Beatrix_algrave
Era uma bela tarde de setembro em Alcácer. Beatrix caminhava pela Avenida dos Nobres, pois precisava entregar pessoalmente uma encomenda de um vestido.
Assim, ela caminhava observando as belas casas daquela região. Ainda não se acostumara com a mudança para a nova cidade e as veze se perdia pelas ruas de Alcácer. Voltou andando pela mesma rua, e depois de dar duas voltas pelo mesmo lugar, os pés já lhe doíam ao pisar sobre os paralelepípedos. Sem dúvida que se perdera.
Ela respirou fundo e parou, sentou-se a beira da Árvore da Luxúria para tomar uma fresca e recuperar o fôlego, enquanto mentalmente tentava se orientar.
Já havia algum tempo que Beatrix procurava um local para abrir seu atelier e voltar a praticar suas artes. Também não a agradava ficar morando de favor na casa de sua prima.
A "quinta do corvo" continuava em reforma e aquele local tinha histórias, histórias cruéis e assustadoras. Não gostava de ver André brincando nas antigas masmorras que pertenceram aos Casterwill. Talvez quem sabe um ou outro Nunes de Aragão não tenha perecido ali. A verdade é que o solar de Nicole ainda não tinha um nome, mas Beatrix o chamava assim, pois ao chegarem à propriedade havia muitos corvos sobrevoando, e isso lhe parecia um sinal de mau agouro.
Sem dúvida ela precisava de um local onde pudesse reconstruir sua vida agora longe da sua amada Montemor, e quem sabe encontrar um pouco de paz e segurança.
Ela continuaria trabalhando como tecelã, essa era sua profissão, mas queria muito se dedicar a outras artes além daquela. Em Alcácer já havia uma tecelagem, mas o que ela pretendia, era abrir um atelier de arte, onde pudesse também pintar e receber encomendas de retratos. Certamente isso não existia ainda em Alcácer, e nem nas cidades que Beatrix havia visitado em suas andanças.
Ela suspirou e tirou um pouco os sapatos para que os pés respirassem. Arrependeu-se de ter vindo a pé tão longe e ter deixado Desheret com Laurinda para que ela levasse algumas peças ao mercado.
Assim que recuperou-se Beatrix levantou-se e tomou o caminho que julgou mais adequado segundo os seus pensamentos. Seguiu novamente pela Avenida dos Nobres esperando chegar a rua certa dessa vez.
Ela tencionou parar e pedir informação a alguém, mas a rua aquela hora estava deserta. Enquanto se distraia buscando algum transeunte que a pudesse orientar, uma carruagem passou bem próximo e por pouco não a atropelou.
- Uma rua tão grande! Estais cego?
Ela ainda gritou vermelha de raiva, mas a culpa também era dela que não prestara a atenção necessária, por isso se calou. Até por que o homem já ia longe conduzindo a carruagem e seus dois cavalos.
Quando recobrou-se do susto, reparou que estava diante de uma casa muito peculiar. Era um sobrado de bom tamanho, parecia antigo e mal cuidado. Em frente à casa o mato crescia sem empecilhos. As janelas fechadas e o silêncio pareciam reforçar a impressão de que a casa estava abandonada, ou que talvez seus donos estivessem fora viajando.
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