Irises chegara ao salão de baile segurando a mãozinha de Celinho. Recebera um convite, que havia deixado alguns dias sobre a mesinha de cabeceira, pensando se estaria preparada para a ocasião. Apesar de ter conseguido recepcionar devidamente na inauguração do Instituto Hospitalar, nunca estivera num baile. Foi informada de que poderia levar Celinho, que haveriam outras crianças presentes, e isso a fez decidir-se: Além de proporcionar uma noite especial ao pequeno poderia conhecer a família Camões, já conhecia algumas pessoas pelas quais tinha grande simpatia.
Escolheu um vestido tingido em cor de açafrão e com poucos adornos. A simplicidade da criação que teve no convento não lhe permitia grandes arroubos de vaidade, embora estivesse começando achar-se, se não bonita, interessante! Colocou o par de brincos de pérolas que tanto apreciava e tentou conter a cabeleira, mas os esforços foram inúteis, sempre estavam as mechas a escapar das mais finas redes. Sem solução, trazia os cabelos escovados e soltos. Para um toque de cor, alguma rusticidade, e muita
ousadia, trançou uma grinalda com as menores folhinhas da hera que cobria sua casa, as mais pequeninas, colocou a grinalda nos cabelos, o contraste entre o verde e os cabelos ruivos agradava sempre à moça.
Preparou Celinho com esmero, a roupinha branca, incluindo os sapatinhos e um pequeno colarinho. Parecia um anjinho ruivo, uma miniatura de cavalheiro! Estava sério e compenetrado, observando todos os detalhes da magnífica entrada, olhinhos brilhando de curiosidade e encantamento.
Encontrou a querida Lorena, estava sorrindo e conversando com D. Dinis, que Irises conhecia de vista, e uma senhora muito elegante, pela semelhança parecia ser parente bem próxima do rapaz. Era um momento importante para a amiga, que sabia que Irises não iria interromper a conversa, mas Irises e Lorena conheciam-se bem, e notou que a moça fizera um gesto discreto para ela apontando uma direção.
Andando alguns passos encontrou o querido amigo Cientista!Estava sozinho, sentado, na costumeira calma pachorrenta, segurando uma taça em uma mão e equilibrando um prato de petiscos no joelho. Celinho já vira Cien, e a puxava pela mão.
Deu um beijo na testa de Cien, acomodou Celinho ao seu lado e seguiu para uma grande janela que dava vista para o jardim. Não estava habituada a ambientes com tantas pessoas, sentia-se um tantinho atordoada, alem disso tinha visto belíssimos exemplares de
suas flores prediletas, da janela pensava que poderia apreciá-las melhor.