Afficher le menu
Information and comments (0)
<<   <   1, 2   >>

A Caçada

Joanokax
Johanna viu-se ficar vermelha como um tomate ao ouvir a mãe falar de casamento por isso parou a conversa ao avistar um coelho a saltitar por entre os arbustos, correndo atrás dele para o apanhar com o seu arco e flecha.
_________________
Eudoxio
Era para Eudóxio um alívio ver-se livre do falcão, não gostava da forma como aquele pássaro o olhava. Se o Faro de Monforte não fazia uso de cães de caça, certamente também não precisaria de ajuda daquele monte de penas para apanhar um bom javali. E, precisamente numa tentativa de encontrar um desses peludos e fedorentos, mas no entanto tão saborosos, suínos, Eudóxio foi-se aventurando pelo bosque em busca de vestígios de uma possível presa. Foram necessários menos de cinco minutos até avistar umas pegadas ainda recentes cravadas no solo. Desmontou do cavalo e, armado com a lança, seguiu o rasto de pegadas do javali, que, a julgar pelas marcas deixadas, deveria ser de grande porte. O Monforte foi avançando pela vegetação discretamente, ignorando as perdizes e os coelhos que se iam cruzando no seu caminho. Nada mais pretendia caçar do que o javali.

Já andava há algum tempo quando começou a sentir um forte e desagradável odor. Esforçando-se por ignorar aquele cheiro, continuou, mas não por muito mais tempo... Ao fim de mais algumas passadas deparou-se com o culminar do rasto de pegadas. No chão jazia um enorme e pujante javali, meio comido e infestado de insectos. Eudóxio atirou a lança para o chão e praguejou, frustado pela busca por aquele javali não ter dado em nada... algum animal chegara primeiro.
_________________
Ana.cat




Ana Catarina seguia o voo da ave com os olhos. A sua penugem cinza contrastava com a folhagem verdejante do bosque, mas quando ela subia mais alto, sem nenhuma barreira que não fosse o céu, aí era quase impossível detecta-la. Valia-lhe as fitas vermelhas que o falcoeiro atara a uma das patas para a encontrar.

- Estou a vê-lo! - exclamou a rainha com entusiasmo - E trás algo nas garras!

Ana segurou o seu cavalo com rédea curta e esticou o braço para receber o falcão. Depressa começou a sentir alguma ansiedade pois a ave preferiu rodopiar sobre ela antes de finalmente descer e pousar na luva.

- Alimente-o depressa - ordenou ao falcoeiro - Antes que ele me arranque um olho.

O homem correu de imediato com três quadrados de carne que o falcão bicou imediatamente. A sua presa essa continuava bem presa numa das patas.

- É um coelho magro - a rainha levantou a luva e arrancou rapidamente o animal morto das garras da ave e atirou-o a um batedor - Vai lá... e desta vez trás alguma coisa com mais carne! - Ana levantou ainda mais a luva, desta vez com rapidez para dar impulso ao falcão no seu voo.

- Já dá para um guisado... - ouviu alguém dizer atrás de si.

De facto a sua tarde estava a ser bem sucedida, já tinha apanhado uma lebre, duas perdizes enguiçadas e aquele era o quarto coelho que o falcão lhe trazia.
Voltou a olhar para o céu e distinguiu o vulto da ave de rapina, estaria com certeza em busca de novo alvo. Enquanto ela não o trazia Ana Catarina reparou num cavaleiro que cavalgava na sua direcção.


- O que se passa? A minha filha errou o alvo e atingiu a perna de alguém? - perguntou casualmente.

- Majestade, não foi a princesa. Sua Alteza diverte-se a perseguir um cervo com os seus favoritos. Está bem protegida, e a sua pontaria é digna de admiração, não vos preocupeis.

Ana sentiu uma ponta de inveja por Joanokax ter encontrado uma peça de caça mais interessante que os seus coelhos. Mas simultâneamente sentiu-se feliz por ela, estava numa idade que arriscar não trazia consequências. Já a sua... era outra história.

- Então o que se trata? - questionou novamente, de olhos postos no céu.

- É Sua Excelência, o senhor Eudóxio saltou do grupo e aventurou-se sozinho no bosque...

De repente o voo da ave deixou de ter importância.

- Perderam-no?! - gritou, sentia ainda o sangue a subir-lhe de irritação.

- Não vossa Majestade! - apressou-se o cavaleiro a negar - Dom Eudóxio foi logo encontrado, não é tal aventura que justifique a sua atenção. O Secretário encontrou algo que talvez seja do seu interesse visionar... um javali adulto, já morto.

Por momentos a rainha ficou a fitar o homem com confusão estampada na cara. Qual a relevância daquilo? Terá ela pensado. Mas pensado melhor... eles estavam num bosque onde os javalis não tinham grandes predadores. As matilhas de lobos eram escassas e as que haviam eram caçadas e empurradas para fora das terras. Tratava-se de um bosque real afinal de contas, e se não podiam ser lobos a morte daquele javali só podia significar que alguém andava a caçar ali sem permissão. Tal não era incomum, eram frequentes os grupos de caçadores furtivos que se aventuravam em busca de alimento ou negócio fácil. Todavia muitos eram apanhados e as penas corporais para tais crimes não eram nada leves, a amputação de uma mão era a mais frequente.

- Leve-me até lá - respondeu-lhe por fim enquanto entregava a luva ao falcoeiro e conduzia o cavalo para outra direcção.
_________________

Med pa varvin-me kreiz ar Brezel, interit me e douar santel | Mas se morrer em combate, que me enterrem numa terra bendita
Eudoxio
Eudóxio olhava perplexo o cadáver do enorme suíno. Tinha a certeza que fora morto por outro animal (que sentido faria uma pessoa dar-se ao trabalho de matar um javali para depois o deixar a apodrecer ali no meio?), mas que animal? Não eram muitos os seres que se atreviam a atacar um javali, ainda por cima um daquele porte, e, por ali, não era suposto encontrarem-se desses predadores de maior calibre que eram capazes de tal façanha. Quem era afinal o responsável por aquela morte?

Farto de esperar pelo resto do grupo e decidido a investigar por conta própria, Eudóxio afastou-se do fedorento javali meio devorado e com as entranhas de fora e seguiu o rasto de destruição que começava a poucos metros do suíno. O silêncio imperava, como se todo o bosque ocultasse algo ao Monforte. E, de facto, ocultava.

- Mas que raio? - murmurou Eudóxio ao reparar numa enorme pegada gravada no solo. - Não é possível... Parece a pegada de um...

Um poderoso rugido ecoou pelo bosque e do meio da vegetação surgiu um enorme e ameaçador vulto.

- urso... - completou o Faro de Monforte, apertando com força a lança que consigo trazia e paralizando em frente ao assassino do javali, javali esse que parecia agora ridiculamente pequeno face àquele gigantesco urso.

- Jah me valha. - suspirou baixinho, queixando-se para consigo da sua desafortuna.
_________________
Ana.cat
Ana Catarina encostou o queixo à crina do cavalo ignorando o forte cheiro que aquela emanava, à sua frente, não mais de dez metros à sua frente o cavaleiro mostrava-lhe o caminho, a si e mais um par de guardas que a seguiam igualmente a cavalo. Começou a sentir-se indisposta, e os ramos que lhe roçavam as costas, e quase a desequilibraram por mais que uma vez não abonavam nada a favor da sua situação. Mas nem por isso decidiu abrandar a montada, não podia perder o cavaleiro de vista nem parecer fraca à frente daqueles homens todos.

- É aqui! - gritou o cavaleiro que seguia lá à frente enquanto saltava do cavalo e apontava numa direcção.

Também ela decidiu descer, a mata parecia mais cerrada e o cavalo estranhamente negava-se avançar muito mais. Os cavaleiros que escoltavam seguiram-lhe o exemplo.


- Onde está esse javali? - perguntou com impaciência ao batedor.

- É ali à frente, junto àquele carvalho retorcido.

A rainha espreitou o tal carvalho para além do homem mas nada viu. Estava a começar a ficar irritada com situação, chegou inclusive a pensar se não estaria a sofrer alguma emboscada... "Fernão também deveria ter vindo", pensou inquieta. Podia não ter ali o fiel cavaleiro mas tinha uma adaga presa à cintura. Para prevenir decidiu empunha-la.

- Está aqui majestade... o javali - o batedor parecia confuso, olhava em redor como uma barata tonta - Mas não encontro o Secretário...! - exclamou.

Ana Catarina nem sequer ouviu as últimas palavras do homem, assim que deu a volta ao carvalho deparou-se com um javali de consideráveis dimensões estendido no chão. O fedor invadiu-lhe as narinas sem que se pudesse precaver, a carne putrefacta atraíra larvas, moscas e outros insectos. Sem que se conseguisse controlar, e com as entranhas às voltas, a rainha deixou-se cair, amparada pela árvore e vomitou ali mesmo. O fedor era insuportável, mas a visão do animal morto não lhe ficava muito atrás. Apesar de ter desviado logo o olhar da carcaça ainda podia ver as larvas e ratos a banquetearem-se com as tripas e olhos do desfigurado animal.
Um guarda surgiu à sua esquerda e amparou-a, levando-a para longe dali. Naquele momento sentiu-se uma idiota, como era possível ter perdido a compostura daquela maneira? Não era a primeira vez que encontrava um animal naquelas condições, infelizmente até em guerra tivera visões bem piores. Mas agora era diferente. Ana não sabia dizer o quê. Era ela que se sentia diferente.


- Majestade... será melhor retirar-vos? - ouviu o guarda perguntar-lhe perto do ouvido.

Ana ainda sentia o amargo do vómito na boca e era disso que se queria livrar no momento.


- Água, quero água apenas - respondeu-lhe, cuspindo para o outro lado saliva ou restos de vómito, ou quer que fosse que tivesse tão azedo sabor.

O guarda encostou-a com delicadeza contra uma pedra e correu na direcção do cavalo, provavelmente em busca de um odre.
Não foi no entanto a esperada água que se seguiu. Um rosnar aterrorizante ecoou entre o bosque, colocando homens e animais em alerta. A rainha cerrou o punho em redor da adaga ainda com mais força e olhou em redor, ouvia os uivos dos cães de caça e as vozes dos seus batedores a aproximarem-se.

_________________

Med pa varvin-me kreiz ar Brezel, interit me e douar santel | Mas se morrer em combate, que me enterrem numa terra bendita
Eudoxio
O urso rugiu uma vez mais e fitou atentamente Eudóxio, como que o estudando e esperando pelo seu próximo movimento. O Monforte não se atreveu a mexer. Já travara batalhas, algumas das quais até à morte, mas nunca antes defrontara um urso, nem nunca o desejara. Recordou momentaneamente as sangrentas batalhas por terras bretãs e francesas. Viu-se novamente naquela colina junto a Limoges, de novo viu homens tombar à sua frente e às suas mãos, e, naquele tão distante bosque, conseguia ouvir, ecoando na sua mente, os gritos de agonia daqueles que, feridos e caídos no chão, aguardavam a morte. E recordou Bernardo, seu irmão, que a Bretanha lhe levara... Mas não só o sofrimento e a morte tiveram lugar naquelas terras, e Eudóxio relembrou o belo e doce rosto de Erwana... Seguramente que a guerreira bretã se veria livre daquela situação e daquele urso facilmente.

Todos aqueles pensamentos e lembranças não tinham demorado mais que meia dúzia de segundos, e Eudóxio era agora "puxado" de volta para aquele bosque e para o confronto com o enorme urso. Deu um pequeno passo para trás, tentando fugir às arrecuas, mas o enorme mamífero rosnou e avançou, não o deixaria escapar.

- Anda, avança! Que esperas?! - gritou zangado, agarrando com força a lança - Verás que atacar um Monforte não é como atacar um javali!

Percebendo, ou não, o que o Faro de Monforte lhe gritava, o urso rosnou uma vez mais, zangado, e mostrando os seus enormes dentes, capazes de desfazer uma pessoa em escassos instantes. E avançou.

O chão quase que tremia face às pesadas passadas do urso, à medida que este corria em direção a Eudóxio. E se o chão quase tremia, também o Monforte o fazia: a visão daquela besta a correr em seu encontro não era, de todo, agradável. Agindo apenas por instinto, até porque o tempo de que dispunha não lhe permitia grandes pensamentos táticos, levantou a lança, no exato momento em que o urso saltava dirigido a si. Os milésimos de segundo que se seguiram alongaram-se por eternidades, enquanto ao seu redor tudo paralizara no tempo. Nada se ouviu nesse curto espaço de tempo e nada aconteceu. Todo o Mundo parara para testemunhar aquele duelo...

O pesado urso rugiu novamente, pela derradeira vez, e tombou em cima daquele que o trespassara com uma lança. Eudóxio, espantado pela sua vitória, não conseguiu reagir a tempo de se desviar, sendo atirado ao chão e ficando preso debaixo do gigantesco urso, mal se conseguindo mexer.

- Bendita hora em que troquei o falcão por uma lança.
_________________
Ana.cat
Por momentos o tempo pareceu desacelerar em seu redor. Àquele temível rugido seguiu-se a chegada dos batedores dos outros grupos. Ana vislumbrou o seu tio vir ao seu encontro montado num burrico com duas perdizes mortas atadas à cintura. D'outra direcção vislumbrou os vultos dos cavaleiros que pelas vozes julgou serem os cortesãos da sua filha.
Ana Catarina fechou os olhos e voltou a cuspir para o lado o amargo que tinha na boca, nesse momento sentiu uma reviravolta nas entranhas, mas desta vez já não era vómito. Tentou levantar-se mas não se conseguiu aguentar muito tempo em pé, caiu quase de imediato sobre um batedor que se aproximara dela para a retirar dali.


- O javali... e Eudóxio, onde está ele? - exigiu saber ao homem que a olhava com uns olhos esbugalhados e inexpressivos.

- Aqui! Acudam! Acudam o Secretário! - ouviu ao longe um guarda gritar seguido por outros tantos.

Ao se aperceber daquele reboliço a rainha apoiou-se no batedor e indicou-lhe a direcção para onde tinham corrido os guardas.


- Majestade... pode ser perigoso, deixai-me retirar-vos daqui até sabermos exactamente o que se está a suceder...

Ela não respondeu, limitou-se a encara-lo com uma expressão que não deixava dúvidas quanto à sua vontade. Com a ajuda do batedor levantou-se e montou de novo o seu cavalo. O resto foi seguir as vozes e gritos de terror ou fascínio que ecoavam pelo bosque. Com mais dois guardas no seu encalço a rainha aproximou-se do grupo que chegara antes de si, no meio do aglomerado de guardas, batedores e cortesãos um enorme urso estava tombado com uma lança atravessada no seu ventre. À primeira vista a Monforte não percebera mais nada além disso, mas assim que a viram chegar abriram-lhe passagem e aí o terror apoderou-se dela. Eudóxio estava por baixo do grande urso, três batedores tentavam retirar o poderoso animal de cima dele com grande dificuldade.

- De que estão à espera?! - interrogou indignada com a passividade que a cercava - juntem-se a eles e tirem o Secretário Real dali!

De imediato meia dúzia de espectadores juntou-se aos outros três homens e em menos de cinco minutos conseguiram virar o urso e libertar Eudóxio, que apesar de tudo parecia consciente e pouco magoado.


- Estás bem?! - perguntou ela, descendo do cavalo para verificar o estado do primo - Não tens nada partido? Dói-te alguma coisa? Estás ferido? - a rainha observou-lhe alguns arranhões nas mãos, para não referir as roupas que estavam completamente estragadas, com lama negra e insuportavelmente mal-cheirosas - Mas afinal o que te passou pela cabeça para enfrentares um urso?! - questionou, desta vez num tom pouco terno.
_________________

Med pa varvin-me kreiz ar Brezel, interit me e douar santel | Mas se morrer em combate, que me enterrem numa terra bendita
Eudoxio
- Eu estou bem, eu estou bem... - respondia Eudóxio à medida que se levantava. Não estava. O urso não era um ser propriamente leve, nem o chão era macio, e o Monforte estava algo dorido. Mas o que eram umas pisaduras e uns cortes, quando por pouco estivera para ser violentamente dilacerado e devorado? Tinha aquela sensação que uma vez mais se esquivara da morte e pensava para consigo que eram já vezes em demasia... talvez não fosse pior começar a evitar tais situações.

- Mas afinal o que te passou pela cabeça para enfrentares um urso?!

Eudóxio ainda mal se recompusera quando a Matriarca Monforte o interrogou e respondeu com um largo sorriso:

- Devíeis perguntar antes ao urso qual a ideia dele para se meter comigo, eu bem que tentei evitar o confronto...

Voltou então a sua atenção para o corpo do enorme urso que jazia ali no meio como um enorme penedo e pediu uma espada ao guarda que se encontrava mais perto de si. Avançou então em direção do animal e estudou-o durante uns instantes. Então, por fim, ergueu a espada e com um único e certeiro golpe cortou-lhe a cabeça e entregou-a a um dos batedores:

- Acho que vou levar isto como troféu, certamente que não lhe fará muita falta.
_________________
Ana.cat
Ana torceu o nariz à imagem da cabeça do urso a espirrar sangue.

- Bem, julgo que será um prémio justo... mas embrulha isso nalgum pano para não assustares a população que encontrarmos no nosso regresso.

A rainha olhou em redor, já começava a escurecer e praticamente toda a comitiva se aglomerava em seu redor, alguns tentavam desesperadamente pôr a vista no que restava do imponente mamífero. Decidiu que estava na hora de partir, tivera demasiadas peripécias para um dia só.

- Bom, meus caros... vejo que muitos tiveram sucesso na sua busca, alguns mais que outros. No entanto está na hora de voltarmos ao Paço - dirigiu-se a um dos batedores - Encontrai o caminho de regresso. A aventura terminou!
_________________

Med pa varvin-me kreiz ar Brezel, interit me e douar santel | Mas se morrer em combate, que me enterrem numa terra bendita
See the RP information <<   <   1, 2   >>
Copyright © JDWorks, Corbeaunoir & Elissa Ka | Update notes | Support us | 2008 - 2024
Special thanks to our amazing translators : Dunpeal (EN, PT), Eriti (IT), Azureus (FI)