rodrigo - o Senescal, ao se aproximar e sentar-se - Surgiram alguns boatos de que...
Antes que conseguisse terminar a frase que iniciara, o conde interrompeu-o.
- Já sabes que se forem boatos sem sentido e criados apenas para ofender os envolvidos não estou interessado! - repetiu Sylarnash aquela frase que tantas vezes já a tinha dito
O Senescal sorriu e então retomou a palavra.
- Não se preocupe, verifiquei a veracidade deste boato e tudo aponta para que seja verdadeiro, e olhe que é grave, muito grave. - O conde abanou afirmativamente com a cabeça e então Rodrigo reiniciou a sua anterior frase - Como dizia Senhor Conde, surgiram alguns boatos de que o Parlamento estava sobre ataque.
O Conde abriu literalmente a boca, deixando cair o queixo perante as palavras daquele seu fiel amigo.
- Sobre ataque? - perguntou surpreendido - Trata-se de alguma força estrangeira? Algum grupo invasor?
- Não, não. Pelo que entendi trata-se de uma pequena revolta. - colmatou Rodrigo - Aparentemente os populares estão a incendiar os edifícios circundantes do Parlamento, inclusive Sua Majestade que inexplicavelmente se encontrava no meio da multidão foi atacada e não se sabe mais notícias sobre o seu estado.
Ao ouvir o último comentário, como se já não fosse grave o suficiente a existência de uma intenção de guerra civil, Sua Majestade estava envolvida e pior fora atacada. Sylarnash viu-se perdido, por momentos, nos pensamentos, após respirar fundo, demonstrando um ar composto por tristeza pelo sucedido e, ao mesmo tempo, aflição pelo monarca, retomou a palavra.
- É realmente uma gravíssima situação. É inconcebível que tal se tenha sucedido, o uso da força para o que quer que seja é inadmissível. - exclamou - Trata de enviar dois cavaleiros ao castelo afim de descobrir mais sobre o estado da Rainha, e tente-se também descobrir também como o Parlamento se aguenta, os Parlamentares não são militares, são políticos, o uso da força nada resolverá. - e acrescentou finalizando - Por mim os revoltosos seriam todos denunciados, e condenados por Alta Traição, é inconcebível que a discordância pelas acções dos eleitos leve a este tipo de situações.
Dito isso, Rodrigo saiu de imediato, deixando o Conde novamente enterrado em papelada, e dirigiu-se à Casa da Guarda da Residência em Aveiro afim de instruir dois cavaleiros para investigar sobre o sucedido.
#67 wrote:
Aveiro, 18 de Janeiro de 1461
Chegaram-me informações de que o Parlamento está sobre ataque, uma quase guerra civil contra os eleitos. Pouco tenho a dizer senão lamentar o sucedido e que as pessoas sejam incapazes de se revoltarem sem usar a força, o insulto, e a má educação.
O Fiel Senescal Rodrigo que ouvira e me transmitira esta situação contou ainda que Sua Majestade tinha sido atacada, pouco mais sei, apenas que um objecto foi atirado contra a mesma e que ela caiu inanimada no chão do terreiro junto aos revoltosos.
Espero que não passe de um acidente e que a Rainha recupere.
Mons. Dom Sylarnash Manuel de Albuquerque
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