Aristarco caminhava um tanto com a cabeça nas nuvens, por assim dizer, a pensar nos planos que lá fazia, quase a não mui perceber o que se passava em seu entorno, o que não faz uma introspecção, algo singular; às vezes se encontrava naquel esquisito estado de desatenção, mas nada parecido com aquele de inspiração, ao contrário, fugidio como só ele, quando nem sempre havia de se chegar a um fito ou algo parecido, logo vedes, como são os tais estados dalma, inusitados.
Quando algo lhe chamou a tal atenção por lhe tirar daquel estado ausente (ao menos temporariamente...), um burburinho ali próximo diante uma velha árvore retorcida que se encontrava naquela praça, a levar jeito, dali ser testemunha do lugar antes que chegasse a se tornar uma cidade, se assim poderia dizer.
Alguns falavam animadamente, outros mais ao largo, e curioso como ele, o trovador foi lá saber o que se passava, oras, afinal tudo é razão para neste mundo inquerir (não havendo uma espada a contrariar, mal não faria dalgo se atinar dava até mote de trova, oras).
Dito e feito: caminhou e perguntou algo a um conviva um tanto animado ali, do que exatamente se tratava aquilo. Aquel outro, pediu que lesse um cartaz afixado na árvore, que conclamava o povo a se dirigir para as minas auríferas, segundo a precisança do Condado, além de rumores mais generosos para com os mineiros, possibilidades mais.
Quando leu o cartaz, onde já se viu isto, conhecera mui bem aquelas palavras!
Perguntou ao homem como aquilo fora parar ali, enquanto o outro em resposta lhe explicou acerca da donzela em montaria, descrevendo a cena que se dera.
O trovador sorriu, porque reconhecia inevitavelmente pelas palavras do homem, a donzela Anne que estaria a divulgar aquela causa importante, mas que azar, não esbarrara com a moçoila, "pelo bom Sado".
Agradeceu ao homem pelas informações e se despediu.
Voltou ao seu estado ausente, desta vez a pensar acerca das cousas das minas douro, já havia mais substância para se dedicar.
Por um momento ficou a matutar onde melhor estaria neste momento, em função do brilho reluzente que o metal tanto atraia; havia boas perspectivas agora que se dava conta.
Se fosse uma estada na boa vila de Avis, residia uma certeza de mui velhos e bons amigos após a faina diária, algo essencialmente reconfortante... Também faria algumas pesquisas dos rumores que se irradiavam, certamente.
Se fosse em seguida ao Crato, talvez pudesse também encontrar mestres-carpinteiros a fazerem bons preços de madeira, para a construção de sua estante em casa (os livros precisariam ser bem alojados, eis um dever); afinal também havia matéria de madeira à vontade naquela plaga.
Por outro lado se fosse o trovador em Évora, talvez encontrasse algum alaúde mourisco para adquirir junto ao mercado, eis algo que jamais saía de sua mente.
Sem dizer que para lá em Elvas mais a leste, comeria os famosos e irresistíveis pãezinhos batizados, uma iguaria que jamais esquecera depois que experimentara; em verdade, talvez houvesse que trabalhar bem para manter a forma de gente, e não deixar a forma arredondada lhe tomar corpo, tamanho gosto daqueles pãezinhos que seriam consumidos em boa quantidade.
Havia deveras bons motivos para se encaminhar naquelas vilas com minas douro, sem dúvida: coçava o queixo a pensar naquela questão, com tantas possibilidades benévolas e mui bem vindas para si e para a coletividade; quase tropeçou em um toco pelo caminho...