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[RP] Ateliê - A Donzela Tecelã - tecendo sonhos...

Beatrix_algrave


Beatrix falava francês, espanhol e inglês, ao menos o suficiente para se comunicar, mas não falava italiano, felizmente conhecia o latim. Somente assim por aproximação é que ela entendeu que a primeira palavra dele era núbil, que remetia a nubente, donzela. Portanto ele se dirigia a ela, por conta do nome do atelier, que tinha outro significado além do fato dela ser uma jovem tecelã. Donzela poderia ter outros significados além daquele que remontava à pureza e virgindade. Estava ligado a juventude, à criação, ao início.

- Eu sou a tecelã. Não há aqui nessa morada nenhum homem que se dedique a essa prática e ofício. Nenhum rapazinho ou homem feito, ou mesmo ancião. Se é uma tecelã que procura na antiga Morada dos Sussurros, está falando com ela.

Beatrix fez questão de enfatizar o ela, pois não gostou da insinuação que aquele homem fizera. Se ele queria um homem para o trabalho estava no lugar errado, aquela casa estava entregue ao triplo feminino. Apesar de ser aristotélica e de sua crença em Jah, era na fé de seus pais que ela inspirara a organização de seu atelier e espaço de trabalho. Ali estavam as três faces da antiga deusa de seus pais, de início a donzela, ao meio a mãe geratriz e por fim a sábia anciã.

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--Gennaro
Aquela revelação não o surpreendera de todo, mas a sua náusea não diminuiu. O chão pareceu tremer, ou seriam apenas os seus olhos toldados por aquela fúria muda que lhe pregavam partidas? Os dela eram verdes e faiscavam com uma curiosidade e avidez que não lhe eram merecidas. Eram olhos de mulher cruel e traidora, o ardor do olhar um subterfúgio para ludibriar os menos atentos e mais incautos. Inspirou profundamente, o ar naquela sala parecia rarefeito e não tardou para que estivesse arfante. Os desígnios daquela missão desagradavam-lhe profundamente, teria de tutelar uma mulher e não conseguia imaginar uma maior perda de tempo do que aquela. Apenas o seu sentido de dever inabalável o manteve ali.

- Uma verdade infeliz, essa que acabais de proferir. - Tanto o seu olhar como a sua voz expressavam desprezo. - Pois bem, fui mandado para vos instruir, embora agora que vos vejo tenha perdido a esperança de ser bem sucedido nessa tarefa.

Retirou do bolso pingente na forma da cruz da Ordem de Azure e estendeu a mão para que ela pudesse observa-lo.

- Nubile, reconheceis este símbolo? - Novamente o enfático desprezo na palavra que a identificava como uma donzela.
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Beatrix_algrave


- Claro que reconheço. Mas eu tenho um nome, e é Beatrix, não é Donzela, Moça, Mulher, enfim.

Ela disse essas palavras com calma e sem exasperação e por fim puxou o símbolo que levava preso ao pescoço, mas preso atrás, como um escapulário. Era a medalha de Dama da Ordem de Azure. Ela percebeu o desprezo dele por sua pessoa, mas isso não a intimidou.

- O prior havia me prometido que enviaria um maestro para que eu pudesse alcançar a Verdadeira Arte dos Fabri Telae. Confesso que assim como o senhor também estou decepcionada. O senhor esperava um homem e eu esperava alguém que não desistisse de uma tarefa sem nem ao menos tentar.

Ela disse essas palavras sem irritação, havia um ar de decepção em suas palavras apesar da serenidade. Como ela poderia convencer um mestre que nem a permitiria a primeira tentativa?

- Minha decepção no entanto é bem pior que a sua. A sua é física e superficial pois vem das aparência, já a minha decepção é espiritual e filosófica, portanto vem da essência mais profunda do seu ser.

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--Gennaro
- Beatrix, seja... - Concedeu-lhe esse pedido, apelando à réstia de boa educação que sabia haver em si, mas não conseguindo disfarçar o azedume na voz.

Ela exibiu-lhe o símbolo de Dama da Ordem de Azure e Gennaro observou-o cautelosamente. Não havia dúvidas, aquela seria a sua pupila, quer ele deseja-se ou não. Era uma missão entregue pelo seu prior e se o homem que comandava a Ordem de Azure a achava merecedora daquela dádiva de aprendizagem, simplesmente não seria ele a questionar aquela decisão, não tinha esse poder.

- Parece que sois vós. - Constatou soturnamente.

A mulher à sua frente manteve-se firme, o rosto erguido, sem o mínimo temor na sua voz e as palavras amargas eram-lhe retribuídas com a mesma intensidade com que ele as proferira. Poucas vezes falara com mulheres e dessas poucas vezes em nenhuma tinha encontrado uma tão espirituosa e viva quanto aquela. As palavras ferozes dela despertaram em si um novo estado de raiva.

- Cale essa decepção mulher! - Uma súbita vontade de esbofeta-la e coloca-la no seu devido lugar. Movimentou ainda ligeiramente o braço direito, balançando-o para trás, mas parou a tempo. O brilho daqueles olhos verdes, audazes e astutos, fizeram-no recuar dois passos. Respirou ruidosamente, tentando recuperar o controlo e disse-lhe, desta vez num tom mais calmo e adequado. - O vosso mestre serei eu e a Beatrix a minha pupila. Não é tarefa que aceite com a agrado, mas é uma missão que me foi incumbida e irei cumpri-la. Não vos agrado, não me agradais, tornaremos este contacto o mais breve possível. - Suspirou, parecendo resignado com aquele trágico destino. - Posso ver o vosso atelier? Ajudar-me-ia a decidir qual o treino adequado.

Aquelas palavras, cordiais e afáveis, custaram-lhe todo o orgulho, tinha os punhos cerrados e os lábios numa linha fina.
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Beatrix_algrave


Beatrix notou o gesto contido dele e a força interior que despendeu para não esbofeteá-la. Apesar da altura e da força do homem ela não se intimidou. Não seria esbofeteada em sua própria casa. Felizmente ele se conteve e voltou atrás em sua proposição de recusá-la.

- Que seja. Com agrado ou sem agrado, quero que me ensines, quero aprender.

Ela disse, fez uma vênia e o conduziu até a parte inferior onde ficava um amplo salão com divisórias de madeira que Beatrix colocara ali para organizar melhor o espaço, separando a fiação, do atelier de costura e da tecelagem. O atelier de pintura não ficava ali, ficava em uma sala ao lado do quarto de Beatrix.

Ela levou-o até a sala de tecelagem, onde havia três teares de madeira, um horizontal, outro vertical para tramas mais pesadas e um tear de pinos para chapéus de lã. Em uma mesa havia uma caixa de divisórias onde estavam organizados os apetrechos para remeteção dos fios, ganchos para lançadeiras, tesouras para corte, facas para a limpeza do urdume e dos pentes, e navetes de vários tamanhos. Como o tear horizontal aceitava a troca de pentes, havia pentes sobressalentes de tamanhos variados, dispostos em uma estante. Sobre um cavalete estavam dispostos fios tingidos de lã. A tina de tingimento no entanto, ficava na sala de fiação.
Os tecidos já prontos estavam enrolados sobre a mesa, e haviam fios separados que indicavam que em breve a tecelã pretendia dar inicio a confecção de um novo tecido.

Tudo ali era muito limpo e organizado.

Enquanto observava aquele espaço, Gennaro sentiu ali um vento sibilante que parecia sussurrar algo em seus ouvidos. Mas não haveria como ter vento ali, eles estavam no porão, em um espaço fechado e sem janelas.

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--Gennaro
- Ensinarei. - Disse-lhe cautelosamente, tentando manter o tom de desdém afastado da voz.

O modo como ela se mostrou cordial consigo, fazendo-lhe uma pequena vénia antes de prosseguirem até ao atelier de costura e de tecelagem, trouxe-lhe uma pontada de remorso que Gennaro sacudiu de imediato para longe. Os ensinamentos do seu pai uma constante no seu pensamento, a dor do abandono maternal tão dilacerante como na sua infância. Obrigou-se a focar a atenção na sala de tecelagem e a observar com avidez tudo o que lhe era mostrado.

Estavam na parte inferior da casa, numa sala ampla que albergava a fiação, tecelagem e costura. Gennaro apreciou o modo com as diferentes actividades estavam contristas a partes da sala separadas das restantes por divisórias de madeira. Havia uma organização palpável, mas não tão austera como ele haveria desejado. Os seus olhos críticos repousavam sobre cada pormenor e a pouco e pouco uma opinião formava-se. Enquanto se debruçava para observar o tear horizontal e os pentes sobressalentes, Gennaro sentiu um arrepio percorrer-lhe a espinha, procurou por uma janela, talvez por algum tecido ou fio que abanasse, mas nada encontrou. Julgou aquela perturbação uma simples consequência do mau estar que aquela mulher lhe provocava.

Tocou em alguns dos fios separados para lhes sentir a textura e franziu o sobrolho, não que o fio fosse mau, as suas exigências é que eram sempre megalómanas. Pousou-os da mesma forma em que os encontrara e olhou em volta, apreciando novamente a sala, o seu rosto sério e impenetrável, seria difícil ler-lhe o pensamento. A raiva já não lhe enrugava a expressão e os olhos já não mostravam desagradado, não havia qualquer emoção.

- Começaremos amanhã, antes do nascer do sol. - Informou num tom de voz que não deixava margem para dúvidas e fitou-a severamente.
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Beatrix_algrave


- Como quiser, maestro. Ainda não sei vosso nome.

Ela disse e fez uma nova vênia. Ainda que a postura dele a tivesse desagradado deveras e que ele fosse preconceituoso e misógino, uma vez que ele se comprometeu a ser seu mestre ela agora lhe devia respeito e obediência. Não se importou com a exigência do horário, pois acordar cedo não era uma exigência para si. Ela também era militar e vivera em um convento onde se despertava sempre cedo, antes do cantar do galo, quando a escuridão ainda cobria a terra.

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--Gennaro
- Gennaro Amatucci. - Sentiu-se incapaz de lhe retribuir a vénia ou de ter qualquer outra atitude de cortesia para com aquela mulher. Toda e qualquer pontada de remorso havia desaparecido. Afinal, ela não fazia mais do que a sua obrigação, remeter-se à sua miserável insignificância, àquela condição de nascimento que maculava a sociedade.

- Conheceis alguma estalagem aqui perto? - Inquiriu e esperou pela resposta, tentando controlar-se para não sair imediatamente da sua presença. De cada vez que a olhava parecia que o diabo encarnava à sua frente.
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Beatrix_algrave


- Sim, maestro Amatucci, há a Estalagem de Alcácer do Sal, é uma mansão próxima a praça principal, fácil de encontrar e é a mais próxima daqui. É só seguir a rua transversal à direita, é a Rua do Povo número dois. Pertence ao senhor Macavel.

Beatrix respondeu, parecendo não se importar com a total ausência de cortesia da parte dele. Ao menos ele ficaria em uma estalagem e não a perturbaria pedindo-lhe abrigo. Ao menos em sua casa na ausência dele, ela teria paz. Desde que a arrogância dele fosse justificada por um talento sem par e capacidade de lhe transmitir seus ensinamentos, ela não se queixaria. Ele não estava lá para agradá-la, estava para lhe transmitir conhecimentos. Assim ela pensou e conduziu-o até a porta.

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--Gennaro
Seguiu a mulher até à porta, ouvindo com atenção as instruções que lhe eram dadas. Era sabido que as mulheres não tinham grande capacidade de localização geográfica, as suas mentes pequenas e tacanhas preenchidas com a simplicidade das tarefas domésticas não tinham a competência para memorizar intrincados caminhos. Aquele não era um caminho intrincado e só por isso aquela cabecinha teria conseguido memoriza-lo.

- Estalagem de Alcácer do Sal.- Repetiu em voz baixa mais por distracção do que por necessidade. - Antes do nascer do sol. - Acrescentou ao voltar-lhe as costas para descer as escadas até ao seu cavalo. Afagou o dorso do animal por breves instantes e depois soltou-lhe a arreata, conduzindo-o pelas ruas da cidade em direcção à estalagem.
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Toninho, roleplayed by Maria_madalena
Faltavam cerca de duas horas para o anoitecer e aquele era um tempo de calmaria. Os cavalos dos viajantes vespertinos estavam tratados e devidamente acomodados nas suas respectivas coxias, tinham água e palha fresca. As ferraduras danificadas haviam sido substituídas e o pêlo de todos briosamente escovado. Levaria algum tempo até que chegassem novos hóspedes.

Sentado sobre um fardo de palha, Toninho sorriu ao ver Arlete chegar. A moça trazia uma saia rodada de um tom azul claro e uma blusa branca com três botões desapertados, os seus fartos seios estiravam o decote e era difícil para ele não imaginar o que aconteceria se ela fizesse algum movimento mais brusco. Os cabelos castanhos e ondulados estavam presos num rabo-de-cavalo e apenas duas mechas lhe emolduravam o rosto de feições simples. Não era especialmente bonita, os seus olhos não tinham brilho, os seus lábios não eram carnudos ao ponto de serem irresistíveis e a pele da sua face era demasiado sardenta mas dela emanava um calor capaz de enlouquecer qualquer homem viril.

- Letinha, o serviço na cozinha já acabou? - Perguntou num tom matreiro e abriu o braços para ela.
Arlete, roleplayed by Maria_madalena
Arlete despachara o serviço na cozinha o mais depressa que pudera, o dia estava solarengo e parecia-lhe um desperdício estar enclausurada entre tachos e panelas a receber ordens da Dona Estefânia. Como aquela mulher a desagradava, sempre a tecer comentários sobre a sua falta de bom-senso a vestir, a repreendê-la pela forma como namoriscava com os moços da região. Hoje não fora diferente e assim que o trabalho cessou, Arlete atirou o avental para cima de uma mesa e escapuliu-se até aos estábulos.

Toninho estava sentado num fardo de palha e uma pequena película de suor cobria-lhe o rosto e os braços. Tinha a pele trigueira, dourada pelo trabalho de exterior e os olhos de um castanho claro, os seus cabelos negros lisos, mal cortados, cobriam-lhe as orelhas e davam-lhe um ar caricato. Arlete não evitou um sorriso e bamboleou-se de forma provocativa até ele parando a meros passos e deixando-o de braços abertos à sua espera.

- Porque outro motivo estaria aqui? - Inquiriu numa voz demasiado melosa, apertando os seios entre os braços.
Toninho, roleplayed by Maria_madalena
Toninho não controlou o arrepio que lhe percorreu o corpo ao vê-la insinuar-se assim. Mal conseguia desviar os olhos do decote dela, mas isso não o incomodava, não havia muito mais para ver. As respirações arfantes dela tão pronunciadas que o quarto botão parecia querer abrir-se a cada inspiração. Agarrou-lhe numa mão e puxou-a para si, sentando-a no seu colo. A sua mão deslizou-lhe lentamente pelo pescoço e a sua boca perdeu-se na dela, roubando-lhe beijos lascivos.
--Gennaro
Não demorou muito tempo até encontrar a praça principal e dali até à Estalagem de Alcácer do Sal não teve de andar muito mais. Caminhava em passo lento, absorto em pensamentos, a sua mão direita segurava a rédea do cavalo e a esquerda ia no bolso das calças. Em trinta e seis anos de vida nunca tivera de ensinar uma mulher e aquela tarefa parecia-lhe um fardo demasiadamente pesado. Suspirou, desalentado com a ideia, não sabia como iria resistir ao convívio com ela.

A estalagem ergueu-se à sua frente e Gennaro encaminhou-se para os estábulos, o seu cavalo precisava de um bom descanso, tal como ele. Ainda não tinham passado das primeiras coxias quando vê um homem e uma mulher, deitados sobre um fardo de palha, as bocas unidas num acto repugnante os corpos tão juntos que a visão lhe deu diversas náuseas.

- Isto é um estábulo ou um bordel? - Repreende no tom de voz ríspido e autoritário que lhe é característico.
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Arlete, roleplayed by Maria_madalena
Arlete quebra o beijo com Toninho e apoia ambas as mãos sobre o fardo de palha, inclinando ligeiramente o rosto para observar quem os interrompia. Um homem alto e de cabelos negros ondulados que lhe chegavam ao ombro estava parado à entrada do estábulo. Tinha um porte deveras masculino e uma barba negra cobria-lhe o rosto. Subitamente, Toninho pareceu-lhe pouco interessante.

- Quer juntar-se, senhor? - Soltou um risinho e desapertou mais um botão da blusa.
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