Ana.cat
[Fevereiro - Algures no Golfo de Biscaia]
No castelo da popa o forte vento batia frio e implacável nas faces rosadas da Monforte.
Ana Catarina estava bem agasalhada com peles e lãs quanto baste, apesar disso sentia-se gelada e entorpecida, os ventos frios não cessavam e a sua força aliada à direcção pouco consistente atrapalhavam as manobras do Arminho. No mesmo dia tanto podiam ter umas horas de ventos favoráveis como em escassos momentos esses ventos tomavam outra direcção e desencaminhavam o enorme navio de guerra da sua rota. A cada dia que passavam no alto mar mais se distanciavam do Lusitano comandando por Kokkas.
- Estas velas quadradas... a minha vontade era rasga-las ao meio e fazer duas latinas! - resmungava frequentemente a Monforte, ao ponto de se tornar maçadora para quem a acompanhava.
- Vossa graça - era um marinheiro - o capitão Hijacker vai-se retirar para a sua camarata, pediu-me para a avisar disso, para que podeis tomar o seu lugar no turno da noite.
A Monforte encarou o jovem moço, tremia que nem varas verdes com o vento forte e gélido a bater-lhe no peito quase descoberto, protegido por uma camisa de lã gasta e pouco útil para aquele tempo agreste.
- Vou já, ajudai-me a descer que este frio deixa-me os ossos entorpecidos! E a idade também não ajuda nada... - acrescentou num suspiro.
Os dois desceram do castelo da popa e estacaram diante da cabine do capitão, aí o marujo foi dispensado e voltou para os seus trabalhos a bordo, já a Monforte entrou na cabine e debruçou-se sobre a mesa dos mapas, iluminada por duas lamparinas de azeite.
A condessa puxou um dos mapas para si e baixou a lamparina pois a noite já começava a cair e ali a luz era escassa. Pelos seus calculos o Arminho estaria algures no meio do Golfo de Biscaia, apesar de não saber ao certo a posição do navio sabia qual a direcção a seguir: sudoeste, sempre sudoeste até avistarem a costa galega.
Por mais alguns momentos a Monforte continuou no gabinete a comparar mapas e a tirar apontamentos sobre as condições atmosféricas, os ventos, o ciclo da lua e a posição dos astros. Finalmente estava a fazer uso dos conhecimentos de astronomia que adquirira antes da viagem através de velhas sebentas manuscritas referentes aos tratados dos grandes mestres gregos.
Quando a noite já ia alta decidiu sair da cabine para espreitar o céu, estava algo nebuloso, mas a estrela polar era visível. Com o auxílio de um marinheiro que elevou o quadrante ao nível da cabeça e o apontou na direcção daquele luminoso astro, a Monforte rabiscou mais algumas notas que lhe davam mais garantias das posição do navio e das suas coordenadas.
- Ainda estamos longe... temo que só daqui a cinco ou sete dias avistaremos a costa da Galiza ou na pior das hipóteses, as Astúrias.
A resignação era visível na face da condessa, aquele de facto não era um navio para grandes viagens ou travessias, o seu destino era outro... ela sabia isso.
E horas depois, quando o imediato surgiu para receber as ordens, estas foram-lhe transmitidas e a Monforte tomou a pena e o pergaminho nas mãos pela última vez. N'ele escreveu um apressado recado para Hijacker, que iria tomar o seu posto, mal a manhã despontasse:
No castelo da popa o forte vento batia frio e implacável nas faces rosadas da Monforte.
Ana Catarina estava bem agasalhada com peles e lãs quanto baste, apesar disso sentia-se gelada e entorpecida, os ventos frios não cessavam e a sua força aliada à direcção pouco consistente atrapalhavam as manobras do Arminho. No mesmo dia tanto podiam ter umas horas de ventos favoráveis como em escassos momentos esses ventos tomavam outra direcção e desencaminhavam o enorme navio de guerra da sua rota. A cada dia que passavam no alto mar mais se distanciavam do Lusitano comandando por Kokkas.
- Estas velas quadradas... a minha vontade era rasga-las ao meio e fazer duas latinas! - resmungava frequentemente a Monforte, ao ponto de se tornar maçadora para quem a acompanhava.
- Vossa graça - era um marinheiro - o capitão Hijacker vai-se retirar para a sua camarata, pediu-me para a avisar disso, para que podeis tomar o seu lugar no turno da noite.
A Monforte encarou o jovem moço, tremia que nem varas verdes com o vento forte e gélido a bater-lhe no peito quase descoberto, protegido por uma camisa de lã gasta e pouco útil para aquele tempo agreste.
- Vou já, ajudai-me a descer que este frio deixa-me os ossos entorpecidos! E a idade também não ajuda nada... - acrescentou num suspiro.
Os dois desceram do castelo da popa e estacaram diante da cabine do capitão, aí o marujo foi dispensado e voltou para os seus trabalhos a bordo, já a Monforte entrou na cabine e debruçou-se sobre a mesa dos mapas, iluminada por duas lamparinas de azeite.
A condessa puxou um dos mapas para si e baixou a lamparina pois a noite já começava a cair e ali a luz era escassa. Pelos seus calculos o Arminho estaria algures no meio do Golfo de Biscaia, apesar de não saber ao certo a posição do navio sabia qual a direcção a seguir: sudoeste, sempre sudoeste até avistarem a costa galega.
Por mais alguns momentos a Monforte continuou no gabinete a comparar mapas e a tirar apontamentos sobre as condições atmosféricas, os ventos, o ciclo da lua e a posição dos astros. Finalmente estava a fazer uso dos conhecimentos de astronomia que adquirira antes da viagem através de velhas sebentas manuscritas referentes aos tratados dos grandes mestres gregos.
Quando a noite já ia alta decidiu sair da cabine para espreitar o céu, estava algo nebuloso, mas a estrela polar era visível. Com o auxílio de um marinheiro que elevou o quadrante ao nível da cabeça e o apontou na direcção daquele luminoso astro, a Monforte rabiscou mais algumas notas que lhe davam mais garantias das posição do navio e das suas coordenadas.
- Ainda estamos longe... temo que só daqui a cinco ou sete dias avistaremos a costa da Galiza ou na pior das hipóteses, as Astúrias.
A resignação era visível na face da condessa, aquele de facto não era um navio para grandes viagens ou travessias, o seu destino era outro... ela sabia isso.
E horas depois, quando o imediato surgiu para receber as ordens, estas foram-lhe transmitidas e a Monforte tomou a pena e o pergaminho nas mãos pela última vez. N'ele escreveu um apressado recado para Hijacker, que iria tomar o seu posto, mal a manhã despontasse:
Quote:
- Capitão,
Deixei assinalada no mapa a nossa provável localização.
P'los meus cálculos devemos estar entre X = 188 / Y = 91 e X = 190 / Y = 93.
Já perdemos o Lusitano de vista.
E nas costas da nota outro rascunho era perceptível:
Quote:
- No mar revolto eles se ousaram lançar,
Co a esperança de à ingrata terra regressar.
P'la Honra em terra remota foram lutar,
Para os ancestrais laços de sangue dignificar.