Amber se preparara para o combate. Ao ver o estandarte cair ao chão atiça Labareda com os pés fazendo-o sair correndo como o vento em direção à oponente. A crina castanho-avermelhada do belíssimo cavalo se tornara um borrão na arena e Amber gritava um urro de luta a plenos pulmões.
Quando a corrida chegava ao fim, a Comandante-Chefe do ERP posiciona a lança pronta para acertar em cheio o escudo da Princesa Johanna, no entanto um som por mais longínquo que estivesse, a distrai. E - zás - a Princesa passa ao seu lado sem que nenhuma das duas tivesse golpeado a outra.
Amber fora treinada nas trincheiras do Exército Real Português desde muito jovem e sempre conseguira manter a perfeita concentração, no entanto, seus sentidos eram todos aguçados. O mais aguçado de todos era aquele sentido conferido às mulheres, o sexto sentido, que arrepiava-lhe os pelos bem atrás da orelha sempre que algo não corria da forma como deveria correr, sempre que alguma coisa estava errada.
Fora esse arrepio atrás da orelha que a fizera aguçar sua audição e, com isso, conseguir ouvir aquele pequeno som. Era um som muito distante, uma simples exclamação de surpresa, o som proferido por alguém que é pego de surpresa por algo. E não era de uma pessoa qualquer. A Condessa reconheceria a voz arrastada e rouca de caipira velho em qualquer lugar. Quem proferira aquele som era Corisco, o criado que Rhyannon herdara do pai e que ele herdara de sua mãe, Anjolie. Aquele criado desajustado das ideias, completamente indisciplinado e que sempre acabava aprontando com Amber sem querer e deixando-a louca de raiva para depois fugir com medo que a Condessa lhe arrancasse o couro.
Em qualquer outra situação a reação de Amber seria querer matar Corisco por ter-lhe feito perder a concentração e, com isso, perder a chance de golpear a oponente. No entanto "raiva" não passava nem perto do que Amber sentia. Dessa vez, a loura estava preocupada com o velho criado. O som proferido por Corisco era de angústia, como se estivesse sendo arrastado contra a sua vontade. Fora um barulho sutil e logo esmagado, como se alguém lhe tivesse tapado a boca. E isso sim irritava Amber até os últimos fios dos longos cabelos, porque se tinha alguém no mundo que podia maltratar Corisco, esse alguém era ela, ninguém mais.
Amber puxa as rédeas de Labareda, contendo-o, já que ele sentira a apreensão da amazona e se agitara imediatamente. A Condessa nota que seu Body Guard, Dionisio, se agita de onde ele a observava. Era de se esperar, já que vacilar diante do oponente não fazia, nem de longe, o estilo da Comandante. Tudo o que Amber queria era bater os calcanhares no lombo de Labareda e correr para fora da Arena afim de descobrir onde estava Corisco e o que aquele som significava, mas era tarde demais, o Arauto já erguia novamente o Estandarte e Amber sabia que a qualquer segundo teria de correr novamente de encontro à Princesa Johanna. Ansiosa, Amber dá ordens claras a Juliano, que viera lhe trazer um pouco d'água.
- Vá atrás do Corisco, Juliano. Peça ao Dionisio que destaque um dos guardas para te acompanhar, rápido! Estou com um mau pressentimento!!!
E trocando um olhar longínquo com Dionisio, dá-lhe ordens silenciosas de que atenda ao pedido que Juliano lhe leva.
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