Lorena encolhera-se no cobertor bafiento. Descobrira que quando ficava muito quietinha, o pé doía menos. Enquanto lhe chegava aos ouvidos a conversa de circunstância entre Dinis e Lúcio, ela pensava no que ouvira há pouco.
Ele apresentara-a como sua namorada. Sentira as faces quentes e o coração a bater depressa. Não tinha havido um pedido formal, mas ela também não tinha os pais próximos, de forma a fazer as coisas como era recomendado a uma menina de bem. Soubera-lhe bem ouvir.
Os acontecimentos das últimas horas tinham criado entre eles uma ligação muito mais forte do que a simples atracção inicial que tinham sentido. Lorena sorriu para si. Enterneciam-na os olhares de preocupação dele, a delicadeza com que a tocava, o respeito com que a tratava. Suspirou. Apesar do susto no pomar, dos perigos que tinham atravessado no rio e do pé torcido, a companhia de Dinis compensava tudo. Desejou ter a sua mão ali, para afagar entre as suas.
Levantou a cabeça do cobertor e, com voz trémula, perguntou:
- Ainda falta muito?O pé latejava e os solavancos da carroça tornavam a dor mais forte.
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