--Conselheiro
Depois de ler o aviso afixado no Porto, o Conselheiro sentiu-se indignado!
Decidido a ter uma conversa definitiva, ou por outro motivo qualquer que não vem ao caso, dirige-se à Babilônia numa carruagem discreta, sem nenhum brasão que a identificasse.
Pelo caminho vai pensando e resmungando:
Ora, mas quem esta meretriz pensa que é! Chamar-me gordo? Isso que tenho não é gordura, é sinal de prosperidade!
Olha para a barriga avantajada e dá batidinhas, satisfeito:
Quanta prosperidade...
Sebento, eu? Só porque ficamos dias e dias para decidir as menores coisas, sem que possamos sair para tomar banhos ou dormir com a esposa? Arrepia-se ao lembrar da esposa, velhusca e mal cheirosa, a voz de taquara rachada ecoava pelos corredores da imensa casa, a gritar com ele, com os filhos e criados... brrrr!
Mas é o protocolo! Temos de seguir o que está escrito, estamos para servir à lei... ou não? Ademais, se em sessenta dias fizessemos muitas modificações, os sucessores teriam muito trabalho para as desfazer todas, temos sempre de pensar na classe...
Dá sinal e a carruagem para numa viela lateral, desce, e no caminho as pernas vão amolecendo... Já não tem certeza de conseguir expor suas idéias sem os companheiros por perto, afinal, esta sua decisão nem foi à discussão, muito menos votada!
A ira foi baixando, juntamente com a libido. Deu meia volta, entrou na carruagem e gritou para o cocheiro com a voz autoritária do costume:
- Toca para o Castelo!