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Malo Mori Quam Foedari (Antes a Morte que a Desonra)

Ana.cat
Aquela noite tinha sido um tormento para Ana Catarina, não conseguira dormir quase nada devido aos festejos da tomada de Tours, a condessa acordara (pensava ela que acordara, na verdade nem pregou olho...) com um péssimo humor que se explicava não só com a falta de sono mas também com o frio intenso que ainda se fazia sentir.

- P'las barbas de Aristóteles - praguejou entre dentes - Sois vós homens-de-armas ou menestreis?! - inquiriu num tom rude a um grupo de soldados que cantava à entrada da sua tenda, eles pareciam desorientados - Ide lavar-vos à ribeira, ninguém aguenta este fedor a álcool, até o próprio Baco cairia para o lado!

A outro soldado que se segurava a um poste para vomitar enquanto segurava um companheiro pelo braço a Monforte brandiu:

- Largai esse poste e pegai em armas, foi para isso que vos trouxeram aqui! Que diriam os vossos compatriotas se vos vissem nesse estado? Sois a vergonha da Armórica! Onde estai a vossa honra?! Ide-vos!

Ana Catarina voltou à sua tenda para colocar a capa aos ombros, Filipe já se encontrava a pé e foi para ele que endereçou os seus queixumes.

- Já vides isto?! Em vésperas de entrarem em combate decidem armar um festival... queria ver se o inimigo nos flanqueasse enquanto eles se divertem e se enchem de vinho que nem odres rotos...

Duplamente agasalhada a Monforte saiu da tenda e foi tratar dos seus afazeres.

    * * *

Corria o final da manhã, os soldados já tinham retomado aos seus postos, no entanto muitos ainda sofriam os efeitos da ressaca e exaustão do dia anterior.
Ana encontrava-se junto a Meerclaw de Montfort a dar-lhe conta dos viveres existentes, era necessário uma reposição urgente pois estes começavam a esgotar-se.
Então, um batedor a cavalo invadiu o acampamento gritando à sua passagem e espalhando o alvoroço entre os soldados.


- Eles vêm aí! - gritava ele - Eles estão a compor as tropas, não tardará a sermos atacados! Pegai em armas irmãos!

A mensagem rapidamente se espalhou pelo acampamento, de todos e para todos os lados corriam soldados desnorteados a equipar as suas armaduras e a pegarem em armas. Nem Ana conseguia perceber ou ter voz sobre o que estava a acontecer. Não tardou a soar o habitual toque de alvorada, mas desta vez para chamar a atenção dos soldados. O efeito foi o pretendido... os soldados pararam para escutar os seus líderes, e ali mesmo ordens foram dadas a cada contingente. Naquela mesma tarde barricadas foram grosseiramente montadas em locais estratégicos e o acampamento abandonado, os soldados ocuparam uma colina, dali iriam esperar e atacar os exércitos reais franceses.
Ana mal tivera tempo para se preparar, vestira as principais peças da armadura e montara a sua égua com uma velocidade e força que ela já duvidava ter. No dude da colina, acompanhada pelos restantes cavaleiros do seu contingente, esperou por ordens à medida que via ao longe as tropas francesas progredirem no terreno. A noite estava calma, apesar das dificuldades... mas a próxima manhã iria ser banhada em sangue...


    * * *

A trombeta da alvorada soou entre as tropas... a noite tinha sido dura, o acampamento tinha ficado para trás e apesar de já não nevar nem estar tanto frio poucos tinham conseguido dormir bem. À frente de todos as tropas francesas ocuparam os seus lugares, eram em grande número, como seria de esperar. Pareciam bem equipadas e alimentadas, ao contrário das tropas do Ponant, onde a comida começava a escassear e a forma física dos soldados não era com certeza a melhor. Avizinhava-se uma luta renhida...

Os franceses foram os primeiros a ter a iniciativa, muito provavelmente tiveram conhecimento da exaustão dos soldados do Ponant, lançaram a sua cavalaria sobre a infantaria de um dos flancos que, apesar da sua resistência, não demorou a sucumbir. Os generais Ponant responderam com o ataque de um dos flancos que ficara mais exposto... e assim continuou a batalha, com ataques de parte a parte, sem que nem Ana nem o seu contingente fosse chamado a intervir. A Monforte sentia-se impotente perante aquela carnificina e para piorar nenhum dos lados parecia estar em vantagem...

Mas não tardou muito a que fossem chamados, era necessário quebrar uma das frentes que impedia o avanço da infantaria do Ponant. Nada melhor que a cavalaria pesada para resolver o dito problema.
Repentino o ritual de Poitiers (como convém a uma supersticiosa convicta) a Monforte elevou bem alto o seu estandarte, foi seguida por outros cavaleiros e nobres da Bretanha que fizeram o mesmo para trazer a honra às suas armas e mostrar confiança ao inimigo e aos seus soldados.


- P'la Bretanha! P'la honra, e que nesta nunca caia a mais impura das nódoas! Por Montfort, antes a morte que a desonra!!! - gritou por fim enquanto picava a égua para que esta ganhasse velocidade e se dirigisse à frente pretendida...

Depressa foi seguida pelos restantes cavaleiros, que pegando nas suas armas as colocaram em riste, prontas a trespassarem corpos ou cortarem algumas goelas impuras...
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Hijacker
Na linha da frente junto a Ana, Hijacker levara de novo o seu machado de guerra franco. Este tinha sido afiado por um ferreiro da cidade e estava em óptima condição para combater.

Empunhando bem alto Hijacker ouve Ana a gritar o seu leva e a arrancar a toda a velocidade para a frente da batalha. Sem perder tempo este pica também o seu cavalo e parte velozmente para a batalha.

Agarrando um pendente que tinha da sua falecida amada Tery, Hijacker pede uma ultima protecção a Jah... E sem medos avança confiante para mais uma batalha pela liberdade.

Os inimigos eram muitos e bem armados, provavelmente os mais bem armados que tinham defrontado ate agora... Era preciso mais precauções desta vez... Após cavalgar a toda a velocidade a frente do Ponant embate ferozmente na linha de infantaria francesa.. Podia se ouvir o sol das espadas e escudos a colidirem... O ensurdecedor som do metal a colidir era aterrador até para os mais experientes combatentes... Hijacker no cimo do seu cavalo mais uma vez ergue firmemente o seu machado e prepara se para disferir um golpe... Avistando um soldado francês na sua rota Hijacker ajusta o seu cavalo para perto dele e balança a toda a força o seu machado gritando


- Por Montfort


Acertando em cheio na cabeça do soldado com o seu machado Hijacker derrubou o seu primeiro da batalha... O impacto tinha sido de tal ferocidade que até helmo do soldado saltara...

A batalha estava agora numa fase em que no cimo de um cavalo se era um alvo fácil, e ao mesmo tempo, era difícil manobrar por entre os corpos dos já abatidos e a imensidão de soldados de ambas as partes...

Nisto Hijacker retira o seu escudo da sela do seu cavalo e desmonta, continuando a pé com o seu machado e escudo...

Esta batalha estava a ser a mais sangrenta e aterradora que alguma vez vira, era impressionante a quantidade de soldados e a ferocidade com que os mesmos arriscavam a sua vida por a causa em que acreditavam...

Com o seu machado Hijacker foi derrubando mais alguns soldados franceses, mas, sem a inercia do cavalo desferir um golpe rápido e certeiro tornava se muito mais complicado, e rodeado de inimigos ser rápido era a palavra do momento, quem, não se conseguisse defender rapidamente e desferir no mesmo instante um golpe estava em risco de ser mais um dos que ficaria naquele mar de sangue a que chamavam campo de batalha...

Tentando manter a defesa elevada para que não lhe fosse disferido um golpe sem aviso Hijacker ia ripostando o melhor que podia... Num olhar rápido para o lado vê o seu irmão Spot rodeado de 2 inimigos e sem apoio... Hijacker nunca chegaria a tempo de o ajudar, mas tinha na sua mão a única coisa que o podia salvar...

Deitando o seu escudo para o chão agarrou no seu machado com as duas mãos inclinando se um pouco para trás e inclinando o machado para trás da sua cabeça Hijacker reúne todas as suas forças e arremessa o seu machado com toda a força em direcção aos soldados que estavam preste a matar Spot...

Esta táctica era muito usada pelos soldados Francos, o seu arremesso de machados era conhecido e temido por toda a Europa.... Embora Hijacker apenas tivesse treinado durante alguns dias que tinham estados parados...

Tenha sido do treino, ou as mãos de Jah a guiar o machado, a verdade é que este se foi direitinho enterrar se no peito de um dos soldados franceses... Deixando o deitado no chão com o machado enterrado no peito... Enquanto que o outro soldado e Spot ficaram a olhar aterrados sem saber de onde tinha vindo tal golpe...


- Spot não fiques a olhar aproveitar para matar o outro!!


Gritou Hijacker enquanto apanhava o seu escudo do chão... Spot meio desnorteado desfere com a sua espada o golpe sobre o francês que lhe apanha o braço e o deixa incapacitado..

Levantando se com o seu escudo Hijacker olha para Spot e vê o a apontar para algo com um ar aflito... Mas antes que Hijacker pudesse virar para ver...

Sente um enorme frio, e uma enorme dor por baixo do seu braço esquerdo ao mesmo tempo que um forte impacto o derruba para o chão... A ultima coisa que este consegue ver é Spot a correr na sua direcção... Depois disso tudo ficou escuro.

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Filipesilva


O choque da cavalaria portuguesa e bretã contra a infantaria francesa fora brutal. As linhas da infantaria ficaram de imediato desfeitas e gerou-se a confusão total, o que trouxe vantagem à cavalaria que podia tirar partido da sua vista privilegiada sobre o campo de batalha para se orientarem e coordenarem. Por entre este cenário, Filipe, que ainda tinha o braço direito ressentido do golpe que tinha sofrido na última batalha e que ainda tinha fresca na memória a agonia de ficar longe da sua esposa, decidiu que desta vez se manteria perto da família a dar-lhes cobertura.

Os inimigos surgiam de todos os lados, obrigando o conde a desferir golpes à esquerda e à direita. A cada golpe desferido, à espada parecia ficar mais pesada, em parte devido ao seu ferimento, mas isso não demoveu Filipe. Aproveitando um breve instante sem inimigos por perto, este olha em seu redor, analisando o campo de batalha à procura de oportunidades, quando repara numa brecha por entre as fileiras de infantaria francesa naquele flanco. Filipe faz de imediato sinal à Ana indicando-lhe o que tinha descoberto. Um ataque rápido de cavalaria por aquela brecha permitiria causar sérios danos aos arqueiros franceses. Estes tinham pouca ou nenhuma armadura, o que fazia deles alvos fáceis para a cavalaria, motivo pelo qual dependiam das linhas de infantaria para se defenderem.

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Ana.cat
O inimigo estava bem colocado no terreno, à sua frente Ana Catarina viu-os tomarem as suas posições de combate, era aterrador vê-los esticarem os piques na sua direcção, à velocidade a que a cavalaria bretã se precipitava para cima da infantaria não seria preciso muito para aquelas lanças longas e pesadas perfurarem a armadura de qualquer cavaleiro e lhe trespassarem as entranhas. Ana Catarina sabia do risco que corria, mas aquela não era definitivamente altura para parar e pensar se iria ter a sorte de passar entre as pontas dos piques. Era algo que não se podia adivinhar pela matemática ou probabilidades. A Monforte ainda picou a égua com mais força, preparou o escudo para o embate e esticou a lança com o estandarte das suas armas familiares.
O choque foi terrível, de um momento para o outro gritos estridentes ecoaram nos ouvidos da condessa, era impossível ignorá-los. Por ajuda divina ou simplesmente sorte Ana passou ilesa entre os piques franceses. Quando percebeu que o pior tinha passado lançou-se com toda a força e tenacidade que a idade lhe ainda lhe providenciava contra os nebisinos, tal como na batalha anterior foi com a lança que provocou as primeiras mortes, no entanto à medida que se metia pela coluna francesa adentro o espaço necessário para o manuseamento da lança começava a escassear. Ana decidiu então desembainhar a espada e continuar a lutar com ela. Golpe atrás de golpe as vítimas sucediam-se aos seus pés, nunca como antes ela cortou tanta goela em tão curto espaço de tempo. Não havia mãos a medir era necessário abrir aquela formação e fazer o máximo de estragos possíveis para os desorganizar, pois logo de seguida cairiam sobre eles a cavalaria ligeira que se encarregaria de neutralizar os sobreviventes, a sua agilidade e menor peso, em comparação com a cavalaria pesada, dava-lhe uma mobilidade muito superior àquela, o que fazia dela ainda mais mortífera e perigosa.

Soou então uma trombeta vinda do campo das tropas do Ponant, era o sinal para que a cavalaria pesada recuasse e desse lugar à ligeira, para que esta pudesse acabar o serviço iniciado pela primeira. Ana Catarina assim que ouviu o sinal recuou até ao sítio onde deixara o seu estandarte espetado na terra e ergueu-o bem alto para avisar os restantes cavaleiros que era hora de voltarem à sua posição inicial. A condessa preparava-se para picar a égua em direcção ao campo do Ponant quando, sem que pudesse prever, um soldado vindo de um dos flancos esticou o seu pique na direcção de Ana, por escassos instantes os olhares dos dois coincidiram, a condessa notou no ódio que aquele francês emanava do olhar como se fosse um relâmpago prestes a fulmina-la. Com um movimento rápido de pés conseguiu controlar a sua montada e escapar da ponta da lança, no entanto aquela ainda penetrou com gravidade no lado esquerdo da sua égua, fazendo com que aquela caísse por terra. Ana não se conseguiu segurar e rebolou pelo chão, ficando à mercê do francês.

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Eudoxio


Ao contrário dos dias anteriores, Eudóxio, naquele momento, prestes a participar pela primeira vez numa batalha, não sentia medo. Sentia-se cheio de energia e esperava, impaciente, para que se desse ordem à cavalaria ligeira, na qual estava incluído, para avançar. De uma pequena elevação ia observando a batalha. Todo aquele ambiente era novo para si. Ao início os gritos de dor e todos os outros barulhos que numa guerra se podem ouvir tinham-no afectado, mas depressa se habituara e observava, agora, com interesse a investida da cavalaria pesada, no meio da qual conseguia distinguir vários familiares, contra a frente nebisina. Ouviu-se então uma trombeta e a cavalaria pesada começou a recuar. Era o sinal para a cavalaria ligeira avançar. Eudóxio procurou Erwana, mas não a viu. Provavelmente estaria mais atrás, enquanto que ele estava na linha da frente. Suspirou fundo e avançou.

Os poucos segundos que o percorrer da distância que os separava do inimigo pareceram-lhe horas. Sentia o coração a bater e parecia estar mais concentrado e desperto que nunca. À medida que avançavam iam cruzando-se com os cavaleiros da cavalaria pesada que acenavam e gritavam incentivos. Cruzaram-se também com alguns cavalos já sem dono e um que transportava o cavaleiro já morto.

Já a poucos metros se encontrava dos nebisinos quando ouviu um relinchar de agonia e viu o estandarte que sabia ser de Ana Catarina de Monforte tombar. Mudando ligeiramente a direcção, depressa constatou que o relinchar viera da égua de Ana, que fora ferida. A Monforte parecia não estar ferida, mas a queda fizera com que ela ficasse à mercê do inimigo que, de arma em punho, se preparava para fazer o derradeiro golpe. Picando o cavalo, rapidamente se aproximou do francês que, cego de raiva e que percebendo que se encontrava em frente a alguém importante, imaginava o tipo de recompensas e reconhecimento que poderia obter ao matar a condessa portuguesa, não se apercebera da sua presença. E golpeou-o. Trespassou-o com a lança e ficou a vê-lo cair de joelhos sobre aquele solo manchado de sangue e, pegando na espada que o soldado tentara usar, momentos antes, para matar Ana e que ao ser ferido deixara Eudóxio arrancar-lhe facilmente da mão, decapitou-o, acabando com o seu sofrimento. Ana levantou-se e agradeceu, enquanto olhava com tristeza para a sua égua. Eudóxio olhou em volta. A cavalaria leve avançava quase livremente, aproveitando os danos que a cavalaria pesada tinha causado, e varria tudo à frente. Erwana encontrava-se já mais à frente e o Monforte avançou em seu encontro. Estava mais confiante do que nos dias que se antecederam à batalha, mas, continuando a poder ser morto, queria, pelo menos, poder estar ao lado dela no caso de tal acontecer.

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Ana.cat
Aquela queda pareceu-lhe ter durado uma eternidade e só por muita sorte é que Ana Catarina não ficou entalada por baixo da sua égua ferida. Mas o pior ainda estava para vir, ao bater no chão a condessa perdeu o elmo e rebolou alguns metros, tudo o que estava no caminho lhe bateu, desde pedras, corpos ou restos de madeira e metal de algum escudo ou arma. Ana Catarina tentou abrir os olhos, ficara virada para o céu mas a sua visão estava desfocada e a cabeça ardia-lhe. Tossiu ainda para tentar libertar a garganta do pó engolido na queda e respirar melhor, mas só conseguiu cuspir um dente que se partira com o choque e agora lhe enchia a boca com sangue. A Monforte ainda tentou levantar-se mas o peso da armadura aliada à exaustão da batalha não lhe permitiu sequer sentar-se. Ela sabia que tinha que se erguer rapidamente ou então seria uma presa fácil para os franceses, a cavalaria pesada já estava a recuar e enquanto a ligeira não tomasse o seu lugar muita coisa poderia acontecer. Ser morta era uma delas, apesar de os franceses em batalha preferirem fazer dos cavaleiros nobres prisioneiros, para depois exigirem um resgate às suas famílias. No entanto Ana duvidava que o seu estatuto lhe pudesse salvar a vida já que a sua família era proveniente de Portugal e isso pouca ou nenhum interesse teria para os franceses.

Ainda no chão, a condessa debruçou-se para se libertar da armadura, o sol a ofuscar-lhe a vista e isso impediu-a de notar a aproximação do soldado que atingira a sua montada. Quando se apercebeu já era tarde, a sua figura tapou-lhe o sol e a Monforte olhou-o directamente nos olhos. Aquele olhar pejado de raiva encarou-a novamente como se quisesse fulmina-la. O francês não parecia querer prolongar mais o momento, empunhou a espada e lançou-a contra ela. Naquele exacto momento, talvez por cobardia ou por não querer que a sua ultima visão fosse a do seu carrasco, a condessa fechou os olhos e preparou-se para a dor. No entanto nada aconteceu, no meio de tantos gritos, relinchos e sons de cascos e metais (tudo o que é característico de um campo de batalha), Ana Catarina não se apercebera do sucedido. Estranhou sim a cerimónia do francês para a matar e abriu os olhos lentamente... para seu espanto ele encontrava-se de joelhos no chão, moribundo com uma lança atravessada no dorso. Ao seu lado um cavaleiro com protecções leves de pele e cota de malha saltava do cavalo e ali mesmo degolava o seu agressor. Ainda com a visão um pouco desfocada Ana tentou reconhecer o cavaleiro, para seu espanto era Eudóxio, o seu primo salvara-a da morte certa. O jovem Monforte ajudou-a a levantar-se e após ela se desembaraçar da pesada armadura passou-lhe um pequeno odre com água, que se encontrava preso no cavalo, e do qual Ana engoliu rapidamente vários goles


- Obrigada Eudóxio... - agradeceu-lhe numa voz arrastada - Não me esquecerei disto, recompensar-te-ei pela tua valentia. Dou-te a minha palavra.

Então, Ana Catarina empunhou a espada e caminhou até junto da sua égua que jazia ferida no chão. Ela sabia que não tinha escolha, apesar de adorar aquele animal, e de todas as aventuras que ambas tinham partilhado era necessário acabar com o seu sofrimento. Pegando na espada com as duas mãos a condessa levantou-a e de um só golpe terminou com a vida do animal. Sentiu as lágrimas a formarem-se no canto dos olhos e tentou reprimi-las.

- Não tinha escolha... - lamentou-se enquanto se dirigia até Eudóxio e lhe gritou entre o barulho que ainda se fazia ouvir - Vai combater! Tens muitos "perninhas de rãs" para tratar da saúde, eu vou voltar para junto da cavalaria... boa sorte!

Ana ainda estava fraca, mas já conseguia correr um pouco agora que não tinha tanto peso sobre si, voltou um pouco atrás para buscar o seu estandarte e saltou para um cavalo sem cavaleiro que se passeava sozinho entre o monte de corpos em seu redor. Elevando as suas armas, para ser reconhecida pelos soldados do Ponant, a condessa galopou em direcção ao seu campo, deixando para trás um mar sangue e corpos desfigurados. Enquanto isso um vento gelado batia-lhe na face fazendo com que os seus cabelos louros soltos dançassem ao sabor da brisa...
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Eudoxio


Tal como tanto ouvira dizer, Erwana era, de facto, uma intrépida guerreira. Eudóxio nunca tivera anteriormente oportunidade para a observar a combater e, embora naquele momento também ele estivesse ocupado a lutar, estava maravilhado com os seus rápidos reflexos e com a facilidade com que ela ia manobrando a espada. Nascera para combater, notava-se bem. E ficava ainda mais sensual do que já era enquanto combatia... Sentiu uma dor forte no braço e deixou cair o escudo. Distraído a observar a bretã, ficara vulnerável ao ataque de um lanceiro nebisino que lhe cravara uma lança no braço. Voltou-se rapidamente e trespassou-o, sem lhe dar tempo de reagir. Sentia o sangue a escorrer e o braço doía bastante, mas tivera sorte. A sua distracção poderia ter-lhe custado a vida. Um outro lanceiro preparava-se para atacar, mas o Monforte foi mais rápido e com um golpe certeiro decapitou-o, mas a custo. Não poderia continuar a lutar apenas com um braço muito mais tempo e a dor no braço esquerdo parecia aumentar cada vez mais. Olhou em volta. Felizmente o combate não parecia estar longe do fim. Ambos os lados encontravam-se cansados e começavam a dispersar-se um pouco. Desmontou do cavalo. Estava a perder muito sangue, precisava de estancar a hemorragia. Arrancou um pedaço de roupa de um soldado que se encontrava tombado no chão, com a goela cortada. Atou, com esforço, o tecido em torno do braço, mas encontrava-se já enfraquecido pela perda de sangue. Abandonar o campo de batalha não era uma opção, preferia morrer a fazê-lo, mas desejava que se desse rapidamente ordem para retirar. Avançou para o cavalo, mas, dando um passo em falso, viu-se caído no chão. Levantou-se com dificuldade. O seu cavalo, assustado com todo o combate, cavalgava desesperadamente para longe de toda aquela confusão. Praguejou. A espada começava a tornar-se pesada, pelo que se livrou dela e retirou o seu punhal do cinto. Suspirou e pensou para consigo mesmo que seria o seu fim. Se algum inimigo se cruzasse consigo agora facilmente o mataria.

Está a ver se o matam? - Erwana estava cansada e parecia estar ligeiramente ferida, mas mesmo assim sorria. - Vite, vite. Suba para o meu cavalo, foi dada ordem para a Cavalaria Ligeira recuar e temos de tratar desse braço.

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Ana.cat
Do dude da pequena colina onde se reuniram os exércitos do Ponant Ana Catarina observava o recuo da cavalaria ligeira e consequente desenrolar da batalha.
Já era tarde,o sol já ameaçava pôr-se para além do horizonte e ainda nenhum dos lados se podia proclamar vencedor, de ambos os lados as perdas eram mais que muitas e os avanços poucos. As tropas pareciam pareciam agastadas e isso levou os generais a concluir que não seria aquele dia que iria determinar um vencedor. No entanto não era possível retomar ao acampamento e descansar para o combate seguinte. Isso era demasiado arriscado, eram necessários reforços, e ficar à espera deles ali, à mercê do inimigo que mais facilmente se conseguia reforçar por estar no seu território, estava absolutamente fora de questão.
Antes do sol se pôr foi enviado um arauto com as armas do Poitou ao campo adversário e ali mesmo determinou-se as condições para o cessar do ataque e recolhimento de corpos e despojos de guerra.


    * * *

No dia seguinte, pela manhã, já eram notórios os preparativos das tropas do Ponant para retornar a La Trémouille, do lado oposto as tropas recuaram igualmente para lá das muralhas de Limoges. No acampamento improvisado do Ponant Ana Catarina escutava os arautos que anunciavam os mortos e feridos brasonados, fazia parte do seu trabalho, no final de uma batalha eram eles que através dos escudos identificavam os mortos.

- Alguém dos nossos? - perguntou um familiar atrás da condessa.

Ana Catarina olhou para trás e respondeu-lhe sem qualquer expressividade no rosto ou na voz:

- Mortos até agora só escudeiros e soldados da Casa. Mas tanto o Kotapula como o Hijacker estão desaparecidos... esperemos que estejam entre os feridos, essa será a lista seguinte.

De pé e de braços cruzados a condessa de Ourém aguardava a leitura da lista dos mortos em combate e dos feridos, com a indicação da tenda onde estes estavam a ser tratados. A lista parecia não ter fim e Ana já começava a desanimar com a espera até que ouviu finalmente a leitura de armas que queria:

- De gueules au lion à la queue fourchée d'argent* - exclamou o arauto solenemente, indicando de seguida a tenda onde os feridos com aquelas armas se encontravam.
[De vermelho com leão de cauda bifurcada de prata]

De imediato a condessa chamou dois escudeiros da Casa e dirigiu-se à tenda onde estavam a ser tratados pelo menos dois cavaleiros encontrados com as armas da sua família. Quando lá chegou teve que tapar imediatamente o nariz com um lenço, o fedor de feridas infectadas e de morte inundava aquela tenda.
Junto à base das camas improvisadas foram colocados os tabardos e escudos, ou o que restava deles, de cada ferido. Aquela era uma tenda só com cavaleiros por isso, ao contrário das restantes onde os feridos quase se amontoavam uns nos outros, havia mais cuidado nos tratamentos e nas instalações.
Entre gemidos, e sempre com o lenço colado no nariz, Ana foi passando entre as camas sempre à procura das insígnias da sua família. Quando as encontrou, em duas camas seguidas nem quis acreditar no que tinha à frente dos seus olhos... Kotapula e Hijacker pareciam outros, o rosto de ambos estava coberto de sujidade e lama, os cabelos loiros de ambos pareciam tufos de ervas sujas e todas coladas.
A Monforte chamou de imediato um cirurgião e indagou-o sobre o estado dos dois familiares ao que aquele sem muitas palavras adiantou que não era nada bom e que se não fossem levados para um sitio em condições para serem tratados poderiam não sobreviver aos extensos ferimentos e infecções.

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Eudoxio


Alguns dias tinham passado desde o combate e, após se reorganizarem e tratarem dos feridos, os Monforte viajaram de volta até La Tremouille. Não só eles, também os bretões recuaram: a ordem chegara a todos os exércitos. Eudóxio recuperara completamente do seu ferimento, graças, em grande parte, à constante atenção de Erwana. Agora em La Tremouille (certo que ainda estavam em guerra, mas era um lugar mais sossegado) Eudóxio esperava conseguir dar-lhe, de maneira recíproca, a atenção merecida.

Como Eudóxio já percebera até ali, Erwana era uma pessoa invulgar, no bom sentido da palavra. Era, como já foi referido por diversas vezes, encantadora, simpática e de uma beleza incrível. E tinha o espírito de uma verdadeira guerreira, mas não deixando de ser doce como o mel, passando de uma feroz espadachim, nos treinos de combate (que obrigava Eudóxio a fazer), a uma apaixonada que se agarrava ao braço do Monforte e lhe pedia para contar histórias lusitanas enquanto passeavam pelos caminhos em torno da cidade (caminhos esses de que Eudóxio se lembrava bem desde a última vez que lá havia estado). Ora, num desses passeios, cerca de uma semana depois, ao fim da tarde, Erwana agarrava-se com mais força a Eudóxio, permanecendo calada durante todo o tempo.

Partirei hoje à noite. - disse, por fim.

O quê? - Eudóxio fora apanhado de surpresa - Porquê?

Fui seleccionada para dirigir um pequeno regimento que se juntará a um outro exército.

Mas pensei que acompanhar-nos-ia até Vannes... - disse o Monforte. Estava planeado viajarem até Vannes na semana seguinte.

Desculpa... Assim desejava eu, mas ordens são ordens e tenho deveres para com a minha nação.

Eudóxio permaneceu calado. Alguns pássaros rasgavam o céu alaranjado pelos últimos raios de Sol. Suspirou e olhou o chão.

Isto é... então... - levantou os olhos e fixou o olhos de Erwana - ... uma despedida?

Desde o início que sabia que aquilo teria de ter um fim. Ele acabaria por voltar com a sua família para Portugal e ela permaneceria por terras bretãs, mas esperava ainda contar com ela mais algumas semanas.

Sim... - os olhos de Erwana enchiam-se de lágrimas e esta desviou o olhar para o céu. Permaneceu assim uns momentos, virando-se depois novamente para ele. Mais uma vez se fazia ouvir o silêncio... O silêncio de dois corações partidos, silêncio esse que expressava o que nenhum podia expressar por palavras... Avançou até o Monforte e abraçando-o, beijou-o. Foi um beijo longo e apaixonado, mas paradoxalmente vazio e infeliz. Era uma despedida, o final de um amor impossível... O beijo estendeu-se por alguns segundos e cessou por fim.

Adeus Eudóxio. Teremos sempre Tremouille... - murmurou a bretã, dirigindo-se uma última vez ao português. E partiu...

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Ana.cat
[Dias depois, em La Trémouille]


Os exércitos do Ponant haviam recuado há vários dias até La Trémouille onde mais uma vez estabeleceram acampamento e se reorganizavam para voltar a atacar.
Os dias seguiram-se, ao acampamento iam chegando mais soldados que vinham render os veteranos e os feridos ou mortos em combate. Os ferimentos de Kotapula levaram ao seu afastamento forçado na liderança do exército onde os portugueses estavam integrados, no seu lugar foi eleita Lolla, a sua esposa.

Ana Catarina estava cansada há dias e dias que não recebia informações sobre o andamento dos preparativos do próximo confronto, e não era a única, também os seus familiares aguardavam ansiosamente por novidades, mesmo sabendo que em época natalícia era costume ambas as partes suspenderem as hostilidades.
Passeando pelo acampamento a cavalo de uma montada das cavalariças da sua família, trazidas com os seus guardas para a guerra, a Monforte viu soldados portugueses a confraternizarem com pontevinos e bretões, pareciam animados... no entanto não estavam alcoolizados, isso podia significar novidades! A condessa deslizou pelo cavalo e juntou-se aos soldados, perguntando logo qual o assunto que tanto os animava - era uma pergunta perigosa, pois habitualmente as conversas destes soldados destacados tão longe de casa relacionavam-se geralmente com obscenidades pouco recomendáveis a nobres ouvidos como os da condessa de Ourém.
O guarda pareceu estranhar o súbito interesse da sua senhora pelas suas conversas, mas logo esboçou um sorriso e exclamou contente:


- Minha senhora! - retirou o elmo da cabeça em sinal de respeito, procedimento seguido pelos restantes soldados - Pois cuide Vossa Graça que este nosso camarada de armas pontevino nos garante que os responsáveis reais e do Ponant se preparam para negociar uma trégua de Natal e ano novo!

A Monforte pareceu pouco surpresa, afinal isso já ela sabia...

- Ora, mas isso já era do conhecimento público, é tradição nestas terras respeitar as épocas e dias santos em tempos de guerra. Esta trégua não surpreende ninguém... mas vós sabeis de mais alguma coisa?

O soldado esboçou um sorriso ainda mais largo, mostrando os seus péssimos dentes amarelos.

- Vossa Graça! - retomou o soldado - Diz este nosso camarada que escutou um oficial bêbado na messe, dizia ele que tanto o Ponant como a Coroa estão a preparar delegações em Roma, para negociar com a mediação da Igreja as exigências para uma paz justa e duradoura!

Ao ouvir aquelas palavras, mesmo que vindas dum soldado de baixo nascimento e sem grandes contactos no acampamento, a Monforte jubilou de alegria (ignorando o facto de não ter sido já informada por quem de direito), aquele era um óptimo sinal de que a guerra estava perto do fim! Em sinal de agradecimento a condessa deu duas palmadinhas no ombro do soldado e voltou para a sua tenda, afinal aquela notícia merecia ser partilhada!
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Octocore


Desde o ultimo confronto, o exercito estivera em Tremouille a espera de novas ordens, enquanto elas não chegavam o Baronete Octocore passava a maior parte do dia conversando com os soldados e jogando cartas, geralmente apostavam suas rações diárias ou se comprometiam a roubar a botas de algum oficial entre outras travessuras. E durante as noites o baronete ficava a se entreter com as Jolas nas tavernas e a conversas que iam até o amanhecer.

Numa dessas noites Octocore estava na taverna tomando algumas jolas com seus companheiros de mesa quando ouve um deles falar.

-Quando saímos de Tremouille ? , estou ansioso por um pouco de ação.
Outro homem que se encontrava ao seu lado comenta.

-Dizem-se por ai que esta havendo uma mediação para a assinatura de um tratado de paz.

O baronete logo indaga. – Seria uma boa noticia, faz tanto tempo que estou longe de casa.

Os soldados entreolharam-se e de uma certa formas todos sentiam aquela saudade de casa e de suas mulheres e filhos que aviam deixado para lutar na guerra. Um dos homens da mesa pegou sua caneca e a levantou.

-Bom, enquanto o tratado de paz não chega, teremos que nos contentar com as jolas mesmas.

E seguindo o exemplo do homem todos na mesas levantaram suas canecas e depois de fazerem um brinde, tornaram elas todas num so gole. E assim foi se seguindo a noite até o amanhecer

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Ana.cat
[La Trémouille]


Os dias passaram e aquilo que fora uma suspeita ou rumor - as negociações de paz entre as partes beligerantes - era agora uma certeza. De uma varanda do imponente castelo de La Trémouille Ana Catarina observava o horizonte, para além das muralhas os exércitos permaneciam acampados, centenas de estandartes das orgulhosas famílias nobres da Bretanha e do Poitou esvoaçavam ao sabor da brisa matinal. Daquela varanda conseguiu reconhecer as cores do seu contingente, parecia estar mais movimentado que o que seria normal, isso não preocupou a condessa, ela sabia o porquê daquelas mobilizações.

- Votre Grâce, le Chevalier Meerclaw de Montfort est maintenant disponible pour vous recevoir - avisou-a um criado do castelo num tom monocórdico mas que no qual Ana notou uma dose de indiferença ou quiçá desprezo.
[Vossa Graça, o cavaleiro Meerclaw de Montfort já está disponível para a receber]

A Monforte ignorou a (falta de) expressividade do criado e seguiu-o até à sala onde Meerclaw se costumava reunir com os generais, era a mesma sala que Ana frequentara nas vésperas da invasão de Limosin et La Marche. Lá dentro a enorme mesa de carvalho continuava no mesmo sítio apenas com alguns mapas espalhados. Já o cavaleiro des Trente encontrava-se na extremidade da sala, de costas viradas para uma outra janela do castelo, parecia distraído a observar o horizonte.

- Sa Grâce Ana Catarina de Montfort, officielle de l'Host "Veni, Vedi, Vici», la comtesse de... - o criado foi subitamente interrompido por Ana.
[Sua Graça Ana Catarina de Monforte, oficial da Hoste "Veni, Vedi, Vici", a condessa de...]

- Mon titre n'a pas d'importance - cortou, encarando severamente o criado - Pas ici... - acrescentou quase num lamento, lembrara-se da promessa que tinha feito em Portugal, jamais iria se apresentar como par da nobreza portuguesa enquanto estivesse ao serviço da Bretanha na guerra.
[O meu título não interessa (...) Não aqui...]

Ana já não teve tempo para notar a expressão de desprezo que o lacaio lhe lançara quando a deixara a sós com Meerclaw, a Monforte já estava a caminhar na sua direcção quando o criado saiu. O cavaleiro era um homem alto e bem parecido, devia ter menos uns dez ou quinze anos que Ana, mas a sua pose altiva e orgulhosa, típica de grandes cavaleiros, levava-a a crer que aquele homem já assistira e participara em mais guerras que Ana poderia alguma vez ter participado em toda a sua vida. Apesar do seu aspecto poder causar algum temor o cavaleiro era cortês e logo tomou a mão de Ana para a beijar, num cumprimento ao qual a condessa não pode deixar de corar. Ele com certeza terá notado, pois não deixou de lhe sorrir e dar algum espaço, não fossem as suas intenções serem mal percepcionadas.

- Comment êtes-vous madame? - perguntou-lhe, prosseguindo de seguida com a tradicional conversa de circunstância
[Como está minha senhora?]

Ana Catarina abominava esse tipo de conversas vazias de conteúdo, sempre preferira que as pessoas fossem directas ao assunto em vez de andarem entre rodeios e títulos, mas ali não conseguia estar desagradada com Meerclaw, além de gentil e cortês... era um bom pedaço de homem... E foi ainda com alguma dificuldade que Ana se conseguiu abster de tais pensamentos... felizmente Meerclow não demorou muito em cortar caminho e lhe indicar as últimas ordens para o contingente que liderava.

- Vous partirez demain comme prévu, ai déjà traité vous d'arranger un guide qui vous ira conduire par la route de l'Atlantique… c'est le plus sûr pour vous et pour leurs, les armées ne font utilisation d'elle être plus longues que la route d'Anjou par ils où sont venus. - a voz dele era grave, mas ao mesmo tempo doce como mel...
[Partireis amanhã como previsto, já tratei de vos arranjar um guia que vos irá conduzir pela estrada do atlântico... é a mais segura para vós e para os seus, os exércitos não fazem uso dela por ser mais longa que a estrada de Anjou por onde vieram.]

- Compris… j'ai enragé prendre compte des restes préparatoires - respondeu Ana algum tempo depois, ainda um pouco atordoada com a fraqueza que estava a demonstrar.
[Entendido... irei tomar conta dos restantes preparativos.]

- Les blessés retourneront aussitôt que complètement soient rétablis... - Ana fez um sinal afirmativo com a cabeça, indicando que tinha entendido o que acabara de escutar - Bon… je juge alors que c'est tout... - coçou a cabeça, como se não se estivesse a pensar no que ia dizer de seguida - Ce a été un honneur de pouvoir combattre de son côté, probablement jamais plus nous ne verrons pas cousine, quand il arrivera à Vannes donne des accomplissements mien à la famille. Il y a places des mois que je ne les vois pas...
[Os feridos regressarão assim que estiverem plenamente restabelecidos (...) Bom... julgo então que é tudo (...) foi uma honra poder lutar do seu lado, provavelmente nunca mais nos veremos prima, quando chegar a Vannes dê cumprimentos meus à família. Há largos meses que não os vejo...]

Por uma última vez o cavaleiro des Trente beijou-lhe a mão e conduziu-a até à porta, dando-lhe por fim um silencioso beijo no rosto, de despedida. Meerclaw já não fora a tempo de assistir à reacção de Ana, saíra logo de seguida dali, quase como se estivesse envergonhado pelo seu acto, já a Monforte ficou ali espectada de boca aberta sem saber o que dizer... foi necessário que um criado fosse ao seu encontro para saber se estava tudo bem com ela e a conduzir pelos corredores para que ela voltasse "à terra".

Nota FRP: a minha boneca não é de ferro, todos os humanos têm fraquezas e defeitos, ela não é excepção.

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Eudoxio


Sentia o Sol queimar-lhe o rosto. Ao fundo avistava o mar e, por entre o som dos passos e dos cavalos, conseguia ouvir as ondas a rebentarem. Viajavam há já umas horas, a um ritmo vagaroso sob os raios do astro-rei (dono de toda uma abóbada celeste). A coluna Monforte, composta por Eudóxio e seus familiares, pelos criados e pelos guardas, e encabeçada por Ana Catarina de Monforte, Condessa de Ourém, juntamente com os guias, avançava ao longo da estrada do atlântico que unia La Tremouille a Vannes. Era um caminho mais longo do que aquele que haviam feito antes, mas por essa razão era também mais seguro, pois os exércitos não o utilizavam. A cavalo, Eudóxio,
ia acompanhando o lento avançar da coluna, perdido em pensamentos e divagações... todo aquele misto de tranquilidade, som do mar, brisa marinha e raios solares deixavam-no melancólico...

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Ana.cat
[Estrada do Atlântico/Bretanha]


Na frente da coluna militar, logo atrás dos guias e de alguns cavaleiros da sua Casa, Ana Catarina pensava nos acontecimentos dos últimos dias, tinham atravessado todo o condado de Poitou e preparavam-se para pisar território bretão brevemente. Atrás de si deixavam um território fortemente marcado pela guerra e cidades quase desertas. Mas o que mais a marcou foi a passagem por Thouars, a cidade que os albergara nas vésperas do ataque ao cerco montado em Poitiers. Fora lá que ficaram os feridos mais graves do primeiro combate do seu contingente, entre eles o amigo Bluemouse Souto Cabral. Embora não recebesse notícias do seu estado desde a partida para La Trémouille (depois do cerco de Poitiers) Ana esperava vê-lo já restabelecido e pronto a acompanha-los até Vannes. Mas não foi isso que se sucedeu, quando a coluna chegou a Thouars, ao local onde Blue havia ficado, receberam a notícia que não queriam escutar... o amigo tinha padecido às extensas feridas. Sem ninguém que velasse a sua alma o português fora enterrado no mesmo dia em lugar incerto. Isto marcou o resto da viagem para Ana, não se conseguia perdoar pelo que sucedera a Bluemouse.
Quem a visse no dude do seu novo cavalo diria que estaria indisposta ou até mal humorada, o que é certo é que até ao fim da viagem não conseguiu esboçar qualquer sorriso ou rir das piadas dos seus companheiros de viagem, em vez disso isolou-se dos restantes e seguia a sua viagem sem dizer uma palavra, estava no fundo a fazer o luto pelo amigo...


    * * *

Haviam passado alguns dias, o contingente português já tinha transposto a foz do Loire em pequenos barcos de pescadores cujo transporte não custara mais que alguns cobres por cabeça e mercadoria.
O grupo avistara agora a conhecida vila de Rieux bem ao longe, esculpida entre o verde intenso da paisagem bretã e o cinzento do céu e longínquas montanhas.

Ana Catarina já estava mais faladora, mas parecia que media cada palavra que soletrava como se esta lhe custasse uma bolsa de ouro. Estava preocupada agora com Bernardo, o primo que ficara perdido nalguma floresta bretã, antes de partir de La Trémouille recebera uma carta curta de palavras de Ellinha, contava ela que o primo fora encontrado mas estava em recuperação num mosteiro depois de um assalto fracassado. A condessa não deixou de sentir alguma curiosidade por uma referência que a sobrinha lhe fizera na carta ao bretão que o encontrara, dizia ela que ele não abandonara o amigo em todo aquele tempo e até ouvira dizer que Gwereg - assim era o seu nome - fazia estranhas perguntas sobre o passado da família.


- Amanhã chegamos a Rieux Vossa Graça! - anunciou um guarda da família quase careca, encolhido dentro de um tabardo cosido com as cores dos seus senhores.

Ana escutou-o e moveu a cabeça em sinal de aprovação. A condessa estava ansiosa por chegar a uma grande cidade e dormir numa cama de palha ou penas, não lhe interessava, só queria deixar o dorso do cavalo, os últimos meses fatigaram-na fisicamente e agora já quase que não conseguia subir a um cavalo sem ajuda.

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Eudoxio


A notícia da morte de Bluemouse fizera Eudóxio ficar mais preocupado com o seu irmão Bernardo, que ninguém sabia ao certo onde se encontrava. As notícias sobre ele eram escassas e pouco concretas... Recebera as últimas informações sobre ele uns dias antes, ainda em La Tremouille, quando fora chamado pela Condessa de Ourém que lhe dera a ler uma carta que recebera sobre Bernardo. Mas a carta era curta, não referindo muito mais para além do facto de ele se encontrar num mosteiro, de ter sido assaltado e de estar acompanhado por um tal de Gwereg...

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