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[RP] Ateliê - A Donzela Tecelã - tecendo sonhos...

Beatrix_algrave


- Renda deixará o vestido de corte mais simples com um toque de refinamento. A cor preferida das noivas ultimamente tem sido o azul, acho que ficará muito bem com uma renda mais clara. É perfeitamente possível e tenho algumas rendas italianas e francesas belíssimas que comprei, nem mesmo desembalei, mas posso trazer algumas caixas para que escolha. Esse é um detalhe importante. O laço poderá ser em tecido ou em tecido forrado com renda. Enquanto examina as rendas vou pegar as amostras de tecido.

Ela diz e se apressa em buscar as caixas que deixou em um armário com as rendas que separara para organizar mais tarde. Clotilde a ajuda e traz as caixas e põe sobre a mesa. Com as rendas devidamente expostas, Ava agora poderia escolher, haviam rendas de motivos florais mais simples e mais intrincados, em tons de branco, creme, azul claro, amarelo, rosa claro, dourado e prateado, além de tons escuros como vinho, preto e vermelho.

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Ava


Ava fica observando as rendas enquanto aguarda a chegada de Beatrix.

-Bea, o que acha se a parte de cima do vestido for em renda italiana e a parte debaixo em tecido e o laço numa cor diferente para sobressair? Talvez em branco?

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Beatrix_algrave


- O corpete poderia ser de tecido azul forrado com renda italiana branca, a saia de tecido azul, a sobressaia de tecido azul forrado com renda, e o laço poderia ser como queres, em tecido branco.

Beatrix propõe.

- Alguns detalhes das mangas em renda ficariam encantadores. E quanto ao decote do corpete, alguma preferência? Reto, quadrado, coração, princesa?

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Ava


- O decote pode ser em coração. Acho que lá se foi o vestido simples. - Ava sorri - Bea, acha que consegue ter ele pronto uma semana antes do casamento? E as vestes de Yochanan? Por favor Bea, coloca um pouquinho de cor nelas. Por uma vez que seja, que eu veja ele sem ser de negro.

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Beatrix_algrave


- Acho que até eu vou ficar chocada de ver o Yochanan em um traje de outra cor. Mas vou me esforçar.

Ela diz e sorri, em seguida ela continua a tratar do vestido.

- Imagine, é um momento especial, o vestido tem que estar a altura. É um prazo muito curto, mas daremos conta. Preciso que retorne daqui a três dias para a prova. Está bem assim?

Ela diz e faz algumas anotações com um bastão de carvão em um papel, confere se não esqueceu nenhum detalhe.

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Ava


Ava partiu satisfeita e não tardou a regresar ao atelier de Beatrix passados os três dias para poder fazer a primeira prova do vestido.

- Voltei Bez, espero não ter engordado com a quantidade de queques de laranja que ando a comer. Os nervos dão-me para estas coisas. Posso ver o vestido?

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Beatrix_algrave


Beatrix cumprimenta a baronesa e responde satisfeita que o vestido já está pronto para a prova. Aquele certamente foi o vestido mais rápido que o ateliê já fizera, ainda mais considerando que além do vestido da noiva, também estava no ateliê a encomenda do traje do noivo, um vestido para Mantie e outro para a Rosa, feito a pedido de Yochanan. Felizmente, Beatrix contava com artesãs bastante eficientes e competentes ao seu lado.

- Certamente, estava apenas aguardando-a. Não se preocupe, a prova é justamente para conferir se as medidas estão de acordo e se há necessidade de modificar algo para ajustar em seu corpo. Não creio no entanto que seja necessário.

Ela disse analisando discretamente a Ava com seu olhar treinado, e em seguida convidou-a a acompanha-la. O vestido estava em um manequim de madeira forrado de tecido escuro, que Beatrix costumava usar para fazer as modelagens. Ela tirou com cuidado e indicou um biombo atrás do qual a baronesa poderia trocar-se para a prova. Era tal e qual Ava solicitara em sua descrição. As rendas italianas valorizavam o tecido azul, em especial nas mangas e no corpete. O decote em formato coração e o laçarote que marcava a cintura conferiam um toque romântico ao modelo, que era montado sobre uma ampla saia de tecido azul mais fino e uma camisa de renda com o decote bordado sobre a pele. O vestido uma vez sobreposto a esse conjunto, ficava ainda mais belo e refinado.

Além do vestido haviam ainda um par de luvas de renda e um véu para a cabeça.

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Ava


Ava precisou se conter para não chorar de emoção a olhar o vestido. Gostaria de ter consigo naquele momento a mãe e a sua tia Lua, mas infelizmente Jah não lhe permitiu isso.

Quando acabou de calçar as luvas, fechou os olhos e rodou em direcção ao espelho. E aos poucos foi abrindo e vendo que jamais teria conseguido imaginar um vestido tão lindo como aquele. Bea tinha-se esmerado e superado as expetativas mais uma vez.

-Obrigada Bea, estou linda. Nunca pensei que fosse possivel sentir-me assim. Espero que Yocha goste tanto do vestido como eu. - Não se contendo Ava abraça Bea e solta uma lágrima de emoção.

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Beatrix_algrave


Beatrix acompanha feliz a reação da noiva, ao mesmo tempo em que analisa o caimento do vestido vendo que ainda necessita de alguns pequenos ajustes. Quer que o vestido esteja perfeito para o casamento da baronesa com seu amigo Yochanan.

- Fico realmente feliz que lhe tenha agradado, esmerei-me ao máximo. Vou fazer alguns pequenos ajustes nas pences laterais e no lado direito da saia, ajustarei um pouco a barra e logo poderei terminar e assim, será entregue em sua casa o mais rápido possível. Tenho certeza que ele gostará. Você ficou esplendida com o vestido.

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Ava


- Obrigada Bea. Aguardarei o vestido e a sua presença no casamento. Agora terei que partir, ainda tenho alguns assuntos a tratar. Mais uma vez muito obrigada.

Após se despedir mais uma vez de Bea, Ava ruma a sua casa para continuar a arrumar as suas coisas para a mudança após o casamento.

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Beatrix_algrave


Beatrix se despede de Ava e a acompanha-a até a porta.

- Certamente que estarei presente. Não perderia por nada. Em breve receberá seu vestido. Leve um abraço ao Yochanan e à Mantie por mim.

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Ava


Ava acena a Bea e se despede mais uma vez. seguindo o seu caminho até ao Porto.

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Beatrix_algrave




Em um final de tarde de primavera, em que já se achegava o verão, estavam as tecelãs reunidas no Ateliê da Donzela Tecelã, que era mãe e também anciã.

Dali a mais alguns dias a Litha chegaria trazendo o dia mais longo e a noite mais curta do ano.

Após a grande tosquia da primavera, os carneiros corriam leves pelo campo, sem a sua densa lã. A tosquia acontecia somente uma vez por ano,  ao final do inverno, pois a camada de lã era a proteção dos animais contra os rigores da estação. Mas no verão ela causava calor intenso e poderia prejudicar os animais, trazendo desconforto e podendo levar até à morte. Era raríssimo isso acontecer com os carneiros de Beatrix, mas já havia ocorrido ao menos uma vez de um dos carneiros ter fugido e ter sido encontrado tarde demais. Por isso todo o cuidado na contagem durante a tosquia. Nenhum deles poderia escapar do ritual. Os melhores carneiros forneciam até mais de quatro quilos de lã bruta.

Carneiros esquilados, a lã era enrolada, curtida, depois separada e tratada. Durante dias ela era lavada para tirar a gordura, que depois seria aproveitada para sabão.

Depois de lavada e seca, começaria a cardação. Naquela noite no galpão do atelier, entre bolos, pasteis e biscoitos, muita conversa e chávenas de chá, Beatrix estava reunida com as suas tecelãs.

Todas estavam animadas para o serão. Fazia tempo que Beatrix não participava pessoalmente da cardação e tinha saudades daqueles momentos, por isso uniu-se ao grupo. A agora baronesa sentou-se em um banco, e enquanto separava a lã para penteá-la no cardador propôs ao grupo.

- Então, quem começa a contar histórias? Olha que a noite já chega e ela será longa.

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--Laurinda


Enquanto Laurinda separava a lã que cardaria em um cesto, ela propôs a Beatrix.

- Ora, porque não começa você? Nunca contou em detalhes o que lhe aconteceu em Alexandria e nem porque expulsaram você e aquele romano maluco do barco. Aliás, comece contando como foi sua chegada em Alexandria, o que você viu. Quero detalhes.

Ela disse e sorriu. Sentou-se no chão e colocou o cesto de lá entre as pernas. Na mão estavam os pentes para a cardação. Qualquer história que fosse ali contada, teria como acompanhamento a melodia do bater dos pentes.
--Fiandeiras


As demais fiandeiras concordaram. Entre elas estava a anciã Atília, que a altura dos seus mais de setenta anos parecia bastante lépida e muito lúcida. Talvez ela tivesse mais idade, talvez menos, era difícil saber. Era magra alta, e seus cabelos brancos presos em coque eram sempre bem cuidados. Os seus olhos olhos azuis transmitiam um vigor e determinação que até assustavam. Seus traços manifestavam uma misteriosa beleza que indicava o quanto fora bela no passado. A sua maneira a anciã continuava bela e de uma dignidade admirável. Assim era a fiandeira anciã, e velha druidesa, a "senhora Atropos" era cheia de vida. Uma das poucas praticantes da religião antiga naquelas terras.

Atília: - Acho que todos estamos curiosos. Você nunca nos contou em detalhes de fato o que se passou nas terras de Alexandria. Queremos suas histórias. Espero que sua convivência com aquele bando sem graça não tenha apodrecido a sua imaginação. Não sei como você não morre de tédio nessas reuniões, minha filha. Volte a admirar a hora dourada, essa letargia que eles trazem suga suas energias e te deixa pálida.

Depois dessa leve bronca, Atília apertou de leve as bochechas de Beatrix. A jovem senhora diante da anciã se convertia novamente em uma menina.

Atília: - Mas vamos às suas histórias.


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