Sylarnash
Ad maiorem Dei gloriam colligimus
- (Para maior glória de Deus nos reunimos)
O Conde observava com inquietes o escudo que marcava a caixa, de médio porte, e, em madeira, que chegara às suas mãos e que tinha cuidadosamente pousado sobre a mesa à sua frente. As mãos, Sylarnash mantinha-as sobre o encosto de braços da poltrona onde se encontrava, a forma como estas moviam, a forma como os dedos batiam ritmicamente sobre o veludo do seu cadeirão sugeriam que se encontrava curioso, talvez até mesmo nervoso com o objeto que tinha à frente e do qual desconhecia a proveniência. Sylarnash enfrentava literalmente a caixa, procurando que esta lhe dissesse algo sobre o seu remetente ou conteúdo, mas esta, da forma como tinha sido concebida, mantinha na perfeição o seu segredo e, pouco, ou nada, dizia.
A caixa continha algo agarrado a si, talvez com uma espécie de resina ou outro tipo de líquido colante. Aquilo que mais chamara a atenção de Sylarnash não fora a forma ou o tipo de cola usada, mas o papel, dobrado em três, simulando um pequeno envelope, que se encontrava seguro e que permanecia selado, aparentando nunca ter sido violado. O selo redondo, de uma fina e avermelhada cera, continha as mesmas marcas do escudo esculpido na madeira. As marcas distintivas do escudo, as figuras, as peças e as cores do escudo, eram-lhe familiares, e o Conde poderia de imediato apontar uma pessoa que as usara, mas nunca as vira naquela posição, o que o deixara ainda mais inquieto com o teor daquela misteriosa caixa.
Sylarnash observou por mais uns momentos a dita caixa. Tentava agora obter informações sobre como chegara ela até si. Recordara-se que a recebera, em mãos, de um guarda que a encontrara à entrada da propriedade, fora estranhamente deixada perto dos portões, o que apontava que fora deixada por alguém do interior da propriedade, ou talvez alguém que a visitara. No entanto Sylarnash abandonou rapidamente a tentativa de identificar aquele ou aquela que enviou a coisa, qualquer um poderia ter tentado entrar à socapa na herdade e temendo ser apanhado abandonara a pequena arca ali mesmo. Fosse quem fosse receava ser identificado e, à revelia do que se passasse a seguir, abandonara a caixa ali mesmo.
Finalmente as mãos do Conde iniciaram uma viagem até ao fecho da caixa. Este parecia ter uma ranhura, talvez para algum tipo de chave ou outro objeto que a abriria. Após tatear o exterior da caixa por completo concluiu que pouco havia a fazer, para saber mais sobre o conteúdo no interior da caixa teria realmente que ler o que o pedaço de papel anexado partilhava. E Sylarnash não hesitou. Demonstrando um extraordinário cuidado o Conde de Óbidos quebrou o selo e abriu cada uma das partes do papel na sua devida direção, desdobrando-o, deixando a carta em posição legível.
Ao ler as palavras meticulosamente desenhas naquele pedaço de papel uma interjeição grave soltou-se da boca de Sylarnash.
- Impossível! - exclamou num tom estranho - Como é que pode isto ser verdade?
Os olhos de Sylarnash passaram vezes infinitas sobre aquelas linhas de texto. Algo o deixara perplexo e mal podia acreditar no que os seus olhos tinham à frente.
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