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[RP] Ateliê - A Donzela Tecelã - tecendo sonhos...

--Gennaro
Gennaro olhou para a sua pupila e sentiu-se envergonhado, quer pelo sonho do dia anterior, quer por ela o ter visto bêbedo e descomposto. Nunca uma mulher o vira daquela forma.

A sua mente vagueava por caminhos inseguros, mas o mestre italiano obrigou-a a focar-se na questão do prior. Vendo que Beatrix permanecia em silêncio disse:

- Estávamos a ter uma pequena desavença - apontou para si e para Beatrix - quando um dos teares deu três batidas completas sem que nenhum de nós o tocasse.
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Beatrix_algrave


- Sim, exatamente. Discutíamos por causa da irmã Benedita que me ensinou a fazer tranças de urdidura na mão e com materiais improvisados. O mestre estava aborrecido e enquanto eu perguntava o motivo do aborrecimento o tear bateu sozinho três vezes. Ele o examinou e não achou nada estranho. Por isso fez pouco caso de mim. Mas depois dele mexer no tear e deixá-lo, o tear moveu-se de novo sozinho. Parecia querer provoca-lo. Enquanto trocávamos acusações, os outros dois teares deram três batidas sincronicamente. Não sabendo o que pensar a respeito, sugeri que deixássemos o porão e o fizemos.

Beatrix comenta, acrescentando todos os detalhes que conseguia lembrar-se. Não apenas um, mas os três teares do porão moveram-se em algum momento. Aquilo tornava o relato ainda mais estranho. Nenhum dos dois viu fios nem nada suspeito, mas a ruiva ainda custava a acreditar que aquilo fosse possível. Ela evitou olhar para o mestre Gennaro ao notar como ele estava envergonhado, provavelmente pelo seu estado naquela manhã. O prior era rígido e deve tê-lo repreendido.

- Depois disso não retornamos mais ao local para investigar.

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--Gennaro
Se Gennaro estava já envergonhado pelos acontecimentos daquela manhã, depois do relato completo que Beatrix apresentou ao prior da Ordem de Azure, o mestre italiano tinha vontade de fugir e esconder-se num local recôndito. Aquela mulher ia enlouquecê-lo. Já não bastava ter de ensiná-la e conviver com a sua desagradável companhia, estava agora incumbido de acompanhá-la numa viagem de barco. Para completar, tinha ainda sonhos de natureza menos própria acerca de Beatrix e era humilhado por esta em frente ao prior da Ordem. Estava furioso, verdade seja dita, mas não ousou expressar o seu habitual mau génio.

- Foi como a menina Beatrix disse. - Reiterou, tentando não mostrar desagrado. - Foi de facto muito estranho o que aconteceu naquela cave, prior.
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Yochanan


O Prior escutou com atenção mas não fez nenhuma pergunta. Uma vez que ambos terminaram o relato do ocorrido, o Viana inspirou profundamente e fechou os olhos por um momento pouco mais longo que um piscar de olhos antes de soltar o ar e dizer sereno. - Gostaria de ver os teares se mo permitir senhorita Algrave.

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Beatrix_algrave


Após terminar o relato, diante do pedido do prior, Beatrix propôs-se a conduzi-lo até o porão, onde estavam os teares misteriosos que se mexiam sozinhos.

- Claro, senhor prior. Queira me acompanhar por favor.

Ela disse e seguiu pelo corredor que levava até a escada para o porão. Deixou para o mestre Gennaro a livre escolha se ele gostaria ou não de acompanhá-los.

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Yochanan


Yochanan seguiu Beatrix pelo corredor até a escada para o porão, ela descia na a sua frente até chegarem à porta que dava à área onde ficavam os misteriosos teares.

- Já tiveram algum outro evento estranho nesta casa senhorita? - inquiriu o Prior como se aquilo tudo não passasse de uma mera trivialidade com a qual ele já estava acostumado.

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--Gennaro
Gennaro seguiu Beatrix e o pior e manteve-se calado a ouvir a conversa de ambos. A cabeça doía-lhe e o ar abafado da cave provocava-lhe tonturas.
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Beatrix_algrave


- Não, nada que eu me recorde. Ao menos para mim essa é a primeira vez que vejo algo tão estranho. As pessoas dizem coisas, que essa é a casa dos sussurros e que já ouviram coisas estranhas, mas sempre achei isso uma bobagem.

Beatrix responde ao prior, notando que dessa vez é Gennaro que estava calado. Ela abriu a porta que dava acesso ao amplo salão com suas divisórias. Dali era possível ver a porta da sala de teares. O local estava silencioso.

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Yochanan


O prior, meditativo, assentiu ante a resposta de Beatrix.

- Continuemos. - ele disse fazendo um ademão para que a jovem entrasse primeiro. O ar ali era mais fresco, e o silêncio profundo, apenas seus passos pareciam quebrar aquela atmosfera de reclusão. Naquele momento eles aparentavam mais uma estranha procissão em alguma catacumba que um grupo qualquer no porão de uma casa.

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--Gennaro
Gennaro permanece em silêncio, contudo está atento à conversa que se desenrola entre o prior e a sua pupila. Luta contra o instinto de apoiar a cabeça numa mão e tenta manter a pose que de si é esperada.

Estão agora na sala de tecelagem e o mestre italiano olha com desconfiança os teares que se movimentaram sozinhos no dia anterior.

- Alguma ideia quanto ao que possa ser, prior? - Pergunta para encher o momentâneo silêncio.
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Beatrix_algrave


Beatrix acendeu as luminárias da parede para que pudessem ver melhor o local.

Os teares não estavam mais na mesma posição de antes. E o tear em que Gennaro e Beatrix mexeram teve a urdidura cortada, os fios agora pendiam soltos.

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Yochanan


Yochanan repara na expressão de Beatrix após esta acender as luminárias da parede. -Ocorre algo senhorita Algrave? - perguntou enquanto percorria com a vista o ambiente. Apesar de estarem no porão o chão estava bem limpo pelo que não seria fácil ver se algo havia sido movido, por outro lado em um dos teares alguns fios pendiam soltos como se houvessem sido cortados ou arrebentados...

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Beatrix_algrave


Ao reparar no chão, agora com a luminosidade era possível enxergar uma poça de algo viscoso, de cor vermelho terrosa, o cheiro, lembrava sangue.

Beatrix também notou a poça. Ela disse ao prior o motivo do seu espanto.

- Não deixamos os teares assim, e os fios estavam inteiros, agora as tramas estão cortadas. Alguém esteve aqui. E essa poça?

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--Gennaro
Gennaro aproximou-se para observar os fios da urdidura cortados e a poça, muito espantado e quase horrorizado.

- Tendes certeza que as vossas companheiras de casa não cortaram os fios? Talvez o rapaz, em brincadeira. - Propôs embora sem grande crença nas palavras que proferia.

Aquele era sem dúvida um sinal do desconforto de Jah perante o pecado que lavrava naquela casa.
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Yochanan


Yochanan nada disse, apenas se aproximou dos fios cortados e tomou uma de suas pontas para observar se haviam sido cortados ou arrebentados aqueles fios. Depois se abaixou junto à estranha poça, tentando perceber algum cheiro inusual, mas apenas sentiu um odos parecido ao de sangue. A poça tinha menos de um palmo em sua extensão mais longa. Com a ponta do índice o Viana tocou aquele liquido e reparou em sua consistência viscosa. Uniu o polegar ao índice e moveu-os em círculo um contra o outro.

- Saiam por um momento. - pediu o prior.

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