O urso rugiu uma vez mais e fitou atentamente Eudóxio, como que o estudando e esperando pelo seu próximo movimento. O Monforte não se atreveu a mexer. Já travara batalhas, algumas das quais até à morte, mas nunca antes defrontara um urso, nem nunca o desejara. Recordou momentaneamente as sangrentas batalhas por terras bretãs e francesas. Viu-se novamente naquela colina junto a Limoges, de novo viu homens tombar à sua frente e às suas mãos, e, naquele tão distante bosque, conseguia ouvir, ecoando na sua mente, os gritos de agonia daqueles que, feridos e caídos no chão, aguardavam a morte. E recordou Bernardo, seu irmão, que a Bretanha lhe levara... Mas não só o sofrimento e a morte tiveram lugar naquelas terras, e Eudóxio relembrou o belo e doce rosto de Erwana... Seguramente que a guerreira bretã se veria livre daquela situação e daquele urso facilmente.
Todos aqueles pensamentos e lembranças não tinham demorado mais que meia dúzia de segundos, e Eudóxio era agora "puxado" de volta para aquele bosque e para o confronto com o enorme urso. Deu um pequeno passo para trás, tentando fugir às arrecuas, mas o enorme mamífero rosnou e avançou, não o deixaria escapar.
- Anda, avança! Que esperas?! - gritou zangado, agarrando com força a lança
- Verás que atacar um Monforte não é como atacar um javali!
Percebendo, ou não, o que o Faro de Monforte lhe gritava, o urso rosnou uma vez mais, zangado, e mostrando os seus enormes dentes, capazes de desfazer uma pessoa em escassos instantes. E avançou.
O chão quase que tremia face às pesadas passadas do urso, à medida que este corria em direção a Eudóxio. E se o chão quase tremia, também o Monforte o fazia: a visão daquela besta a correr em seu encontro não era, de todo, agradável. Agindo apenas por instinto, até porque o tempo de que dispunha não lhe permitia grandes pensamentos táticos, levantou a lança, no exato momento em que o urso saltava dirigido a si. Os milésimos de segundo que se seguiram alongaram-se por eternidades, enquanto ao seu redor tudo paralizara no tempo. Nada se ouviu nesse curto espaço de tempo e nada aconteceu. Todo o Mundo parara para testemunhar aquele duelo...
O pesado urso rugiu novamente, pela derradeira vez, e tombou em cima daquele que o trespassara com uma lança. Eudóxio, espantado pela sua vitória, não conseguiu reagir a tempo de se desviar, sendo atirado ao chão e ficando preso debaixo do gigantesco urso, mal se conseguindo mexer.
- Bendita hora em que troquei o falcão por uma lança._________________