Pela primeira vez naquela noite Auren sentiu-se insegura consigo mesma. Olhou para a sua adaga. A mão esquerda que a segurava estava a tremer.
"Eu consigo!", pensou a pequena. Só precisava de sangue frio e que toda a humanidade, se é que se alguma vez aquela criança a teve, se esvaísse até nada restar senão rancor. Rancor por aqueles que haviam matado a sua mãe. A pequena nunca a conhecera... Fernão contara-lhe a verdadeira versão, não fora a pedra que a derrubara e matara. Fora Auren. A sua mãe morrera para que ela nascesse. Com a sua morte morreu toda a misericórdia de Auren, a sua vida seria dedicada à vingança daqueles que apressaram a morte da sua mãe. À sua frente não estava um desses, mas só o facto de os servir era justificação suficiente para a salaciense lhe retirar aquilo que lhe era mais precioso. A vida.
A pequena voltou a olhar para a sua mão. Já não tremia. Sorriu, de orelha a orelha. Nada lhe iria dar mais gosto... mas ainda assim, não havia honra em tirar a vida a um sujeito desmaiado.
- Podes acorda-lo Spot? - perguntou num fio de voz quase inaudível e vazio de sentimento.
Spot deu-lhe uma pancada com a bota e o homem aos poucos foi recuperando a consciência. Quando este percebeu o que havia acontecido a pequena puxou da sua capa e enfiou parte do tecido na boca dele para o impedir de gritar e chamar por auxílio.
Preso ao salgueiro por Spot um pouco antes, Auren aproximou-se do ouvido do homem e arrancou-lhe a maior parte da orelha com um único movimento da adaga. O homem remexeu-se de dor mas o tecido da capa abafou-lhe os gritos. Do local onde antes existia uma orelha nada mais restava que um feio buraco sangrento. A imagem do sangue a escorrer lento pelo pescoço do homem motivou ainda mais a pequena.
- Está afiada não está? - sorriu para o homem -
Todos os dias amolo a sua lâmina enquanto imagino que destino dar àqueles que no passado magoaram a minha mãe... - os seus frios olhos verdes faiscavam de entusiasmo -
Não duvido que sois um bom homem... pena que servis a causa errada.
Auren ergueu novamente a adaga e dirigiu-a ao peito do homem. Podia perceber o terror a passar-lhe nos seus olhos, aquilo só a fez desfrutar ainda mais do momento. Sem um segundo de indecisão a salaciense mergulhou lentamente a lâmina no peito do homem. Podia sentir a carne a ser trespassada, o sangue a jorrar e a alma do homem a perder-se.
Estava feito, pensou com um brilho doentio nos olhos.
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Aryaaaa, és a minha fonte de inspiração =p
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