Maria_madalena
Havia passado algum tempo desde que ali estivera pela última vez. O seu olhar vagueou lentamente pelo edifício que se erguia à sua frente. O aspecto lúgubre e taciturno mantinha-se, cortinas de veludo vermelho cobriam as janelas e sobre a porta uma tabuleta em madeira com uma silhueta feminina habilmente desenhada não deixava dúvidas quanto ao propósito daquele estabelecimento. Um nevoeiro denso encobria as ruas naquela manhã. Era cedo, demasiado cedo, e Madalena estava envolta numa capa negra. O capuz cobria-lhe os cabelos castanhos que prendera com esmero e as feições delicadas do rosto, escondia-lhe também o olhar que estava marcado por uma profunda tristeza. Um bêbedo dormitava ao fim da rua encostado a uma parede, segurava uma garrafa vazia contra o corpo e murmurava incoerências, perdido na breve felicidade dos sonhos que a bebida certamente lhe trouxera. Observou-o por instantes e pensou no quão frequente aquele gesto se tornara nos últimos tempos. Ainda não dormira ao relento mas não estava longe desse infortúnio. A garrafa tornara-se uma fiel companheira e não havia noite em que Madalena não se entregasse ao doce oblívio que ela lhe proporcionava. Suspirou e ajeitou a capa contra o corpo.
Assim que entrou na sala de estar da Babilónia um cheiro almiscarado invadiu-lhe as narinas e Madalena fungou, desabituada àquele odor. A sala estava envolta na penumbra que era típica àquela hora, peças de roupa estavam espalhadas pelo chão e pelos sofás, garrafas e copos vazios jaziam inertes sobre as mesas e não havia sinal de que alguém estivesse acordado. Desceu o capuz e passou as mãos pelos cabelos, tentando abstrair-se dos pensamentos que teimavam em chegar. Crescera entre aquelas paredes, mal-amada por uma mãe cruel e incapaz de admitir os seus erros, entregue a uma vida sem compaixão. Foi educada para a libertinagem e tornou-se naquilo que era de si esperado, uma prostituta. Abria as pernas para um homem com a mesma facilidade com que respirava e o seu entorpecimento emocional era tal que já nada sentia. Mais vezes do que ousava lembrar-se vendeu o corpo, a alma e os preceitos. Levou vinte e dois anos a conhecer o significado da palavra amor e ainda hoje lhe parecia que aquele era um sentimento estranho e ingrato. Limpou as lágrimas que lhe haviam molhado o rosto e respirou fundo, tentando recompor-se.
Percorreu os corredores da Babilónia silenciosamente, a capa oscilava atrás de si e o seu passo era firme, embora por dentro Madalena estivesse no ápice de quebrar. A longa viagem até França e a ausência prolongada como tentativas de esquecer aquele último ano não tinham sido bem sucedidas, mas não daria parte fraca. O seu rosto aparentava a calma e segurança que só uma mulher habituada a fingir conseguia simular. Rita, a mulher em que mais confiava na Babilónia, ficara responsável pela gerência do bordel e era para o seu quarto que Madalena se dirigia.
Bateu à porta do quarto e esperou que Rita abrisse.
Assim que entrou na sala de estar da Babilónia um cheiro almiscarado invadiu-lhe as narinas e Madalena fungou, desabituada àquele odor. A sala estava envolta na penumbra que era típica àquela hora, peças de roupa estavam espalhadas pelo chão e pelos sofás, garrafas e copos vazios jaziam inertes sobre as mesas e não havia sinal de que alguém estivesse acordado. Desceu o capuz e passou as mãos pelos cabelos, tentando abstrair-se dos pensamentos que teimavam em chegar. Crescera entre aquelas paredes, mal-amada por uma mãe cruel e incapaz de admitir os seus erros, entregue a uma vida sem compaixão. Foi educada para a libertinagem e tornou-se naquilo que era de si esperado, uma prostituta. Abria as pernas para um homem com a mesma facilidade com que respirava e o seu entorpecimento emocional era tal que já nada sentia. Mais vezes do que ousava lembrar-se vendeu o corpo, a alma e os preceitos. Levou vinte e dois anos a conhecer o significado da palavra amor e ainda hoje lhe parecia que aquele era um sentimento estranho e ingrato. Limpou as lágrimas que lhe haviam molhado o rosto e respirou fundo, tentando recompor-se.
Percorreu os corredores da Babilónia silenciosamente, a capa oscilava atrás de si e o seu passo era firme, embora por dentro Madalena estivesse no ápice de quebrar. A longa viagem até França e a ausência prolongada como tentativas de esquecer aquele último ano não tinham sido bem sucedidas, mas não daria parte fraca. O seu rosto aparentava a calma e segurança que só uma mulher habituada a fingir conseguia simular. Rita, a mulher em que mais confiava na Babilónia, ficara responsável pela gerência do bordel e era para o seu quarto que Madalena se dirigia.
Bateu à porta do quarto e esperou que Rita abrisse.