Marramaque acorda na cama da estalagem onde se encontrava para ir para a cerimónia de inauguração da ordem.
Levanta-se calmamente, veste-se e vai para a sala de jantar, para tomar o seu pequeno almoço. Pede algo para comer, ao que a empregada lhe responde:
-
Já não estamos a servir pequenos almoços, já é muito tarde. Mas se quiser posso lhe arranjar algo.
-Como assim não servem pequenos-almoços? - Pensou Marramamaque carrancudo -
Traga-me algo para matar a fome então - Disse de forma algo agressiva.
E a minha sobrinha, já acordou? - Perguntou
Ainda não, senhor reverendo - Respondeu a empregada, retirando-se.
A sua sobrinha predileta tinha-o acompanhado. Insistiu imenso dizendo: "
Por favor tio, leva-me também. Vá lá. Já sabes que gosto dessas festas com pessoas importantes e nunca me levas! Vai lá estar toda a gente menos eu!"
Talvez não tenham sido estas as palavras exactas, mas servem para mostrar a vontade da rapariga de ir à festa. Marramaque, que já conhecia D. Sylarnash há muitos anos, sabia que este não se importaria de mais uma pessoa na festa. Assim sendo, levou a sobrinha consigo.
Enquanto esperava pela sua refeição foi à rua esticar um pouco as cansadas pernas. Ao olhar para o sol, fez as suas contas e pensou, dizendo para si, como se fosse ignorante:
-Espera aí... É meio dia... Oh meu Jah, estou atrasadíssimo!
Voltou a correr para a estalagem e gritou:
Arranje-me algo para comer na viagem! Para mim e para a minha sobrinha! Oh meu Jah, já vou chegar atrasado!
Dito isto, corre para o quarto onde estava a sobrinha, bate à porta fortemente e grita:
Arranja-te rápido e anda embora! Já estamos atrasadíssimos!
Marramaque correu para o seu quarto a arranjar a mala e trouxe-a para a entrada. Pagou a conta e guardou numa mala mais pequena alguns mantimentos para a viagem. Quando se encontrava a fazer isto, chegou a sua sobrinha que disse:
Para a próxima chama-me mais cedo, tio!
Marramaque quase nem ouviu e fez sinal para se dirigirem os dois para a carruagem que os ia transportar.
A estalagem não ficava muito longe da cidade de Óbidos. Cerca de quatro horas numa carruagem com cavalos frescos e vivaços. No entanto, já era tarde e Marramaque tinha a certeza que ia chegar atrasado. Já estava um pouco mal humorado.
Tirou a merenda para si e para a sua sobrinha que comeram enquanto faziam a viagem. Pouca conversa foi feita. Talvez pelo cansaço de uma noite pouco dormida, talvez pela má disposição causada pela falta de cumprimento de horários. No entanto, Marramaque foi sempre carinhoso para com a sua sobrinha, acolhendo a pequena sempre que esta mostrava necessitar. Marramaque teve até a impressão que Juana adormeceu por alguns minutos no seu ombro.
Chegados a Óbidos, vendo ao longe os jardins decorados disse para a sua sobrinha:
Estamos quase a chegar. Olha ali - Disse apontando para os jardins -
Já se vêem os enfeites da festa. Estás contente?
A sobrinha nem respondeu de tão concentrada que estava. No entanto, Marramaque reparou nos olhos brilhantes, ligeiramente lacrimejantes da sua sobrinha, que mostravam o contentamento desta por participar numa festa daquelas.
Chegados à festa de inauguração, começam a cumprimentar os conhecidos. Marramaque fez questão de se dirigir a Sylarnash, uma vez que já se encontrava atrasado, pedindo desculpas ao mesmo pelo seu atraso, ao mesmo tempo que contava a história da sobrinha. História essa que Sylarnash pareceu compreender e aceitar.
Após isso, Marramaque e a sua sobrinha dirigem-se aos seus conhecidos e familiares, cumprimentando o seu irmão mais velho, Kalled, e a sua irmã mais nova, Irises, ficando os quatro na conversa por alguns minutos.