Aristarco não tinha mui tempo para maiores estadas, porquanto comitiva vagueava em direção a um rumo que permitia poucas paradas, especialmente e principalmente para descansos e refazimentos não alongados, quando um caminho convida, chama ou impele prosseguir jornada. Alguns não possuem um fim proposto, aos outros, estes fitos já lhes são bem claros e traçados, eis que era o caso que se tratava aquela comitiva viajora.
E que não se duvidasse assim de tal condição, porque toda causa final impele como modus o movimento da vida, segundo a explicação do mundo físico pelos filósofos, mas claro e que não se esqueça impunemente, a se entrelaçar ainda mais grau elevado, na esfera metafísica.
Tudo isto para dizer que se havia um fim, alcançar o objetivo traçado da viagem, os esforços e boa vontade seriam mui condignos: nada de fardo, porque a missão ou a tarefa cumprida há de vir a coroar a ação dos homens.
É claro que aqui se há de falar das tarefas excelsas e virtuosas, não as vis, que se deixe bem claro.
E naquela vivência em lombo de montarias, intempéries, variações de paisagens (e ímpetos das gentes locais), se por um lado fazia necessário tal refazimento do corpo, por outro, fazia-se mais imperativo a constância das cousas do espírito, este sim, o locus e nascedouro (ou morte) do também significado particular (mas não universal) da vida. No que residia um quinhão de legitimidade, como se bem sabia.
Fazia-se mui bem encomendar a alma enquanto se encontrava em trânsito, porque nunca se sabe o que se encontraria na próxima curva do caminho, ou mesmo o que se passa no coração dos homens, estes sim, se nas maiores benesses, também a abrigar os maiores perigos.
Porque nele é que tudo nasce, por mais que a razão e intelecto venha algo socorrer. Algo apenas, porque garantia de completude, não se há ao se tratar da natureza humana, como apontavam os antigos filósofos, gregos ou romanos, qualquer que se escolha.
Lembrara-se dum certo tratado que lera na língua grega (com alguma ajuda, é claro) enquanto um dos monges que lhe era caro, fazia tradução para o latim naquelas cercanias de al-Gharb, que estudava temas sobre as condições da alma e suas particularidades; seus movimentos de ascensão e descenso, geração e corrupção com uma dinâmica inteligível tal qual aqueles áticos tinham mestrança em discorrer. Como era mister trazê-los de volta nestes tempos estranhos, se tão prometedores com as possibilidades que pareciam se abrir, ao menos tempo incógnitos.
Já alguns filósofos helênicos também alertavam sobre as incertezas da vida ao valer-se apoio em compartilhar a vivência com os amigos e pessoas estimadas, porque assim se revelaria a certeza da própria condição da vida que se levava, de valores que deveriam sustentar, da muralha segura que protegeria das desvirtudes que vem ao encontro de algum inusitado fato diário que viesse desafiar o espírito.
Aquela comitiva com os caríssimos Eudoxio Monforte e Sua Graça Condessa dOurém, fazia valer aquelas assertivas que se leria nos escritos de Zénon hô Kitieýs, Zenão dos pórticos, da velha Stoá, sobre o âmbito fraterno mencionado, no velho e digno sentido puramente ático.
Mas a Filosofia haveria melhor lugar no scriptorium e não em viagem exigente, a deixar corpo alquebrado costumeiramente, afinal cavalo, boi ou próprio pé, também carecem de alívio por algum instante.
Então naquela pausa de viagem, depois dalguns cuidados com trens de viagem e cousas afins, decidiu ir até a Igreja mesmo que brevemente, para não olvidar da necessidade que lhe corria ao íntimo, ao silêncio que apenas lugares sagrados poderiam ofertar, um outro mundo a saborear certamente.
Lembrou-se por um momento doutras formar de pensamento e sacralidade que havia conhecido, sim, quando um tanto hereticamente pensou algo como lugares sagrados de quaisquer deuses, porque mais uma vez aqueles textos da Hélade lhe povoaram o intelecto.
Mas era momento de cessar o mesmo e aspirar silêncio e quietude dentro daquele sacro lugar.