Eudoxio
- Trugarez. - agradeceu Eudóxio (ainda se lembrava de alguma coisa de bretão), apertando a mão do velho mercador bretão, estando já a taverna em sua posse.
De seu nome Loïc e nascido em Vannes, o bretão aparentava ter já vivido mais de sessenta anos. Era daquelas pessoas em quem o tempo deixava um ar de sabedoria e conhecimento frutos de muita vivência e experiência. Mais de metade da sua vida passara a viajar, de porto em porto, de cidade em cidade, espalhando por toda a Europa as iguarias de terras bretãs e, claro está, enriquecendo um pouco. E, de todos os portos por onde passara, aquele que escolhera para se instalar fora precisamente o de Alcácer do Sal, onde comprara um edifício numa das ruas mais movimentadas (uma das que diariamente conduzia os salacienses ao mercado) e construíra uma taverna que baptizou de "Tri Martolod" (os três marinheiros), nome de uma antiga e popular cantiga bretã. Mas as saudades de casa, da Bretanha, de Vannes, pesavam, bem como a idade, e Loïc partia agora de Alcácer para não mais voltar.
Ali, à entrada da taverna, contemplando a pesada e tosca porta da taverna, Eudóxio pensava em como o nome da taverna, que se referia a uma canção sobre a aventura de três marinheiros, o recordava das suas próprias aventuras, bem como das dos seus familiares, por terras bretãs, um ano antes, em 1459, quando, em auxílio de família bretã, partiram para a guerra contra a coroa francesa. Fora essa a principal razão para não ter mudado o nome daquela pequena e acolhedora taverna, com ares muito bretões. A outra razão fora precisamente a de não negar a identidade daquele espaço, coisa que ele e a sua prima, a Rainha de Portugal e Matriarco dos Monforte, D. Ana Catarina de Monforte - que demonstrara algum interesse naquele projecto e se disponibilizara para ajudar Eudóxio naquela aventura que era gerir uma taverna - faziam questão em preservar.
- Kenavo. - despediu-se o velho bretão, sorrindo ao novo proprietário da sua pequena taverna bretã. Agradava-lhes bastante os planos dos Monforte de manterem a taverna como era, pelo que fizera questão em deixar vários barris de Chouchen, aquele requintado licor bretão com algumas semelhanças ao hidromel, para trás, na cave, para lhes facilitar a vida, pelo menos em termos de arranjar aquela bebida que apenas era fabricada na Bretanha. E partiu em direcção ao porto, onde um barco, provavelmente de algum seu parceiro de negócios, o esperava.
Eudóxio observou-o a afastar-se e pegou depois numa escada e num martelo e, com alguns percalços pelo meio (amaldiçoando várias vezes o carpinteiro que construíra uma escada tão instável), colocou a nova tabuleta que a sua prima mandara fazer e lhe oferecera.
Então, por fim, e orgulhoso da sua nova propriedade, abriu a porta e esperou pelos primeiros clientes.
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