O trovador caminhava pela rua um pouco perdido em pensamentos, depois que levara as informações acerca das minas montemorenses logo ali na pracinha do burgo, como bem gostava de se referir, claro, mais por gosto do que proporção ou dimensão física, ou ainda se quiserdes, na dimensão de sua afeição pelo lugar onde também fizera cantigas pela primeira vez naquela terra lusitana.
A rua estava movimentada, tivera de cumprimentar gentes aqui e acolá como mandava boa educação, porém naquel dia fazia isto a parecer um boneco de pau, sem mui espontaneidade porquanto seu temperamento estava cinzento e opaco como a luz dos dias invernais. Acontece, acontece...
Subitamente em terreno um tanto inclinado, passou à ladeira, fazendo-lhe melhor cuidado na passada (estava sem botas de viajor, que saudades delas), lá seguia em frente o apagado trovador; quando então passou ao lado da propriedade da finada dama Nanda de Nóbrega (que os céus lhe guardem), notando movimento adentro: alguém que não distinguiu tão bem passava aqui e ali com vassoura a levantar poeira, oras, mas que cousa, aquela moça Safira que estivera a resolver assuntos forais da família já estava a tratar do lugar, ela fora rápida, por assim dizer...
Qual destinação se daria tal lugar, foi seu pensamento em um átimo.
Aristarco deu uma olhadela curiosa, até que se atinou que era melhor que seguisse caminho e deixasse cada qual com o seu, eis que bisbilhotar vida alheia era cousa de carochas e fofoqueiras dependuradas às janelas, ademais seu humor não lhe favorecia naquel dia cinzento (tanto quanto seu triste peito).
Duas ou três passadas depois, quase escorregou no chão irregular... Como as cousas são...