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Aristarchus was arrested when he had no money to pay for staying in Porto. No money spent on rum ...

[RP] Junta rum com um degrau, lá se cai no rumo mau

Aristarco



Imagens enevoadas, cores a perder brilho, sons abafados e não totalmente compreensíveis, além de paisagens completamente sem sentido em suas conexões, em um balouçar caótico que parecia uma estranha estória sem qualquer enredo ou, em palavras mais simples, sem qualquer início, meio e fim.
Por um momento se encontrava no caminho de viagem entre Lamego e o Porto, rindo fácil na presença dos amigos, regado a bons tragos de vinho d’O Porto; por outro momento, a cabeça lhe rodava mais do que touro a correr pela arena em grande e repentina disparada; e daí, de repente parecia se encontrar no escuro com uma pequena luz que parecia vir da rua (hm?) e a bater no teto (hã?), com uma cor muito esquisita também.
Tentava ter “firmeza” no olhar para fixar-se em algo, mas uma dor de cabeça lhe vinha a assaltar violentamente, como um bandido ao meio do caminho entre dois pontos algures, obrigando-o assim a fechar novamente os olhos e colocar as mãos com leve pressão à cabeça, dolorida terrivelmente.

Ficou neste estado a parecer-lhe um longo sonho sem fim, sem qualquer compreensão ou razão do que ia e vinha pela mente e pela sensação.
Mas não somente isso, já nem poderia ser sonho, mas pesadelo, com aquela dor forte e lancinante além de um grande frio que lho acometia, lugar úmido, escuro e fechado como aquele, não se recordava na vida de ter presenciado (na pele, que se bem diga).
Porém não poderia estar no ‘inferno’ certamente, porque o frio não fazia combinação...

Quando ia inquerir com seu intelecto o que se passava... Aguda dor apanhou-o e soltou um gemido contido, como se o próprio espírito fosse abafado por aquele ar pesado e sufocante. Começou a perder os sentidos rapidamente.

Expirou... Mas não morreu não, oras, como se comprovaria isto mais tarde; o corpo alquebrado reclamou descanso e fuga da própria cabeça que girava e doía inclementemente.


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| Scholar and philosopher: humanist thinker | The minstrel of the al-Gharb al-Ândalus | The flemish-breton of the Iberia: al-Musta'rib |
Aristarco



Por um momento, foi de imediato encontro ao plano d’uma longa mesa, a poder vê-la se aproximar inelutavelmente seu rosto na superfície. Conseguiu mover os braços para algo evitar, mas a imagem não lhe obedecia!
Sentia a pancada e dor em um tempo só, e nada ao que parecia impedia a imagem final, seu olhar já no chão, com a bota d’alguém bem a sua frente. Se a razão lhe tivesse firme, poderia quase afirmar que era uma bota d'um guarda, mas quando o pensamento parecia fruir, a dor vinha e lhe interrompia, e tudo novamente ficava escurecido e já sem forma, esvoaçado.

Até que a dor lhe atacou novamente, acompanhada do que parecia um verdadeiro estrondo, tão sonoro que já entrava em si e tomava toda a cabeça; estranhamente vindo de fora (?) a tomá-lo internamente por completo, como pode isto acontecer, que mistério; um mistério terrível de dor.
Ao abrir os olhos, via a luz rebatendo no teto do lugar que estava, contraposta com as sombras das barras cruzadas já bem definidas no campo de visão.
Mas a dor não vinha dos olhos recém-abertos, quando outrora tudo era escuridão, mas sim da... da rua! Ah, eram os sinos com suas badaladas, a fazerem explodir sua cabeça como bateria de canhões, a maior que existisse.

Colocou mais uma vez as mãos nas têmporas, como se aquela pressão pudesse evitar o dano sentido, mas certamente sem qualquer efeito; reações naturais às dores, o que se pode fazer, afinal o corpo luta a favor da vida sempre (e só os corações dos homens conseguem desvirtuar a natureza, quando insistem em buscar a morte por meio d’alguma destruição).

Levantou seu tronco e virou o corpo a se sentar por sobre aquela cama rude de madeira, ainda que se soubesse que mui celas alhures sequer cama houvesse, e então alguma sorte (?) tivera, se é que acordar dentro d’uma cela poderia se dizer que houvera sido agraciado pela fortuna, pelos deuses.
E então se pôs a esfregar os olhos enquanto ainda o canhão das badaladas do sino da igreja lhe atarantavam. E pasmai, era o sino da igreja do Porto que antes já ouvira, pois fácil lhe fora reconhecer o timbre e também a sequência rítmica tal qual efeito provocado quando aqueles frades haviam de se dependurar pelas cordas atadas aos suportes do mesmo, imaginai... E tão melhor não especular sobre timbres e ritmos, afinal são cousas para trovador, segrel ou bardo.
Viu a porta de ferro, intransponível é claro, um mau sinal para quem nem imaginava a razão dali se encontrar.

Foi até a mesma, com pisadas leves, para não fazer coro com os canhões das badaladas, porque nesta altura todo o movimento brusco do corpo atentava contra si e em prol daquela terrível dor de cabeça que se tornara quase uma parte integrada. Haveria de passar, é claro, mas enquanto isso não acontecesse, paciência (e movimentos vagarosos de cautela).

Chegou defronte à pesada porta, que tinha uma espécie de janela que ia d’um lado a outro, com as barras verticais não mui espaçadas; segurou-as com as mãos e com voz grossa e chamativa soltou um berro:

- Eia carcereiro!

Imediatamente a dor lhe agulhou e Aristarco fez expressão de rendição, e também a angariar lição, a mesma que lhe apontava que já não berraria na próxima vez, quando cabeça rebimbaria, pelos céus que pontada.
Isto sim, havia sido mui pior que o 'cañonazo' da igreja portuense, oras, sem dúvida alguma.

Pode notar e sem mui esperar, alguém a se mover lá naquel’ ponta do corredor, porque fizera contraste de sombra e luz de quem se levantava d’um assento ou algo que o valesse, e rogou que lhe viesse na direção; muito em breve ali saberia de sua situação, algo feliz, ao menos para o entendimento (sempre há que se extrair algo proveitoso, seja qual for a situação).


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Aristarco



E foi o que se deu, quando o vulto veio em passada tranquila, apesar de pesada deveras, como alguém a carregar um fardo ou algo parecido.
Um soldado, sem hábito completo, aproximou-se lentamente. Sim, felizmente seus olhos já viam com nitidez e logo concluiu que por paramentos daquele, poucos lhe vinham visitar naquela parte a exigir algum decoro de soldadesca, talvez no máximo um capitão vez ou outra.
Notava aquele ser velho, um veterano certamente e provavelmente há mui neste ofício, porque mantinha sorriso natural na face. Estava explicado no momento aquel’ andar um tanto pesado e moroso, porém faltava o principal.
E assim falou o guarda:

- Oras, acordou o senhor. Não deve ter sido noite boa, claro, mas não estas na pior das celas da prisão...

Aristarco em sua dor de cabeça, segurando as barras, perguntou-lhe com esforço da ordem para as palavras certas, afinal não se encontrava em uma condição mui decente:

- Mas... Como cá vim parar?

O guarda-carcereiro pareceu segurar o riso repentinamente e abaixou os olhos para o chão, desta vez, a parecer ele a fazer algum esforço para bem escolher as palavras.
Então respondeu:

- Hoje mesmo estará o senhor livre, fica tranquilo. O capitão avisou-nos que havias “esbanjado merréis” por teres bebido um pouco mais do que devia, e quando isso ocorre se pode esquecer d’alguns deveres... Bom, ele já mandou um mensageiro à tua comitiva. - Aristarco sentiu calafrio na espinha, com a tal cousa do “mensageiro”, oras, que vexame seria,- E mesmo com pesar, ele não teve opção a não ser em cumprir a lei... – e voltou o veterano o seu olhar para a cela, “apresentando-a”, por assim dizer.

Mas havia algo mais premente que o calafrio ou preocupação com outras cousas, porque o trovador sentia sua boca, garganta e goela (inspiração, humor e tudo mais que se imagine) mui secas, o que acabou por fazer um pedido:

- Poderias me trazer, - pensou rapidamente naquele enjoo do vinho e fez careta -, um pouco d’água?

O homem d’outro lado das grades (e livre) lhe respondeu novamente:

- Ah sim, claro, senhor! Porém hás de fazer o favor de mostrar alguma trova inda hoje sobre tua viagem e as gentes que acompanha, pois assim certamente a comida te chegará mais saborosa e quente, ah sim, se chegará! Garanto-te!

E saiu com uma risada contida o velho guarda, a divertir-se com aquela situação, um susto provavelmente, afinal, ninguém felizmente estava ali para sofrer alguma pena... Alguma pena mais definitiva, se assim se pode dizer.
Pareceu aquele se divertir com estes “pequenos eventos”, sim, pareceu, especialmente um trovador no mundo dos beberrões que gastava os tostões e depois não pagava a taxa da importante cidade, que vacilo diferente a lhe quebrar um pouco a mesmice dos dias.

Já para Aristarco, não era tão “pequeno evento” assim; apoiando-se pelas barras enferrujadas, meneava a cabeça negativamente por repreensão de si mesmo.
Encostou a apoiar a testa nas barras em um pequeno desalento.
Afinal, como ficaria sua reputação, pelas águas do Sado...


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Eudoxio


A fome apertava cada vez mais, não chegara a tomar o pequeno-almoço... Fora no momento em que se preparava para começar a comer que aparecera um soldado com notícias sobre Aristarco. Pelos vistos o trovador tinha bebido um pouco mais que o costume e arranjado alguns problemas, acabando por passar a noite na prisão. E agora ali estava o Faro Monforte, à entrada da prisão e seguindo o soldado, indo ao "resgate" do amigo. Mas não estava chateado... não, longe disso... Era uma situação caricata e fora do comum, algo engraçada (para Eudóxio, não para Aristarco, seguramente), não conseguindo Eudóxio deixar de sorrir ao reparar no nome do amigo na lista de prisioneiros, afixada à entrada da prisão.



- A cela é já aqui ao fundo do corredor. - disse o carcereiro assim que Eudóxio chegou, sem se alongar muito em conversas e avançou a passada lenta, mas bem vincada por entre o corredor frio e escuro da prisão.

Aristarco estava quieto, ao fundo da cela, agarrado às grades da cela e a olhar fixamente para o exterior. Estava com um ar cansado, a noite não teria sido, certamente, muito agradável... Eudóxio tossiu forçadamente e o trovador voltou-se, claramente aliviado pela chegada do Faro Monforte.

- Oras, senhor Eudoxio, gostaria de dizer-te bem vindo ao recinto, contudo apenas bem vindo basta, hás de concordar comigo...

- Grande trapalhada foste tu arranjar, hein? Muito bem, sim senhor... - respondeu, sorrindo -Muito bonito... É como se costuma dizer: junta ao rum um degrau e vais dar-te mal... Claro que teria sido preferível que tivesses simplesmente tropeçado num degrau, meu caro, em vez de toda esta situação... - calou-se por momentos, continuando de seguida, rindo-se- E noto que perdeste o alaúde... vai-te fazer alguma falta, não?

- Sim, bom amigo, alaúde faz mui falta, mas trocaria todos que existissem neste mundo, pela única e simples "liberdade". E ainda me sobraria o canto, não é verdade? - respondeu, sorrindo, Aristarco.

- Alaúdes não quero, mas aceito um bom pequeno-almoço como pagamento por este "salvamento"... Vá, vamos lá tirar-te daqui.

O carcereiro abriu a porta e Aristarco "arrastou-se", num passo cansado, para fora da cela.

- Espero que esta... esta situação não tenha atrasado a comitiva... - comentou em voz baixa e com um ar preocupado.

- Não, não atrasou, não te preocupes... Mas tiveste sorte! Foi a mim que o soldado encontrou e avisou, mas poderia ter calhado ele encontrar primeiro a rainha... e aí sim, estarias metido em grandes sarilhos, meu caro, podes crer que estarias...

Eudóxio observou divertido o olhar que Aristarco fez ao pensar na possibilidade de a rainha tomar conhecimento daquele "pequeno incidente" e começou a caminhar pelo corredor, em direcção à saída da prisão.

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Aristarco



Mais tarde e algum tempo passado, depois que todos aqueles fatos haviam perdido viço com a poeira do tempo que há de tudo resolver, como já bem diziam os mouros das terras áridas africanas que perambulavam no al-Gharb, o trovador um dia resolveu se apresentar n’alguma praça daquelas bandas do sul musta’rib lusitano.
E a cantiga se tratava daquelas vivências em sua memória, quando naquela comitiva salaciense estivera a visitar as velhas terras do setentrião lusitano, que tão carregava vividamente em afeição.
Já não se preocupava mais do corpo alquebrado ou dar dor de cabeça mais forte que tivera nesta vida, assim como já não mais lhe pesava a ideia de uma longa noite no cárcere, mas tão somente o cultivar lembrança dos sorrisos e palavras, dos gentis espíritos do norte que acalentavam os viajantes...



REDONDILHA

Mote Alheio

“Junta rum com um degrau,
Lá se cai no rumo mau.”

Voltas

“Olha tal situação
Que vida muy atina,
Cousa bem indevida
Ao beber sem precaução,
Eis admoestação:
Pode-se ter ruína
E dissabor da vida.”

“Cabeça dolorida
Corpo como um fardo,
Terrível situação
Ébrio sem guarida,
Em noite dolorida
Se não tomar cuidado,
Vai parar em üa prisão.”

"Mantém sobriedade
E guarda o que digo,
Ao que se deve curvar:
Cativa amizade
Ata fidelidade,
Porque só bom amigo
D’um dano te vai salvar."



E quando Aristarco tocava esta cantiga, largava aquele outro a rir em seguida, porque ninguém sabia das causas ou intenções verdadeiras nas quais o trovador se atentara, exceto o Monforte.

Também não era incomum que em todas as vezes que o trovador visitasse Alcácer do Sal, o amigo Eudoxio pedisse sempre para ser cantarolada aquela canção, sem que pudesse Aristarco se negar ou furtar, afinal era a paga pelo velho desatino e gratidão por ter sido “salvo”, e há que primar pela justiça, paciência.
Mas tudo isso já eram cousas mais felizes, certamente, já se faziam só boas lembranças.


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Celestis_pallas


Caminhava mui lentamente a jovenzinha Celestis Pallas pelos arredores do Porto. Sua fiel e inseparável amiga Sancha Machado andava, um pouco mais à frente, ansiosa para chegar logo à tasca:

- Espera! Até parece cavalo sem rédea!

Percebeu que a amiga não gostara muito da comparação. Antes mesmo que San pudesse reclamar, Celly ouve a voz de um bardo, que se aproximava cada vez mais, portanto, a menina susteve a mão espalmada em direção à loira, para que a mesma se aquietasse um pouco...Celestis fazia gosto de saber de quem se tratava, afinal, ela ainda não possuía conhecimento de nenhum músico por aquele sítio.

Como as duas duplas caminhavam em direção a um beco, o choque fora, por pouco, inevitável. Antes ainda de adiantar-se nas desculpas, Celly diz algo imprevisto a Aristarco:

- É uma redondilha? Me pareceu verso de seis sílabas poéticas...e no verso em que diz, claramente "cativa amizade"...não seriam cinco? Talvez seja um "heróico quebrado"...

Neste instante, Eudóxio riu-se, a levar ao pé da letra a alcunha que a menina dera à trova do amigo.

- Mas do que os senhores estão a rir-se? Aquietem-se, ser irônica não fora minha intenção!

Aristarco não queria contar, assim, em plena luz do dia e praticamente, em meio às casas. Celestis Pallas, sempre com muito jeitinho, convenceu-os a retornar à tasca, mesmo a perceber que o trovador arrepiou-se só de ouvi-la mencionar a palavra!

- Vamos...há cerveja e também chá a todos! Eu mesma passarei a chá! Sabem bem o que diriam de uma mocinha a contar 12 anos caso a mesma se excedesse, não?

Sancha ri-se igual parva! Decerto queria também entregar alguma da amiga Celes. Ari seguiu ainda a cantarolar...

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Johnrafael


Gostava minimamente de ver a prima andando por aí, na companhia de Sancha. Às vezes nem o próprio John gostava de superproteger Celes, mas era evidente que não queria ela sozinha ou pior, cercada de rapazes.

Ao encontrá-la, de longe viu que rumava, junto à Sancha, com dois rapazes para a tasca. Uma melhor olhada revelou Aristarco e Eudóxio. Do primeiro ouvira falar, e o segundo já conhecia da capital. Para lá seguiu, entrando em um desvio pouco antes, o que lhe fez chegar antes, e sentando-se no balcão, aguardou que entrassem. Ao entrarem, dirigiu uma cortês vênia a Aristarco.

-Boas, Menestrel. Há quanto não vos vejo... Eudóxio, mande lembranças minhas à Sua Majestade.

Viu a prima notar sua presença e ficar não menos que envergonhada.

-Não, não planejo atrapalhar a diversão de ninguém, passei apenas para dar um beijo em minha adorada Celes e pedir-lhe um versinho, Ari. Também verso, mas muito mal. Dou-lhe um mote e faz-me as redondilhas?
- Sorriu. - Pois bem, o mote é:

Lobo cruel, pior da matilha;
Mato à dentadas quem mexer com minha família.


Senta-se, esperando que Aristarco verse seu mote.

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Sancha


Sancha percebera o ódio refletido no olhar da amiga. Achavam-se adultas demais para terem de ser acompanhadas em suas andanças matutinas por pessoa de mais idade.

- Calma, Celly. Eu falo com esse super-protetor do seu primo!

A dirigir-se a John, sempre com seu semblante sardento e simpático, diz-lhe:

- Eu não deixo ela beber tanto, está bem?

Em seguida, dirige-lhe uma piscadela cúmplice...John nunca confiava muito em Sancha, que conseguia ser ainda mais dissimulada do que Celestis!


{Regan}
Movido a pedido do Autor
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"Qual é o meu nome?"
Segrel






Um pouco atabalhoado, logo se via ali ao virar uma esquina alguém a arfar em um pequeno trote (mesmo por que não se era um menino a correr algures, mui distante disto estava); alguns esbarrões eram inevitáveis a ponto d’algum citadino soltar contida praguejada, porém nada que gerasse comoções ou exagero.

Iago Brais era um trovador galego que perambulava em Valladolid naqueles dias de visita de Sua Majestade ao reino vizinho, encontrando-se com Aristarco nas tabernas e nas praças, quando então assim surgiu amizade e companheirismo das cousas d’Arte, como composição, música e rimas; não haviam chegado a se apresentar juntos por uma mera questão do acaso, já que se faria boa combinação de flauta e alaúde, mas se encontravam regularmente para prosar assuntos em comum.

Durante o regresso da comitiva lusitana, o galego solicitara um lugar de viagem naquela boa embarcação Amoras e evidentemente Aristarco pouco poderia fazer exceto conversar com o amigo Eudoxio se isto seria ou não possível, dado que a nau estava dedicada aos serviços da rainha lusitana.
E Dom Eudoxio mui tranquilamente tratara com o bom capitão Querobim, tudo estava bem e discretamente resolvido.

No regresso ao Porto, separaram-se momentaneamente até que o segrel (como se dizem naquelas plagas galegas) soube da detenção do amigo lisboeta na masmorra condal, uma estória engraçada logo notara, e já vinha a acudir no que fosse possível, com uma carta em mãos da guilda local de trovadores; mas se isto resultaria algo vantajoso ou não, já não tinha certeza alguma.

De sorte que não foi necessário, bem compreendeu, porque já colhera notícias com alguma sentinela à entrada da amurada, sobre o sulino amigo, já mui bem livre, por força e ação desconhecida de Iago (apesar de deduzir algo próximo da verdade).
Parecia também que a sentinela ouvira prosa alhures entre o “recém liberto” com um amigo que viera retirar-lhe daquel’ fado, e mais duas donzelas acerca d’uma breve passagem à taberna; o galego já arriscava palpite na taberna da redondeza do velho Ezequias, uma (das muitas) que conhecia bem, assim como não menos bem conhecia a terra portuense.

Lá se foi o segrel tranquilamente e sem acelerar passada, porque não demoraria tanto para chegar em tal taberna e encontrar o trovador moçárabe com seu amigo, assim como com duas donzelas e um distinto senhor a palrarem com semblantes abertos e leves.
Dirigiu-se a eles e se apresentou, com seu sotaque galego peculiar; Aristarco sorriu com aquele encontro convidando o segrel para juntar-se de imediato.

Quando em prosa que vai-e-vem soubera sobre aquel’ senhor John Rafael, distinto gentil homem da Corte, a falar d’um mote sugerido, e também da inda breve hesitação de Aristarco (talvez um pouco dolorido por noite mal dormida e espírito cansado); tomou assim a palavra:

- Peço-vos licença e ao bom trovador del al-Gharb para algo compor sobre este mote, visto que ele mais precisa d’um trago neste momento, e um alaúde novo noutro!

Aristarco riu-se um pouco sem jeito e fez uma mesura a deixar à vontade aquel’ outro segrel na mestrança, afinal estava mui bem alimentado por taberna e com guarida mais sossegada que não uma cama de prisão, vedes a diferença do que estar em barras adentro pode bem causar.
Iago Brais sacou de seu alforje uma flauta que estava envolta d’um belo rubro pano aveludado e fez uma frase melódica animada e alegre, que ficaria mui bem acompanhada de pandeiretas com soalhas ou até mesmo castanholas.
Então declamou (apesar de que poderia tão bem ter cantado):



REDONDILHA

Mote

“Cruel lobo, mais feroz de sua matilha,
Morde incauto que desafia a família.”

Voltas

“Bem procurai algo saber
Da muy clara natureza,
Para razão logo dar
Co prudência vai caber,
Tereis tão que perceber:
Um lobo em sua crueza
Não se fará apiedar.”

“Vos cuidai se provocardes
Ira daquela fera,
Nas cousas de pertença;
Território cercardes
Ou da matilha altercardes,
Üa verdade s’ espera:
Ganhareis a desavença!”

“E não equivoqueis jamais,
Não toqueis família
Co tão honra exuberar,
Senão tereis dores mais:
Quando reptado demais
M’ noite ou vigília,
Lobo irá dilacerar.”



E assim se marcou aquel’ estilo que enquanto fazia passagem declamada entre os versos e o mote intercalados, fraseava sua flauta animadamente.

Iago Brais ao terminar a voz e canção, então fez uma vênia ao grupo reunido, e uma inda mais longa ao senhor John Rafael para dar préstimos do mote proposto; rapidamente se dirigiu ao mestre-taberneiro para solicitar um jarro de rum para os senhores, apenas por mais um trago inda antes do horário da refeição, além de chás para as donzelas.
Decerto pensara que faria bem o “recém liberto” a molhar garganta com algo mais condigo do que o sabor hospitaleiro de masmorras...


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Johnrafael


John bebia e escutava as redondilhas. Ao fim, retribuiu-as com uma vênia tão longa quanto a de Iago Brais, e em tom ácido, arrematou.

-Falta sangue, falta morte, faltam gritos, dor, desespero. Eu esperava sentir a crueldade do lobo. Mas entendo, bom menestrel, feliz é quem feliz vive, e falar de coisas más não alegra a ninguém.- Virou-se e pediu outra vez que o taverneiro lhe enchesse o copo de vinho. Era o sétimo, ou seria o oitavo? Não sabia em qual perdera a conta, pois afinal, havia perdido a conta mesmo... Imediatamente servido, virou-se de volta ao Segrel.

Quote:
-Por Jah, devo ser eu este ninguém,
por preferir tal mal, em vez dum bem.

-Prefiro ao lobo ver matar o imigo
q'ouvir cortês cantiga de amigo.



-Fazes lá algo com isso se lhe couber. Mas coloque lá mais crueldade. Se fazes isso com uma bela melodia, me encantaria ainda mais. Sancha! Oh Sancha, dançará comigo... tenho novidades de um amigo meu a lhe contar.

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