--Eleazar
-- 23 de Dezembro de 1460 --
Nas aforas da cidade do Porto, a meio dia de jornada, num terreno coberto pela maleza e abandonado a sua própria sorte encontravam-se as ruínas de uma vila rural romana, de tempos antigos. Alguns muros estavam ruídos, enquanto a maior parte do telhado havia há muito desaparecido.
A vegetação cobria parte da casa, e a estrada de pedras já não era visível. O lugar era supersticiosamente evitado pela maioria dos transeuntes da estrada que por ali passava em direção às costas do norte e às pequenas vilas pesqueiras que por ali existiam. Duas estatuas, pouco maiores que um homem adulto cada uma, representando a dois arcanjos, se erguiam a cada lado da entrada da vila, um deles portava uma espada que apontava ao solo, em direção ao viajante que se aproximava à porta, enquanto o outro envergava um cajado. Por conta desta duas estatuas, o local era conhecido como o Paço dos Arcanjos.
Era para esta propriedade que agora ele se dirigia. Havia muito o que fazer ainda e muito pouco tempo para fazer-lo. Acompanhado por vários membros de sua Casa que agora se mudava para aqueles lados. O novo proprietário do Paço dos Arcanjos chegaria no albur do novo ano que se aproximava.
-- 29 de Dezembro de 1460 --
Chegou à propriedade um mensageiro trajado de negro, como uma sombra sobre um cavalo, era Carmelo, que trazia noticias sobre a viagem de seu senhor, e de alguns outros afazeres menores que tinha sobre seu encargo.
- Mestre Eleazar - Disse Carmelo após ambos homens trocarem as distintivas saudações. - Já entreguei a missiva na casa de Dom Querobim, e Dom Dimas diz que o jovem Viana Lobo faz grandes progressos em seus estudos. E os demais afazeres que me confiaste também já se resolveram.
- Excelente Irmão Carmelo, e sobre nosso Prior, que noticias trazes? - inquiriu o mestre.
- O Prior já se encontra em Aveiro, Mestre Eleazar, ele chegará aqui em poucos dias.
- Gratas notícias Irmão Carmelo, agora venha, vajamos almoçar junto de nossos irmãos. - concluía assim Eleazar aquele encontro. As obras na casa principal teriam que esperar o fim do inverno, mas os irmãos já haviam recuperado os limites da propriedade, e restaurado algumas das construções menores que lhes ofereceriam abrigo até o fim do inverno. Enquanto isso Eleazar havia reservado e já preparado uma casa na cidade para abrigar ao Prior durante o inverno.
Enquanto isso o rumor de que negras sombras rondavam o infame Paço dos Arcanjos circulava pelas ruas portuenses.