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[PORTUGAL] O Assassínio de Harkonen

--Michelotto


Alheio a tudo o que deixara para trás, Michelotto, chegara a casa do seu amigo. Era um homem já de alguma idade, que ele conhecera meses antes, e a quem surgira disfarçado de mercador. A troco de uns sacos de milho vendidos a baixo preço, Michelotto conseguira a confiança do homem, e agora voltava para buscar a sua carroça, anteriormente ali deixada.

Chegou e escondeu cuidadosamente a sua espada, a besta e a aljava com as flechas. Manteve consigo apenas o punhal, que nunca largava. Procurou no seu corpo os objectos de Harkonen, mas não encontrou o medalhão. Pensou que talvez o tivesse deixado junto ao corpo. Na verdade não precisaria dele para provar a morte, pois certamente a esta hora já se falaria disso por toda a região.

Bateu então à porta da casa do seu amigo, a quem disse vir muito cansado da viagem que fizera pelos campos em busca de produtores de milho. Pediu guarida, pois convinha-lhe dormir durante o dia, e viajar de noite. Na noite seguinte, pegaria na carroça e partiria para Coimbra sob esse disfarce. Na capital do Condado seria apenas mais um vendedor de milho entre tantos.

Após uma refeição rápida, foi cuidar do cavalo, e deitou-se. Antes de adormecer pensou ainda que teria de descobrir um modo de enviar um pombo a quem lhe deveria pagar a segunda metade do contrato...
Satyrus


Satyrus está em sua modesta casa, na capital do Condado de Coimbra. Os dias têm se passado de modo calmo, com Satyrus trabalhando em suas plantações, e usando o tempo livre para estudar na Universidade.

Eis que a monotonia é quebrada: surge um mensageiro, com uma carta selada. Satyrus abre-a na hora, e a lê. É uma carta de Monsenhor Sylarnash, informando do assassinato do Príncipe Regente Dom Harkonen, cujo corpo foi encontrado próximo à Leiria.

Por estar afastado, a tempos, das missões militares, Satyrus por um momento fica confuso. Estariam lhe solicitando para uma missão oficial? Mais logo lhe "cai a ficha". Dom Harkonen foi um companheiro de armas, e Monsenhor Sylarnash sabia disso. Sabia que Satyrus, ao tomar conhecimento do triste acontecimento, entabularia todas as suas forças para vingar a morte de Dom Harkonen. Oficialmente, ou não. Pois Satyrus sabe que os militares fariam o mesmo por ele, se acaso isso ocorresse um dia.

Satyrus, então, corre para colher pistas e tentar encontrar o assassino. É necessário encontrar o culpado, sem o conhecimento das autoridades. Para vingar a morte de um militar, tal como Satyrus o é, só a morte do assassino seria válida. Nada menos. Uma missão oficial implicaria na captura do assassino, para que o mesmo fosse julgado, à não ser que em caso de resistência o culpado fosse abatido. Mas Satyrus não queria capturar o assassino: para vingar o Príncipe-Regente, Satyrus tinha que matar o assassino. A morte se paga com a morte.

Satyrus matou muitos homens, em missões oficiais. Satyrus já foi ferido em batalha. Não lhe sobrava pena ou piedade para com meliantes desse quilate. Satyrus e sua espada saem ao encalço do matador. Percorre a estrada até Leiria. Recolhe informes, segue pistas. Sai da estrada, entra nos matos. Interroga vizinhos, indaga passantes. Mas, por mais que procure, não consegue o rastro do assassino. Pensa, então, que o assassino deve ser um profissional - e, com isso, serena os ânimos e percorre os caminhos com mais cautela, em busca da vingança.

_________________
--O_narrador


O cerco a Michelotto aperta-se.
Dom Satyrus e Dom Psycorps,à cabeça de batalhões de homens armados, avançam sobre a estrada em que caiu Harkonen.

Dom Psycorps é o primeiro a chegar e depara-se com o corpo de Dom Harkonen e do seu fiel escudeiro.
Alguns guardas ficam para trás, com vista a mortalharem o corpo de Dom Harkonen .


O restante exército começa a pesquisar a estrada em redor e, subitamente, um deles identifica o que parece ser o rasto de um cavalo:
-Encontrei o trilho do assassino!

Todos os soldados se aproximam e analisam um rasto esbatido e algo indefinido

Um dos soldados levanta uma dúvida pertinente:
- Quem nos garante que este cavalo é do assassino?

O soldado aponta outras pegadas e realça o facto de nem sequer se distinguirem o trilho do cavalo de Dom Godofredo, que encontrara o corpo de Harkonen.
Aliás, como o próprio realça:
- Nem este rasto se vê bem.

Na falta de melhores pistas e como a fúria dos soldados tinha encontrado um novo folego com a descoberta de Harkonen, começam a seguir o trilho, como se fosse o novelo de Teseu no Labirinto.

Porém, ao fim de uns metros, chegados a um cruzamento na orla da floresta, o rasto do cavalo confunde-se com os muitos outros que se cruzam na estrada para Coimbra.
Vários batedores avançam e procuram pistas mais sólidas, enquanto o resto do exército aguarda desiludido no cruzamento.

Um dos batedores, depois de percorrer um dos caminhos, quando já estava prestes a desistir, vê algo a brilhar na berma.
Aproxima-se lentamente e, assombrado, identifica o medalhão de Dom Harkonen.

- Por aqui…por aqui- grita aos seus companheiros.
Psycorps


PsyCorps ao ouvir o grito de um dos seus homens, aproxima-se rapidamente do mesmo e levanta o medalhão do chão.

Não existiam dúvidas: era o medalhão de Harkonem!
Provava-se assim também que não tinha sido um mero assalto, mas um assassinato cruel e frio, pois ladrão algum se daria ao trabalho de levar uma prova do seu crime se não fosse para reconhecimento do mesmo.

Cuidadosamente PsyCorps enrola o medalhão num pano carmim, chama o seu mais veloz mensageiro e diz-lhe,
Leva isto ao Castelo da Condessa Gwenhwyfar e do comandante Zatarra e diz-lhe verbalmente este meu recado: "Encontrei a pista do criminoso que tirou a vida de Vosso irmão e meu amigo, segue o medalhão do mesmo que foi encontrado perdido nas estradas. Um dos batalhões está a preparar a viagem dos nossos falecidos para o Vosso Castelo, de modo a que sejam dadas as últimas honras. Juntar-me-ei a vocês assim que terminar esta missão. Que Jah me guie!

De seguida dá ordens a que se cumpra o que foi dito e juntando os restantes soldados seguem rapidamente a estrada a caminho de Coimbra.

Pouco tempo depois encontram uma velha casa à beira da estrada e um senhor de idade junto da mesma a cuidar do jardim.

PsyCorps manda dois batedores observar a zona enquanto se dirige ao velho homem e o cumprimenta,
Bons olhos o vejam caro camponês!

O camponês levanta os olhos e a principio mira assustado a armadura do General PsyCorps, mas ao reconhecer as cores das suas armas, reconhece o General daquele exército que trouxera paz à sua zona e que no passado os seus soldados o ajudaram a fazer uma colheita difícil numa época de fome.

Bom General! Que bons olhos o vejam! Vejo que passa para Coimbra, mas hoje em dia os tempos são outros e bem mais calmos! Em que o posso servir?

PsyCorps sorri ao ouvir as palavras do velho camponês e ao se lembrar das velhas e sábias histórias que o mesmo lhes havia contado no passado ao redor da fogueira, o questiona,
Folgo em saber que a paz continua por aqui ancião. E diga-me lá, tem passado muitos mercadores ou viajantes por esta estrada nos últimos dias?

O velho escuta as palavras do General e sem pensar muito responde,
Viajantes e mercadores General? Nem vivalma! Perdão, exclui-se um conhecido meu que veio ontem buscar a sua carroça e que partiu para Coimbra durante a noite. Pobre homem... a vergonha que tem da sua horrível cicatriz que tem na cara e que o faz sempre viajar na calada da noite!"

Ao escutar estas palavras PsyCorps fica branco, pois fizera-se luz na sua cabeça!
Agora se recordava de um acontecimento do ano anterior, em que o Comandante de Batalhão de Gusmão Marques, excelente espadachim do exército, tinha caído numa emboscada durante uma patrulha.
Tudo se assimilava ao crime cometido a Dom Harkonem: soldados mortos por flechas curtas do mesmo género da que havia morto o escudeiro de Dom Harkonem e a terrível mancha negra num ferimento curto que Gusmão Marques tinha em seu braço. Apesar de haver sangue na espada de Gusmão Marques e um dos soldados moribundos ainda ter conseguido dizer a quem o socorreu "Ficou sem cara... ficou sem cara...", a verdade é que nunca haviam conseguido encontrar o assassino nem o ferido pela espada de Gusmão.

Acalmando-se e escondendo o seu nervosismo dos olhos de águia do velho camponês, PsyCorps toma a palavra e volta a questiona-lo,
Horrível cicatriz? Pobre alma! Podeis-me dizer mais sobre ele? Pois desejo o encontrar para lhe falar de modo a que aceite as agruras da vida como dádivas de Jah!

O velho homem, que nada tinha a temer do General PsyCorps sorriu perante o pedido feito, nada tinha a esconder e do General só conhecia terror nos criminosos e ternura para os mais desfavorecidos. Desse modo, sem hesitar, diz-lhe,
Continuais um bom coração general! O homem dá pelo nome Michel. Diz-se ser refugiado do estrangeiro onde lhe mataram a família e o marcaram com essa horrível cicatriz. Nunca ouvi falar mal dele por estas bandas, onde é conhecido como comerciante de milho a preços aceitáveis e sem ganancia.
Haaaa, e como teme a sua desfiguração, traja sempre um manto negro com capuz, em que normalmente esconde a cara e a sua vergonha.
A sua carroça tem uma roda meia partida e reparada com uma barra de ferro, e é puxada por dois garanhões, um preto e outro castanho com manchas brancas.
Um bom e generoso homem, senhor General. Espero que o façais encarar a vida com amor de novo!


PsyCorps escuta o velho camponês e medita sobre as capacidades do suspeito de conseguir até a ternura e carinho dos que o rodeiam.
No intimo sentia-se triste por não dizer tudo ao velho camponês, que na sua inocência tinha aceitado esse estrangeiro em sua casa, mas só assim podia ficar a saber de todos os pormenores.

PsyCorps agradece ao velho camponês as suas informações e deseja-lhe as bênçãos de Jah.
De seguida esporeia o seu cavalo e junto com os demais soldados empreende a galope para a cidade de Coimbra. Agora tinha informações vitais de como identificar o suspeito do crime e urgia ser rápido!

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Gwenhwyfar


Gwen tinha acabado de entrar na biblioteca quando Manfredo entrou esbaforido.

- 'Nha s'hora! 'Nha s'hora! Isto acabou de chegar p'ra si!

A sensação de mau presságio aumentou e envolveu Gwen como um manto negro. Não se apercebeu que tremia dos pés à cabeça até que o marido se colocou a seu lado e agarrou no embrulho de veludo carmim.

- De onde vem isto? -perguntou Gwen, presa nos movimentos do marido.

- 'Tá lá fora o mensageiro, 'nha s'hora.

E Manfredo, num raro momento de lucidez, deixou o homem passar. Estava empoeirado dos pés à cabeça mas as divisas do exército de Dom Psycorps eram bem visíveis.

- Trago uma mensagem do General Psycorps para a Condessa Gwenhwyfar de Albuquerque -disse ele.- "Encontrei a pista do criminoso que tirou a vida de Vosso irmão e meu amigo, segue o medalhão do mesmo que foi encontrado perdido nas estradas. Um dos batalhões está a preparar a viagem dos nossos falecidos para o Vosso Castelo, de modo a que sejam dadas as últimas honras. Juntar-me-ei a vocês assim que terminar esta missão. Que Jah me guie!"

Um gemido saiu dos lábios brancos de Gwen, que cambaleou e teria caído se Zatarra não tivesse sido lesto a agarrá-la.

- O meu irmão morreu? -perguntou, aturdida. Olhou para o marido, implorando que ele negasse, que dissesse que era só uma brincadeira de mau gosto, mas nos olhos dele viu reflectida a mesma angústia que a trespassava.

Um grito terrível cortou o silêncio da biblioteca.

- Haaaaaaarrrrkkkkkk!

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--Michelotto


Michelotto estava em Coimbra já há um dia. O mercado era mais fraco do que ele pensara. E afinal esta não era uma cidade movimentada como lhe tinham dito. Ainda assim continuou o seu plano de se passar por vendedor de milho, e instalou a carroça num canto do mercado, enquanto olhava desconfiado para os oficiais municipais que controlavam preços e decidiam taxas.

A sua barba cobria já a maior parte da cara, e sem traços que o identificassem naquela cidade, sentiu-se à vontade para tirar o manto e o capuz, e falar com as pessoas com naturalidade. Tudo correu bem, e Michelotto ficou satisfeito com o seu disfarce.

A meio da tarde reparou numa maior agitação. Havia mais soldados que de manhã. Ao perguntar a algumas pessoas o que se passava, estas disseram apreensivas.

É o general Psycorps! Alguma coisa grave deve estar para acontecer.
Psycorps


PsyCorps chega junto com o exército à entrada de Coimbra sem que tenha sido visto o suspeito na estrada percorrida.
Rapidamente envia um dois grupos de batedores: um para Aveiro e outro para Viseu com ordens estritas de busca e de não encetarem combates, pois sabendo das elevadas qualidades do criminoso, não se encontrava disposto a perder mais homens inutilmente.

De seguida envia mensageiros aos comandantes das portas de Coimbra informando da situação e dando ordens para deterem quem quisesse sair da cidade com as características do criminoso procurado.

De seguida dirige-se ao posto do Capitão de Coimbra e diz ao vigia,
General PsyCorps apresenta-se para falar com extrema urgência com o Capitão de Coimbra, Dom Satyrus.

O guarda estreme-se e diz,
Caro General, o Capitão não se encontra, saiu a toda a brida com um contingente de soldados depois de ter recebido indicações da morte do seu estimado amigo Dom Harkonem!

PsyCorps suspira, compreende que se esperar pelo regresso do Capitão, as hipóteses do criminoso se escapar apenas sobem!
Toma então uma decisão critica e diz ao guarda,
Venho em perseguição desse mesmo criminoso! Sei que pelas pistas que recolhi que poderá se encontrar na cidade, por isso manda de imediato reforçar a guarda do Conselho e chama-me dois mensageiros, dos mais rápidos, pois vou escrever duas missivas: uma para o General Araj e outra para o General Satyrus.

O guarda de imediato põe-se a executar as ordens do General e antigo Capitão de Coimbra sem pestanejar, pois já sabia que em assuntos sérios não havia tempo a perder.
PsyCorps entra no escritório, senta-se numa das secretárias e redige as seguintes cartas:
Quote:
Caro General Araj,

A esta hora já deveis saber do assassinato do nosso querido amigo Dom Harkonem. As pistas que encontrei apontam para que o criminoso seja o mesmo que matou o Batalhão de Gusmão Marques.
Este criminoso é estrangeiro, dá pelo nome de Michel e se faz passar por mercador de milho, tem uma das rodas da carroça meia partida e reparada com uma barra de ferro, e é puxada por dois garanhões, um preto e outro castanho com manchas brancas. O mesmo tem uma cicatriz profunda na cara, decerto a provocada pelo falecido Gusmão Marques e costuma trajar manto e capuz negro, além de viajar pela noite.
Persegui-o até Coimbra e vou iniciar as buscas no mercado e na cidade.
Solicito que reforces as tropas nas fronteiras para o Porto e nos Portos de Aveiro e Lamego, por onde o mesmo poderá tentar escapar.

Atenciosamente,
Dom PsyCorps Monte Cristo


De seguida lacra a carta e entregando ao primeiro mensageiro e diz,
Entrega em mão própria ao General Araj sem demora, por favor!

De seguida pega em papel e na pena e escreve a segunda carta,
Quote:
Caro General Satyrus,

A esta hora já deveis saber do assassinato do nosso querido amigo Dom Harkonem. As pistas que encontrei apontam para que o criminoso seja o mesmo que matou o Batalhão de Gusmão Marques.
Este criminoso é estrangeiro, dá pelo nome de Michel e se faz passar por mercador de milho, tem uma das rodas da carroça meia partida e reparada com uma barra de ferro, e é puxada por dois garanhões, um preto e outro castanho com manchas brancas. O mesmo tem uma cicatriz profunda na cara, decerto a provocada pelo falecido Gusmão Marques e costuma trajar manto e capuz negro, além de viajar pela noite.
Persegui-o até Coimbra e vou iniciar as buscas no mercado e na cidade.
Solicito que regresses o mais rápido possível à cidade de modo a protegeres o Conselho, não vá essa alma dos infernos pretender derramar mais sangue.

Atenciosamente,
Dom PsyCorps Monte Cristo


De seguida lacra a carta e entregando ao segundo mensageiro e diz,
Entrega em mão própria ao General Satyrus sem demora, por favor!

Levantando-se, dirige-se para a entrada onde aguardavam o guarda e o seu exército.
Tendo tomado conhecimento de que as suas ordens se cumpriam eficientemente, divide os vários batalhões por zonas de busca, tendo um especial cuidado de que os mesmos cerquem o mercado o melhor que pudessem.

De seguida dirige-se para o mercado, onde o povo nada habituado a ver o exército dentro da cidade, pois a última vez que tal fora necessário tinha sido perante a crise dos piratas, estranhou a presença de tantos soldados juntos do General.

PsyCorps e os seus soldados marchavam firmemente pelo mercado, sem provocar distúrbios até ao local onde se vendia o milho, nisto PsyCorps nota a carroça com a roda defeituosa, os dois garanhões descritos pelo velho e um homem alto e magro com uma larga barba que tentava ocultar uma profunda cicatriz.

Não tendo duvidas de ser quem procurava, apróxima-se dele e diz em voz elevada,
Michel, porque matas-te Dom Harknem?

O homem solta um berro e tirando um punhal do cinto lança-se sobre o General PsyCorps, este tomado de surpresa por tal velocidade, desembainha a espada e desviando-se profere um profundo golpe no braço que empunhava o punhal.
O criminoso larga a arma num grito de dor e corre para os cavalos, os enxotando para cima de PsyCorps e dos soldados, pondo-se de imediato em fuga pelo meio do mercado.

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--Michelotto


Michelotto tinha um sexto sentido para o perigo. Apercebendo-se de que o número de soldados na praça era maior que o normal, chegou-se à carroça, pegou na espada, devidamente embrulhada numa sarapilheira - pois levantaria suspeita ver um simples mercador ostentar uma arma de guerra - e colocou-a às costas. Apalpou o fiel punhal, que trazia sempre consigo, e sentiu-me mais seguro.

Percebeu que o cerco se apertava. Baixou a cabeça, como se tentasse fazer-se mais pequeno na multidão, mas continuou a seguir todos os movimentos. Foi então que um homem mais corpulento e mais velho que os restantes soldados - porventura o citado general Psycorps - lhe falou sem hesitação.

Michel, porque mataste Dom Harkonen?

Tinha sido descoberto. Não era o momento para adivinhar como, tinha que reagir. Puxou do punhal e tentou golpear o seu opositor. Este estava preparado, e como uma espada é mais longa que um punhal, o general golpeou o braço de Michelotto que não evitou deixar cair o punhal.

Reagiu instintivamente saltado para o outro lado da carroça e fazendo os animais correr, semeando a confusão no mercado. Ao mesmo tempo escapulia-se por uma rua apertada, deixando o mercado atrás de si a toda a velocidade.
Psycorps


PsyCorps fora apanhado desprevenido com a rapidez de raciocínio do criminoso ao lançar os seus cavalos sobre ele e os soldados, mas sendo ambos bem treinados, depressa contiveram os animais.
De seguida ordena a que os soldados persigam o criminoso, pois tinham armaduras mais leves e logo seriam mais rápidos na perseguição.
Ordena também que os demais cubram em meia-lua o resto da zona, que infelizmente por ser a parte velha da cidade, era repleta de ruas, becos e demais locais onde facilmente um bandido conseguiria escapulir da justiça.
Por outro lado estava esperançado que o golpe que dera no criminoso o enfraquecesse rapidamente.
PsyCorps nunca fora adepto de venenos para as armas, mesmo em batalhas difíceis, mas aprendera nas artes da guerra, como preparar a sua arma para golpes de difícil ou quase impossível cura. Neste caso, pela morte hedionda e sem honra do seu amigo Harkonem, havia preparado a sua espada para, caso necessário, deixar uma profunda e dolorosa lembrança no criminoso, caso o mesmo resistisse à justiça: havia banhado a espada em sal. Era bem sabido dos campos de batalha, que feridas de armas banhadas em sal, dificilmente cicatrizavam e facilmente se infectavam, causando dores atrozes na vitima. Era uma vingança terrível decerto, mas com uma dor muito inferior à que havia sido causada aos familiares e amigos pelo criminoso.

Dom PsyCorps de seguida, com um pano resistente, pega no punhal caído no chão e embrulha-o cuidadosamente.
De seguida retira do seu alforge papel, tinteiro e pena e usando uma bancada próxima escreve uma rápida carta,
Quote:
Cara Condessa Gwenhwyfar,

Sei que este é o pior momento em que vos poderia pedir ajuda, mas conhecendo a fibra de que sois feita, ficareis irritada se não vos confiasse a Vós este meu pedido.

Junto vos envio o punhal suspeito com que Vosso estimado irmão e meu amigo Dom Harkonem foi odiosamente e barbaramente assassinado, rogo que tenhas o devido cuidado com o mesmo, pois pode se encontrar envenenado, solicito que useis os Vossos conhecimentos da ciência para provar esse mesmo facto.

De seguida, rogo que contenhais a Vossa dor e junto com o meu estimado irmão e Vosso fiel esposo, Dom Zatarra de Monte Cristo, venham o mais rápido possível a Coimbra com as provas encontradas.

O criminoso continua a monte na cidade de Coimbra, mas tendo em conta que o feri profundamente no braço em que empunhava o punhal com a minha espada banhada em sal, não deverá resistir na sua fuga por muito tempo.

Atenciosamente,
Dom PsyCorps de Monte Cristo


De seguida chama o seu escudeiro para que leve a carta e punhal urgentemente à Condessa Gwenhwyfar e sem demoras.

De seguida junta-se aos seus soldados na caça ao criminoso.

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--Michelotto


Michelotto, encostou-se no vão de uma porta para recuperar o fôlego. O braço direito doía-lhe mais do que a profundidade do golpe deixaria adivinhar. Homem habituado a estas andanças, Michelotto olhou a ferida aberta, e pensou que algum veneno pudesse ter sido usado. Sugou e cuspiu sangue, mas a sua dor só aumentou. Sem um momento de fraqueza, voltou a fazê-lo, e uma vez mais.

Rasgou uma tira da sua camisa, e apertou a ferida o melhor que pôde usando apenas a boca e a mão esquerda. Teria de servir para já. O braço estava demasiado fraco para poder usar a espada, mas tinha ainda o seu famoso garrote.

Não teve tempo para pensar mais, um soldado passava no beco onde ele estava. Michelotto, comprimiu-se contra a porta onde se escondia, e quando o soldado passou, o assassino passou o fio do garrote pelo seu pescoço, e num movimento agilíssimo, garroteou o seu adversário em poucos segundos, usando principalmente a força do braço esquerdo.

Ouviu os soldados que o procuravam, e procurou outro esconderijo, deixando atrás de si o seu sangue e o soldado morto.
Gwenhwyfar


Cara Condessa Gwenhwyfar,

Sei que este é o pior momento em que vos poderia pedir ajuda, mas conhecendo a fibra de que sois feita, ficareis irritada se não vos confiasse a Vós este meu pedido.

Junto vos envio o punhal suspeito com que Vosso estimado irmão e meu amigo Dom Harkonem foi odiosamente e barbaramente assassinado, rogo que tenhas o devido cuidado com o mesmo, pois pode se encontrar envenenado, solicito que useis os Vossos conhecimentos da ciência para provar esse mesmo facto.

De seguida, rogo que contenhais a Vossa dor e junto com o meu estimado irmão e Vosso fiel esposo, Dom Zatarra de Monte Cristo, venham o mais rápido possível a Coimbra com as provas encontradas.

O criminoso continua a monte na cidade de Coimbra, mas tendo em conta que o feri profundamente no braço em que empunhava o punhal com a minha espada banhada em sal, não deverá resistir na sua fuga por muito tempo.

Atenciosamente,
Dom PsyCorps de Monte Cristo




Gwen leu e releu a mensagem, antes de a pousar e pegar no punhal. Analisou-o com atenção, evitando a lâmina envolta em cabedal.

Chamou um criado e entregou-lhe a carta, ordenando que entregasse ao esposo.

Depois encaminhou-se para a biblioteca, onde se dirigiu à lareira. A enorme lareira tinha um quadro pintado por cima, retratando-a a ela e a Zatarra no dia do casamento. Ela e Zatarra eram os únicos a saber que, ao puxar o atiçador da direita, uma parede falsa se movia, dando livre passagem a um corredor escuro.

Gwen agarrou numa vela e entrou no corredor, deixando que a lareira voltasse à sua posição inicial.

A luz da vela era fraca mas havia archotes com panos embebidos num óleo que rapidamente pegou fogo. Assim alumiada, apagou a vela e seguiu pelo corredor estreito que desembocava num laboratório.

Como médica, Gwen era curiosa sobre as plantas e gostava de fazer experiências, mas resolvera criar o seu próprio laboratório para que pudesse ter um pouco de paz e sossego.

A lâmina estava rubra de sangue, mas Gwen sabia que se houvesse ainda vestígios de veneno, ela conseguiria encontrá-los.

Pôs-se a trabalhar em silêncio, disposta a chegar ao fundo da questão.

*******

Emergiu do laboratório horas mais tarde. A boca estava cerrada num ricto de firmeza, a testa contraída.

Evitou a biblioteca, onde decerto o esposo a aguardava, e seguiu pela passagem secreta até aos seus aposentos. Ninguém sabia, com excepção de Zatarra, que o solar estava coberto de passagens secretas, e naquele momento eram úteis para evitar o próprio marido.

Chegou aos seus aposentos, apagou o archote e abriu o baú que jazia aos pés da sua cama. Era ali que guardava a sua parafernália dos tempos de soldado, incluindo um fato negro que adejava a si como uma segunda pele. Era perfeito para passar despercebido.

Vestiu-se rapidamente e saiu pela janela, ágil e silenciosamente.

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--O_narrador


Enquanto Michelotto foge, carregando as suas feridas, um alarme soa por todo o Condado.
Com base nas observações de Dom Psycorps, partem arautos para os quatro cantos do Condado de Coimbra e, especialmente, para a fronteira Sul. Transportam consigo a descrição do assassino e a informação de que este se encontra ferido.

Tudo indica que o assassino se dirige para sul, procurando fugir aos seus perseguidores e encontrar um barco que o transporte para fora do Reino.

Entretanto, a Dama Gwen e Dom Zatarra, estimados amigos e familiares de Harkonen dirigem-se para Coimbra. Os seus olhos espelham a dor e a consternação pelas muitas tragédias que se têm abatido sobre esta família e, acima de tudo, a vontade de confrontarem o assassino de Harkonen.


Mas a sorte parece estar do lado de Michelotto. Dom Satyrus encontra-se demasiado longe e ainda não chegou até ele a descrição do assassino. O mensageiro que fora enviado ao Duque Araj informa que não o conseguiu encontrar e que, provavelmente, este se encontrará embarcado. Parece ser uma questão de tempo até que Michelotto consiga entrar em Lisboa e fugir do Reino.
--Michelotto


Michelotto não confiava na sorte. A sorte faz-se, costumava dizer. Aliás Michelotto não confiava em muita coisa. Talvez no seu punhal, e no seu garrote. Mas agora até o punhal fora perdido. Vão-se os punhais, salve-se o homem.

Não foi por sorte, mas por inteligência que Michelotto roubara um manto branco de uma janela, se envolvera nele, e fugira discretamente para a orla da cidade, quando todos procuravam um homem vestido de preto.

Passada a última casa, Michelotto atirou fora o manto, e internou-se na floresta. Caminhou por horas até se sentir extenuado. Sabia-se a salvo, mas não definitivamente. Punha agora a hipótese de não recolher a segunda metade do pagamento. O melhor seria chegar a Lisboa, e embarcar para longe.

Foi ao dar por si à beira de uma pequena quinta, que viu a sua solução. Esperou que anoitecesse, e então roubou e selou um dos cavalos. Montou-o e cavalgou rumo ao sul tão rápido quanto pôde.

A dor no braço aumentava, mas a sua força interior era ainda maior que ela.
Galahard
O Nobre Galahard ao passar apressadamente com suas carroças pelo centro de Coimbra nota um alvoroço fora do comum, mesmo para um mercado, e pensa:
“Tantos soldados e cavalos por aqui. Seria uma liquidação de armaduras ou inventaram nova maneira de cobrar impostos?”
Ao reconhecer o estandarte do exercito de Dom Psycorps deduz que é algum tipo de perseguição a criminoso muito procurado, certamente por crime muito grave.
“Bem, melhor sair logo daqui, pois quem não ajuda não deve atrapalhar. Eu é que não quero estar na pele do infeliz perseguido, com todo esse exército a lhe caçar.”
Em seguida toca as bestas com mais vigor, imprimindo mais velocidade a caravana e distância do mercado.
_________________
--O_narrador


Jaime Lanister, Secretário da família Monforte, tinha saído da sua casa em Alcobaça e ao ver as estradas cheias de militares, tentou saber o que se passava.

Ouviu com assombro os detalhes do assassínio de Harkonen e a descrição do assassino. Percebeu de imediato que tinha uma missão a cumprir. Tinha vindo para Portugal numa comitiva dos Monforte e, desde tenra idade que servia os Monforte de Itália, parentes da Casa Real Portuguesa. Desde então, tinha ficado em Alcobaça a secretariar e dirigir as propriedades e negócios da Casa de Monforte no Condado de Coimbra. Apesar de se encontrar há anos em Portugal, continuava a chamar Condottieris aos soldados e a considerar que nenhuma outra cidade igualava a sua Florença natal. Tinha conhecido Harkonen no reinado de Dom Mac, quando este ainda era Visconde e servia o Rei como Conselheiro Legal, e achara-o petulante e arrogante.
Lanister entrou no seu gabinete e escreveu uma carta a Sua Majestade, a D. Ana Cat de Monforte, Rainha de Portugal:

Mui Graciosa Majestade,

Trago notícias alarmantes.
Dom Harkonen foi assassinado por um desconhecido, junto a Coimbra.
O assassino utilizou um punhal envenenado e, tendo em conta tudo o que ouvi sobre ele, trata-se decididamente de um profissional, provavelmente estrangeiro.
Desconheço quem seja o mandante e, sinceramente, malgrado os boatos que inundam o Condado, duvida que alguém, além do próprio assassino, faça a mínima ideia. É sabido que Dom Harkonen tinha muitos inimigos, não só em Portugal, e que a prática que instituiu de enforcar assaltantes de estrada o tornou muito impopular.

Um dos Condottieri disse-me que o homem possui uma cicatriz no lado direito do rosto, é atlético e tem uma barba rala. Uns dizem que é loiro, outros que é ruivo, mas é unânime que não parece um português. Dom Psycorps já fez sangue e, ao que parece, terá ferido o assassino.


Depois, Jaime Lanister assina o seu nome, lacra a carta e dirige-se ao porto de Alcobaça.
Encontra um barco veloz e pede ao Capitão, a troco de algumas moedas, que transporte a sua carta ao navio de Sua Majestade.
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