--Gwereg
[Em Gwened (Vannes)]
A carta tinha sido finalmente entregue, já nada prendia Gwereg a Vannes nem a Bernardo, apesar de aquele ainda definhar dentro do mosteiro, submetido aos desadequados tratamentos daqueles monges supersticiosos.
Tinham passado semanas desde que saíra de Broceliande e a ausência da pacatez do seu lar começava a afecta-lo, o bretão não gostava nada de Vannes nem das suas pessoas, achava-as arrogantes e desconhecedoras do verdadeiro significado da vida e do que as rodeava. "Eles olham mas não vêm", pensou ele em mais um passeio pelo mercado, Gwereg gostava de observar tudo em seu redor e tentar percebe-las, mas ali era impossível, era demasiado movimento, demasiado barulho e, acima de tudo, demasiada indiferença. "Não é este o meu lugar, se não fosse... aquilo... já teria partido há muitas luas", "aquilo" era o que ainda atormentava Gwereg, ele escondeu-o dentro da camisa... era uma coisa rara e valiosa, pudera muitos nobres ou cavaleiros ter algo de tal valor e por isso mantinha-a oculta. O bretão levava a mão ao peito com frequência, na ânsia de verificar se "aquilo" ainda lá estava.
Naquele dia dirigiu-se às docas, estavam a construir um barco novo e ele gostava de escutar os sons do mar e das gaivotas, algo que não havia em Broceliande e provavelmente nunca mais viria quando para lá voltasse. Os tufos de cabelo castanho do bretão eram um remoinho desordenado pelo vento e a barba deixara-a crescer, dava-lhe um ar temeroso, muito útil numa cidade grande e perigosa como Vannes. Sentou-se em cima de um caixote e observou os trabalhos na doca seca, entre os trabalhadores pareceu-lhe ver alguns dos guardas que acompanharam o senhor a quem entregara a carta, estavam a vistoriar os trabalhos daquilo que parecia ser mais um navio de guerra. O bretão desvalorizou tal constatação, assuntos náuticos era algo que não estava nos seus interesses embora gostasse de observar tudo, desde a forma como o esqueleto do barco era montada à colocação das tábuas exteriores e à sua "colagem" com uma espécie de cola resinosa. Aquele barco em particular já estava a ser construído há alguns dias, já tinha o esqueleto montado e os trabalhadores debruçavam-se agora nos trabalhos interiores, provavelmente a divisão do porão em camarotes para passageiros e também armazéns para guardar a comida e o material de guerra.
Entre berros cheios de brejeirices e guinchos de gaivotas o bretão levou a mão mais uma vez ao peito, olhou em redor a ver se havia alguém por perto, não detectou qualquer movimento suspeito, e decidiu retirar "aquilo" de dentro da camisa. Era um livro, o aspecto pisado da capa e as frágeis folhas de pergaminho do seu interior indicavam que era algo antigo... e valioso, na pele amassada pelo uso e pelo tempo lia-se "Priodas Llywelyn ap Gruffudd a Elinor de Montfort". Bernardo tinha-lhe roubado o livro quando viajaram em direcção a Vannes e Gwereg sabia o porquê daquilo, ele passou os dedos pelas frágeis páginas e folheou-as com cuidado, foram surgindo iluminuras e textos numa língua que não era nem bretão nem francês, a dada altura estancou numa imagem colorida que representava um casamento, entre os escudos presentes estava aquele que chamara a atenção de Bernardo, o mesmo que esvoaçava ao vento nas bandeiras dos guardas do barco.
- Leon arc'hant ar Moñforzh...
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A carta tinha sido finalmente entregue, já nada prendia Gwereg a Vannes nem a Bernardo, apesar de aquele ainda definhar dentro do mosteiro, submetido aos desadequados tratamentos daqueles monges supersticiosos.
Tinham passado semanas desde que saíra de Broceliande e a ausência da pacatez do seu lar começava a afecta-lo, o bretão não gostava nada de Vannes nem das suas pessoas, achava-as arrogantes e desconhecedoras do verdadeiro significado da vida e do que as rodeava. "Eles olham mas não vêm", pensou ele em mais um passeio pelo mercado, Gwereg gostava de observar tudo em seu redor e tentar percebe-las, mas ali era impossível, era demasiado movimento, demasiado barulho e, acima de tudo, demasiada indiferença. "Não é este o meu lugar, se não fosse... aquilo... já teria partido há muitas luas", "aquilo" era o que ainda atormentava Gwereg, ele escondeu-o dentro da camisa... era uma coisa rara e valiosa, pudera muitos nobres ou cavaleiros ter algo de tal valor e por isso mantinha-a oculta. O bretão levava a mão ao peito com frequência, na ânsia de verificar se "aquilo" ainda lá estava.
Naquele dia dirigiu-se às docas, estavam a construir um barco novo e ele gostava de escutar os sons do mar e das gaivotas, algo que não havia em Broceliande e provavelmente nunca mais viria quando para lá voltasse. Os tufos de cabelo castanho do bretão eram um remoinho desordenado pelo vento e a barba deixara-a crescer, dava-lhe um ar temeroso, muito útil numa cidade grande e perigosa como Vannes. Sentou-se em cima de um caixote e observou os trabalhos na doca seca, entre os trabalhadores pareceu-lhe ver alguns dos guardas que acompanharam o senhor a quem entregara a carta, estavam a vistoriar os trabalhos daquilo que parecia ser mais um navio de guerra. O bretão desvalorizou tal constatação, assuntos náuticos era algo que não estava nos seus interesses embora gostasse de observar tudo, desde a forma como o esqueleto do barco era montada à colocação das tábuas exteriores e à sua "colagem" com uma espécie de cola resinosa. Aquele barco em particular já estava a ser construído há alguns dias, já tinha o esqueleto montado e os trabalhadores debruçavam-se agora nos trabalhos interiores, provavelmente a divisão do porão em camarotes para passageiros e também armazéns para guardar a comida e o material de guerra.
Entre berros cheios de brejeirices e guinchos de gaivotas o bretão levou a mão mais uma vez ao peito, olhou em redor a ver se havia alguém por perto, não detectou qualquer movimento suspeito, e decidiu retirar "aquilo" de dentro da camisa. Era um livro, o aspecto pisado da capa e as frágeis folhas de pergaminho do seu interior indicavam que era algo antigo... e valioso, na pele amassada pelo uso e pelo tempo lia-se "Priodas Llywelyn ap Gruffudd a Elinor de Montfort". Bernardo tinha-lhe roubado o livro quando viajaram em direcção a Vannes e Gwereg sabia o porquê daquilo, ele passou os dedos pelas frágeis páginas e folheou-as com cuidado, foram surgindo iluminuras e textos numa língua que não era nem bretão nem francês, a dada altura estancou numa imagem colorida que representava um casamento, entre os escudos presentes estava aquele que chamara a atenção de Bernardo, o mesmo que esvoaçava ao vento nas bandeiras dos guardas do barco.
- Leon arc'hant ar Moñforzh...
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