O peru posto sobre a mesa já mostrava seus ossos. Várias garrafas de vinhos haviam sido abertas, os barris de cerveja enchiam as canecas.
Havia uma alegria embriagante envolvendo a todos, até mesmo Arnold. Eduarda estava adormecida, e apenas comera um pouco de peru e do bolo de reis, do qual sorteara o anel e depois fora se deitar, cansada da viagem e desabituada a atividades noturnas.
A festa estava agora entregue aos adultos.
Beatrix bebia a sua terceira ou seria quarta caneca de vinho e agora se servia de cerveja. Também havia comido do peru, da rabanada e do bolo de reis.
Todos bebiam e iam ficando cada vez mais alegres e descontraídos. Cantigas de natal e de taverna foram entoadas na casa de Madalena enquanto a noite seguia.
Demétrio também bebia, como todos ali, despreocupadamente. Ele puxou Maria Madalena e depois Beatrix para dançar. Enquanto Demétrio dançava com Maria, Beatrix puxava Arnold para embriagados passos de dança.
O vinho era forte e bom, e misturado com a cerveja e o whisky foi o suficiente para levar aqueles convivas a um estado de embriaguez que faria com que na manhã seguinte, mal lembrassem do que havia acontecido. Todos, no entanto, depararam-se assustados com os resultados daquela noite, que de festiva e feliz, passaria à desastrosa por conta do abuso do vinho forte dos Casterwill.
Maria Madalena e Beatrix acordaram deitadas uma ao lado da outra, ambas com frio e desnudas, em um celeiro, que ficava perto de um lago, há pouca distância da casa de Maria Madalena.
No mesmo local em que as mulheres despertaram, estavam também Arnold e Demétrio, ambos próximos a elas, e igualmente sem roupas. Demétrio ainda teve o desprazer de acordar abraçado a um porco. A cabeça de todos ali latejava pela ressaca do vinho.
Na casa de Madalena, Nicole despertou, e o seu despertar foi igualmente perturbador.
Ela estava banhada em sangue. Perto de sua mão estava uma faca e caído diante de si estava um homem, que levara várias punhaladas. Nicole nunca vira antes aquele homem, mas pelas roupas, parecia ser um nobre ou alguém importante.
Havia sangue pelo chão e tudo indicava que havia acontecido uma luta, mas Nicole não estava ferida, também de nada lembrava.
Não havia sinal algum da presença de Eduarda, ela desaparecera da casa e ao perceber aquele cenário, Nicole ficou desnorteada, ainda mais por não ver ali sinal nem de Maria, nem de Beatrix, de Demétrio ou Arnold. Havia apenas roupas espalhadas pelo chão da sala e sobre a mesa onde a refeição fora servida.
Diante daquela situação constrangedora e assustadora, nenhum dos convidados da festa lembrava de absolutamente nada da noite anterior, após Eduarda ter se recolhido.
Agora seria preciso recolher os cacos da memória e tentar lembrar o que teria acontecido àquela noite, mas será que alguém iria mesmo querer tais recordações?
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Felizmente Eduarda foi encontrada horas depois na floresta, pois fugira assustada com o ataque de Nicole ao homem que entrou na casa de Maria.
A identidade desse homem, no entanto, para o bem de todos continuará um mistério. Quanto ao resto, é melhor esquecer. Às vezes o esquecimento é uma bênção.
FIM