Maria_madalena
Madalena não conseguia conter os sorrisos tendo em conta a forma como Demétrio corava e se mostrava tímido perante mulheres, mesmo até perante Beatrix com quem convivia frequentemente.
- Estarei a mercê das senhoritas para tudo o que precisarem. - disse ele com o seu ar tímido e o rosto de um tom escarlate.
A meretriz sorriu novamente e abanou a cabeça de um lado para o outro. Perguntava-se se ele saberia das segundas interpretações que aquela frase poderia ter, provavelmente não e era isso que o tornava tão encantador. À menção de Arnold por Nicole, Madalena ficou séria, apenas havido ouvido falar do protector da sua irmã e a perspectiva de o conhecer naquele primeiro natal em família parecia-lhe animadora. A julgar por Eduarda, Nicole guardara todas as boas surpresas para aquele dia e deixara de fora os Casterwill de cruéis modos. O comentário de Nicole sobre as intenções de Demétrio consigo arrancaram-lhe uma gargalhada pouco contida. Prometia ser um Natal divertido.
- Eduarda queres descansar um pouco? - perguntou Nicole à pequena de cabelos ruivos.
Um olhar preocupado e estranhamente maternal surgiu no rosto de Madalena que de imediato colocou uma mão sobre o ombro de Eduarda, uma tentativa de a fazer relaxar e sentir-se mais à vontade.
- Se precisares de descansar ou outra coisa qualquer basta pedires. - reassegurou Madalena assim que ela abanou negativamente com a cabeça.
As palavras seguintes de Demétrio fizeram a meretriz perder o sorriso, o ano de 1461 havia, sem qualquer sombra de dúvida, sido um ano de revelações e perigos constantes. As revelações começaram pelo descortinar das suas origens, a sua mãe, agora falecida, fora a peça essencial daquela trama, agredindo Madalena verbalmente ao longo de todos aqueles anos, já para não falar da crueldade com que a introduziu no negócio de família. As suas primeiras experiências como prostituta não tinham sido fáceis. Foi somente no final, quando a morte bateu à porta de Júlia, que esta se arrependeu pedindo perdão por todas as palavras frias e gestos desprovidos de emoção. Madalena ainda não conseguira decidir-se quanto ao que sentia por Júlia e muito menos sabia se algum dia a perdoaria. Todavia o negócio continuava e, apesar de conhecedora dos sofrimentos do ofício, Madalena seguia com a tradição familiar. Os seus olhos recaíram então sobre Nicole, a sua meia-irmã de belas feições, todavia o ar angelical era facilmente esquecido assim que os seus hábitos intrincados de violência, opulência, vingança e luxúria afloravam. Não tinham um passado em comum mas o sangue que as unia era forte o suficiente para que fossem tão parecidas em alguns aspectos.
- Ainda quero fazer compras. - a voz da prima despertou-a daqueles pensamentos conturbados.
Madalena guiou os convidados até ao interior da sua casa onde deixaram alguns pertences, aliviando o peso dos alforges, e seguiram a pé para a feira. O caminho até à praça central não era longo e, com companhia tão agradável, Madalena nem se apercebeu do frio que sentia. Estava empolgada com aquela familiaridade e todas as possibilidades que aqueles afectos lhe abriam.
A feira estava movimentada, como seria esperar num dia daqueles. O ar frio estava perfumado pelo cheiro de incenso e diversas velas que ardiam discretamente numa das tendas, a mistura de fragrâncias tão cativante quanto enjoativa. Mais à frente vendiam pequenos soldadinhos e bonecas de madeira. As bonecas chamaram a atenção de Madalena que se delongou mais do que seria de esperar, os seus pensamentos estavam na meia-irmã mais nova. Não lhe conhecia a idade nem os hábitos, sentiu-se tentada a comprar-lhe uma das bonecas mas por receio de errar ficou-se exactamente por aí.
Seguiram pela feira, observando as diferentes barracas e artigos expostos. Tudo parecia festivo aos olhos de Madalena e as singelas decorações, alusivas àquela época, apenas serviam para lhe aguçar ainda mais o desejo por um natal quente e acolhedor. Passaram por um mercador que vendia perus gordos e ruidosos, aquela visão deixou-a preocupada, sabia que era normal assar o peru, mas não tinha a menor ideia quanto à sua preparação, não era uma mulher dada a tarefas domésticas e tinha o pressentimento que nem Nicole nem Beatrix saberiam o que fazer com o animal.
Aproximando-se de Beatrix que provava vinho quente com especiarias Madalena disse preocupada:
- Precisamos de um peru.
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- Estarei a mercê das senhoritas para tudo o que precisarem. - disse ele com o seu ar tímido e o rosto de um tom escarlate.
A meretriz sorriu novamente e abanou a cabeça de um lado para o outro. Perguntava-se se ele saberia das segundas interpretações que aquela frase poderia ter, provavelmente não e era isso que o tornava tão encantador. À menção de Arnold por Nicole, Madalena ficou séria, apenas havido ouvido falar do protector da sua irmã e a perspectiva de o conhecer naquele primeiro natal em família parecia-lhe animadora. A julgar por Eduarda, Nicole guardara todas as boas surpresas para aquele dia e deixara de fora os Casterwill de cruéis modos. O comentário de Nicole sobre as intenções de Demétrio consigo arrancaram-lhe uma gargalhada pouco contida. Prometia ser um Natal divertido.
- Eduarda queres descansar um pouco? - perguntou Nicole à pequena de cabelos ruivos.
Um olhar preocupado e estranhamente maternal surgiu no rosto de Madalena que de imediato colocou uma mão sobre o ombro de Eduarda, uma tentativa de a fazer relaxar e sentir-se mais à vontade.
- Se precisares de descansar ou outra coisa qualquer basta pedires. - reassegurou Madalena assim que ela abanou negativamente com a cabeça.
As palavras seguintes de Demétrio fizeram a meretriz perder o sorriso, o ano de 1461 havia, sem qualquer sombra de dúvida, sido um ano de revelações e perigos constantes. As revelações começaram pelo descortinar das suas origens, a sua mãe, agora falecida, fora a peça essencial daquela trama, agredindo Madalena verbalmente ao longo de todos aqueles anos, já para não falar da crueldade com que a introduziu no negócio de família. As suas primeiras experiências como prostituta não tinham sido fáceis. Foi somente no final, quando a morte bateu à porta de Júlia, que esta se arrependeu pedindo perdão por todas as palavras frias e gestos desprovidos de emoção. Madalena ainda não conseguira decidir-se quanto ao que sentia por Júlia e muito menos sabia se algum dia a perdoaria. Todavia o negócio continuava e, apesar de conhecedora dos sofrimentos do ofício, Madalena seguia com a tradição familiar. Os seus olhos recaíram então sobre Nicole, a sua meia-irmã de belas feições, todavia o ar angelical era facilmente esquecido assim que os seus hábitos intrincados de violência, opulência, vingança e luxúria afloravam. Não tinham um passado em comum mas o sangue que as unia era forte o suficiente para que fossem tão parecidas em alguns aspectos.
- Ainda quero fazer compras. - a voz da prima despertou-a daqueles pensamentos conturbados.
Madalena guiou os convidados até ao interior da sua casa onde deixaram alguns pertences, aliviando o peso dos alforges, e seguiram a pé para a feira. O caminho até à praça central não era longo e, com companhia tão agradável, Madalena nem se apercebeu do frio que sentia. Estava empolgada com aquela familiaridade e todas as possibilidades que aqueles afectos lhe abriam.
A feira estava movimentada, como seria esperar num dia daqueles. O ar frio estava perfumado pelo cheiro de incenso e diversas velas que ardiam discretamente numa das tendas, a mistura de fragrâncias tão cativante quanto enjoativa. Mais à frente vendiam pequenos soldadinhos e bonecas de madeira. As bonecas chamaram a atenção de Madalena que se delongou mais do que seria de esperar, os seus pensamentos estavam na meia-irmã mais nova. Não lhe conhecia a idade nem os hábitos, sentiu-se tentada a comprar-lhe uma das bonecas mas por receio de errar ficou-se exactamente por aí.
Seguiram pela feira, observando as diferentes barracas e artigos expostos. Tudo parecia festivo aos olhos de Madalena e as singelas decorações, alusivas àquela época, apenas serviam para lhe aguçar ainda mais o desejo por um natal quente e acolhedor. Passaram por um mercador que vendia perus gordos e ruidosos, aquela visão deixou-a preocupada, sabia que era normal assar o peru, mas não tinha a menor ideia quanto à sua preparação, não era uma mulher dada a tarefas domésticas e tinha o pressentimento que nem Nicole nem Beatrix saberiam o que fazer com o animal.
Aproximando-se de Beatrix que provava vinho quente com especiarias Madalena disse preocupada:
- Precisamos de um peru.
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