[RP] O Encontro

Beatrix olha para o sujeito com a mesma frieza de antes.

Beatrix: - Cooperar é a sua única chance de sair vivo daqui.

Após dizer isso, ela virou a cadeira, e tirou de súbito a adaga da perna dele, causando-lhe uma dor aguda. Beatrix fez sinal para que Adrian tirasse a mordaça do homem.

Beatrix: - Conheço locais mais interessante para cravá-la de novo. É bom que a informação valha a pena, ou você vai descobrir que locais são esses da pior forma possível.

Beatrix: - Agora fale. Onde está o mercenário que entrou no palacete de Cecília Andrade? Quem o enviou e por que? Conte tudo.

Beatrix notou os gestos do homem e alertou Nicole.

Beatrix: - Nicole, olhe só, creio que agora o nosso amigo resolveu cooperar. Sábia decisão de fato.

Beatrix disse sarcástica.

Beatrix: - Bem se vê que são velhos amigos. Quero partilhar dessa "amizade" também.

Beatrix atirou um pequeno saco com algumas moedas para a meretriz assustada a fim de acalmá-la.

Beatrix: - Toma, para que não tenhas prejuízo. Agora vai-te e decerto não viste nada aqui. E nada de guardas.

Beatrix:- Nesse caso, eu vou com vocês e depois do almoço falo com a senhora Cecília.

Beatrix propôs, ao notar que Nicole tencionava investigar fora dali. Talvez longe do palacete ela pudesse contar algo sem a vigilância da guarda incompetente de sua avó.

De fato, Nicole não demorou muito localizar onde estava Beatrix. Ela examinava com cuidado o local onde o guarda sugerira que o homem estivera quando atirara a pedra contra a janela.

Beatrix analisava o angulo, e depois seu olhar buscou o trajeto que o homem fizera até ali. Ela estava abaixada, examinando o chão com cuidado, pois não era afinal, tão longe de onde ela estava poucos minutos antes, retirando uma lagarta de uma rosa.

Ao ver Nicole acompanhada de Adrian, Beatrix se levanta. O corte da testa está devidamente coberto com um curativo amarrado por Graça, em volta de sua cabeça.

Ela não diz nada, apenas observa Nicole e esperou que ela se aproximasse.

Cecilia encarou Nicole um instante. Era duro para ela demonstrar emoções diante de uma pessoa em quem ela não confiava. Não havia ódio ou mesmo raiva em relação a Nicole, mas sua impertinência a irritava. Se aquela criança já era tão fria por dentro e vivera tão pouco tempo, o que podia se esperar do tipo de mulher que ela seria no futuro? Matriarca do clã Casterwill? Se Nicole quisesse mesmo isso, ia ter que abrir seu caminho as custas de muito sangue. Seria ela realmente capaz?

A vontade de Cecília era esbofetear aquela criança fria e má. Mas de que adiantava? Por piores que fossem as palavras dela, Cecilia sabia que era verdade. A dama continuou, agora com uma expressão menos frágil.

Cecília: - Por pior que as suas palavras soem aos meus ouvidos, você provavelmente tem razão. Mas não vou permitir que os Casterwill destruam a minha família. Ainda que isso signifique me unir a você.

E fazer o seu jogo... - Cecília pensou.

Cecília ficou séria. Definitivamente não gostava das brincadeiras de Nicole e nem de seu ar arrogante. Nicole parecia estar sempre nesse estado, como se alguém fosse atacá-la, e por isso sempre ataca antes, sem dó nem piedade.

Cecília: - Acho que sua posição não te permite ameaças, criança. Não tenho medo de você nem de qualquer um dos Casterwill. E antes que Adrian dê com a língua nos dentes ou fale mais do que deve, eu vou te dizer porque pedi para falar a sós com você. Não apenas para evitar a intervenção do seu "santo protetor" mas por outro motivo. Isso tem a ver com Beatrix. Tem algo que não comentei com ela, e que ela não deve saber. A verdade é que eu nunca gostei dos Casterwill, mas o meu irmão Augustos pensava diferente. Na época apesar do falatório, eles tinham prestígio e também tinham muito dinheiro. Por muito pouco, minha filha Ruth, a mãe de Beatrix não se tornou a esposa desse seu tio nefasto.

A senhora Cecilia chama Graça para que trate tanto do ferimento de Beatrix quanto de Adrian. Seja lá que costumes eles tenham com machucados, ela não quer ninguém sangrando a esmo em sua casa.

A mulher insiste para que tanto Beatrix quando Adrian a acompanhem para fora do escritório.

A senhora Cecília insistiu e não aceitou protestos de nenhum dos dois, pois desejava falar a sós com Nicole.

Graça: - Melhor esperarem até a hora do almoço, pois a senhora Cecilia não vai querer que a interrompam. Ela precisa conversar com a senhorita Nicole, e pediu que tratasse dos senhores. Me acompanhem até a despensa, pois lá eu tenho vinho e um bom unguento. Também vou ver se não tem mais nenhum pedaço de vidro, ou o ferimento pode ficar pestilento e supurar.

Enquanto Cecilia fica a sós com Nicole, Adrian e Beatrix acompanham Graça, meio a contra-gosto.

Beatrix já havia esquecido completamente o ferimento. Aquilo para ela não representava grande coisa. Já tivera ferimentos mais graves combatendo bandoleiros nas estradas do reino ou defendendo sua vila. Nunca entretanto, estivera em uma guerra de verdade.

Enfrentando combatentes menos experientes, sempre obtivera êxito sem dificuldades, e apenas em casos de desvantagem é que acabara se ferindo. Se julgava uma excelente espadachim, e tinha orgulho disso. Certamente era boa, mas não tanto quanto acreditava ser. Isso é claro, é bastante comum entre os jovens, e Beatrix era muito jovem e pouco experiente. Não era tão inocente a ponto de ignorar as maldades do mundo, mas certamente não tinha experimentado os horrores pelos quais Nicole passara. Ao menos era isso que seus límpidos olhos verdes demonstravam enquanto ela analisava o bilhete.

Beatrix: - Isso não é tinta, ele escreveu com sangue.

Beatrix disse surpresa com o requinte de maldade do mercenário, enquanto Cecilia observava que o ferimento era um talho grande em sua testa que ficaria melhor lavado com vinho e ervas, e costurado com ao menos uns dois pontos de linha para melhor cicatrizar. Parecia haver ainda ali algum fragmento de vidro, que seria preciso tirar com cuidado antes de tratar do corte. Com a expressão de preocupação de Beatrix, o corte estava abrindo novamente.

Beatrix sentiu um leve ardor mas não se incomodou. Ela notou que na manga da camisa de Adrian também havia sangue.

Beatrix: - O senhor também se feriu, seria melhor tratar seu corte agora.

Beatrix ouviu com atenção as palavras da prima. Não era possível perceber claramente o que ela pensava a respeito do relato de Nicole, ou pelo menos sua expressão facial não demonstrava isso. Ao ouvir Adrian citar William, lembra do irmão, mas imagina que deve ser outro homem.

Beatrix- Tem certeza que é o mesmo mercenário? Posso ver o bilhete?

Ela pediu e em seguida complementou.

Beatrix: - Seja esse tal James ou um outro mercenário, certamente vai encontrar a morte se não te deixar em paz.

Ela pareceu muito segura em confiar em Nicole. Sabia no entanto que essas rixas de família podem ser intermináveis. Com a morte de James, a avó de Nicole talvez enviasse outro mercenário, e mais outro, até ter a vingança pretendida.

Beatrix ficou tão surpresa com o choque da pedra na janela que nem percebeu que aquilo a ferira. O corte que se abriu em sua testa escorria sangue por seu rosto que ela confundiu com suor. Ela puxou a espada e correu até a janela para ver se identificava o autor daquele ataque. Ela afastou a cortina com avidez e abriu o trinco que ainda mantinha a janela fechada, apesar do vidro partido.

Ela olhou para o jardim, e tencionou pular para procurar quem fizera aquilo, mas não viu ninguém ali e isso a deixou furiosa.

Frustrada, olhou para os demais, para ver se estavam todos bem. Enxugou a testa e viu para sua surpresa que a manga do vestido voltou suja de sangue.

Alguém se ferira.

Beatrix: - Sangue? Alguém se feriu? Vocês estão bem? Precisamos vasculhar o jardim.

Ela disse e notou que Nicole segurava um papel assustada.

Beatrix: - O que foi isso afinal?

Antes que Adrian pudesse dizer qualquer coisa sobre a pergunta de Beatrix ou dar mais alguma resposta que fosse à Nicole ou à senhora Cecile, dentro da sala ouviu-se som de vidro partido.

Uma pedra arremessada do jardim, atravessou o vidro da janela. Alguns fragmentos do vidro voaram próximos. Um deles atingiu Beatrix no rosto, na altura da testa causando um pequeno corte. Quanto ao objeto arremessado, esse caiu aos pés de Nicole.

Parecia uma pedra embrulhada em um pedaço de papel. Pela velocidade com que entrou pela janela e o estrago que causou, não foi simplesmente jogada. Talvez alguém o tenha feito com a ajuda de um estilingue ou funda. O evento causa surpresa a todos os presentes.

Beatrix passeava inocentemente pelo jardim do palacete da senhora Cecília. Imaginou por onde andaria Cecilia.
Essa sua prima tinha um ar misterioso, parecia estar sempre escondendo algo. Mas o que?

Beatrix estava entretida com esses pensamentos enquanto observava uma feia lagarta passeando sobre uma linda rosa branca. Afastou-a com a mão, delicadamente. Não queria matar o inseto, mas não desejava também que ele estragasse a flor.

Lembrou-se do seu vasinho de violetas na janela do ateliê. Não havia espaço em sua casa para um jardim bonito como aquele, mas era bom ter flores por perto.

Sentiu-se um pouco deslocada ali. Também preocupou-se com o Quartel e ficou imaginando se os homens cumpririam a contento suas ordens. Ai deles se não obedecessem. Ela certamente sabia ser dura quanto necessário.
Pensou e sorriu.

Beatrix concordou e aceitou o que sua avó propôs.

Beatrix: - Tudo bem, como a senhora preferir. Se não se importar, irei primeiro dar uma volta no jardim, depois irei descansar.

Ela terminou o chá, mas em vez de ir descansar, foi primeiro dar uma volta no jardim, pois achou o local muito bonito e agradável. Depois, ela estava um pouco tensa e agitada e isso talvez lhe fizesse bem.

Beatrix acompanhou com atenção todos os detalhes da conversa. Ela obviamente estava procurando agir o mais calmamente possível, apesar da emoção do momento. No físico Beatrix possuía muito da delicadeza da mãe, seus gestos assim como os dela, eram delicados e precisos. Mas o seu temperamento apresentava a influência do pai e principalmente do irmão.

Ela possuía um temperamento calmo, mas direto e objetivo. Ela se perguntava o que a mãe procuraria esconder, ou o que tentaram esconder do diário. Ao que parece sua avó parecia saber do que tentaram poupá-la.

Ela encarou sua avó e seu olhar não era tímido nem evasivo, havia um brilho intenso de curiosidade.

Beatrix: - Sim, eu adoro chá. Quanto a sua pergunta, infelizmente meu pai faleceu e minha irmã mais velha, Elizabeth também está morta. Meu irmão William, felizmente está vivo e bem. Ele mora na Irlanda. A carta está comigo, eu a trouxe.

Ela diz e abre a bolsa, e estende a carta para Cecilia.

Beatrix: - Espero que a senhora compreenda que eu também tenho muitas perguntas.

Quando viu Nicole retornar, Beatrix notou que algo a entristecera. Como as duas seguiriam para o jardim, resolveu que era melhor esperar estarem a sós novamente para perguntar alguma coisa. Não que desejasse se intrometer, mas era de sua natureza preocupar-se com os outros, ainda mais que agora ela e Nicole eram parentes.

Contudo, a presença inesperada daquela senhora, deixou-a surpresa e tirou-lhe rapidamente desses pensamentos. Ao ser encarada limitou-se inicialmente a retribuir o olhar, e então se apresentou.

Beatrix: - Muito prazer senhora. Sou Beatrix Algrave.

Disse e fez uma vênia. Então dirigiu-se a Nicole.

Beatrix: - Espere, eu também posso ajudar a preparar o lanche. Assim acabamos mais rapidamente.

Beatrix sorri para Nicole, para demonstrar que ela está tranquila e que ela pode atender o pedido da senhora Cecília sem problemas.

Beatrix: - Esperarei então. Até breve Nicole.

Assim que Nicole se retira, ela dirige suas atenções para Graça. Sorri cumprimentando-a.

Beatrix: - Tomara que esse seja um bom dia para visitá-la. Sei que ela me esperava mas enfim, nunca se sabe.

Ernesto geme de dor, e ao ver que se insistir em mentir ele só vai ter mais sofrimento e ossos partidos, ele se entrega.

Ernesto: - O nome é esse mesmo, eu juro. Ele veio aqui para matar as duas, para dar uma lição na velha, e para fazer justiça, ao estilo da patroa.

Ao dizer a última parte ele encara Nicole.

Ernesto: - Mas antes ele quis sim, assustar um pouco. Ele me contou como te seguiu. Teria sido tão fácil, sozinhas na estrada, mas ele não gosta de facilidade, gosta de diversão. E enquanto vocês se divertem me causando dor, ele já deve ter fugido.

Ernesto tossiu um pouco, e demorou uns instantes a recuperar o fôlego, só então falou.

Ernesto: - A Dama Elizabeth, afinal, quem mais seria? Agora por favor, me deixem em paz. Já estou todo estropiado, demorarei semanas para me recuperar.

Beatrix assistiu a cena. Fica surpresa com o golpe que a prima desfere.

Beatrix: - Nicole, desse jeito ele morre antes do tempo.

Ela disse e enquanto ouvia o que a prima dizia examinava ao homem para ver se o golpe fora fatal.

Beatrix: - Ele ainda está vivo mas não vai durar por muito tempo sem cuidados. Isso não era para ser um assassinato. Levem o homem que eu trato com as mulheres.

Beatrix propõe.

Beatrix: - Saiam logo e para todos os efeitos ele está apenas bêbado.

Com um pouco de conversa e um pouco de ouro, Beatrix conseguiu evitar problemas e comentários. Também conseguiu com as mulheres do bordel uma descrição física do sujeito que entrou acompanhando o comerciante, o tal Norman.

De fato ele correspondia ao que Beatrix imaginava. Era alto, forte e parecia ser ágil o suficiente para ter escalado o muro do palacete com rapidez. Era um homem jovem de uns vinte e poucos anos de cabelos e olhos escuros. Pelo sotaque elas o identificaram facilmente como um viajante estrangeiro do norte.

Enquanto caminhava para fora do estabelecimento, Beatrix ainda recebeu alguns gracejos e ofertas dos clientes que confundiram sua presença ali com a de uma "nova mercadoria". Um mais abusado que tentou segurá-la a força pela cintura levou uma caneca de cerveja na cara. Houve risos, apupos, mas não surgiu a briga esperada. O homem que já estava caindo de bêbado limitou-se a dizer com sua voz embargada pela embriaguez.

Homem bêbado: - Venha cá, miúda que é das brabas que eu gosto.

Ela continuou andando sem dar trela ao bebum desagradável. Quando já caminhava fora do bordel, ouviu algo zunindo e passando perto de seu ombro. Um virote de besta cravara a manga de seu vestido ao estuque de madeira da parede do estabelecimento. Temendo que aquilo fosse só uma forma de imobilizá-la para o golpe final, ela puxou rápido uma adaga e rasgou a manga para se soltar. Outro virote disparou, mas atingiu apenas a parede. Então, ela viu a sombra de um homem no telhado em frente , que pulou e correu em disparada. Aquela brincadeira covarde já a estava irritando.

Ela tentou correr e alcança-lo, mas quando chegou ao outro lado não viu ninguém, por mais que procurasse. Então, ela retornou e foi ver os virotes usados. Reparou que em um deles havia um pedaço de tecido amarrado. Outro recado de morte? Ela leu e não entendeu o que o homem queria afinal.

"The disgrace always wants company"
(A desgraça sempre quer companhia)

Beatrix: - Que sujeito mais doente.

Ela murmurou e se dirigiu ao palacete onde perguntou por Nicole e Adrian. O guarda ainda a olhava desconfiado, então conduziu-a até onde estavam os dois.

Nicole e Adrian notaram a chegada de Beatrix e o detalhe da manga do vestido rasgado, e que ela segurava algo nas mãos.

Beatrix respondeu a Adrian enquanto lhe entregava o "recado" de Norman.

Beatrix: - O que me aconteceu, é que levei um tiro de virote quando saia do bordel. O virote prendeu a manga do meu vestido. Eu mesma rasguei a manga para me soltar, e fiz bem, pois em seguida ele disparou outro tiro de besta. E nesse ele não queria brincar comigo. No primeiro havia isso.

Ela disse e entregou o recado a ele, onde estava escrito.

"The disgrace always wants company"
(A desgraça sempre quer companhia)

-Estamos condenados. Nicole repara que o tal mercenário tem uma pontaria precisa, decide então avisar a Beatrix.- A Cecília precisa de te deixar a par dos acontecimentos Bea. Acho que vale a pena falares agora com ela no escritório.

Beatrix estava insatisfeita, pois sabia que lhe escondia coisas. Aquele comportamento de Cecília era estranho demais. Esperar mais era torturante, e quando Graça anunciou a refeição ela disse.

Beatrix: - Estou sem apetite.

Beatrix assentiu e acompanhou Nicole e Adrian para a sala de jantar. De fato a comida cheirava bem e isso ajudou a recuperar a fome. Mas Beatrix estava calada e taciturna.

Beatrix olhou para Nicole.

Beatrix:- Não estou com sono, não me sinto cansada. Me aborrece não ter mais nada o que fazer a não ser esperar. Você por acaso sabe o que ela quer tanto me dizer, não sabe?