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[RP] Ateliê - A Donzela Tecelã - tecendo sonhos...

--Gennaro
Com o excesso de vinho veio a sonolência e mestre italiano adormeceu com a cabeça pousada em cima da mesa. Dormiu um sono profundo e sem sonhos, embora a posição fosse desconfortável. Acordou horas mais tarde, sobressaltado e inquieto com batidas na porta. O susto fê-lo largar a garrafa de vinho à qual dormira agarrado e o vidro estilhaçou-se no chão com estrépito. O seu olhar sonolento e bêbedo tornou-se preocupado e Gennaro levantou-se num ápice olhando em torno. A desarrumação do quarto chocou-o.

- Quem está aí? - Perguntou enquanto esfregava os olhos e andava às voltas, temendo que pudesse ser a sua pupila.
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Fiandeiras


- É o André, o senhor está bem?

O jovem disse, ao ouvir a voz de Gennaro. Não sabia se o mestre estava dormindo, mas aquela era a hora do jantar e ele veio trazer a comida. Ouviu o barulho de vidro quebrando e ficou preocupado.

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"Para tecer com fios de luz
A força que me conduz
Para olhar o mundo
Desnudando lá no fundo
Da caixa de costura
A minha alma guardada
Para tecer comigo
A minha própria caminhada"
--Gennaro
A voz do rapaz sossegou-o de sobremaneira, pelo menos não era a sua pupila. Aquela consolação durou pouco tempo e instantes depois Gennaro estava novamente aflito com o estado lastimável em que se encontrava. Passou as mãos pelo rosto e cabelo, tentando compor-se e depois abriu uma pequena fresta, espreitando.

- Sim, sim, estou muito bem, rapaz.
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Fiandeiras


- Eu trouxe o vosso jantar. Posso entrar?

André perguntou olhando o rosto de Gennaro através da fresta. Seu aspecto contrariava a ideia de que ele estivesse mesmo bem. Ele parecia péssimo.

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"Para tecer com fios de luz
A força que me conduz
Para olhar o mundo
Desnudando lá no fundo
Da caixa de costura
A minha alma guardada
Para tecer comigo
A minha própria caminhada"
--Gennaro
Olhou o rapaz quase com assombro.

- Jantar? - Havia dúvida, incredulidade e um ligeiro receio na sua voz. Teria realmente passado assim tanto tempo? O rosto de André dizia-lhe que sim e só então Gennaro notou que havia escurecido.

Lançou um novo olhar de soslaio ao quarto e, segurando firmemente a porta para que não se movesse, afirmou:

- É melhor que o deixes aí. - Apontou para uma mesa posicionada lateralmente à porta do quarto.
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Fiandeiras


Não querendo contrariar o estranho homem, o garoto André fez exatamente o que Gennaro pedira. Aquela era a terceira vez que ele ia até ali, e já estava preocupado, pois no final da tarde levara biscoitos e chá, mas o mestre não abrira a porta. Agora já era a hora do jantar e André sem mais questionar, colocou a bandeja sobre a mesa. Havia uma botija de água fresca, uma caneca limpa, um prato de sopa cremosa de brócolis, uma generosa fatia de pão de centeio e algumas frutas da época. Era um jantar leve mas saboroso.

Depois de fazer o que Gennaro pediu, André despediu-se desconfiado.

- Tenha uma boa noite, senhor Gennaro.


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"Para tecer com fios de luz
A força que me conduz
Para olhar o mundo
Desnudando lá no fundo
Da caixa de costura
A minha alma guardada
Para tecer comigo
A minha própria caminhada"
--Gennaro
Gennaro permaneceu calado e quieto enquanto via o rapaz colocar o tabuleiro do jantar sobre a pequena mesa. Havia água fresca e uma caneca para bebê-la, sopa com aspecto cremoso, pão de centeio e algumas frutas. Era um repasto mais parcimonioso do que o primeiro que lhe fora servido, mas nem por isso o mestre ficou desagradado.

- Boa noite. - Desejou de forma sucinta e que dava a entender que não desejava mais conversas e visitas naquela noite. Tinha uma bebedeira para curar e um quarto para arrumar.

Assim que André desapareceu do campo de visão do mestre italiano, este fechou a porta e olhou para o caos em que o quarto se encontrava, sentido uma tontura que era tanto provocada pela bebedeira como pelo horror que sentia ao ver os estilhaços de vidro espalhados pelo chão e a cama reduzida a um revoltoso ninho. Segurou a cabeça com a mão por breves instantes, até a súbita dor se reduzir a pouco mais do que um latejar constante. Alisou os lençóis da cama até estes não terem qualquer vínculo ou ruga, depois puxou a colcha e repetiu o processo até estar satisfeito. Tentou ignorar o discreto odor da flor de laranjeira, mas o sonho apenas se tornou mais nítido, enervando Gennaro.

Para ocupar os pensamentos, o mestre italiano pôs-se a procurar uma vassoura ou outro objecto que lhe permitisse juntar e apanhar os estilhaços do vidro. Não encontrou uma vassoura e acabou por ter de usar uma toalha de rosto para apanhar os fragmentos. A toalha, bem enrolada, contendo os estilhaços, foi colocada no chão junto à porta, amanhã teria de se ver livre dela.

Empilhou a loiça do almoço e depois abriu a porta para ir buscar o tabuleiro do jantar que pousou no espaço da mesa que sobrava. Comeu rapidamente a sopa e bebeu longos tragos de água, esperando que aquela ingestão de líquidos fosse suficiente para diluir a tímida bebedeira. Não ingerira álcool suficiente para perder o controlo das suas acções, mas era o suficiente para que lhe ficasse mal. Ele que era sempre um homem tão recto e moralista, ele que apontava o dedo em acusação a todas as almas, ele que julgava primar pela perfeição, falhara logo naquele dia. Mastigou o pão de centeio lentamente enquanto se perdia naqueles pensamentos de fracasso e desilusão.

Passaram algumas horas até que o cansaço lhe tomou conta do corpo, quando assim o fez, Gennaro deitou-se na cama, por cima da colcha, e esperou que os sonhos não viessem.
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Fiandeiras


Depois que deixou Gennaro, Andre desceu para jantar. Eles comeram o mesmo que o mestre tecelão. Como o almoço foi farto Laurinda optou por um jantar mais parcimonioso. Durante a refeição, André pareceu pensativo.

Laurinda: - O que foi André, não está gostando da comida.

André: - Está ótima como sempre, mãe. É que eu não consigo parar de pensar naquele homem esquisito. Ele é muito estranho. Acho que ele está doente, mas não quer ajuda.

Laurinda ficou preocupada.

Laurinda: - Doente? Ele queixou-se de algo?

André: - Não, mas ele estava com uma cara péssima. Parecia febril e não dizia coisa com coisa. Ele me assusta.

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"Para tecer com fios de luz
A força que me conduz
Para olhar o mundo
Desnudando lá no fundo
Da caixa de costura
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Para tecer comigo
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Beatrix_algrave


Beatrix, que acompanhava a conversa comentou.

- Se ele não pediu ajuda, não deve ser grave. É melhor não contraria-lo. O mestre Gennaro é uma pessoa de temperamento difícil, mas vamos fazer um sacrifício.

Ele disse, dirigindo-se a André, Laurinda e Atília.

- Amanhã vamos continuar as lições, ainda não sei como faremos com o atelier. Ainda não sei o que pensar do que aconteceu. Precisamos de uma solução para esse problema. O mestre Gennaro não vai querer ninguém mais no sótão com ele. Já será um sacrifício ele me aturar. Estou mesmo tramada.

Beatrix parecia preocupada. Não queria assustar André nem Eduarda e Clotilde. Mas era difícil não comentar sobre o que acontecera no porão. A forma como os teares se moveram sozinhos fora assustador.


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Fiandeiras


Atília interveio.

- Não se preocupe, minha filha, não há o que temer. Comigo lá no porão, nada há de nos perturbar. É que esse homem "desalinhou" a casa e desafiou a deusa. Ele provocou a ira de algo que ele não compreende.

Atília disse em tom sereno e confiante.

- Tudo voltará a sua harmonia, e quanto antes ele partir, melhor será.

As palavras de Atília não tranquilizaram Beatrix. De todo modo, Laurinda e Clotilde não iam deixar de trabalhar por medo de fantasmas. Elas iam rezar quantos credos fossem, enquanto Atília invocaria a proteção da deusa, mas nenhuma delas ia perder um dia de trabalho.

A firmeza daquelas mulheres era algo que Beatrix conhecia bem, aquilo sim, a tranquilizava.

Depois do jantar cada um se recolheu aos seus afazeres e foram deitar-se cedo para acordarem cedo, como sempre faziam em dias de trabalho.

Alguém não se deitou tão cedo assim, mas seus passos eram tão suaves que ninguém nada notou.

Na manhã seguinte levantaram-se antes do sol raiar e o desjejum de Gennaro foi servido por André, que levou a bandeja até a porta do quarto do mestre. Ele bateu à porta como de costume. Ele também deveria limpar o quarto do mestre e lavar água para que ele fizesse sua higiene pessoal.

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"Para tecer com fios de luz
A força que me conduz
Para olhar o mundo
Desnudando lá no fundo
Da caixa de costura
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Para tecer comigo
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Yochanan


Do lado de fora, um coche negro como a mesma noite se deteve junto à Casa dos Sussurros, e um homem já passado dos quarenta anos, vestindo roupagens tão negras como o próprio coche desceu os degraus até a rua deserta.

- Aguarde aqui. - Indicou à escura figura que estava de cocheiro. Sem dizer mais palavra se dirigiu até a porta e deu três batidas espaçadas, então aguardou.

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Beatrix_algrave


Enquanto Laurinda recolhia a louça com a ajuda de Clotilde e cada um se dedicava a seus afazeres, foi Beatrix que enquanto varria a casa ao ouvir as batidas na porta e foi atender. Gennaro ainda não terminara o desjejum e André não retornara.

Ao abrir a porta, Beatrix deparou-se com a figura do prior de Azure e rei de armas da Heráldica Portuguesa. Ao vê-lo, ficou apreensiva.

- Bom dia, entre prior. Aconteceu alguma coisa?

Ela perguntou preocupada.


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Yochanan


O semblante do Prior era sombrio, e entrou sem dizer uma palavra, mas fazendo uma ligeira vênia com a cabeça à dona da casa antes de cruzar o pórtico. Uma vez dentro da casa e a porta fechada ele diz: - Como vai o vosso treino Senhorita Algrave?- sua voz soava quase sem emoção.

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Beatrix_algrave


Beatrix respondeu a vênia, sua preocupação a fizera esquecer essa cortesia. A expressão taciturna do prior a deixava apreensiva. Não sabia dizer se ele estava mesmo interessado em saber como estava indo o treino, ou se isso era apenas uma forma de iniciar a conversação sem fazê-lo através de uma notícia ruim. Entretanto, Beatrix não costumava ocultar informações do prior. Contudo, ela mantinha seu hábito de ser objetiva sempre que necessário.

- O mestre chegou há dois dias. Íamos começar ontem o treinamento, mas tivemos problemas. Ele me odiou, odiou a hospedaria, a cidade, mas até aí tudo bem. Mas ontem, aconteceu algo muito estranho no atelier. Os teares se mexeram sozinhos. Foi assustador.

Ela disse isso, ainda sem saber o que o prior acharia. Para Beatrix aquilo era uma sandice. Se outra pessoa contasse essa história ela certamente duvidaria.

- Como não sabia o que fazer, convidei o mestre para ficar aqui em casa, e mudei nossas aulas para o sótão. Estou preocupada pois o André disse que o senhor Gennaro parecia estar doente, mas recusou auxílio.

Ela calou-se por fim. Seu relato era sucinto levando em conta tudo de ruim que acontecera até ali.

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Yochanan


O prior escutou com atenção, sem sequer mostrar surpresa ou curiosidade sobre a questão dos teares ou mesmo sobre o ódio do mestre saberia ele algo sobre aquelas duas questões?

- Já vejo. - disse apenas, mas em seus lábios um sorriso morreu antes de aparecer, ou teria sido apenas uma impressão? - Me leve ao mestre, gostaria de conversar com ele um momento. - pediu o Viana, sua voz já se assemelhava ao tom paternal que Beatrix conhecera quando ele recebeu-as na saída do labirinto.

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