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[RP] Ateliê - A Donzela Tecelã - tecendo sonhos...

Beatrix_algrave


Beatrix ouviu com atenção aquelas palavras do mestre. Ficou feliz em ter acertado aos menos dois fios, mas sabia que o mestre esperava algo muito mais preciso.

Contudo, ela teve muita satisfação em aprender com ele e estava ansiosa pelos conhecimentos que iria adquirir. Isso para ela compensava todo o mau humor e desprezo que ele fazia questão de demonstrar.

Ela dedicava toda a sua atenção a ele, e aguardou qual seria a próxima etapa dos ensinamentos que ele lhe daria.

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--Gennaro
Gennaro mostrou um ligeiro sorriso de contentamento depois daquela sua mostra de conhecimento. Recolheu, então, os fios que estendera novamente para o interior do seu alforge e reparou, pela primeira vez naquela manhã, na sala-de-estar e no facto desta estar briosamente arrumada. Não havia um grão de pó que pudesse discernir, nem um único elemento decorativo fora do seu devido lugar.

- Como foi a vossa noite, pupila? Descansaste o suficiente ou tiveste insónias e remorso por me teres enviado para 0 antro de pecado que é aquela estalagem? - Perguntou numa voz amarga.

Fora-lhe impossível conter aquele comentário.
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Beatrix_algrave


Beatrix ouviu as palavras de Gennaro com sincera surpresa.

- Antro de pecado? Do que o senhor está falando? Eu lhe enviei para a melhor hospedaria da cidade de Alcácer. Tudo bem que faz tempo que não me hospedo lá. A última vez foi há mais de seis meses quando eu ainda não tinha morada na cidade e o velho castelo da Quinta do Corvo estava em reformas. Pensei que preferiria uma estalagem a uma taverna justamente por isso. Seria um lugar mais respeitável e confortável, sem barulho de festas e bebedeiras. Estou realmente chocada. Vou escrever uma carta ao barão Macavel.

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--Gennaro
Gennaro soltou uma gargalhada afectada.

- Não sabia? - Havia incredulidade na sua voz. - Pois fique sabendo que os serviçais daquela estalagem têm comportamentos indecorosos! Mais parece um bordel aquele estabelecimento de mau gosto! - Gennaro respirou fundo, tentando recuperar o controlo, mas quando voltou a falar estava tão exaltado como anteriormente. - E como se não bastassem as poucas vergonhas que tive de assistir com estes dois olhos que a terra há-de comer ainda dormi num colchão duro e sujeito a correntes de ar! Já tive noites ao relento mais confortáveis! - Passou as mãos pelos cabelos e bufou zangado. - Esses vossos olhos demoní... certamente que não seriam capazes de discernir o pecado que ali se vive!

O mestre italiano olhou furioso para a mulher à sua frente e durante alguns momentos não disse mais nada, apenas a fitou. No seu rosto havia dúvida e controvérsia e a sua respiração exaltada era sobretudo o único som que enchia a sala.

- Vamos... - Gennaro pigarreou desajeitadamente. - Vamos continuar as vossas lições. - O seu tom de voz era quase meigo. - Dizei-me que técnicas de urdimento conheceis.
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Beatrix_algrave


- Não vi nada disso quando estive lá. Só havia um atendente e uma cozinheira velha. Estes certamente não cometeriam tais atos.

Ela encarou-o diante do comentário de seus olhos serem demoníacos. Então disse em um tom sério, mas não agressivo.

- Posso não ter a vossa vivência mundana, mas cega isso não sou. Agora sobre colchão duro e correntes de ar, deram-lhe um quarto ruim. Dessas coisas nunca queixo-me, não sou uma delicada "princesa da ervilha", para sentir colchões duros e perder o sono. Como fui militar sou pouco exigente, mas entendo que um homem de vossa estirpe tenha um gosto apurado e deveras mais delicado que o meu. Infelizmente, essa é de fato a melhor hospedaria da cidade, e também a única. Alcácer é uma cidade simples e rústica, quanto a isso nada posso fazer, além de oferecer um quarto em minha própria casa, mas sei que não aceitarias.

Ela disse e sem esperar resposta, seguiu para as lições.

- Basicamente dois tipos, o urdimento direto e indireto. No direto, o fio é colocado diretamente em torno das vigas de seção no tear, ou seja, os fios são transferidos diretamente do carretel para as extremidades. A segunda é a indireta. Neste método, o fio é enrolado em bandas num tambor de padrão e, em seguida, são transferidos para as vigas num passo separado. A urdidura indireta é geralmente utilizada nos padrões mais sofisticados e mais complicados.

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M.benoit


Portugal é uma terra fascinante aos olhares de Benoit. Ironicamente seu sotaque tinha muito mais de ibérico do que de francês, apesar deste ser perceptível facilmente em sua fala de certo modo. A viagem de Guarda até o sul de Lisboa ocorrera de modo relativamente tranquilo até o momento. Sua estratégia de viagem sempre o ajudou a fugir de problemas graves enfrentados em viagem. Sempre viajara em caravana, muitas vezes fortemente armadas, lhe proporcionaram ótimos baluartes aos perigos das estradas. Esta última se dirigia até Lisboa, e ele percorreu junto deles desde o interior do Condado de Coimbra. Sua aparência franzina e inofensiva não aparentava nenhum perigo às outras pessoas. Sua origem humilde não lhe proporcionara nenhum armamento perito. Sua artimanha era sempre procurar uma caravana e lhes oferecer serviços de entretenimento como jogral (trovadores de origens humildes). Suas cantigas divertiam aqueles homens em um longo período de viagens pelas estradas portuguesas. Cantava sobre nobres cavaleiros, princesas, maravilhas do Oriente que ouvira falar quando esteve em Bizâncio, além de sátiras de figuras importantes. Alcácer parecia um bom lugar. Benoit havia estado ali algum tempo atrás então não se focou muito em observar o cotidiano como normalmente faz. Seu olho esquerdo estava inchado devido a surra que levou de um dos guardas da caravana por tirar sarro de sua gagueira. Longos passos o levaram até a frente do casarão onde se localiza a oficina de sua prima senhorita Beatriz Algrave. Acostumado a um estilo de vida nômade, o jovem francês notou que há algum tempo seu estômago roncava pedindo-lhe comida.

— Juste un peu! — exclama a si próprio pela rua movimentada aquele horário, angariando olhares espantados para si. Sua classe fora suplantada pelo seu voraz apetite, e por mais que gostasse da sensação de estômago apertado, não gostaria de causar má impressão a sua prima, se era possível mais. Sua bolsa de viagem possuía pouca coisa, algumas frutas secas, um pão velho esfarelado e algumas ervas para chá. Enquanto engole o mais rápido possível o pão ele ouve algumas vozes mais acaloradas dentro da oficina. Com o pão na boca ele rapidamente corre para dentro e ao chegar na porta tropeça, enquanto com boca cheia murmura algo incompreensível.
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juste un peu! - só um pouquinho (tradução livre).
--Gennaro
Gennaro bufou enraivecido ao ouvir as palavras da ruiva demoníaca. A voz da mulher aparentava calma, mas os seus olhos faiscavam com agressividade, embora não tanta quanto a que havia nos olhos do italiano. O rosto do mestre enrubesceu e as veias no seu pescoço tornaram-se salientes ao mesmo tempo que as suas mãos se fecharam em punho.

- Princesa ervilha?!? - Vociferou completamente endiabrado. - Mas quem julgais que sois para me ofenderes assim?!? - Galgou a distância que o separava da pupila em poucos passos, posicionando-se em frente a esta e sustendo-lhe o olhar. - Sua megera, como ousas!?

A sua respiração alterou-se ainda mais e Gennaro expirava ruidosamente pela boca, tentando controlar-se para não a esbofetar repetidamente, como tanto desejava. Nesse mesmo instante, alguém bateu à porta.
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Beatrix_algrave


Beatrix ficou na ponta dos pés, e estufou o peito, encarando o mestre atrevido. Seus olhos de fato faiscavam, ofendida. Quem era ele para tratá-la daquela maneira. Enquanto ele a humilhava com sutilezas ela fora tolerante, mas aquela acusação fora demais para os brios da ruiva. Ela não tinha medo de ninguém e ninguém a desacataria na sua casa. Eles estavam frente a frente, a uma proximidade perigosa. Foi quando ouviu batidas na porta que estava apenas encostada. A porta foi aberta e um homem caiu aos seus pés murmurando, sabe-se lá o que. Um bêbado? Não, ela conhecia aquele sujeito franzino. Era seu primo Benoit.

- Primo Benoit?

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M.benoit


Tudo ocorre não do modo correto, nem de modo incorreto, mas da maneira “Benoit” de se resolver. Ainda no chão ele se lembra que deveria se anunciar, bater a porta, pois não estava adentrando em qualquer lugar, mas sim o ofício de sua prima.
— Ça va! Ça va! — Exclama ele ainda assustado, se levantando desconcertado. — Perdão adentrar de maneira tão abrupta. Ouvi algumas vozes acaloradas e... não sei o que deu em mim... oh! Pardon...olá prima.
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Ça va! - Tudo bem!
Pardon - Desculpe-me
Beatrix_algrave


Beatrix ignorou por um momento sua rixa com Gennaro e foi ajudar o primo a se levantar.

- Primo, você está bem? Deixe-me ajudá-lo.

Estendeu-lhe a mão para que ele se pusesse de pé e ofereceu-lhe uma cadeira.

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--Gennaro
Gennaro olha severamente para o maltrapilho deitado no chão e rosna exasperado:

- Mas quem é este homem?

Além da mulher que tinha de tutelar havia agora um bêbedo espalhafatoso deitado no chão da casa.

- Mio Dio! Mio Dio! Questa casa è infernale!

Suspirou e não pareceu surpreendido quando Beatrix se dirigiu ao francês por primo.

- Logo vi que essa besta havia de ser vosso parente.
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Beatrix_algrave


- Senhor Gennaro, dispenso os vossos comentários sobre a minha família. Parece que aquilo que lhe sobra em talento para a tecelagem lhe faltou em educação e boas maneiras. E não se queixe de desrespeito, aqui o senhor recebe aquilo que dá.

Ela disse em tom aborrecido. E ajudou o primo a se levantar.

- Laurinda, traga um copo leite para o primo Benoit que está passando mal.

Ela disse e aguardou que Laurinda a ouvisse e acudisse. Como Laurinda estava a porta da cozinha espiando o que havia acontecido, tratou de atender Beatrix, trazendo um copo de leite.

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M.benoit


Seu sorriso envergonhado fora interrompido com a ajuda prestada por sua prima e sua ajudante. O copo de leite parecia refrescante, e rapidamente desentalou as migalhas de sua garganta. No entanto, o jovem francês percebia estar interrompendo algo, principalmente depois da intervenção não muito cordial de um peculiar homem, com um sotaque gozado.

— Muito obrigado prima e me desculpe pelo incômodo, obrigado também mademoiselle Laurinda — completa Benoit sem de início prestar atenção naquele sujeito.

— Avec plaisir — estende-lhe a mão — d'accord, je suis la bête, et vous? Êtes-vous la belle?
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Avec plaisir - com muito prazer (tradução livre)

d'accord, je suis la bête, et vous? êtes-vous La Belle? - sim, sou a besta, e quanto a você, és a Bela?
Beatrix_algrave



- De rien!

Beatrix entendia e falava muito bem francês, por isso teve dificuldade em conter o riso quando ouviu as palavras do primo Benoit. Primeiro Gennaro foi chamado indiretamente de "princesa da ervilha", agora ele era a Bela, do conto "A Bela e a Fera".

- Improbable! Je ne peux pas croire. Inversion des rôles




De nada
Improvável! Não posso acreditar. Inversão de papéis.

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--Gennaro
Gennaro resmoneou em voz baixa perante os comentários da sua pupila sobre a sua falta de educação. Aquela mulher tirava-o do sério, tinha momentos em que sentia um profundo desejo de esgana-la e aquele era um deles. Tentado controlar-se, afastou-se e pôs-se a espreitar para a rua a partir de uma janela.

O francês desentalou-se com um copo de leite e Gennaro franziu o sobrolho e olhou-o irritado. O diabo do francês era ainda mais enervante do que a sua pupila. Espalhafatoso e excêntrico parecia que tinha todas as características que o deixavam exaltado. Ou quase todas. Pelo menos não aparentava ser mulher.

O primo de Beatrix estendeu-lhe a mão para o cumprimentar e Gennaro apertou-a com muito mais força do que a que era necessária. Como não percebia nada de francês, o mestre limitou-se a fulminar o homem à sua frente com um olhar que deixava poucas dúvidas quanto ao seu desagrado.
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