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[RP] Ateliê - A Donzela Tecelã - tecendo sonhos...

--Gennaro
O italiano arregalou os olhos perante a insolência do homem e disse sucintamente:

- Não é da vossa conta. Leve-me apenas ao quarto. - Ajeitou a sacola no ombro e passou a mão pela barba acariciando a cicatriz na bochecha direita, o afago lentamente propositado.

Depois da extenuante viagem de Terracina até Alcácer do Sal, Gennaro deparara-se com uma pupila do sexo feminino, a revelação devastadora o suficiente para o deixar com um humor volátil e no abismo da violência e raiva cega. Como se isso não fosse já o bastante acabara numa estalagem em que o rapaz dos estábulos tem encontros tórridos com uma megera em cima de fardos de palha e em que o recepcionista tagarela e questiona tal como as mulheres à porta da igreja discutem a vida alheia. Que a paciência nunca lhe faltasse.
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Recepcionista , roleplayed by Maria_madalena
A resposta breve e a agressividade no tom de voz do hóspede fizeram-no estremecer ligeiramente. Era grande, forte, tinha uma cicatriz no rosto e um ar ameaçador. De repente, toda aquela tagarelice pareceu-lhe fútil e o recepcionista remeteu-se a um silêncio sepulcral até chegarem ao quarto.

- Aqui está o vosso quarto. - Disse ao abrir a porta do quarto e depois estendeu ao hóspede uma pequena chave dourada. - Precisais de mais alguma coisa? - Inquiriu, embora estivesse ansioso por deixa-lo sozinho.
--Gennaro
O restante percurso até ao quarto foi feito em silêncio e Gennaro agradeceu aqueles momentos de calmaria, certamente que no quarto encontraria ainda mais descanso e talvez a paz de espírito de que tanto precisava.

Quando chegaram à porta do quarto o recepcionista abordou novamente e o desconforto com que falava não lhe passou despercebido.

- Não, não precisarei de mais nada.- Informou enquanto espreitava de relance o interior do quarto que entretanto fora aberto pelo recepcionista. A chave dourada estava já acomodada no seu bolso. - Pode ir-se embora.

Olhou seriamente o homem não fazendo tenção de mostrar qualquer simpatia.
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Recepcionista , roleplayed by Maria_madalena
Intimidado pelo homem, fez uma vénia constrita e disse:

- À vossa disposição, senhor. - Um sorriso amarelo e pouco convincente surgiu no seu rosto e completou. - Tenha uma boa noite.

Mal acabou de falar voltou as costas aquele hóspede e em passo acelerado galgou o corredor, desaparecendo.
--Gennaro
O recepcionista desapareceu rapidamente da sua vista e Gennaro suspirou aliviado, enfim estava sozinho. Permaneceu alguns instantes no corredor até que os passos rápidos do recepcionista deixassem de se ouvir e depois entrou no quarto. Era um cómodo estreito e pequeno, parcamente mobilado, nada mais havia do que uma cama, um baú e uma mesa. A janela tinha visão para os estábulos e quando se debruçou para espreitar pareceu-lhe ver a mulher devassa a desaparecer entre as cavalariças. Irritado, correu a cortina e silenciosamente jurou que não voltaria a usar aquela janela tão cedo.

Pousou a sacola no chão e abriu o baú, lá dentro encontrou lençóis lavados e um cobertor, fez a cama e guardou os seus poucos pertences, não trouxera mais do que três camisas e dois pares de calças. Uma bagagem excessiva ter-lhe-ia dificultado a viagem. Cansado como estava, descalçou as botas e acomodou-se na cama, em poucos minutos adormeceu.

Era noite cerrada quando despertou incomodado pela fome que o consumia. Sentou-se na cama e esticou o corpo, tinha uma enorme dor de costas, o colchão era mais duro do que esperara. Praguejou em voz baixa e amaldiçoou a ruiva que lhe recomendara aquela estalagem. Se aquilo era o melhor que Alcácer do Sal tinha a oferecer ele passaria a dormir ao relento. Não fazia ideia do tempo que havia passado, mas decidiu que iria descer para procurar um pouco de comida. O recepcionista tinha-lhe mostrado a sala de jantares e Gennaro encontrou-a com facilidade. Descobriu que era mais cedo do que julgara, algumas pessoas ainda jantavam.

Sentou-se numa mesa recatada e esperou que alguém o viesse atender.
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Beatrix_algrave


Na morada dos sussurros, Beatrix jantou cedo em companhia de Atília, Laurinda, Clotilde, Eduarda e André.

Laurinda preparou um peixe ensopado e assara um belo pão. Eles comeram o ensopado acompanhado de cerveja dourada, de malte suave e frutado.

Beatrix bebeu pouco, pois queria ter uma agradável noite de sono e acordar bem disposta.

Apesar de tudo, o ambiente da casa da tecelã estava tranquilo e alegre. Durante o jantar não tocaram mais no assunto referente à presença de Gennaro no atelier, nem sobre o comportamento dele.

Por questão de brios, Laurinda havia deixado a cozinha muito limpa, e fez Clotilde dar uma bela varrida na casa inteira. Não queria que um estrangeiro rabugento criticasse a limpeza e ordem do lugar.

Beatrix sempre foi rigorosa quanto a isso, e Laurinda também primava pela organização.

Pouco depois das dezenove horas todos foram se recolher para despertarem mesmo antes do sol e dos galos.

Na escuridão da madrugada as fiandeiras e a tecelã despertaram.

"Acordava ainda no escuro, como se ouvisse o sol chegando atrás das beiradas da noite. E logo sentava-se ao tear.

Linha clara, para começar o dia. Delicado traço cor da luz, que ela ia passando entre os fios estendidos, enquanto lá fora a claridade da manhã desenhava o horizonte.

Depois lãs mais vivas, quentes lãs iam tecendo hora a hora, em longo tapete que nunca acabava."


Todos tomaram o desjejum e foram em seguida cuidar de suas tarefas. André foi cuidar dos carneiros, as fiandeiras foram fiar no sótão, e Eduarda ficou lendo em seu quarto.

Beatrix sentou-se na sala e ficou aguardando a chegada do mestre enquanto bordava um lenço delicado em um bastidor de madeira.

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--Gennaro
Apesar do burburinho das conversas alheias o jantar decorreu sem grandes sobressaltos. Gennaro refastelou-se com um delicioso ensopado de carne e um pão escuro de sementes acompanhado por uma grossa fatia de queijo. Bebeu um vinho de travo adocicado e cheiro intenso, mas não mais do que um copo. A situação obrigava a frugalidade e nem os desânimos e zangas daquele dia o fizeram ceder à tentação de beber um pouco mais.

Assim que terminou de comer subiu para o quarto. Os corredores estavam vazios, a maioria dos hóspedes permanecia na sala de jantar, entre diálogos e canecas de cerveja. Deu-se grato por ter pedido um quarto recatado, pelo menos ali os barulhos da animação mundana, que tanto o aborreciam, não se fariam ouvir. Fechou a porta do quarto e acendeu uma vela que iluminou timidamente o cómodo. A luz bruxeou e o italiano barafustou em voz baixa.

- Mio dio! Posto che squallido!

Uma corrente de ar acabara de lhe enregelar o quarto. Procurou em vão a fonte daquela aragem e descobriu que as pedras nas paredes não estavam tão bem encaixadas quanto deveriam, deixando entrar uma brisa fria e constante que era agravada pela proximidade da estalagem ao rio Sado.
Conformado com o trágico suceder de acontecimentos daquele dia, molhou com saliva o indicador e o polegar e apagou com eles a vela que acabara de acender. O quarto ficou novamente envolto na penumbra e Gennaro despiu-se e deitou-se na cama, cobrindo-se com um cobertor. A noite prometia ser longa.

Não pregou olhou a noite toda, incomodado pelas rajadas de vento que ocasionalmente lhe varriam o quarto e o faziam tiritar, mesmo debaixo do grosso cobertor. Levou o tempo a pensar nas tarefas que daria à sua nova pupila e não poucas vezes deu por si a exagerar no seu grau de dificuldade ou a idealizar desafios em que a donzela demoníaca poderia perder a vida.

Foi com um último pensamento sobre como os cabelos dela lhe faziam lembrar o fogo do inferno que Gennaro se levantou. Aprontou-se e, sem qualquer demora, dirigiu-se ao atelier. Ainda o sol não tinha surgido no horizonte quando bateu à porta.
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Beatrix_algrave


Beatrix bordava calada, seus pensamentos traziam-lhe preocupações e divagações diversas e ela buscava concentrar-se em sua delicada tarefa. Foi quando ela ouviu as batidas na porta. Imaginou que àquela hora só poderia ser seu rabugento mestre, mas quis se certificar prescrutando por uma janela. Ao ver que era mesmo ele. Sua expressão era ainda menos amigável que no dia anterior.

Ela abriu-lhe a porta e cumprimentou-o educadamente com uma vênia.

- Bom dia, mestre Amatucci. Já o estava aguardando.

Ela disse e convidou-o a entrar.

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--Gennaro
Olhou depreciativamente a sua pupila de alto a baixo e bufou zangado ao notar que não havia ocorrido qualquer tipo de metamorfose que lhe agradasse. Continuava tão mulher como no dia anterior.

- Buongiorno - Cumprimentou num tom rezingão e mal-diposto. - Estais acordada e pronta, muito bem. - Disse-lhe e muito provavelmente aquelas seriam as palavras mais simpáticas que lhe diria naquele dia e tinham-lhe custado uma súbita náusea.

Entrou na sala e observou-a com o escrutínio que lhe era típico. Apercebeu-se do bordado pousado e inquiriu:

- Vosso?
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Beatrix_algrave


- Sim, é meu, mestre.

Ela disse de maneira direta, do modo como costumava responder. Aquele era um lenço bastante delicado que acompanharia um traje, os detalhes combinavam a perfeição com a roupa que já estava pronta, apenas a espera daquele detalhe. O motivo do bordado era similar ao da roupa, que não estava ali no momento. O bordado era também um método de Beatrix purgar a mente de distrações. Trabalhos intrincados exigiam concentração, e ao concentrar-se no lenço ela limpava sua mente dos problemas, e de fato isso funcionara, pois ela estava calma, apesar das pressões que sabia que ia sofrer nas mãos do mestre.

Quanto ao lenço, era um trabalho primoroso, que enraiveceria Gennaro por sua perfeição e ausência de senões. O ponto cheio era leve e delicado respeitando a estrutura diáfana do tecido, o ponto escamas tinha uma simetria perfeita. O ponto de haste seguia uma curva graciosa. O desenho e as variações do ponto matiz não permitiam a percepção de nenhum defeito, e de tão leve parecia inteiriço, burlando o olhar como se o efeito sombré fosse uma pintura e não somente linhas entrelaçadas.

O lenço ainda estava incompleto, mas a amostra de trabalho indicava uma habilidade impar.

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--Gennaro
Gennaro segurou delicadamente o lenço bordado de forma a que pudesse observa-lo com mais cuidado. O trabalho era delicado e a composição do bordado parecia-lhe livre de qualquer defeito ou erro. Havia uma total mestria de diferentes pontos e técnicas de bordado, tal era o talento que por momentos os seus olhos acreditaram estar a contemplar uma pintura. Por entre os seus lábios passou um suspiro de desagrado. O trabalho era soberbo. Ela era uma mulher. Não lhe daria a satisfação de saber que as suas mãos femininas estavam abençoadas por um dom.

- Não está mau. - Comentou numa voz indiferente ao mesmo tempo que voltava a pousar o lenço, fazendo tenções para que o movimento fosse mais brusco do que o necessário. - Precisais de melhor as vossas técnicas. Os pontos são grosseiros e desajeitados. Estais longe da perfeição, pupila.

Olhando em volta, pareceu ponderar durante alguns momentos. Não era seu hábito mentir, mas o desprezo profundo que sentia por Beatrix impediu-o de ser sincero e criterioso nos seus comentários. A reflexão e um arrependimento momentâneo toldaram-lhe os pensamentos. Era rígido com os seus pupilos, sempre o fora, mas em instante algum havia sido tão falso. Pensou em retirar as suas observações e agracia-la com um comentário justo, mas as lembranças da estalagem que ela lhe recomendara foram o bastante para o fazer esquecer.

- Começaremos por algo simples. - Pausou brevemente e encarou-lhe os olhos verdes. - Mesmo assim temo que seja demasiado para vós.
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Beatrix_algrave


Diante do comentário que Gennaro fizera sobre sua arte, Beatrix não retrucou. Um mestre deveras rigoroso não a assustava, se o objetivo fosse o de fazê-la progredir, não meramente de a humilhar. E se o trabalho estava ruim para os altos padrões de Gennaro, então que ele a ensinasse a atingir esse cume tão superior que ele era capaz de vislumbrar.

- Sim, mestre, desejo melhorar, por isso desejo que me ensine.

Ela disse e em seguida ouviu suas outras palavras. Ele propunha um desafio.

- Nunca saberemos se eu não tentar. Estou pronta, mestre.

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--Gennaro
Gennaro abriu o seu alforge e retirou do interior alguns pedaços de fio, estendeu-os sobre uma mesa paralelos uns aos outros. Os fios apresentavam todos a mesma grossura e o mesmo comprimento, estavam tingidos de diversas cores e a sua coloração não fornecia qualquer indicação sobre a sua composição. O primeiro fio, de cor azul, era um entrançado de linho, flexível e frio ao toque. Aquele fio em particular era bastante suave mas não tanto quanto o fio seguinte, cuja suavidade se aproximava à da pele de um recém-nascido. O segundo fio, de um tom avermelhado, apresentava uma textura bastante delicada e a sua maciez era surpreendente. Era um fio bastante raro e era pouco provável que Beatrix estivesse familiarizada com ele, a lã de caxemira era uma preciosidade por poucos conhecida. O último fio, branco e lustruso, apresentava uma textura lisa e, apesar do seu aspecto, não era escorregadio. Fora com aquela seda branca que Gennaro confeccionara um belo vestido de noiva para uma duquesa italiana.

- Aproximai-vos, tocai estes fios e dizei-me o que são.
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Beatrix_algrave


Ainda que soubesse produzir uma variedade limitada de fios, até pelo pouco acesso à matérias primas mais variadas, Beatrix já comprara fios para tecer tecidos diversos, ou escolhera tecidos já prontos para alguns vestidos mais sofisticados que lhe foram encomendados. Desse modo, o desafio proposto por Gennaro só encontraria alguma dificuldade maior quanto ao fio de casemira.

- Este primeiro certamente é linho tingido de azul, difícil não reconhecer essa textura fria, apesar de que nunca vi um trançado tão suave. Esse segundo fio tingido de vermelho é surpreendente e parece um tipo de lã, mas não me parece ser uma lã comum, é um trançado diferente e tão suave que é difícil acreditar. Nenhuma das minhas ovelhas daria uma lã assim.

Ela disse admirada. Em seguida apontou o fio branco.

- Esse fio branco tão liso e lustroso certamente é seda. Nunca fiei ou teci seda, mas já fiz alguns vestidos com o tecido feito desses fios. Impossível esquecer.

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--Gennaro
Gennaro examinou atentamente os gestos da pupila e ouviu-a com paciência, refreando-se de fazer qualquer comentário até ela ter terminado de falar.

- O primeiro fio é realmente de linho e o trançado tão suave é obtido através de um técnica que não conhece certamente, fui um dos primeiros a usá-la. - Disse enfatuadamente, sorrindo antes de continuar. - O segundo, é realmente um tipo de lã, mas não é uma lã qualquer. A lã de caxemira é obtida a partir das cabras-de-caxemira, retirada do pescoço e barriga do animal. É extremamente suave, como pôde sentir e de alto-valor. Produz excelentes lenços. - Ensinou Gennaro, feliz por demonstrar o seu elevado conhecimento sobre aquele assunto. Ficara extremamente agradado com o desconhecimento da pupila e acrescentou num tom zombeteiro. - Poucas pessoas saberiam reconhecer a lã de caxemira e iremos trabalhar com seda, futuramente, quando as vossas mãos forem suficientemente hábeis.
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