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[RP] Ateliê - A Donzela Tecelã - tecendo sonhos...

Beatrix_algrave


- O André acabou de subir para levar-lhe o desjejum.

Beatrix respondeu, e pediu que o prior a acompanhasse. Ela indicou o corredor que levava até a cozinha, e onde havia uma escada. Ela subiu pelas escadas, aguardando que o prior a acompanhasse, em seguida atravessou outro corredor, nesse havia uma escada em caracol.

Ao final dessa última escada se tinha acesso ao sótão, que naquela casa ampla era um espaço considerável. O jovem André batia a porta quando notou a chegada de Beatrix e de um homem mais velho, vestido de negro.

- É o quarto dele.

Ao notar que o mestre Gennaro não atendia ao chamado de André, Beatrix preocupou-se.

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--Gennaro
O sono de Gennaro naquela noite fora pacífico e pesado. O álcool toldava-lhe os pensamentos e impossibilitava-o de qualquer sonho ou divagação nocturna. Estava tão entregue ao sono que as batidas insistentes de André na sua porta lhe passaram despercebidas. Dormia pacificamente, o seu peito subia e descia pausadamente, pois a respiração era lenta e calma.

Demorou pelo menos um minuto ou dois até que Gennaro começasse a despertar. Abriu os olhos e sentiu a cabeça andar à roda, o mundo parecia-lhe turvo. Teve dificuldades em focar-se nas batidas e levou mais tempo do que seria necessário para perceber que era de manhã e André trazia-lhe a bandeja com o pequeno-almoço. Sentou-se lentamente na cama, parecendo-lhe que ia tombar a qualquer instante. Esperou alguns momentos e depois colocou ambas as mãos sobre a cama, de forma a impulsionar o corpo para se levantar. Cambaleou até à porta e abriu-a de rompante, encostando-se de imediato e segurando a cabeça com uma mão. A dor de cabeça martelava insistentemente.

Gennaro estava em tronco nu, pois os suores da bebida tinham-lhe provocado calor durante a noite. Tinha o primeiro botão das calças desapertado, o cabelo despenteado e um intenso odor a álcool em si. A visão estava baça e Gennaro esfregou os olhos com a mão livre. Por fim, foi capaz de ver quem estava à sua frente. O pequeno André segurava a bandeja do pequeno-almoço e olhava-o com preocupação. Mas não foi isso que o chocou. O Prior da Ordem de Azure, assim como a sua pupila, estavam também presentes, encarando-o com reprimenda.

- Prior!?!? Beatrix?!?!? - Teve vontade de fugir e esconder-se, mas nada havia a fazer agora. Ambos tinham visto tudo o que havia para ver.
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Yochanan


-Noite agitada Maese Gennaro? - perguntou o prior com a voz queda, mas antes que o mestre pudesse responder, virou-se para André e tomou a bandeja. - Podes ir André. Obrigado. - e virando-se para Beatrix continuou. - Você também senhorita Algrave. Preciso... - ele fez uma pausa breve enfatizando aquela palavra. - ... trocar algumas palavras com o vosso maestro. - concluiu dirigindo um olhar entre a desaprovação e o cansaço para Gennaro.

Segurando a bandeja entrou no quarto do mestre italiano e fechou a porta sem esperar para ver se os dois jovens havia saído ou não. Aquilo não importava agora. Entregou a bandeja a Gennaro e lhe disse: - Faça as vossas abluções e tire o que lhe resta da noite de cima. Temos que conversar.

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Beatrix_algrave


Beatrix não esperou uma segunda palavra do prior para se retirar, nem dirigiu um segundo olhar para o mestre. Era constrangedor vê-lo daquela forma, e ela retirou-se prontamente, levando André consigo. Ela própria dera-se a bebedeira em algumas raras ocasiões, mas havia sido discreta e não se expusera daquela forma para as crianças da sua casa.

Ainda lembrava-se com tristeza do vexame que passara em Óbidos e do vexame maior na casa de sua prima. Como costumava dizer Laurinda, "quem tem vergonha não faz vergonha aos outros". Em outras palavras, quem tem dignidade não humilha quem se encontra em situação vexaminosa nem deseja ferir a dignidade alheia.

Assim, antes mesmo de Yochanan terminar de falar, ela desceu as escadas e voltou até a cozinha com André, onde terminou de ajudar Laurinda a lavar os pratos e decidir o que seria o almoço, antes de recolher-se ao escritório, onde ficou aguardando, enquanto terminava uma leitura.

André foi cuidar das ovelhas e nada comentou.

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--Gennaro
Subitamente, Gennaro deu-se conta do seu parcial estado de nudez e teve vontade de cobrir-se. Sentiu-se corar ante o olhar inquisitivo da sua pupila e desviou a sua atenção para o prior. Arrependeu-se, pois o que aí encontrou era muito pior. Abriu a boca para responder à questão de Yochanan, mas as palavras atrapalharam-se e o prior prosseguiu com o seu discurso. Gennaro ficou somente a olhá-lo bastante atónito e envergonhado, observando-o enquanto retirava o tabuleiro das mãos de André e dava ordens para que o rapaz e Beatrix desaparecessem.

O mestre italiano encolheu-se perante o olhar severo do prior e pareceu perder alguns centímetros de altura. Entrou no quarto como lhe foi indicado e, discretamente, apertou o botão das calças e procurou de imediato a sua camisa. A dor de cabeça parecia-lhe agora insignificante.

- Conversemos, Prior. - Disse numa voz baixa e bastante contida, enquanto se servia de um copo de água e esperava que o café arrefecesse. - Tive uma noite complicada... quer dizer, estes últimos dias foram todos complicados. - Tentou desculpar-se, mas não foi muito convincente.
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Yochanan


O Viana esperou a que o mestre se arrumasse e quando este retomou a conversa o prior escutou e então disse: - Não quero desculpas Maese. Quero apenas saber se o senhor acredita que pode ensinar as artes do teu oficio à jovem Algrave. - ele fez uma pausa. - se isso for demais para si buscarei outro mestre para ela. - o prior espetou.

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--Gennaro
Gennaro foi apanhado de surpresa pela agressividade do Prior e quase cambaleou perante as palavras deste. Bebeu uma golada de água, tentando recompor-se enquanto pensava.

- Prior, sou capaz de ensiná-la. - A sua voz era convicta, mas não continha o habitual tom de superioridade. - O prior sabe que sou o melhor na arte, porque haveria de procurar outro mestre? - Aquilo que dizia era verdade, embora a presunção não lhe fosse favorável à ocasião. Pigarreou e acrescentou numa voz mais baixa. - Eu e a Beatrix... temos as nossas desavenças. O prior sabia disso quando me convidou.
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Yochanan


- Sim eu sabia. - retrucou o prior. - Foi por isso mesmo que o convidei. - seu tom agora era sereno. - Espero que vocês dois aprendam muito dessa experiencia. E é por isso que você a vai preparar para visitar a Agulha de Alexandria. - sentenciou.

A surpresa no rosto do italiano era ainda mais evidente que seu estado de embriaguez com o qual havia aberto a porta.

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--Gennaro
Gennaro assentiu sabendo perfeitamente que o prior o escolhera para aquela tarefa em específico, apesar de saber dos seus problemas com mulheres. Dificilmente o mestre encontraria alguém mais hábil na arte da tecelagem, mas acharia com facilidade alguém mais disposto a ensinar uma mulher. A escolha não fora arbitrária. Testava propositadamente a sua paciência e tolerância, bem como a de Beatrix.

- Viagem? Alexandria!? - A voz de Gennaro ergueu-se e tremeu, subitamente nervoso. - Com que intuito, prior? Não poderei ensiná-la a tecer os fios num barco!!

Estava confuso e algo zangado. Viajara de Itália até ali para ensinar Beatrix a tecer com mestria e, poucos dias depois, via-se confrontado com uma nova viagem.
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Yochanan


O intuito bom maese, vocês descobrirão quando lá chegarem. Já dei inicio aos preparativos, ensine-a tudo e ensine-a bem, na melhor de suas capacidades. - o prior fez uma pausa - Vocês têm três meses antes de partir para Alexandria. Eu sei que poderão fazê-lo.

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--Gennaro
Gennaro suspirou profundamente e deixou que os ombros descaíssem. Pareceu debater-se com aquela ideia durante algum tempo até que por fim disse:

- Se é o que desejais, prior, será feito - Ergueu o olhar e encarou o homem à sua frente, confirmando-lhe daquela forma que pretendia ser fiel à promessa que acabara de lhe fazer. - Beatrix é já bastante hábil, ensinar-lhe-ei o máximo que puder. Julgo que os três meses serão suficientes, terão de ser. Redobramos os esforços.

Não lhe agradou pensar que teria de passar ainda mais horas na presença daquela mulher, mas coibiu-se de o vocalizar, honraria a palavra que dera ao prior, era o seu dever.
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Yochanan


Muito bem! - exclamou o Viana com um leve tom de alegria na voz. - Agora termine de se arrumar e nos encontre lá embaixo. Eu gostaria de saber como é essa história dos teares se moverem sozinhos. - concluiu já deixando o quarto.

Dirigiu-se então de volta à sala.

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Beatrix_algrave


Ao ouvir passos na escada, Beatrix deixou o escritório e foi ver se o prior já retornara.

Ela o viu mas não perguntou nada, não queria ser indiscreta. Aguardou se ele teria algo para falar-lhe.

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--Gennaro
Gennaro utilizou alguma da água que André trouxera para refrescar o rosto. Trocou de roupas e penteou-se até estar de novo apresentável. Era verdade que a cabeça lhe doía e tinha dificuldades em concentrar-se, mas pelo menos o seu aspecto era mais digno. Comeu rapidamente o desjejum e depois desceu as escadas, reunindo-se com o prior e Beatrix.
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Yochanan


O prior nada disse até que Gennaro novamente se reuniu com eles. Quando tal ocorreu ele disse com um tom de curiosidade assomando-se em sua voz: - Muito bem, com tudo de volta nos eixos, agora gostaria de ouvir mais sobre o assunto dos teares que se movem sozinhos.

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