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Os preparativos de uma Aclamação

Ana.cat
Ana Catarina espreitou pela janela... observou aos seus pés as movimentações na calçada contígua ao Paço. Escudeiros ao serviço das mais variadas e nobres Casas do Reino corriam de um lado para o outro preparando as montadas dos seus senhores, assegurando que tudo estava ao seu desejo. Ana distinguiu as quinas vermelhas dos Sagres esquartelado com o leão de ouro dos Silva, calculou tratar-se das armas do corcel do Príncipe-Regente, encontrou ainda as macieiras dos Camões, o campo esquartelado em cruz azul com quatro outras cruzes de Calatrava dos Sousa Coutinho, a aspa verde acompanhada por quatro flores-de-liz igualmente de verde sobre o fundo prateado das armas dos Miranda... e claro, o leão de prata da sua família, sobre um fundo cor de sangue.

Já o terreiro estava bem marcado, os criados do Paço não haviam deixado nada ao acaso. Tinham espalhado areia pela calçada, não só para abafar os maus cheiros dos cavalos mas também para marcar o lugar de cada nobre ou fidalgo da Casa Real para o início do cortejo. Entre a aglomeração de escudeiros, cavalos e criados distinguiu o vulto de Eudóxio, o secretário fazia-se acompanhar por dois oficiais menores, provavelmente a discutir os últimos pormenores da composição do cortejo.


- Sua Majestade, estamos atrasados, seria prudente vestir entretanto as roupas cerimoniais - falou uma voz atrás de si.

Ana virou costas à janela e encarou as aias que a serviam. A Monforte estava nervosa com aquilo tudo, e a sua paciência para aqueles arranjos estéticos era pouca ou nenhuma. Mas acabou por se render à realidade... que diria o povo se visse a sua rainha mal vestida e pouco arranjada? Não desejava ser alvo de troças, e mesmo que fosse, tal era inevitável - acreditava ela -, que não fossem aqueles os motivos dos gracejos populares.


- Estou nas vossas mãos... - disse às aias, abrindo os braços num gesto de rendição.


Nota FRP: Este RP irá desenrolar ao mesmo tempo que as investiduras devido a atrasos.

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Eudoxio
- Está de licença... - respondeu o soldado a medo ao ser questionado em relação ao paradeiro do guarda que com ele devia reforçar a defesa do lado esquerdo do cortejo.

- Licença? Julgo ter deixado bem claro que todos os soldados de licença se deveriam apresentar ao serviço! - respondeu exaltado o secretário real, não deixando o pobre, e agora atordoado, soldado explicar que a ausência do seu camarada de armas se devia a uma grave e inesperada doença. Tantos preparativos tinham-no deixado sob enorme pressão e nervosismo... Fechou os olhos e respirou fundo. "Onde é que paira o Comandante da Guarda?" questionou-se, sabendo bem que também ele estava sob enorme pressão e cheio de afazeres... Apesar de tudo o erro não fora grave e era fácil de resolver, mas um erro não deixava de ser um erro e Eudóxio desejava que tudo estivesse perfeito, pois aqueles preparativos da aclamação acabavam por ser também um teste para si... - Chame um dos guardas do Paço para ocupar o lugar. - ordenou a um dos pajens que o acompanhavam.

Avançou a passo lento até ao centro do terreiro e suspirou.

- Recapitulemos. À frente seguirá o Mestre-de-Armas com o estandarte real, seguido pelos restantes oficiais régios e depois Sua Majestade com o Príncipe-Regente a seu lado direito. Atrás deve seguir a alta nobreza e os representantes das grandes Casas do reino. Tudo isto com escolta militar... - olhou em volta e esboçou um pequeno sorriso de alívio, estava tudo pronto...
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--Mecia_a_aia


[Aposentos da Rainha - Paço Real]


As aias faziam os possíveis para responder às necessidades da rainha, apesar d'aquela não ter sido tocada pela tentação da vaidade - provavelmente devido à sua formação conservadora - os gostos pessoais da soberana no que respeitava a vestes eram muito limitados.

- Não gosto desse... (...) o decote é exagerado... (...) esse também não... (...) a cor é muito berrante... (...) não quero folhos! (...) - e assim continuava sem parecer ter fim à vista.

Mécia, uma das aias, chegara há Corte há relativamente pouco tempo para servir a rainha mas já se habituara às suas esquisitices, se fosse por vontade de SM vestiria sempre as mesmas cores e os mesmos traços... ora até parecia que não havia dinheiro nos cofres reais para vestir a soberana com a devida elegância!
Cabia a Mécia levar e trazer os vestidos para a rainha rejeitar. Mas ao fim de algum tempo, já cansada de percorrer os corredores dos aposentos reais, a jovem sentou-se, fazendo companhia a outra aia que desistira um pouco antes dela.
Aquela disse-lhe algo num tom baixo, para que mais ninguém ouvisse.


- Só há uma solução... dai-lhe alguma seda vermelha e arminho que ela até se irá babar de contentamento... ou então uma couraça de aço... hihihi!

As duas tentaram abafar um risinho...

- Que se passa aí? - perguntou a aia mais velha, que já acompanhava a rainha há vários anos, ainda aquela era somente herdeira de seu avô - Levantai-vos! Ide já buscar sedas escarlates e o manto de arminho de Sua Majestade! - ordenou num tom zangado, deixando à vista todas as rugas da sua testa franzida

As aias levantaram-se muito depressa e desapareceram dos aposentos entre mais risinhos...


- Eu não te disse...? Hihihi - foi tudo quanto se ouviu quando estas passaram além do umbral em ogiva.
--Fernao_o_chefe_da_guarda


[Antecâmara dos Aposentos Reais/Cavalariças - Paço Real]


Fernão, o Chefe da Guarda do Secretário Real, aguardava na antecâmara dos aposentos reais a chegada de SM, não estava sozinho, junto às portas de carvalho estavam dois soldados em guarda, hirtos e a fitar o infinito. Fernão coçou inquieto a barba grisalha, já aguardava pela rainha há pelo menos uma hora, era ele que iria fazer a sua escolta até ao Terreiro para que aí pudesse iniciar o cortejo pela cidade. O experiente guarda já fizera de tudo para se distrair, circulara em círculos pela antecâmara, polira a armadura, até desgrenhara os próprios cabelos de ânsia, ficando estes revolvidos e sem jeito.
"Mas o que estará lá dentro a fazer para demorar tanto tempo?", questionou-se incontáveis vezes. Outras tantas pediu para que a rainha fosse informada da sua presença, mas nem assim, os guardas não permitiram a sua entrada "Se estivessem ao meu comando... haviam de ver que a vida de soldado não é permanecer imóvel o dia inteiro...", resmungava na sua cabeça. A verdade é que aqueles guardas estavam ao serviço da rainha e não ao seu, portanto não haveria nada a fazer nesse aspecto.
Quando finalmente viu a porta abrir-se correu na sua direcção, já se preparava ele para levar o joelho ao chão quando, para sua desilusão, percebeu que se tratavam de duas aias aos cochichos. O guarda não conteve a curiosidade e dirigiu-se a elas.


- Minhas senhoras... - o experiente soldado dirigiu-lhes uma galante vénia - Perdoai a minha curiosidade - disse assim que se ergueu - Mas Sua Majestade já está pronta para iniciar o cortejo?

Uma das aias, uma jovem de cabelos negros ondulados, respondeu-lhe de modo não menos cortês.

- Sua senhoria, a nossa rainha ainda não está pronta... mas não tardará, estamos ao seu serviço e podemos assegurar-lhe de tal.

O velho guarda resignou-se à sua sorte e respondeu em jeito de despedida:

- Prezadas donzelas, agradeço vossa cortesia, irei dar pessoalmente ordem para que o cavalo de Sua Majestade seja preparado... enviarei um dos meus homens para aqui, quando Sua Majestade estiver pronta por favor avisai-o, virei de imediato para a receber. Agora, com vossa licença... não vos irei tirar mais tempo - despediu-se com outra vénia.

Correu a passo apressado na direcção das cavalariças, lá encontrou um velho cavaleiriço que entregava um pequeno garrano nas mãos de um rapaz de avental de ferreiro.

- Levai-me ao corcel de Sua Majestade - ordenou D. Fernão com indiferença ao homem.

O cavaleiriço conduziu-o por entre dezenas de compartimentos onde se encontravam muitos outros cavalos, alguns deles eram altivos de puro sangue, já outros pareciam que tinham andado a puxar engenhos agrícolas de tão mau estado em que estavam. As cavaleiriças pareciam cheias, o que indicava claramente que o inicio da cerimónia de aclamação estava para breve.
Após poucos minutos de caminhada o cavaleiriço parou diante de um enorme andaluz cor de ébano, na sua crina forte os olhos expressivos demonstravam uma força e agressividade de um cavalo de guerra.


- Prepare-o com todas as mordomias, estarei de olho... - acrescentou num tom ameaçador, como se achasse que o homem ia sabotar os arreios do cavalo da rainha.
--Joham_o_cavaleirico


[Cavalariças - Paço Real]


Joham, o velho cavaleiriço que já assistira na sua vida a mais de sessenta primaveras, estava a entregar um pequeno garrano que perdera uma das ferraduras a um dos aprendizes da forja do Paço quando foi ao seu encontro o orgulhoso Chefe da Guarda do Secretário Real, desejava ver o cavalo da rainha. Sendo ele apenas um velho mestre das cavalariças e aquele homem um cavaleiro, Joham não colocou qualquer questão e indicou-lhe o caminho.
No caminho atravessaram grandes corredores completamente atolados de cavalos que haviam chegado nos últimos dias com os seus fidalgos no lombo. A maioria eram cavalos pequenos e desajeitados, de soldados que acompanhavam os seus senhores até à capital para participar no cortejo que se estava a preparar. Os poucos cubículos que não estavam ocupados por cavalos tinham outros cavaleiriços no seu interior, limpavam os dejectos dos animais e espalhavam areia e palha para disfarçar o mau cheiro.


- Nesta direcção, meu senhor - indicou Joham para uma ala onde se encontravam os melhores cavalos em compartimentos mais espaçosos e arejados.

Ainda percorreram entre os animais alguns minutos antes de o cavaleiriço parar diante de um enorme andaluz negro, o seu pelo reluzia provocando um reflexo azul de encher os olhos. Os seus olhos escuros perseguiam cada movimento, percebia-se que o animal estava desejoso de sair dali e dar uso aos seus impressionantes músculos.

- Prepare-o com todas as mordomias, estarei de olho... - ordenou o cavaleiro.

Joham não gostou do seu tom autoritário mas nada disse, não queria ser açoitado. Preferiu ignorar o jeito arrogante do cavaleiro e, enquanto abria a portinhola do compartimento e fazia força para manter o ansioso cavalo quieto, explicou-lhe os tratamentos que tão nobre animal havia recebido.

- Tem sido escovado todos os dias, come do melhor feno trazido das planícies do Alentejo, sendo ele natural do sul da Hispânia achámos por bem manter os seus hábitos... ele é muito temperamental, um verdadeiro cavalo de guerra... se lhe tivéssemos alterado as rotinas o mais provável era que ficasse indomável. Regressou à pouco tempo de Castela com Sua Majestade, veio mais magro... temos-lhe dado uma dose extra de comida para repor o peso e a força - Joham sabia que o cavaleiro não lhe estava a prestar atenção, mas as suas palavras na verdade não lhe eram endereçadas, o velho gostava de falar para os animais enquanto lhes colocava os arreios, era uma forma de os manter mais calmos.
--Tomaz_o_ferreiro


[Forja - Paço Real]


O ambiente à volta de Tomaz era demasiado quente para alguém que não estivesse já habituado e o ar abafado fazia o ferreiro do Paço assemelhar-se verdadeiramente a um alambique. Sentia o suor escorrer-lhe por todos os poros colando-se à roupa e os músculos do braço doridos de tanto bater com o martelo na bigorna. Nos últimos dias o seu trabalho tinha aumentado exponencialmente, com o aproximar da aclamação da nova rainha chegavam cada vez mais grandes senhores do Reino acompanhados, claro está, dos seus opulentos séquitos de criadagem e guardas. Tomaz já tinha endireitado espadas e punhais, concertado elos partidos de cotas de malha e agora forjava uma ferradura para um cavalo de um pajem d'um senhor de algures do Sul que perdera a sua no caminho. Felizmente aquele tipo de trabalho era bastante simples, algumas marteladas, fogo, água e a ferradura estava pronta para cravar de novo no cavalo.

- Rapaz! Traz-me o animal!!! - gritou para um dos aprendizes que se encontrava a deitar lenha para a fornalha.

O cavalo, um garrano manso próprio mais para um pajem que para um senhor de nobre nascimento, foi-lhe trazido das cavalariças pelas rédeas e à entrada da forja foi acalmado por mais dois outros criados do Paço. Quando conseguiram segurar o animal e colocar o casco a jeito de Tomaz o ferreiro não esperou pela confirmação dos aprendizes, com a força de um touro cravou os cravos em menos de dois minutos. O cavalo contorceu-se ansioso, mas foi bem seguro e no fim do trabalho levado até ao seu dono, um rapaz vestido com um tabardo cujas armas eram partidas com metade de um leão de prata sobre fundo escarlate à direita, à esquerda via-se uma meia aspa também escarlate com três escudetes visíveis carregados de outros escudetes com besantes também em aspa, tudo sobre um fundo de ouro, sobre o tabardo pendia-lhe até à parte superior do peito uma cota de malha que lhe caia sobre o cabelo como um capuz. Mas Tomaz era só um ferreiro, pouco sabia dos escudos e armoriais dos grandes senhores, a única coisa que lhe chamara a atenção naquele escudeiro fora mesmo a cota de malha que apresentava alguns elos da extremidade partidos.
Senhordeleiria
Monsenhor Rafael depois da viagem desde o Baronato de Queluz, chega ao Paço da Ribeira, sentindo o coche a parar, abre imediatamente a porta, a necessidade de esticar as pernas era urgente, não conseguia mais estar sentado, vendo o seu pajem a chegar pede-lhe que vá ver o estado da sua égua branca de raça pura lusitana que tinha sido enviada para cavalariças do paço à uma semana atrás para ser preparada para o cortejo. Dito isto caminha rapidamente em direção aos aposentos da rainha para prepara-la espiritualmente para a cerimónia, chegando à porta dos aposentos encontra um guarda.

- Caro guarda real, poderá dizer-me se a rainha já se encontra pronta? É necessário preparar Sua Alteza Real espirituralmente para a cerimónia.
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Ana.cat
Ana Catarina estava quase pronta quando uma das aias se dirigiu a si para lhe dizer que o capelão régio desejava prepara-la espiritualmente para a cerimónia. Tinham-na vestido com uma cotehardie de brocado vermelho e fios de ouro, as mangas eram largas e forradas em pele d'arminho, como era costume. Sentia-se algo desconfortável com aquelas roupas tão apertadas, retiravam-lhe agilidade, mas não tinha intenções de demorar mais tempo com tais futilidades como a roupa que vestia. "Ora, nem sequer vou ser pintada! E qual o propósito de me parecer uma princesa de cristal se vou passar uma hora no dorso de um cavalo?", pensava ela antes de responder à aia.

- Transmita ao Monsenhor que o irei receber dentro de alguns minutos na antecâmara.

Apesar de já estar vestida e calçada (com as suas amadas polainas!) ainda lhe faltava prender os cabelos num toucado das mesmas cores do vestido.
Quando finalmente tal tarefa foi cumprida a rainha abandonou os seus aposentos e foi ao encontro do capelão.


- Monsenhor... - ela beijou-lhe o seu anel clerical - Fui informada que deseja preparar-me espiritualmente. Muito lhe agradeço tal atenção, esta altura antes do grande momento é demasiado exasperante... - a Monforte olhou em redor e acrescentou - Se já tivessemos a capela pronta para o culto convidava-o a escutar as minhas confissões lá, mas já que tal não se verifica terá que ser n'outro sítio - ela pensou por alguns segundos - Seja nos meus aposentos, apesar de não ser o local mais adequado.

Então Ana conduziu o Monsenhor até a uma janela cujo parapeito providenciava dois bancos de pedra virados um para o outro com um afastamento conveniente. Quando notou na curiosidade das aias imaginou o que elas poderiam pensar, e pior, espalhar pelo Paço... "a Rainha recebe homens nos seus aposentos enquanto o marido está retirado algures nas suas terras em Olivença..." - imaginou mal-humorada. Infelizmente eram daquele tipo os rumores que alimentavam a Corte.

- Fiquem por favor - ordenou às aias - Arrumem a câmara enquanto recebo o Monsenhor.

Na verdade a câmara não necessitava de arrumação, Ana queria era que as aias soubessem e vissem o que estava a fazer, caso contrário inventariam as mais abomináveis histórias.

- Monsenhor... podemos começar?
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Senhordeleiria
O Monsenhor ao ver Sua Alteza Real, dá-lhe o anel a beijar, continuando entra nos aposentos reais e senta-se no banco de pedra junto à janela, esperando que Sua Alteza Real acabasse de orientar as aias.

- Sua Alteza Real, é uma pena a nossa Capela ainda estar a ser finalizada, mas brevemente estará pronta fisicamente e espiritualmente. Sim, será melhor começar que o tempo é escasso.

Fazendo uma pausa o Monsenhor abre o seu livro.

- Como sabeis, esta cerimónia será a mais importante da vida de uma rainha, será a entrega dos poderes para governar este Reino de Portugal, Jah não confia esta missão a qualquer um, apenas aos merecedores. Peço-lhe então que confesse os seus pecados para o seu corpo, coração e alma sejam puríficados, para que a Rainha deste Reino seja uma mulher pura.
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Amigo.solitario
Em meio ao alarido, uma carruagem chega ao Paço da Ribeira. Nela, podia-se vislumbrar os armoriais do Condado de Soure em si estampado.

Ao parar, o cocheiro desceu para abrir a porta ao seu Senhor.


Alteza, chegamos ao Paço.

Obrigado Joaquim. Pode voltar, ao final do cortejo regressarei ao Condado à cavalo.

Sim Senhor, como preferir.

Aliviado por poder esticar as pernas, o Príncipe-Regente caminhava pelo Paço olhando toda a movimentação dos preparativos para aclamação. Calculara que a esta hora, a Rainha já deveria estar se preparando. Decidiu não entrar no Paço. Pediria alguém para fazer chegar a si o recado de que já chegara.

Conforme andava ia recebendo os cumprimentos e venias dos presentes. Amigo ficava um pouco constrangido. Mesmo sendo membro de Alta Nobreza sempre foi um homem do povo. Ele, por si, cumprimentava a todos com sorriso no rosto disfarçando as dores nas costas causadas pela longa viagem.

Precisava, entretanto, descobrir onde se localizava as cavalariças. Relâmpago estava lá, enviado semana antes para ser preparado e já sentia saudade de seu cavalo favorito.

Por favor, meu jovem, disse a um pajém que passava por ali. Pode me indicar o caminho das Cavalariças?


Ohh, sim. err.... Claro Alteza, será uma honra. Disse o pajém envergonhado ao responder fazendo uma venia. Amigo sorria, mas permanecia em silêncio, imaginou que se falasse alguma coisa deixaria-o ainda mais constrangido.

No caminho, o Conde ia observando as pequenas mudanças estruturais feitas na Residência Real a pedido da Rainha. Toques mais delicados e femininos podiam ser notados. Acreditava que, conhecendo sua velha amiga como conhecia, a Rainha ordenara pessoalmente cada reforma a ser estruturada.

Alteza, chegamos. Aqui começam as cavalariças. Deseja que eu lhe busque saber onde está seu cavalo?

Não meu jovem. Já me ajudaste imensamente. Peço desculpas por atrapalhar seus afazeres. Pode retornar as suas ocupações, eu me acho daqui.

O Solitario sempre fora fissurado em cavalos. Ainda muito jovem, antes ainda de ser sagrado Conde, havia ganhado seu primeiro cavalo de sua falecida irmã. Amava cavalgar por seus campos descobrindo uma de suas paixões.

Caminhando pelas cavalariças encontra dois homens discutindo ao lado de um Andaluz negro que, pelos aparatos, julgou ser o Cavalo da Rainha.

Olá bons homens. Boas Tardes.

O Chefe de Guarda e o velho cavalariço fizeram venia. Boa Tarde Alteza, falaram em conjunto.

Não gostaria de incomodá-los, Senhores. Mas sabem me informar onde está meu cavalo? Gostaria de dar uma olhada nele antes do início da aclamação. Saber se ele já está pronto.
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Ana.cat
Ana Catarina escutou atentamente o Monsenhor, enquanto ele falava a rainha tentava organizar as suas ideias na cabeça. Há muito tempo que não se confessava e os pecados pareciam-lhe multiplicarem-se à medida que revia os seus últimos meses.

- Peço-lhe então que confesse os seus pecados para o seu corpo, coração e alma sejam puríficados, para que a Rainha deste Reino seja uma mulher pura - pediu o capelão por fim.

Ana ajeitou-se desconfortavelmente no frio banco de pedra e falou num tom suficientemente baixo para que o Monsenhor a ouvisse mas as aias não.

- Monsenhor, diante de vós, representante da nossa muito amada Igreja e dos seus santos ensinamentos, confesso os meus pecados. Fui responsável pela morte de patifes e simples soldados que cumpriam o seu dever de servidão para com os seus senhores, não consigo lastimar as suas mortes pois no seu contexto foram necessárias... tristes mas necessárias. Rogo todas as noites ao Altíssimo que acolha as suas almas na sua companhia e que me perdoe pelos meus vis actos. Perdoe-me Monsenhor, pela minha por vezes excessiva rigidez e castigos aplicados aos meus servos - Ana sentiu-se a ruborescer com o que iria dizer a seguir - E por fim, perdoe-me Monsenhor pelas minhas falhas como mãe e mulher, que o Altíssimo derrame coragem sobre mim e o senhor esposo que se encontra retirado algures nas suas terras no Alentejo, para juntos vencermos os obstáculos que se colocam entre nós. Que Jah seja misericordioso pela minha alma e me dê força para enfrentar os desafios que se avizinham.

Então ela calou-se e aguardou a penitência, que não deveria ser nada insignificante...
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--Joham_o_cavaleirico


[Cavalariças - Paço Real]


Joham acabara de preparar o cavalo em que a rainha se ia fazer transportar para o cortejo d'aquela tarde quando um cavaleiro de nobre porte se juntou a eles nas cavalariças. O velho reconheceu-o como sendo o novo Regente e de imediato ensaiou uma profunda vénia - Boa Tarde Alteza - cumprimentou ao mesmo tempo que o Chefe da Guarda do Secretário.

- Não gostaria de incomodá-los, Senhores. Mas sabem me informar onde está meu cavalo? Gostaria de dar uma olhada nele antes do início da aclamação. Saber se ele já está pronto - quis saber o Príncipe-Regente.

O cavalariço sentiu momentaneamente um nó na garganta por estar perante tal individualidade.


- Vossa Alteza... estava agora mesmo a preparar a montada de Sua Majestade... - encarou o Chefe da Guarda e disse-lhe - Poderia o nobre senhor avisar a rainha que o seu cavalo já está pronto? - o fidalgo fitou o cavalariço com um olhar matador, mas nada disse pois estava na presença do Regente, saiu apenas das cavalariças e seguiu na direcção do Paço - Foi-se... (menos mal...). Venha Sua Alteza, irei leva-lo ao seu nobre equino. Estivemos esta manhã a escova-lo e dêmos-lhe bom feno para a caminhada que o aguarda. Está quase pronto, falta apenas colocar-lhe a sela e Vossa Alteza poderá sair daqui no seu dorso.

Joham entrou no estábulo individual do cavalo do Regente e trouxe-o pelas rédeas até à sua presença, ali mesmo o terminou de preparar com dos melhores e mais finos arreios que alguma vez as suas mãos tiveram a honra de tocar.
Senhordeleiria
Monsenhor Rafael, após de escutar atentamente os pecados de Sua Alteza Real, coloca-lhe a mão sobre a cabeça.

- Sua Alteza Real, os seus pecados são normais, tendo sido militar em tempos, a sua obrigação era proteger o território nacional, e apoiar quem precisasse de ajuda, pobres homens obrigados a combater pelos seus senhores, mas que Jah os acolha. Nada que prejudique a vida pessoal de cada um, não é punível, mas a partir do momento que os prejudica, não está a ser piedosa como Jah, eles tudo podem fazer, desde que respeitem a sua chefe. A traição é o maior pecado, mas se ama o seu esposo e não o traí o coração os une como um só, isso foi definido no matrimónio e essa aliança que usa no dedo é prova da fidelidade e do amor que sente por ele.

Fazendo uma pausa o Monsenhor pede a Jah que perdoe Sua Alteza Real.

- Os seus pecados serão perdoados, mas peço-lhe que como penintência vá a Miranda, a primeira cidade deste Reino, onde encontrará uma cruz no meio da ruínas, essa cruz foi o primeiro sinal de Christo neste Reino, perante ela, peço-lhe que reze dois Credos, deverá ir sozinha, pois não irão aparecer obstáculos no meio das ruínas, Jah irá abrir-lhe o caminho, confie em Jah e será purificada.
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Ana.cat
As faces de Ana ainda estavam ruborizadas pela confissão dos seus pecados mas as palavras do Monsenhor conseguiram acalmar o seu espírito. Foi com alguma surpresa que ouviu a penitência mas acatou-a como cabia a uma boa fiel aristotélica que ela pretendia ser.

- Monsenhor, agradeço as suas palavras, sinto-me renovada por dentro e pronta a cumprir a penitência que me ditou, será uma sensação estranha ir até Miranda, a única cidade deste nosso Reino que não tive o prazer de conhecer, mas cumprirei o meu dever e que Jah me guarde nesta caminhada.

Ela baixou a cabeça em reverência e beijou-lhe o anel antes de se erguer.

- Venha... aguardam-nos no Terreiro, temos um cortejo para pôr em marcha...
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--Fernao_o_chefe_da_guarda


[Antecâmara dos Aposentos Reais/Cavalariças - Paço Real]


Fernão encontrava-se na antecâmara dos reais aposentos à espera, mais uma vez, que a rainha terminasse os seus assuntos lá dentro. Os guardas diziam-lhe que se estava a confessar com o Capelão Régio e que não tardaria.

- Que raro sítio para se confessar... - resmungou ele entre-dentes.

Quando as portas finalmente se abriram o cavaleiro colocou-se galantemente diante da rainha e sem a olhar directamente nos olhos disse-lhe:

- Vossa Majestade, a sua montada está pronta assim como o cortejo, fui encarregado pelo mui fidalgo senhor Eudóxio Amaury para a escoltar até ao Terreiro, se for seu desejo - acrescentou.

Pelo canto do olho o cavaleiro percebeu que a rainha o analisava, não percebeu com que intento mas ela mantinha-se calada e ele manteve a sua semi-vénia, aguardando permissão para se endireitar.

- Então guie-me no caminho - ordenou ela por fim - E levante os olhos, julgo-me a falar para a sua nuca.

O cavaleiro atrapalhou-se com a postura pouco cortês da rainha e endireitou-se tal como ela pedira. Seguidos por mais dois guardas reais e um séquito de pajens que se juntara junto ao átrio do paço, o Chefe da Guarda do Secretário Real conduziu-a até ao terreiro onde já a aguardava o seu cavalo negro andaluz, imponente e também ele enfeitado com arreios rubros com detalhes a ouro. Fernão ofereceu-se para a ajudar a subir mas ela dispensou a gentileza, saltou para o dorso do enorme animal e deu meia volta, parecia procurar alguém.
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