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Casa nș 12 - Casa da Cerejeira

Lorena_davila
Lorena mondava o jardim, quando ouviu uma voz conhecida saudá-la. Acercou-se rapidamente do portão e abriu um enorme sorriso:

- Querida Maria, se eu a imaginava por estas bandas! Entre, entre! - e com um gesto, convidou-a a entrar no jardim. - Fez boa viagem? Quer um cházinho quente?

Lorena estava feliz por rever Maria. Ela sempre fora o seu elo de ligação ao casarão enorme dos Camões, que a assustava e onde não se sentia à vontade. Depois, pensando que Maria pudesse estar equivocada, acrescentou:

- A casa do Dinis é já aqui ao lado, quer que lhe indique o caminho?
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Criada_maria
- A casa do Dinis é já aqui ao lado, quer que lhe indique o caminho?

- Menina, a minha prioridade é ajudá-la a pedido do senhor Marquês e prepará-la para os eventos futuros como membro da Família Camões. O menino Dinis receberá a minha visita mais adiante para um puxão de orelhas... Onde já se viu ficar a menina sozinha a lidar com isto tudo?
Lorena_davila
Lorena ficou boquiaberta. Não esperava a visita de Maria, muito menos com aquele intuito. Mas, depois de um momento de admiração, Lorena abraçou sentidamente a senhora. Ah, como era bom tê-la ali, ela que andava perdida, sem saber muito bem o que esperavam dela.

- Vamos para dentro, Maria. Falamos mais descansadas.

E indicando-lhe a porta, seguiu atrás dela. Enquanto punha a chaleira com água ao lume, inquiriu-a:

- Não sei muito bem o que é necessário fazer. O Dinis encarregou-se dos convites. Mas o vestido, as flores, os doces para a festa. Estou tão perdida. Não sei por onde me virar.
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Criada_maria
Menina... antes de tudo: o que quer para o seu casamento? Já falou com o menino Dinis sobre isso?

Maria faz uma pausa.

Sabe... estive com a Marquesa a preparar tudo para o seu casamento. Era pouco mais velha que a menina. A vida já dera muito a nós, a todos no Solar mas ver a senhora marquesa tão feliz e animada com o casamento foi das épocas mais atarefadas da minha vida. Ela não se privou...

O silêncio toma conta das duas damas.

Acima de tudo o casamento é uma celebração daquilo que os meninos sentem um pelo outro e da alegria de ser acolhidos por todos como casal.

Acrescenta ainda:

Temos também de decidir que pequenos eventos prepararemos para a menina se ambientar e para conhecer os membros da família do menino, os seus vizinhos e amigos chegados... além da etiqueta. O patriarca da família não quererá nada menos que isso.
Lorena_davila
Lorena ia acenando à medida que Maria falava. Sim, Dinis e ela quereriam que fosse uma grande festa, com todos os amigos reunidos e com tudo o que de melhor lhes pudessem oferecer. Era o seu dia, o dia em que iam oficializar diante de Jah e dos mais queridos o quanto se amavam. Os convites já estavam a ser enviados, as alianças forjadas e os moleiros da cidade atarefavam-se para terem a farinha pronta a tempo. Mas a rapariga estremeceu ao ouvir a última parte:

- Etiqueta, Maria? Eu não sei nada dessas coisas. Tu sabes que eu nasci na serra, vim para o Porto à procura de um futuro melhor, como criada de servir. Tudo o que os meus pais me deixaram foi o legado de saber ler. Ai, o que a família dele vai pensar de mim...

Lorena calou-se expectante.
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Criada_maria
- Menina... Primeiro, tratamos da postura. Vá buscar uns livros e começamos as lições já hoje.

Lorena olha para ela espantada.
Lorena_davila
Lorena engoliu em seco, sem entender.

- Mas Maria, só tenho um velho livro de poemas que o meu pai me deixou.

Acercando-se do peitoril da janela, pegou ternamente no livro, que repousava junto à cadeira de baloiço.

- Só tenho este, aqui está.
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Criada_maria
Vamos então... Aqui nesta divisão vai começar a andar em linha recta. Costas direitas. Cabeça a olhar em frente. Mãos postas no regaço delicadamente.

Maria sorri.

Vamos fazer isso umas duas horas. Depois aumentamos o nível de dificuldade se se sentir já preparada.
Lorena_davila
Lorena nem queria acreditar. Olhou boquiaberta para Maria, mas seguiu à regra os seus exercícios e conselhos. Ao final de algumas horas, depois de ter aprendido a sentar-se, a levantar-se, a cumprimentar, a comer, a rapariga caiu pesadamente numa cadeira.

- Não aguento mais, Maria. Isto é horrível!

Mas depois do olhar crítico da criada, Lorena levantou-se rapidamente e voltou a sentar-se tal como ela lhe ensinara.
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Criada_maria
Maria vai corrigindo a postura da senhorita Lorena.

- Muito bem, menina. Quase, quase...

Sorri ao vê-la desesperada por acabar este treino. Passados uns minutos, ela liberta a donzela da tortura.

- Menina... Agora descanse um pouco e sente-se. Fale-me da sua vida aqui, amigos que tenha, produtos mais típicos... Mais tarde, vou dar um arranjo à casa e encomendar tecidos.
Maria_madalena
Madalena acordara bem cedo naquela manhã friorenta do início de Dezembro. Apesar das responsabilidades que sabia ter, a meretriz demorou-se mais alguns minutos entre os cobertores, estava simplesmente demasiado confortável para abandonar o leito àquelas horas. Infelizmente, tudo o que era bom acabava depressa e não tardou para que estivesse aprontada para sair com uma cesta no braço e o corpo totalmente cingido numa capa de tom azul-escuro, gola e capuz em pêlo.

Desceu a colina em passo acelerado, o vento gelado dificultava-lhe as respirações e fazia ondular a capa em torno do corpo, contrariando os esforços que fazia para mantê-la imóvel. Assim que entrou na cidade foi envolta pela costumeira azáfama de mercadores e pregões ásperos, distraindo-se por breves momentos numa banca de tecidos. O luzir discreto de um tecido branco trouxe-a de volta e Madalena retomou o passo acelerado.

A humilde casa de Lorena erguia-se à sua frente, lentamente aproximou-se, as memórias de um passado não muito distante a perturbá-la. Fora ali mesmo que recrutara Antonieta para a Babilónia, a bela ruiva que ainda hoje satisfazia os desejos carnais dos homens que por ela procuravam. Um ligeiro sentimento de remorso acometeu-a, afinal Lorena não tinha conhecimento desta verdade. Bem lá no fundo, Madalena sabia que lhe deveria dizer, por outro lado não queria arriscar a criação de um conflito. Com um suspiro fundo, enterrou aquele assunto e aproximou-se da entrada.


- Lorena!chamou ao mesmo tempo que batia duas vezes na porta.
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Lorena_davila
Lorena mal pregara olho durante a noite. Sentia o coração a bater depressa, tinha a boca seca e revolvia-se debaixo das mantas, sem descanso. Apanhara-se a sorrir para o escuro várias vezes , mas apetecia-lhe rir e sorrir ainda mais. As memórias dos amigos vieram-lhe à mente, mas um rosto destacou-se. O rosto sereno de Dinis, os seus olhos negros a sobressair-lhe da pele clara, o seu sorriso meigo...

Levantou-se. Os primeiros raios de um sol envergonhado de Inverno teimavam em entrar-lhe na janela e contrariavam o frio que se fazia sentir, mas que ela nem notou.

Hoje era o dia, o mais feliz da sua, ainda curta, vida e, esperava Lorena, o primeiro de muitos outros dias felizes.

Saiu a cantarolar à rua, onde foi buscar lenha para acender a lareira. Estava ainda a atiçar o lume, quando uma voz melodiosa e bem conhecida a chamou, e duas pancadas na porta ressoaram.
Lorena acorreu à chamada e abraçou Maria Madalena, mal a viu:

- Ai, Mada! Hoje é o dia! Não preguei olho! Estou tão feliz! - e rodopiando pela casa ao som da sua voz, deixou-se então cair num banco perto da lareira.
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Maria_madalena
Madalena recebeu e apertou com prontidão Lorena nos seus braços, tendo contudo cuidado para não desequilibrar a cesta que segurava no antebraço direito.

- Estou aqui para te ajudar! - disse-lhe entusiasmada e com um sorriso nos lábios.

Lorena rodopiou pela casa até se deixar cair num banco próximo da lareira, a meretriz seguiu-a num passo saltitante e sempre sorridente. Afinal de contas, aquele não era um dia para tristezas. Ocupando um lugar no banco em frente ao de Lorena, Madalena pousou a cesta no chão e perguntou-lhe:

- Como estás? Muito nervosa? Não viste o Dinis ainda, pois não? Dizem que ver o noivo no dia do casamento dá azar. E ele mora logo na tua rua... - falou tudo de uma vez só, ao que parece não era apenas Lorena que estava ligeiramente nervosa e entusiasmada.
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Lorena_davila
Lorena inclinou-se para a frente no banco, apoiou os cotovelos nas pernas e abanou energicamente a cabeça:

- Não, não! A Maria encarregou-se disso! Por falar nela, ainda não a conheces. É criada no Solar dos Camões, mas o pai do Dinis enviou-a de Alcobaça para me ajudar com as etiquetas e essas coisas. Há dias fiquei horas a aprender a andar, a sentar, a comer. Parecia um bebé! Mas ela é um amor! Vais gostar dela! Não deve tardar aí!

E dizendo isto, lançou um olhar inquiritório à cesta que Madalena trouxera, cuidadosamente tapada.
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Maria_madalena
As expressões do rosto de Madalena à medida que Lorena lhe ia falando das aulas de etiqueta com Maria, criada no Solar dos Camões, eram no mínimo cómicas, tal era o pasmo que sentia. Ao longo da descrição, a meretriz abriu algumas vezes a boca para fazer perguntas, acabando por nunca concretizar a sua intenção.

Assim que Lorena terminou, Madalena disse-lhe com um tom de preocupação na voz:


- Só espero que não tente reeducar-me... - ajeitou ligeiramente o decote e continuou parecendo sacudir as preocupações - És uma mulher cheia de sorte, vais casar-te com um rapaz de boas famílias, suponho que o sacrifício da etiqueta seja desprezável. Estou ansiosa por conhecer a minha homónima e o teu noivo. - sorriu-lhe ternamente.

Foi então que Madalena notou os olhares de curiosidade que Lorena lançava à cesta, um sorriso encheu-lhe o rosto e os olhos da meretriz brilharam.

- São umas coisinhas para te ajudar a relaxar e ficares ainda mais bonita. O Dinis vai achar que desposou uma deusa, confia em mim.
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