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[PORTUGAL] O Assassínio de Harkonen

--Michelotto


Michelotto cavalgava para sul, pelas estradas principais como se não temesse ser visto. Seguia inclinado sobre a sela, dir-se-ia ferido. O seu braço aparentemente incomodava-o, talvez estivesse febril. A cavalgada parecia por isso desesperada e sem cautelas. Não se preocupava que as pessoas vissem um cavaleiro veloz, correspondendo às descrições que certamente já se espalhavam pelo reino.

De facto, Michelotto, como sempre tinha um plano. Assim que a noite caiu, e sabendo que a sua cavalgada fora já notada em diversas partes, o assassino arrepiou caminho. Entrou na floresta, endireitou-se na sela e sorriu para si mesmo. Estava ferido sim, mas não tanto como quisera aparentar. A salvo de olhares estranhos, cavalgou toda a noite, para norte.

Michelotto estava certo que toda a gente o julgava a caminho de Lisboa. Era hora de os enganar. O seu destino era Lamego, de onde sabia estarem sempre a partir barcos para Castela. Com Dom Psycorps e os outros generais a buscar pistas nas estradas para sul, Michelotto chegaria a Lamego sem percalços, pronto para deixar o reino para nunca mais ser apanhado, levando consigo para sempre qualquer pista que indicasse o mandante da morte de Dom Harkonen.
--O_narrador


Subitamente, apesar de não acreditar na sorte, Michelotto foi bafejado por esta.
Diz-se que Jah protege os audazes…!

À sua frente, parada no meio da estrada que atravessa a floresta, estava uma caravana comercial, constituída por várias carroças. Desce do cavalo e esconde-se no arvoredo.

Uma das carroças tem a roda solta e, perante a voz de trovão do comandante da caravana, um grupo de homens tenta atrelar a roda e prosseguir viagem.

Michelotto não sabe que o dono desta voz é Dom Galahard, mas percebe que este está impaciente e deseja chegar quanto antes ao seu destino.

No meio das palavras furiosas do comandante da caravana, distingue uma:
“Lamego”

Só então se apercebe que as caravanas ostentam o pavilhão da Cidade de Lamego.
Instintivamente, Michelotto começa a contar o número de homens que integram a caravana e chega à conclusão que, com a excepção do comandante, só dois parecem ser soldados. Os restantes têm a postura indolente e preguiçosa dos condutores de carroças do Reino.

Por outro lado, a tranquilidade das estradas de Coimbra, que há muito foram limpas pelos exércitos do Condado, parece ter tido efeito também nos soldados. Tirando Dom Galahard, que ergue a sua espada, os outros soldados encostaram as suas armas a uma árvore, enquanto ajudam os carroceiros a colocar a roda.

Uma ideia genial insinua-se na mente de Michelotto…
--Michelotto


Michelotto não hesitou, pensando rápido, elaborou um plano. Escondeu a sua espada, colocou à vista um saco ainda meio de milho que trouxera consigo, descobriu o rosto, agora já coberto de uma barba cerrada, e dirigiu-se ao grupo.

Ao ver que o olhavam com surpresa, dirigiu-se àquele que parecia ser o líder e apresentou-se, num português com um forte sotaque estrangeiro.

Caro senhor, sou Michelotto Corella, mercador de Valência. Vendia milho em Portugal, mas fui assaltado por bandidos, perdi quase tudo, e ainda me feriram. - disse exibindo o seu braço. - Não me resta senão viajar para Lamego, onde tomarei um barco para a minha cidade. Será que posso ter a vossa companhia durante parte do caminho? Tenho medo que os ladrões me voltem a atacar se viajar sozinho.

E vendo o olhar hesitante de Dom Galahard, o líder do grupo, Michelotto puxou de alguns papéis, letras de pagamento, promissórias e cartas de recomendação, tudo com selos de Valência, atestando a sua história.
Galahard
Brindando o estranho com uma de suas melhores carrancas, Dom Galahard examina superficialmente os papéis que este lhe estende, enquanto atenta para o sotaque e principalmente para o que NÃO diz o forasteiro. Sabe que papéis sempre podem ser falsificados.
Olhando com cara de jogador de poquer para o viajante pensa:
" Não seria a primeira vez que um vagabundo ou assaltante tenta se ocultar numa caravana. Mas é melhor vigiá-lo de perto do que deixá-lo a espreitar em emboscada".
- Muito bem, mais um integrante pode nos ser útil, afinal teu ferimento não parece tão sério assim. Vá até a segunda carroça ter com o cozinheiro (o mais versado em medicina por aqui) que ele colocará algum fumo mascado com bile de carneiro aí, para que essa ferida não fique pior. Mas asseguro-te que não será uma viajem de turismo. Para permaneceres conosco terás que trabalhar como um de nós.
Assim que o soturno viajante se afastou agradecendo, Dom Galahard fez um aceno com a cabeça para um soldado que com um enganoso ar de distração a tudo observava.
- Soldado, temos um novo integrante na caravana. Não se sabe se é confiável ou um ladrão qualquer. Vigie-o com a maior discrição sem que ele note, mas caso esse gajo tentar roubar alguma coisa, decepa a mão ladrona e chuta-o para a beira do caminho de imediato. Mantenha-me informado.
Dizendo isso, abandonou os papéis do estranho dentro da carroça mais próxima e foi conferir o andamento dos trabalhos.
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--O_narrador


A Caravana seguiu o seu caminho em direcção a Lamego.
Michelotto manteve uma postura reservada, tentando fugir ao olhar inquisidor de Dom Galahard, que sentia algo estranho neste estrangeiro.
Porém, os seus documentos pareciam legítimos e, até ao momento, Michelotto tinha-se revelado prestável e educado o suficiente para desvanecer todas as suspeitas.

De tempos a tempos, a caravana cruzava-se com soldados que seguiam para Sul, em busca do assassino de Harkonen. Saudavam Dom Galahard, mas, ao aperceberem-se que este rumava para Norte, não perdiam muito tempo a obter informações.

Corriam boatos de que o assassino estaria escondido nas serras em redor de Santarém, enquanto aguardava a chegada de um navio ao porto de Lisboa.

Quando finalmente, após dias de viagem, a caravana se aproxima de Lamego, Michelotto repara num navio que se dirige ao porto.
O pavilhão do navio está ainda distante e Michelotto não consegue ainda identificar a bandeira que este ostenta, mas sente que o momento de deixar este Reino se aproxima finalmente.
--Michelotto


Chegado a Lamego, Michelotto procurou imediatamente o porto. Era um porto pequeno, fluvial, sem o alarido de Portos marítimos como Lisboa, porto ou Aveiro. Ali Michelotto sentia-se mais protegido. A dor no braço já não o incomodava tanto, e isso dava-lhe confiança. Sentia que em caso de necessidade podia voltar a empunhar a espada.

No porto, falou com algumas pessoas e soube que um navio se aprestava para subir o Douro, em direcção a Castela. O dinheiro que trazia consigo era mais que suficiente para lhe comprar uma passagem. Ao seu redor ouvia falar português, castelhano, catalão, francês e outras línguas que não reconheceu. Sentia-se perfeitamente integrado, e a salvo de olhares inquiridores. Sabia que o pior tinha passado, e em breve estaria fora do alcance daqueles que procuravam vingar a morte de Dom Harkonen.

Foi então procurar o capitão do navio, e garantir a sua passagem.
Ana.cat
Após alguns dias de ausência no reino vizinho de Castela e Leão, Ana Catarina navegava de novo no Amoras em águas portuguesas, ao longe já se avistava Lamego com o seu bucólico porto fluvial, apesar de não ser o seu destino final - esse era a cidade do Porto - era necessário reabastecer os viveres a bordo do pequeno foncet. Decidiu-se então fazer uma curta paragem em Lamego, o tempo estritamente necessário para que algum marujo fosse ao mercado e adquiri-se comida.
Ana optou por sair do barco, estava cansada dos movimentos oscilantes do convés e necessitava de colocar os pés em terra firme.
Enquanto esperavam pelo marujo a rainha passeava pela doca em círculos a debitar uma carta que recebera dias antes.


- D. Harkonen foi assassinado por um desconhecido... trata-se decididamente de um profissional... - repetiu

A Monforte nunca tivera um contacto muito próximo com o antigo regente e pretendente ao trono, mas aquela notícia preenchia-lhe os pensamentos, sabia das suas implicações. Um assassino desconhecido, aparentemente profissional e contratado. Só uma bolsa recheada de ouro tinha possibilidade de suportar o custo de um assassino daquele género... além disso, quem quer que fosse que o tenha contratado com certeza deveria beneficiar com tal morte. Era isto que a preocupava... apesar de não estar ao corrente dos boatos suscitados com a morte de D. Harkonen não era preciso ser muito inteligente para perceber que o seu nome já deveria estar a ser segredado de ouvido em ouvido como a provável contratante do assassino. Afinal de contas a sua família tinha dinheiro e ela seria a principal beneficiada com o afastamento de D. Harkonen da sucessão ao trono. Era necessário tomar alguma medida para impedir a propagação de tais boatos e repor a verdade.
Era nisto que estava a pensar enquanto fazia aqueles passeios circulares pelas docas e relia a carta.


- O homem possui uma cicatriz no lado direito do rosto, é atlético e tem uma barba rala...

Coincidência ou não após repetir aquelas palavras para si mesma, Ana ao levantar a cabeça e deparou-se com um homem cujo físico correspondia ao descrito na carta. Ela quase congelou de susto... e quando percebeu que aquele poderia ser o assassino tentou tomar uma atitude discreta e descontraída, como se não soubesse de nada. Escondeu-se atrás de alguns caixotes e observou-o furtivamente, o seu jeito natural denunciava-o, parecia estrangeiro, e uma cicatriz profunda marcava-lhe o rosto. Sem esperar por segundas opiniões a rainha chamou a sua guarda que a acompanhara desde Alcácer, eram apenas três. Pediu a um que fosse chamar o Chefe da Guarda de Lamego e aos outros dois que se despissem das suas armas mais visíveis, assim como protecções e fossem ao encontro do sujeito como se se tratassem de meros armadores ou marinheiros em busca de alguma informação. Um deveria interpela-lo de frente enquanto o outro o atacaria por trás.
O plano pareceu ter resultado até ao momento em que o guarda que vinha de trás se precipitou antes do tempo e alertou o suspeito para a cilada. O assassino pareceu rodopiar sobre os pés e desferiu um ágil golpe sobre um dos guardas. Aquele caiu no chão ensanguentado, já o outro deixou escapar o estrangeiro por entre os dedos. Ana, antevendo os movimentos do fugitivo, escondeu-se atrás dos caixotes de mercadorias do porto e desembainhou Dente-de-Leão. No momento em que o assassino passava pelo caixote em que ela se escondera, Ana desferiu a espada com força contra as suas pernas, fazendo-o cair. Deverá ter sido um golpe bem doloroso, pelo menos fora essa a sua intenção.
No fundo da rua a rainha avistou o terceiro guarda a correr na sua direcção com milícias lamecenses no seu encalço. O assassino ainda se tentou esgueirar mas Ana não hesitou e pressionou o gume de Dente-de-Leão contra a sua garganta.


- Tente fugir e eu mesma lhe abro as goelas - exclamou friamente.

O assassino não teve tempo de reagir à ameaça, as milícias saltaram-lhe em cima e amarraram-no. Quando o Chefe da Guarda de Lamego lhe questionou sobre o destino a dar ao cativo Ana foi poupada nas palavras:


- Entregue-o à família de D.Harkonen, que façam uso da justiça privada... sangue pelo sangue se acharem necessário...
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--Michelotto


Não chegou a encontrar o capitão do navio. Michelotto andava pelo cais quando notou que era olhado inquisitivamente. Não conhecia a dama que o olhava, mas pelos trajes, pelo séquito, pela pose, adivinhou tratar-se alguém importante. Não quis olhar de frente para não levantar suspeitas, mas logo lhe percebeu símbolos régios. Seria a rainha? Aqui em Lamego? Porquê? Seguramente em sua perseguição.

Michelotto tinha de agir, viu que alguns guardas a rodeavam, e tentou esgueirar-se-lhes, feriu o primeiro mortalmente, e escapou-se a um segundo. Tinha-se revelado, mas era melhor prevenir que lamentar ausência de acção.

Quando fugia do local, a rainha, escondida atrás de si golpeou-lhe as pernas fazendo-o cair. Mal se refez da queda viu que tinha uma espada encostada à garganta. E ouviu a sua captora dizer:

Tente fugir e eu mesma lhe abro as goelas.

Desta seria impossível Michelotto escapar.
--O_narrador


O Assassino Michelotto chega às portas do Castelo da Feira, feudo tradicional dos Albuquerque., acompanhado por um destacamento de soldados.

Quando os soldados se fazem anunciar, a noite já vai alta, e todos no Castelo se encontram a dormir.
A sentinela aproxima-se, de armas em riste e pergunta ao comandante dos soldados:
-Quem sois e o que quereis?

O comandante responde quem tem na sua posse um prisioneiro e que recebeu ordens da própria Rainha para o entregar nas mãos dos Albuquerque. Perante o olhar espantado da sentinela, manda chamar um dignatário da família.

A sentinela grita para os guardas na torre:
- Está aqui um guarda que quer entregar um prisioneiro. Chamem Dom Sylarnash.

Ainda meio a dormir, o guarda da torre pergunta:
-Que prisioneiro?

Já visivelmente impaciente e sem esperar que o sentinela lhe coloque a pergunta, o comandante dos soldados responde abruptamente:
- É o assassino de Dom Harkonen

Todos os guardas do Castelo observam agora esta estranha figura, atada e amordaçada, que os soldados transportam.

No cimo de um torreão, o fiel secretário de Dom Harkonen observa o estranho assassino e sabe bem o que tem a fazer. Durante os anos em que serviu Harkonen no tribunal, sempre o ouviu gabar as capacidades de um tal de Torquemada para extrair confissões.
O Juiz chegara inclusive a subscrever-se com ele para obter aconselhamento e Torquemada tinha Harkonen em grande conta.
O Secretário de Harkonen sabia que este Torquemada, que habitava em Castela e cujo nome fazia estremecer todos os hereges desse Reino, se encontrava em Lugo. Ainda Dom Sylarnash não tinha sido acordado e já saia um pombo do torreão do castelo, carregando uma mensagem urgente para Torquemada.

“ Se há alguém capaz de arrancar a verdade a este assassino, é o cruel Torquemada”- pensou o secretário.
Sylarnash
Acordado a meio da sua noite de sono por um criado, Sylarnash recebe da boca do mesmo a notícia que ali, no Paço do Castelo da Feira, havia chegado o prisioneiro e responsável pelo assassinato de Dom Harkonen, de imediato se faz munir das suas roupas mais próximas e mais à mão, e segue o criado que o acordara até ao grupo de militares que transportaram o responsável pelo terrível acontecimento.

Sendo saudado, enquanto se movia rapidamente pelo paço, pelo grupo de homens d'armas que se dispuseram ali, Sylarnash segue até ao pequeno cerco de homens que forçavam o meliante a permanecer imóvel naquele cerco.


- Afastai-vos! - Ordenou - Quero ver a face do traste que desferiu tal golpe mortal no nosso tio.

Olhando perplexo para tal figura de homem, o antigo homem d'armas analisou de cima a baixo aquela 'coisa' e enquanto isso dirigiu-se ao guarda mais próximo de si e que reconheceu de imediato.

- Zacarias dá a conhecer, a estes soldados, o caminho para as masmorras e os mesmos de que deixem lá este animal na cela mais escura e fria.

O grupo de militares de imediato se mobilizou seguindo o guarda pessoal do Conde, e enquanto isso Sylarnash afastava-se daquele local. Em direcção aos aposentos dos Condes de Seia. Onde após percorrer a ala dos aposentos dos familiares enviou uma aia de Gwenhwyfar a dar a conhecer aos condes a chegada do assassino.
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--O_narrador


Torquemada chegou sozinho ao Castelo da Feira.
Recebera uma mensagem urgente do Secretário de Dom Harkonen e fez-se de imediato ao caminho.
Apanhou um barco na costa galega e, um dia depois, atracou em Aveiro. Encontrou um cavalo veloz e dirigiu-se ao imponente Castelo da Feira, feudo dos Albuquerque.

Sabia que o esperava um desafio, mas estava pronto para ele.
Já por muitas vezes interrogara hereges e traidores, mas seria a primeira vez que passaria pelas suas mãos um assassino profissional.
Os primeiros problemas que antecipava eram precisamente a resistência a qualquer forma de dor e incapacidade de o pressionar com relações familiares ou amorosas. Por definição, um assassino profissional é alguém acostumado ao sofrimento e com poucas ou nenhumas relações afectivas.

Algo que havia aprendido nos seus anos de interrogatórios era que a dor por si só raramente serve para extrair confissões. Depois de semanas de tortura, o criminosos acostuma-se à própria dor e torna-se impossível obter qualquer informação fidedigna. Por outro lado, se o torturador utiliza a máxima força logo de inicio, com a intenção de fazer o criminoso quebrar, acaba por arrancar demasiadas confissões, umas verdadeiras e outras falsas.

Enquanto o Secretário o conduzia para as masmorras, Torquemada pensava qual seria a melhor forma de quebrar este assassino e descobrir quem era o mandante.
Para começo, avisou o Secretário que o assassino só deveria receber alimentação com a sua autorização expressa.

Depois, entrou na cela e ficou, de pé e em silêncio, a observar o prisioneiro. Assim permaneceu durante mais de uma hora, imóvel, tal como um leão que observa a sua presa.
--Michelotto


Michelotto, acorrentado nas masmorras, viu-se em frente ao torturador. Olhou-o e não deixou de sentir uma ironia pérfida. Quantas vezes fora ele que estivera do outro lado? Impunha medo apenas com a sua presença, deixava a ansiedade aumentar com a espera, usava o tempo, os gestos, os sons a seu favor para criar uma aura de pânico na sua presa, que tantas vezes a levava a falar ainda antes do primeiro golpe.

Mas agora era ele o acorrentado. Estudou o torturador, e pensou o que faria ele se estivesse no lugar daquele homem. Como faria ele cantar o preso Michelotto. Quis sorrir, tinha quase um prazer doentio naquela situação, como um mestre que observa outro a trabalhar, ainda que o trabalho fosse inflingir-lhe dor.

Ainda assim Michelotto sabia que o melhor era não pensar em si, nem na sua situação. Era mais fácil estudar este Torquemada, e pensar como faria ele próprio no lugar dele. Preferia ver tudo como se estivesse de fora. Como se nem sequer conhecesse o prisioneiro.
--O_narrador


Torquemada tinha ficado impressionado com o olhar inquisitivo de Michelotto e com o seu silêncio.
O normal seria que o criminoso tivesse tentado interromper o silêncio com um discurso nervoso ou até uma clemência.
Porém, o mais surpreendente era o olhar desafiante que este homem lhe lançava, ao contrário da maior parte dos prisioneiros, que habitualmente evitam olhar diretamente para Torquemada. Quase se podia dizer que o próprio prisioneiro estudava Torquemada.
Tinha agora a certeza que não seria fácil obter informações deste homem!

Após quatro dias, Torquemada decidiu começar o interrogatório ao assassino.
Durante estes dias, tinha adotado as táticas habituais e já amplamente testadas para soltar a língua a prisioneiros.

Começara por privar o sono a Michelotto, garantindo que um dos guardas o acordava frequentemente e, quase sempre, com grande brutalidade.
Depois, começara a supervisionar a alimentação fornecida a Michelotto, assegurando-se que esta era de fraca qualidade é que lhe era dada com grande irregularidade.

Tendo em conta que a cela do assassino não possuía janelas, Torquemada contava que a falta de sono, as privações alimentares e a ausência de rotinas tivessem contribuído para o desorientar. Tinha a certeza que, se tudo tivesse corrido bem, estes quatro dias iriam parecer quase quarenta a Michelotto.

Mandou que lhe trouxessem o prisioneiro para a sala de interrogatórios, na câmara principal da masmorra, e, após alguns minutos, tinha-o perante si. Achava-o cansado e mais magro, mas o olhar desafiante e altivo não parecia ter desaparecido do rosto do assassino.
Ordenou ao guarda que o sentasse à mesa, e, por sua vez, sentou-se em frente a ele.
Torquemada levantou um pano e revelou a espantosa refeição que a mesa escondia: Um Faisão com castanhas assadas, acompanhado de um copo de vinho do Douro. Um pitéu para alguém que há quatro dias só comia pão bolorento e bebia água choca.

Depois, olhou friamente para MIchelotto e disse-lhe:
- A esta hora, já deves ter percebido que não estás a lutar pela vida, mas sim pela morte!

Michelotto permaneceu imóvel.
- Não vou estar a enganar-te com promessas vãs e com uma clemencia que nem eu te posso conceder. Jamais sairás daqui com vida. Tu e eu sabemos isso- continuou.

Torquemada levantou-se e seguiu para o canto da câmara, acendendo uma vela e revelando um artigo que estava escondido na escuridão: a cadeira de interrogatórios.

Habitualmente, bastaria um vislumbre desta cadeira para pôr qualquer prisioneiro a tremer. Porém, como Torquemada já desconfiava, a visão da horrifica cadeira não arrancara sequer um queixume a Michelotto.

-Tens duas escolhas perante ti-
continuou Torquemada
Depois de uma curta pausa, enquanto passava as mãos pelos espigões da cadeira, concluiu com rispidez:
- Ou morres pelo meu punhal, de forma rápida e indolor, ou começas a morrer lentamente, sentado nesta cadeira. Como vai ser?
--O_narrador


Como o assassino nada dizia, Torquemada resolveu iniciar o interrogatório, sem contemplações e sem misericórdia.

E assim foi durante dias a fio…
Torquemada recorreu a todos os instrumentos do seu arsenal, não dando descanso ao corpo ou à mente de Michelotto.

O Banco de Tortura

A Roda

O Strappado

E…por fim…A Virgem de Nuremberga


As perguntas eram sempre as mesmas:
-Quem te encomendou este crime?
- Quem te ajudou em Portugal?
-De quem recebeste dinheiro?
-Quem é o mandante deste crime?


Durante as pausas, Torquemada tentava falar com o assassino, utilizando um tom aparentemente doce e compreensivo:

- Porque me obrigas a torturar-te? Por mim isto acabava já!
-Não achas que já cumpriste a tua missão e nada deves a mandante? Tenho a certeza que quem encomendou este crime está agora a sorrir e a beber vinho, enquanto to sofres nas minhas mãos.
- Quem é a alma vil que te deixa ser tão violentamente torturado e nada diz em teu apoio? Se o mandante do crime não pensa em ti, então também tu não te deves preocupar com ele.
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