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[RP] Ateliê - A Donzela Tecelã - tecendo sonhos...

Toninho, roleplayed by Maria_madalena
Perante aquele resposta amarga, Toninho encolheu os ombros, evitando qualquer contacto visual com aquele italiano mal-humorado, e preparou o cavalo dele para sair. O animal estava calmo e havia sido realmente bem tratado, em verdade o seu pêlo estava hoje mais lustroso do que ontem e aquela noite de descanso permitira-lhe restabelecer parte das forças.

- Aqui o tem. - Disse-lhe entregando-lhe as rédeas para a mão. - Faça uma boa viagem, senhor.

Não acenou, como lhe era costumeiro, pois tinha a certeza que aquele gesto teria desagradado a um homem tão sério e mal encarado.
--Gennaro
Rezingão como sempre, Gennaro bufava impaciente enquanto o rapaz preparava o cavalo para si. Notou como o animal tinha o pêlo mais brilhante e como parecia haver nele uma força renovada, mas não fez caso daquelas melhorias. As mãos que tocavam o seu animal eram as mesmas que haviam tocado aquela mulher pecaminosa. Eram as mãos de um homem sem rumo e preso ao diabo.

- Despachai-vos, despachai-vos. Não tenho a vossa falta de actividades com que ocupar o tempo. - Disse enquanto andava em círculos pelo estábulo, esfregando uma mão contra a outra, nervosamente.

Momentos depois o moço dos estábulos entrega-lhe as rédeas e Gennaro não perde tempo, girando nos calcanhares e abandonando de imediato o local, sem se despedir ou sequer agradecer o serviço prestado, pois as dívidas monetárias estavam saldadas. Não montou o cavalo e percorreram as ruas num passo calmo e lento até por fim chegarem ao atelier de Beatrix.

Clamou pela pupila, precisava de saber se haveria um local onde pudesse deixar o cavalo.
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Beatrix_algrave


Ao ver que o mestre Gennaro retornara, Beatrix foi de pronto atendê-lo. Acompanhada por André ofereceu ajuda para carregar-lhe os pertences. Ao notar que ele trazia também o cavalo, indicou um portão na lateral da casa, que levava aos fundos da propriedade.

- O senhor poderá deixar o cavalo no meu estábulo. É onde deixo meu cavalo Desheret e ficam os cavalos dos visitantes. Há espaço para apensa três animais, mas é o suficiente.

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--Gennaro
Gennaro quase sorriu, mas não deixou que a ruiva lhe levasse os pertences. Não queria que as demoníacas mãos tocassem os seus bens mais íntimos e sacros.

- Deixe estar, Beatrix, deixe estar, eu mesmo levarei as minhas coisas. - Disse tentando não parecer que aquela ideia o repudiava profundamente.

Seguindo as instruções da mulher, levou o cavalo até ao estábulo, onde se encontrava Desheret, o cavalo de Beatrix. Admirou o animal dela por alguns instantes e depois apressou-se a acomodar o seu.

- Pronto, pronto. Já estás. - Afirmou enquanto dava umas palmadinhas no dorso do cavalo.
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Beatrix_algrave


Como o mestre Gennaro recusou sua ajuda, ela não insistiu. Depois que ele acomodou o animal e retornou, ela disse.

- Vosso quarto já está preparado, mestre. Se quiser arrumar suas coisas por lá, fique a vontade. Ao meio dia em ponto o André levará seu almoço. O senhor tem alguma preferência?

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--Gennaro
Gennaro abriu a boca para falar, mas de imediato se arrependeu, fechando-a e remetendo-se ao silêncio por alguns minutos. Estava em casa alheia e bem sabia que as regras da cortesia exigiam que agradecesse tudo aquilo que lhe fosse oferecido, mesmo que não fosse muito do seu agrado. Verdade que nunca fizera desta regra uma sua, todavia não era tarde para experimentar.

- Qualquer coisa estará bem. - Disse com atrapalho, pois era a primeira vez que tais palavras abandonavam a sua boca.
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Beatrix_algrave


- Tem certeza?

Beatrix insistiu e em seguida disse o cardápio.

- Façamos assim, eu digo o que temos para hoje e o senhor dirá se é do seu agrado. Teremos tarte de pastel de nata, arroz de tamboril e vitela assada. A sobremesa será fofos de creme.

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--Gennaro
Gennaro ouviu o cardápio e perguntou-se se os almoços naquela casa seriam sempre assim tão fartos, pois em casa do mestre italiano as refeições eram simples, maioritariamente compostas por sopa, pão e fruta. Talvez fosse por aquele motivo que todos os homens desejavam ter uma mulher para si, o regalo de olhar uma mesa bem posta poderia até compensar o inferno que era aturar aquelas criaturas.

- Estará mais do que bem, tenho certezas. - Confirmou enquanto se questionava o que seriam fofos de creme e pastéis de nata. Resolveu não inquirir Beatrix acerca destas dúvidas e apressou-se a dizer. - Se não se importar, irei subir e acomodar-me.
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Beatrix_algrave


- Fique à vontade, mestre Gennaro.

Ela disse despedindo-se dele com uma vênia. Beatrix foi para a cozinha ajudar Laurinda para que o almoço não atrasasse. Provavelmente ela não veria mais o mestre naquele dia e isso a alegrava. Ele certamente não destrataria André, pois era apenas um menino. O mestre receberia o almoço, um chá com biscoitos a tarde e por fim o jantar, sopa cremosa de brócolis, pão de centeio e algumas frutas.

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--Gennaro
Depois de Beatrix ter-se despedido de si com uma vénia, Gennaro dirigiu-se para o quarto que era agora seu. O quarto era simples e modesto, mas parecia-lhe sossegado e lá teria todo o conforto que necessitava. Além disso, na sala ao lado havia uma pequena tecelagem que ele poderia usar quer para ensinar Beatrix, quer para satisfazer o seu prazer. Pois a arte e engenho de trabalhar o fio eram para si um deleite.

Não encontrou ninguém no percurso até ao sótão e isso de certa forma reconfortou-o. Após os acontecimentos dos últimos dias precisava de um pouco de descanso, não de se cruzar com mulheres pecaminosas no corredor da casa que agora também habitava. A porta do quarto estava fechada, mas bastou que girasse a maçaneta para que se abrisse. O cómodo estava como da última vez e Gennaro não demorou para arrumar os seus poucos pertences, servindo-se dos móveis que estavam disponíveis.

Gennaro observou a colcha da cama antes de sentar nela para descansar um pouco. Era de boa confecção e bastante bonita, arrepiou-se ao pensar que provavelmente fora a sua pupila que a confeccionara e isso deixou-o, de certa forma, descontente e irritado. Pensou em livrar-se dela, escondendo-a no baú, mas as noites ainda iam frescas. Embalado pelo cansaço, deitou-se na cama e adormeceu.

Não foi um sono tranquilo como lhe era costumeiro. Um cheiro a flor de laranjeira, feminino e delicado, preencheu-lhe os sonhos que também não foram comuns. Aquele odor fê-lo sonhar com mulheres. Mulheres de cabelos longos e suaves, que se debruçavam sobre si, emoldurando-lhe o rosto por entre o cheiro tão agradável da flor de laranjeira. Mulheres que lhe tocavam com a sua pele macia, alva e sensível, que lhe despertavam pequenos tremores e que lhe beijavam os lábios com ternura. Eram sonhos felizes e Gennaro, deitado no leito, envolto nos lençóis que um dia envolveram Beatrix, sorria candidamente.
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--Fiandeiras


Ouvem-se batidas na porta, e uma voz de menino a chamar por Gennaro.
A voz de André tira Gennaro do mundo dos sonhos, arrancando-o de volta à realidade. É a hora do almoço. E do outro lado ele é capaz de sentir um cheiro muito agradável de comida.

- Senhor Gennaro, trouxe seu almoço.
Beatrix_algrave


Enquanto Gennaro dormia, Beatrix tratou de atender o primo Benoit. Até se esquecera que o deixara na cozinha com Laurinda. Após comer, ele ficou no escritório de Beatrix aguardando e por isso, na volta, ao entrar pela cozinha com Gennaro, Benoit não estava mais lá.

Depois de despachar Gennaro e ajudar Laurinda na cozinha, Beatrix foi encontrar Benoit no escritório e atender ao seu pedido de confeccionar uma camisa. Ela tirou-lhe as medidas, e depois convidou-o a almoçar com ela, André e as fiandeiras, pois felizmente o rabugento mestre italiano almoçaria no quarto.

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--Gennaro
O lento soar das batidas na porta, fez com que Gennaro se mexe-se na cama, despertando ligeiramente. Sentiu o corpo suado e um intenso cheiro a flor de laranjeira preencheu-lhe as narinas. Estaria ainda a sonhar?

- Senhor Gennaro, trouxe seu almoço.

A voz do rapaz sobressaltou-o e o mestre sentou-se repentinamente na cama. Apercebia-se agora do conteúdo dos sonhos que lhe preencheram aquele breve sono e uma fúria amarga corria-lhe agora no mesmo sangue que experimentara, momentos antes, a luxúria carnal.

- Casa amaldiçoada! Malditas! Malditas! - Atirou repentinamente a colcha e os lençóis para o chão e pôs-se de pé num único movimento. - Querem fazer-me cair no pecado! Malditas mulheres! Víboras! Criaturas infernais, possuídas pelo demónio! Senhor, tirai-me o pecado do corpo, ouvi a minha roga.

O mestre Gennaro deu voltas e voltas à cama, passando exasperado as mãos pelos cabelos, o seu rosto contorcido numa raiva silenciosa. De rompante, e sem que nada o fizesse prever, abriu a porta e encarou o pequeno André que segurava a bandeja com o seu almoço.

- Rapaz, rapaz, tu precisas de sair daqui! Elas vão consumir-te! Vão fazer-te pecar, anda almoça comigo. Vamos ter uma conversa sobre estas... estas... mulheres. - Retirou a bandeja das mãos de André e pousou-a numa mesa.
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--Fiandeiras


André olhou para Gennaro e notou que ele estava suado e dizia coisas estranhas. Será que aquele italiano esquisito estava tendo febre e delirava.

- O senhor sente-se mal? Se quiser posso pedir a minha mãe para fazer-lhe um chá de gengibre.

Ele disse enquanto entrava e colocava sobre a mesa a garrafa de vinho que carregava embaixo do braço. André preferia almoçar na sala com sua mãe , sua avó, sua prima, Beatrix e Eduarda, mas não quis ser rude com o mestre e permaneceu ali preocupado com o estranho homem.
--Gennaro
Gennaro observou o rapaz, os seus olhos esbugalhados e ligeiramente vermelhos fixos no rosto do jovem.

- Mal? Não me sinto nada mal. - Informou e abanou a cabeça peremptoriamente para reforçar aquela ideia. Em voz mais baixa acrescentou. - São essas mulheres, fazem coisas estranhas, tão estranhas a um homem. Afasta-te delas enquanto é tempo. - O rapaz olhava-o espantando, mas Gennaro estava demasiado perturbado com aquele sonho para se aperceber do ar confuso de André. - Um chá? Preparado por essas mulheres? Nem pensar, nem pensar. Estes lençóis estavam envenenados pela certa, só o veneno me faria ter sonhos assim.

Passou a mão pela testa, limpando algumas gotas de suor.
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