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[RP] Ateliê - A Donzela Tecelã - tecendo sonhos...

--Gennaro
Gennaro sentou-se também ele e apoiou os cotovelos sobre os joelhos segurando o rosto com as palmas das mãos. Permaneceu assim calado durante alguns momentos e ficou aliviado por não mais ouvir os pentes do tear. Pensou em todas as opções que tinha e soube que o caminho era apenas um.

- Irei treinar-vos. Não posso prometer moderar o meu feitio, mas tentarei atenua-lo. O Prior da Ordem de Azure incumbiu-me desta tarefa, irei cumpri-la.

Havia firmeza na sua voz, mas nenhum do desdém habitual.
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Beatrix_algrave


Beatrix ouviu as palavras do mestre Gennaro e procurou se acalmar. Era notório que ele estava se esforçando.

- Agradeço o vosso esforça, apesar de saber que deve-se a vossa lealdade pelo prior Yochanan, imagino. O que importa é que prossigamos, o senhor possa cumprir a vossa missão e assim, retornar à sua casa na Itália. O senhor aceita um chá?

Ela disse, pois precisava de um chá para si mesma, para acalmar-se.

- Ainda não sei o que faremos com o atelier lá embaixo. Podemos tentar no sótão se preferir.

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--Gennaro
Gennaro levantou o rosto e observou a pupila, anuindo lentamente com a cabeça.

- Sim, aceito um chá, obrigado. Camomila, se for possível. Se não tiverdes camomila, pelo menos um chá calmante. - As palavras cordiais custaram-lhe mais do que os habituais insultos e o seu discurso foi mais lento.

- Sim, poderíamos tentar no sótão, obviamente que aquela cave não é um bom agoiro. Juro-vos que senti uma aragem, ontem mesmo, na sala de tecelagem. E hoje... os teares trabalham sozinhos.

Um arrepio percorreu-o e o mestre italiano ficou feliz por estarem tão próximos da porta.
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Beatrix_algrave


Beatrix levantou-se e foi até a cozinha preparar o chá para si e para o mestre Gennaro. Felizmente nada de estranho aconteceu. Dali a vinte minutos ela retornou com um bule e duas xícaras em uma bandeja. Serviu-se e depois encheu uma xícara para o mestre Gennaro.

- Camomila, como o senhor pediu...Sim, tentaremos. Ainda não sei o que fazer quanto a cave, mas vou pensar em algo. Se eu chamasse um padre talvez me achasse louca.

Ela diz e bebe do chá.

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--Gennaro
Gennaro aguardou sentado pelo retorno de Beatrix. Durante o tempo que ela demorou não pensou em nada mais para além do que lhe tinha dito. Seria ele capaz de ultrapassar o preconceito que sentia? Assim que ela retornou, Gennaro pareceu ficar um pouco sobressaltado e endireitou-se na cadeira, adquirindo uma postura mais firme.

- Camomila, perfeito! Muito obrigado. - Agradeceu e aceitou a xícara que Beatrix lhe ofereceu depois de se ter servido, aquele gesto não lhe passou indiferente, mas Gennaro acabara de prometer que iria tentar controlar-se e, portanto, permaneceu em silêncio e beberricou um pouco do chá. - Um padre parece-me a pessoa adequada para resolver este tipo de questões... mais... bem... mais espirituais. Existe algum bom padre nesta terra?
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Beatrix_algrave


- Nesta cidade não, infelizmente. Vou precisar buscar alguém de fora daqui. Enquanto isso, continuamos nossos estudos no sótão, como propus, se não se importar. Não sei o que dizer de uma situação dessas, pois nunca acreditei em nada do tipo e sempre julguei algo próprio de pessoas ignorantes.

Ela comentou e sentou-se, tomando também do chá, estava quente e agradável. Precisava de algo assim para acalmar-lhe os nervos depois daquela manhã tão absurda.

- Por favor, voltemos nossas atenções às lições, se for possível. Quer que lhe mostre o sótão após o chá?

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--Gennaro
O mestre italiano bebeu do chá de camomila enquanto ouvia as explicações de Beatrix.

- Não há um padre nesta terra? - Perguntou com curiosidade. - Que religião se pratica aqui, então?

Bebeu um pouco mais do chá que lhe trazia um calor reconfortante e depois disse:

- Sim, claro, podemos ver o sótão no final do chá. Tendes teares no sótão, também?
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Beatrix_algrave


- A religião oficial é a fé Aristotélica, mas há poucos sacerdotes. Quando desejo ir a missa tenho que viajar, da última vez fui à missa em Santarém.

Ela disse, respondendo à pergunta de Gennaro.

- Sim, mestre, tenho dois teares lá em cima, um comum e outro de parede. Também há um quarto desocupado, para hóspedes. O senhor demonstrou tanta insatisfação com a vossa hospedaria. Não tenho culpa de termos poucas opções aqui, mas posso oferecer-lhe isso.

Ela fez a última oferta mais por educação, do que pela vontade de ter o mestre ali. Mas ao menos se ele aceitasse, era um local mais isolado do resto da casa. Só precisaria tirar o cofre de lá.

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--Gennaro
Gennaro assentiu com a cabeça, perante aquelas informações.

- Mencionaste uma irmã Benedita, a vossa criação foi em convento? - Inquiriu, tentando manter-se calmo com o facto daquela irmã a ter ensinado com tanto brio na arte da tecelagem.

Bebeu um pouco mais do chá e quase se engasgou à menção da hospedaria.

- Hospedaria?!? Aquilo mais parece um bordel! As serventes são de muito má reputação! Já para não falar das correntes de ar que existem nos quartos! - A chávena tremeu na sua mão e um pouco do líquido quente caiu-lhe sobre a perna. - Diabo para isto! - Praguejou grosseiramente e pousou a chávena sobre a mesa.
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Beatrix_algrave


- Até os sete anos eu fui criada pelo meu irmão. Ele ensinou-me a lutar com espadas e atirar com arco e flecha. Também me ensinou música. Mas quando completei sete anos ele precisou voltar para a Irlanda e não teve permissão de me levar, então deixou-me no convento, para que eu fosse educada.

Ela limitou-se a comentar, enquanto notava a exasperação dele com o assunto referente a hospedaria.

Ao ouvi-lo praguejar, Beatrix ficou irritada, mas tentou conter-se. Foi até o armário da cozinha e trouxe uma toalha para que ele se limpasse. Não queria tornar a indispor-se. Ao menos Eduarda não estava ali para ouvir aquela linguagem rude e imprópria.

- Acalme-se, mestre Gennaro. Aqui, tome essa toalha para limpar-se.


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--Gennaro
Gennaro aceitou prontamente a toalha que Beatrix lhe ofereceu e passou-a pela coxa, limpando a região onde o chá quente caíra. Já mais calmo e refeito daquele acidente, voltou a sentar-se e apoiou a toalha sobre o colo, voltando a pegar na chávena para terminar o chá.

- Melhor prevenir. - Comentou e quase sorriu, tentando aligeirar o clima. Observando o ar sério de Beatrix, pigarreou com desconforto e acrescentou. - Peço perdão, foi impróprio da minha parte. - Fez uma ligeira pausa, suspirou e voltou a falar. Pois bem, o vosso quarto livre não tem correntes de ar?

Absteve-se de mais comentários, mas pensou para consigo que uma educação com armas não era adequada por uma mulher, pois eram criaturas naturalmente ineptas para esforços físicos de maior vigor.
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Beatrix_algrave


- Não, não possui correntes de ar. É uma alcova sem janelas, e muito bem vedada. Possui uma cama grande e confortável uma estante com livros e um baú para os vossos pertences, além de um armário para vossas roupas. Há também uma banheira que nunca foi usada.

Ela descreveu o aposento e em seguida completou.

- É o mais confortável que posso oferecer ao senhor, mestre Gennaro. E como sei que não suporta a presença feminina, saiba que é também o mais isolado da casa. Não precisará ver nenhuma de nós. Posso pedir ao André que leve sua refeição no quarto, pois há também uma mesa com cadeiras. Fica ao lado da minha sala de armas.

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--Gennaro
O facto do quarto não ter janelas agradou-lhe bastante. Pelo menos ali ficaria completamente resguardado de correntes de ar e quaisquer outros incómodos que pudessem surgir.

- Agrada-me que esse vosso quarto seja assim isolado e recatado.

O comentário seguinte de Beatrix fez com que Gennaro se mexe-se desconfortavelmente na cadeira. Era certo que não queria cruzar-se muitas vezes com mulheres. Não estava acostumado a lidar com a presença feminina, em boa verdade, nunca tivera uma mulher que fosse presente. Pigarreou, tentando arranjar palavras.

- Agradeço a vossa oferta... hum... bem... talvez fosse o adequado... que as refeições fossem servidas no quarto.
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--_beatrix_algrave


- Se o senhor assim desejar, assim será feito. Vou subir um instante e prepará-lo para que possa vê-lo e confirmar que deseja ficar aqui. Não demoro.

Beatrix pediu licença ao mestre e foi até o sótão, seu objetivo era avisar a Laurinda, Atília e Clotilde, para que deixassem o local onde estavam trabalhando e assim evitar que elas se encontrassem com Gennaro. Também pediu ajuda de Clotilde e Laurinda para remover o cofre, mas não obteve sucesso. Ele estava bem cheio e pesado. Talvez fosse melhor deixa-lo ali. Ela deu uma boa olhada no quarto. Enquanto Gennaro fosse buscar suas coisas na pousada ela pediria que trocassem a roupa de cama e pusessem toalhas limpas que estavam no baú. Tudo estava bem arrumado, mas ele certamente ia querer uma colcha nova em que nenhuma mulher dormira e aquela já fora usada por Beatrix. Quanto ao restante, estava tudo limpo e em perfeita ordem.
--Gennaro
Gennaro assentiu e disse:

- Sim, por favor. Esperarei aqui. - Serviu-se com um pouco mais de chá e tentou não pensar muito sobre o que acabara de aceitar. Tinha em si o ligeiro pressentimento que tanta proximidade com mulheres não lhe seria benéfica.
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