Pieter Lombard, ou simplesmente Pêro Lombardo, o artista flamengo há muito radicado na velha Lusitânia, acelerara o passo quando acabara de sair de sua casa, porque não sabia o que naquele dia fazia comover as gentes, tamanho burburinho que se ouvia na praça e vias públicas: pessoas indo e vindo, berros aqui e acolá, parecia até que havia um gran assalto por piratas naquel cidade se não fossem os semblantes abertos.
Foi quando se apercebeu do que se passava, dalgo que era esperado, mas tão esperado que muitos se rebentavam de tanto gosto por conta daquelas notícias; a novidade sobre a Rainha espalhava-se, e depois daquele interstício de cousas da sucessão, o coração que havia pausado por breve tempo voltava a bater em Portugal, apesar da grande ferida da perda ulterior dEl Rei.
Lombardo pensou imediatamente na comitiva salaciense que se encontrava em Valladolid e como estaria seu amigo Aristarco que não mandara carta a respeito daqueles assuntos; e seria duramente admoestado quando regressasse.
Juntou-se a um conhecido lusitano (com expressão estabanada, mas mui feliz) que lhe segurou os braços fortemente quase sem conseguir falar. Apenas dizia muitos "vivas!" entre os risos.
Até que se ouviu um coro geral de muitas pessoas, que inevitavelmente o flamengo foi tomado impulsivamente a repetir em brado:
Vida longa à Rainha! Vida longa!
Depois dalgum tempo com o conhecido (e depois de ver mui outros também) saiu na mesma rapidez para contar as novas à comunidade flamenga, porque certamente aquilo indicava, como já sabia, um vento norteado para os negócios, transações comerciais e especialmente o convite para que outros artistas e intelectuais de Flandres pudessem continuar a migrar naquelas plagas ibéricas.
E provavelmente os seus, saberiam já daquelas notícias, mas que importava?
E naquele caminhar acelerado, não conseguia se desfazer do próprio sorriso.
Quando entrou alvoroçado na casa de representantes das cousas dos flamengos a escancarar sonoramente as portas, chamando a atenção para si; abriu completamente os braços com punhos cerrados e mirando o olhar no teto (inda sorridente), soltou então um berro trovejante que se fez ressoar dentro do edifício, no mesmo significado que os portugueses expressavam, apesar da língua distinta:
Lang leve de Koningin! Lang leve de Ana van Portugal!