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[RP] O discípulo

Johnrafael


Ouviu atentamente as palavras do Mestre Dimas. Suas palavras eram claras e sua voz parecia levar quem a ouvisse até o local da história. Poderia mesmo jurar que vira a flecha do ancião acertar a moeda.

Depois que Dimas concluiu, Johnrafael lhe respondeu.

-Mestre, não há apenas uma lição nessa história. Já agora, posso dizer-lhe três. A primeira é que a vaidade é um caminho para a ruína. A segunda, é que não se deve julgar os homens por sua aparência. A terceira, como uma continuação da anterior, é que nada é o que realmente parece, e há mais sobre o interior das coisas do que nossa mente possa imaginar. - fez uma pequena pausa - Devem haver outras mais, mas estas ainda não encontrei, me faria bem meditar um pouco mais sobre elas.

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--Dimas


Dimas tinha tomado as providencias para acomodar o jovem sobrinho do Prior ali no Paço, era bom que o jovem conhecesse a propriedade que de acordo com a vontade do tio seria algum dia dele. Assim naquela manha, poucos dias após o último encontro de ambos, Dimas se aproximou do quarto onde estava hospedado John.

- Bom dia John. Como vai o vosso meditar? - perguntou o velho mestre. Depois de escutar a resposta do jovem, lhe disse - acho que devemos conversar um pouco mais. Venha caminhe comigo. - propôs o mestre enquanto John se arrumava.
Johnrafael


- Bom dia John. Como vai o vosso meditar?- perguntou o Velho Mestre

-Não sei se estou indo bem mestre. Leio todos os dias na biblioteca do paço. Como bem, durmo bem, não tenho nenhuma preocupação, mas não descobri nada em especial.

Acho que devemos conversar um pouco mais. Venha, caminhe comigo.

Vestiu-se rapidamente, e seguiu o mestre, andando pelas salas do Paço, depois pelo exterior. Resolveu então tirar uma dúvida que lhe afligia

-Mestre, sempre que olho para esse disco, vejo o caçador, mas parece que alguns círculos ficam estranhos. Como se o cinturão ficasse borrado. Veja.


John pegou o círculo no bolso e segurou-o sob o sol. Os círculos que se formavam no chão mas pareciam esconder outra coisa, que não estava suficientemente clara. Riscou na terra úmida as sombras que via.



-Que marcas são essas mestre?

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--Dimas


Dimas sorriu ante aquela nova pergunta. E disse sem sequer olhar para as formas, pois conhecia a prova do disco. - Vosso mestre lhe deixou algo para elucidar esta dúvida que lhe aflige. Me dissestes algumas palavras que lhe legou o vosso mestre quando aqui chegou. Medite sobre elas, pois como a sombra depende da luz a luz depende da sombra, a ordem é apenas uma questão de perspectiva.

Agora ambos já se encaminhavam para o alto de uma colina, e dali mostrou ao longe uma parte do muro. - Diz-me John, acaso podes ver daqui de longe cada uma das pedras que fazem aquele muro ou elas se fazem borrosas e se fundem umas com outras?
Johnrafael


-Senhor, assim de tão longe, não consigo diferenciar todas. É certo que...

-DOM JOHN! UMA CARTA DE VIANA! - Um menino se aproximou, trazendo um envelope selado. Aquele era o selo de sua esposa.

Citation:
Dom Johnrafael,

É com pesar que lhe informo que vossa esposa não acordou esta manhã. Pedimos-lhe que venha o mais cedo possível a Viana para tratar das exéquias e do seu sepultamento, no mausoléu dos Viana.

Irmã Dolores
Madre Superiora das Irmãs Descalças de Santa Luzia de Viana


Sentiu como se uma facada rasgasse-lhe em dois. Dor e lágrimas surgiram em seus olhos. A mão de Dimas em seu ombro serviu de suporte. Serviu como aviso de que ele precisaria de força.

-Selem o meu cavalo! Agora! - Falou como se fosse o Senhor do Paço dos Arcanjos. E atenderam-lhe como se fosse mesmo. Logo o Cavalo estava selado e pronto.

Deixou o paço dos Arcanjos e seguiu em direção a Viana, para tratar das exéquias de sua esposa.

Algum tempo depois...

Um mensageiro vinha na direção oposta em desabalado galope:

-DOM JOHNRAFAEL! PARE POR FAVOR! Senhor, venho de Viana. Vossa esposa não está morta, foi apenas um ataque cataléptico. Quando ela voltou a despertar, o primeiro mensageiro já havia partido. - Disse o homem, tão rápido que teve que tomar todo o seu cantil de água imediatamente depois.

Logo, uma enorme sensação de Alívio o prencheu, e seguiu o caminho rumo a Viana, onde encontraria Fllora de Monte Cristo, em perfeita segurança.

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Johnrafael


No dia seguinte...

Voltou para o Paço, sem passar pelo Porto. Na noite anterior, sua esposa pedira-lhe que se separassem. Não sabia quando poderia voltar ao Porto e não queria seguir impedindo que Johnrafael vivesse sua vida. A única solução foi aceitar, afinal Fllora era uma mulher decidida e inteligente. Não voltaria atrás em sua decisão.

-Sinto muito pela sua esposa, Dom John. - Disse um guarda à entrada do Paço.

-Não sinta. Ela não morreu. Apenas deixou-me viver sem ela. Respondeu, com um tom que parecia desanimado, mas aliviado. Onde está Dimas?

-Creio que nas ameias, esperando o seu retorno.

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--Dimas


Dimas aguardava o retorno de John junto à um braseiro nas almeias do Paço. Daquele lugar ele observava as copas nuas das árvores do bosque que se estendia ao lado do Paço. Coberto em suas capas de inverno, curvado sobre si mesmo, imóvel naquela tênue luz, parecia uma pedra e não um homem, e apenas quando John ali chegou disse:

- Bem vindo de regresso jovem Escudeiro. - Era a primeira vez que Dimas se dirigia a John por aquele titulo que lhe conferia o grau que o rapaz possuía no seio da Ordem, mesmo que ele não o soubesse. - Espero que as noticias de vossa esposa não sejam tão terríveis como as que aqui lhe encontraram...
Johnrafael


-Bom dia Mestre. Minha esposa não está morta. Foi um estado de sono profundo. Narcolepsia. Peço desculpas por ontem. O que temos para hoje? - recostou-se nas ameias, ouvindo atentamente as instruções de Dimas.

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--Dimas


-Hoje deves descansar e meditar sobre o que vinhamos conversando ontem antes de vossa partida. - o velho fez uma pausa, sua respiração condensando no frio ar - amanha com a luz do novo dia talvez encontre a resposta aos vossos problemas. Podes se retirar menino. - Concluiu o velho dispensando John para que ele se recolhesse pelo que restava daquele dia findo. Dimas continuaria ali por algumas horas mais, até que a lua chegasse ao seu ápice, antes de se recolher. Já percebia a sombra próxima, mas ainda não lhe chegara a hora.

Algum tempo depois que John - Em breve deverei passar meu legado a outro. - disse em voz tão baixa que era quase como se estivesse a falar consigo mesmo enquanto passava o dedo sobre a gema de seu anel. - "Oportet quod sit tantum unum". - recitou as palavras em voz mais baixa ainda como se fosse um sortilégio. - "solum unum purus purpura apud prioratus concilium" - concluiu com um suspiro, ele já sentia em seus ossos que aquele seria o último inverno que ele veria...
Johnrafael


Naquela noite, enquanto refestelava-se numa tina de água quente, protegido do calor, olhava para as peças que se formavam misteriosamente. Uma questão de perspectiva, o velho dissera. Virou para um lado e para o outro, nada... Os borrões seguiam os mesmos. O que mais Dimas havia falado? De longe as pedras ficam borrosas, mas de perto...

-ISSO! - foi como um estalo. Levantou-se da tina, em trajes mínimos, e seguiu até o seu livro de forja. Abriu-o e leu a página que queria.




A bigorna, o martelo e a Crux Gladiata, são os símbolos da Irmandade, dizia o texto. Seria aquela a sua carta de admissão na Irmandade de Ferro, Círculo dos Armeiros e Artífices do metal da Ordem de Azure?

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Adriano


Os dias se passaram desde a última vez que o rapaz esteve ali para entender e resolver a prova do disco. Agora ele retornava para ser iniciado nos ritos da Ordem.

Um jovem aprendiz estava junto a John ajudando-o a preparar-se. Já lhe havia vestido uma longa túnica branca e agora lhe cortava os cabelos com a ajuda de uma faca que o jovem amolava em uma tira de couro grosso.

- Meu senhor, lhe peço que fique bem quieto agora, assim não vos corto.

E tendo dito isso, tomou outra lâmina e provou seu fio com a ponta do dedo, ficando satisfeito com o fio da lâmina, deixou-a de lado e tomou um pote com um unguento, que possuía o aroma característico da Aloe Vera, no qual inseriu um pincel e após mover-lo de um lado ao outro retirou o preparado aplicando-o sobre a cabeça do jovem Viana-Lobo. Retomou então a lâmina, deixando o pincel e o pote a um lado, e apoiando a mão livre logo abaixo da orelha do jovem, colocou o fio contra a pele do rapaz, e com expedita habilidade começou a raspar os cabelos que restavam na cabeça de John.

Satisfeito com seu trabalho, o rapaz recolheu aqueles apetrechos e os guardou em um cofre de madeira que colocou a um canto de uma mesa daquela cela e ao virar-se fez uma vênia a alguém que entrava pela porta.

- Hmpf. - foi o primeiro som que o velho fez ao avistar o agora careca John. - Um bom trabalho jovem Paulo. - disse em sua voz rouca. - Agora deixe-nos.

- Sim meu senhor. - respondeu Paulo se retirando e levando consigo o cofre de madeira.

O velho mestre Adriano tinha em seus braços um fino tecido verde semeado de flores de lis bordadas com fios de ouro. Uma capa que Adriano abriu e colocou sobre os ombros do jovem enquanto dizia.

- Em sua nova posição necessitarás novas roupagens, mas hoje ainda podes usar algo como isso.
Johnrafael


- Hmpf. Um bom trabalho jovem Paulo. Agora deixe-nos.

Aquela voz era perfeitamente reconhecível. Virou-se, limpando o resto do unguento que haviam usado para lhe raspar a cabeça com um trapo.

-Bons olhos o veem, mestre.

- Em sua nova posição necessitarás novas roupagens, mas hoje ainda podes usar algo como isso. - disse o velho mestre, enquanto Johnrafael ajustava a capa sobre a túnica.

-Tendes ainda mais alguma lição para mim, Mestre Adriano?

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Adriano


-Tendes ainda mais alguma lição para mim, Mestre Adriano?

- Hoje não. - disse Adriano com a voz rouca. - Hoje não. - repetiu alisando a capa sobre os ombros de John, e propinou-lhe um par de golpes logo a seguir. - Não tardes muito. Vosso tio o está esperando.

Adriano então saiu para se reunir com os outros na entrada da pequena forja do Paço dos Arcanjos. Ali estavam reunidos os nove membros do Alto Conselho, que dias depois realizariam a Cerimônia da Saída, momento no qual as três jovens que naquele momento percorriam o Labirinto d'Os Caminhos sairiam para a superfície novamente. Assim eles aguardaram a que John se reunira com eles.
Johnrafael
Saiu do quarto e desceu rumo à forja do Paço dos Arcanjos. A túnica de linho fazia-o sentir um pouco de frio. Pensava no que ocorreria a seguir. Medo, curiosidade, ansiedade, tudo se misturando nos seus pensamentos.Ao encontrar-se diante da entrada da forja, apresentou-se a um dos guardas que ali estava.

-Estou pronto.
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Yochanan


Um dos guardas levou John para o circulo que os mestres da Ordem formavam em frente à humilde forja do Paço dos Arcanjos. Indicando a John que se colocasse no centro do espaço.

Ali estavam os Nove Grandes, o Alto Conselho da Ordem de Azure. Cada um deles um mestre por direito proprio no caminho que havia escolhido, cada um deles representando um dos nove Círculos da Ordem:

Os vigilantes Grigori, os bravos Erelim, os silenciosos Azrai, os hábeis Fabri, os sábios Altai, os atentos Medali, os minuciosos Abbaci, os eruditos Iquimas e os misteriosos Arcani.

Todos eles vestiam as túnicas cerimoniais brancas e negras.

- John Rafael Viana Lobo, Escudeiro da Ordem da Cruz de Azure. - Chamou o Prior. - Vosso caminho o guiou até este momento e nenhum outro, assim devia ser pois assim foi decidido por ti ao longo do caminho que trilhastes. Vosso mestre lhe colocou adiante diversas provas e ensinamentos e relatou a este conselho o vosso desempenho. - Fez então uma pausa na qual o único som audível foi o crepitar da chama nas tochas que os iluminavam e o vento que as moviam fazendo as sombras oscilarem contra o chão.

- Maese Adriano, Comendador da Ordem da Cruz de Azure - Chamou o Prior. - Vos guiastes o teu pupilo nos saberes de tua Arte, o considerais digno da última prova?

Adriano então, vestindo as vestes negras da Ordem de Azure com uma faixa de negro, branco e azul, cruzada desde o ombro direito, da qual pendia a Cruz de Azure, se aproximou, e então John pode reparar que havia uma pequena diferença na insignia de Adriano, pois da medalha que pendia a Cruz, e na qual normalmente estaria gravado um arabesco cruciforme, havia uma figura em vermelho vivo, a figura da Crux Gladiata.

- Prior, Mestres do Conselho. Aqui perante vos lhes afirmo, não tenho nada mais a ensinar ao jovem escudeiro antes que ele passe pelo vosso crivo como tem sido desde o começo. Tudo o que lhe poderia ter ensinado para que chegue a este dia o fiz, ele está pronto e é digno do Sacramentum Hephaestum

O Prior assentiu.

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