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Vinho" - ouviu. A palavra, como um murmuro, percorrera o corredor e despertara Eudóxio que, cansado de nada fazer, vagueava pelo castelo perdido em pensamentos. Pensamentos esses que rapidamente se dispersaram ao ouvir a dita palavra. Não sabia quem a pronunciara, mas alguém o tinha feito. Avançou então até à sala mais próxima e começou a distinguir mais algumas palavras. Deparou-se com alguns seus familiares que falavam de um vinho especial que estaria escondido algures no castelo. E iam contando a lenda, acrescentando aqui e ali um ponto, como diz o célebre ditado sobre quem conta um conto. Eudóxio ouviu interessado e viu ali, naquela história, uma boa oportunidade de entreter os familiares enquanto ele próprio ia pensando no local onde poderia encontrar o tal prestigiado vinho.
Eles que se maravilhassem com a lenda... ele queria era o vinho!
E rapidamente tratou de pensar numa continuação:
O mercador ficou furioso e foi essa fúria que o ajudou a fazer o que faria momentos depois. A fúria juntamente com a experiência, claro está! Pois o Conde que encomendara o vinho não enviaria um simples mercador para transportar tão valiosa mercadoria. Longe disso! Joaquim era o seu melhor soldado. Era o elemento principal da sua escolta pessoal e sempre que tinha tarefas de maior exigência, o Conde, entregava-as a ele. Mas isto que sabemos nós, não o sabia o ladrão. Cometera o erro da sua vida, até porque tal erro não lhe permitiria cometer mais nenhum - sorriu -
pelo menos numa mesma vida mortal. Aproveitando a distracção do bandido, Joaquim conseguiu alcançar o velho punhal que trazia sempre consigo, escondido nas suas botas. Esse punhal tem uma história engraçada, sabem? Diz-se que lhe foi oferecida por um velho general otomano, não me recordo do seu nome, e que fora usado para matar um bastante temido corsário. Um tal de Barba Grisalha... Mas não nos desviemos da história! Onde ia eu? - levou a mão ao queixo e ficou a olhar para o ar por uns momentos -
Ahh... já sei! Ora bem, Joaquim alcançou o punhal e - Eudóxio parou de falar e serviu-se de água que ali estava pousada. Os Monfortes observavam-no impacientes e ele não conseguiu deixar de sorrir maliciosamente... Já os estava a conseguir prender à história. -
TAU! Espetou-o no pescoço do bandido que caiu morto no chão. Tinha-se livrado do ladrão, mas não podia prosseguir viagem... Não sem o valioso vinho!
Muito bem, conseguira entretê-los. Agora tinha de começar a tentar descobrir o dito vinho...
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