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Aforas da Cidade do Porto - Paço dos Arcanjos

William_algrave


O homem era bastante alto, por volta de 1,90, seu olhar era como um lago verde e escuro, do qual nunca vemos o fundo. William devia ter aproximadamente uns trinta e cinco anos, e o rosto tinha uma expressão séria e respeitosa. Os cabelos eram castanhos com fios mais claros, e sua tez tinha um leve bronzeado. Ele fez uma mesura ao jovem Viana e à donzela que o acompanhava.

- Saudações, jovem senhor, saudações senhorita. Chamo-me William Algrave e venho para trazer-vos o corpo que deverá receber as devidas exéquias para que vosso tio encontre o descanso e a paz. Sei que é uma situação delicada e muito teria que explicar, mas espero contar com a vossa discrição, pois tudo será esclarecido a seu tempo. Desejo minhas profundas condolências à família Viana.

Ele disse respeitosamente e suas palavras expressavam a verdade, pois de fato o prior dos Azure estava morto e o funeral traria finalmente a paz à sua alma. Ou a menos era decerto o que se esperava.
Johnrafael


William Algrave. Conhecia-o de nome. Era irmão de Beatrix, mas não haviam sido apresentados antes. Ao menos, aquele homem pareceu-lhe melhor que o último que conhecera das terras do norte. Parecia infinitamente mais confiável que o tal Casterwill.

-Sim, senhor, será feito. Tratarei o mais rápido possível disso, com a ajuda de minha prima. A viagem é longa, e deves estar cansado. Ficaria satisfeito se o senhor ficasse e descansasse. Sissi, está tudo bem para ti continuar aqui até o sepultamento? Seria bom haver mais parentes neste funeral.

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Celestis_pallas


Ao ser comunicada que sua prima Sissi Edelweiss estava prestes a chegar no Paço dos Arcanjos, Celestis de imediato dirige-se para lá. Sabia bem que a prima não fora antes à sua casa porque necessitava prestar luto à sua ama, Madame Dummond, recém sepultada naquelas dependências. Mas sabia também que havia um segundo interesse. Depositou seu anel de pedra rubra no dedo indicador - o dedo cujo anel lhe servia - como um indício de seu respeito eterno para com a senhora Dumond, montou em Tânder e saiu.

Ao chegar no pátio, avistou uma cena estranha: John Rafael e Sissi Edelweiss conversavam com um misterioso, porém bem apresentável rapaz. Próximo a eles, uma retangular caixa de madeira que causou-lhe arrepios devido à sua aparência fúnebre. Pensou em correr até a prima e livrar-se das saudades que sentia, mas tanto a dama quanto o primo estavam com um semblante seríssimo e pesaroso. Ela mesma não era capaz de tamanha efusão diante daquele estranho artefato.

Lentamente, desceu da montaria. Pé ante pé, seguiu a caminhar em direção dos três. A grama mal produzia barulho. Então estacou no meio do caminho entre aqueles jovens e os portões. Estava apreensiva, algo certamente ocorrera. Só esperava que não fosse mais uma morte, seu coração não seria capaz de suportar. O que Celly não imaginava era que se tratava de seu próprio pai falecido.

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Sissiedelweiss
-Sissi, está tudo bem para ti continuar aqui até o sepultamento? Seria bom haver mais parentes neste funeral. diz John.

-Claro que fico para o sepultamento do nosso tio. Só irei comunicar nossos parentes.. Com licença..

Ao virar-se para entrar no Casarão, vê Celly, que olha com cuidado a cena e a caixa. Vai até a prima e a abraça. Depois olha para ela e diz:

-Amada prima. Que bom que chegaste. O corpo de teu pai nos foi entregue. Agora podemos velar e sepultar teu pai com dignidade.. John cuidará destes detalhes do caixão. Temos de comunicar nossos familiares e organizar o salão principal para o velório.. venha comigo prima...


Sissi praticamente arrastou a prima dali e levou-a para dentro do casarão. Celly parecia transtornada com a situação.

Quando dentro do casarão, Sissi pediu a um empregado papel e uma pena. Além disso, pediu chá para as duas moças.. Após terminar de escrever as cartas que eram necessárias e despacha-las, chega ao lado da prima que ainda estava estupefada e lhe diz:


-Prima, estás bem?

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"O amor é fogo que arde sem se ver, é ferida que dói e não se sente, é um descontentamento descontente.. É dor que desatina sem doer"
Celestis_pallas


- Sim. Embora meus sentimentos estejam confusos, é uma sorte que tu estejas comigo em momento tão difícil!

Celestis referia-se à ocasião em que soube da condenação de seu pai. Fora um dia horrível, pois deu-se logo após o batismo de Yochanan, ou seja, toda a felicidade da celebração havia sido abruptamente ceifada. John agira com a frieza de sempre e Ava fora muito dura ante a reação inesperada de Celly. Agora, a menina recolhia seus sentimentos, mesmo em presença da prima. Sabia que não adiantava fraquejar, desmaiar, ou mesmo, ficar em prantos ante uma realidade que não poderia ser jamais alterada.

O chá chegava em boa hora. Calmamente, sorveu-o todo. Não tinha ânimo para levantar-se, portanto, pediu um favor à prima.

- Ainda estou magoada com Ava e por motivos que nesta ocasião não vem ao caso. Mesmo assim, convém escrever-lhe uma carta e avisá-la de que o "prior" já se encontra aqui para ser sepultado. Além disso, John Rafael deve a minha vizinha algumas desculpas por ter desconfiado tanto dela à época do sumiço do corpo. Faz-me este favor?

Repousou então a xícara sobre uma mesinha próxima e deitou-se num banco adornado por almofadas. Seu coração batia forte e suas mãos estavam frias. Estava ansiosa pelo enterro, sem saber como reagiria.

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Sissiedelweiss
- Ainda estou magoada com Ava e por motivos que nesta ocasião não vem ao caso. Mesmo assim, convém escrever-lhe uma carta e avisá-la de que o "prior" já se encontra aqui para ser sepultado. Além disso, John Rafael deve a minha vizinha algumas desculpas por ter desconfiado tanto dela à época do sumiço do corpo. Faz-me este favor? diz Celly

-Claro prima, farei o que me pede..

Saiu da sala rapidamente e encaminhou um guarda para avisar a Dama Ava.

Voltou e sentou na ponta do banco onde Celly estava. Olhando a prima e fazendo carinhos em seus cabelos falou:

-Prima, deves ser muito difícil perder o pai. Nem consigo imaginar se fosse o meu. Principalmente por tanta demora até seu velório.. Teu coração deve estar angustiado. Agora es o momento que podes chorar, pois está somente nós duas e ainda não temos que decidir nada. Se quiseres, podemos ir para teus aposentos e deixar que os guardas organizem o salão para o velório.

Celly derruba de seus lindos olhos, algumas lágrimas silenciosas.. Sissi ajuda a prima a se levantar e a acompanha até o quarto.

No quarto Celly deita sua cabeça no colo da prima. Sissi faz carinhos nos cabelos de Celly, mas se mantém silenciosa.. Sabia que a prima chorava. E o que podia fazer era dar aconchego a prima..

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"O amor é fogo que arde sem se ver, é ferida que dói e não se sente, é um descontentamento descontente.. É dor que desatina sem doer"
William_algrave


- Ficarei certamente. Trouxe comigo três oficiantes que irão presidir a cerimônia fúnebre. Essa era a vontade de vosso tio.

Ele disse e apresentou três homens de vestes escuras que desceram da carruagem pouco depois.

Ao notar a presença da senhorita Celestis, William fez-lhe uma vênia respeitosa antes que ela deixasse sua presença, retirando-se para o interior da casa, acompanhada pela prima. Certamente aquela situação a deixava muito abalada.

- Meus pêsames, senhorita.
Johnrafael


- Ficarei certamente. Trouxe comigo três oficiantes que irão presidir a cerimônia fúnebre. Essa era a vontade de vosso tio.

A aparição de Celestis, a seguir, foi uma intrusão à qual o Viana (não mais o jovem Viana, mas o único) já devia esperar. A reação ao saber que o caixão que ali estava era o de seu pai foi mais calma do que esperava.

-Muito bem. Há necessidade de preparar o corpo ou os oficiantes já trataram disto? Gostaria de permitir à família que o visse uma vez mais antes de sepultá-lo, então precisaria vesti-lo em seus trajes cerimoniais e depositar consigo sua espada, que tenho guardado para esta ocasião. Já faz mais de um mês...

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Arcani


Os três homens de negras vestes monacais fizeram respeitosa vênia ao jovem Viana, e antes que William pudesse responder um deles o fez.

O corpo do Prior já foi tratado. - respondeu Bettino, um dos três abençoados, com forte sotaque italiano. - Mas no creio que seja uma visione que honre al memória de vosso tio. Quando o encontramos, haviam já se passado moltos dias, e ver-lo assi no é o que ele desejaria para sua famiglia.

Para então Bento, o mais novo, já havia desfeito os nós que amarravam a caixa na qual havia sido transportado o corpo e com a ajuda de Benas, silencioso como sempre, retirava a mortalha contendo o corpo do falecido.

- Esta noite faremos a Vigília, e a Ordem honrará o Caminho do Prior, como é o costume, se o senhor e as senhoritas desejarem acompanhar-nos serão bem vindos. - cruzou Bento segurando ali onde estariam as pernas enquanto Benas segurava dos ombros, a peça da mortalha que cobria a cabeça parecia estranhamente afundada como se faltasse o nariz e algo mais daquele rosto.

As três figuras de vestes escuras começaram então uma pequena procissão em direção às ruínas que se erguiam no alto da colina, ali, sobre uma mesa de pedra depositaram a mortalha e se dispuseram em torno do corpo, a chegada do corpo do Prior já era sabida em todo o paço e aos poucos foram chegando os demais Azure que ali permaneciam. Fechando círculos em torno da mesa de pedra. O último a chegar foi Maese Teodoro, quem com seu passo lento estava acompanhado por dois de seus aprendizes, cada um carregado de velas.

Nove foram dispostas em torno do corpo, e outras tantas distribuídas entre os azure mais velhos. Em silenciosa prece o corpo seria velado pela Ordem durante a Vigília que duraria até a primeira luz elevar-se no oriente. Só então teriam inicio os demais ritos fúnebres.
Johnrafael


Johnrafael era um Azure tanto quanto os outros habitantes daquele Paço, mas iniciado por intercessão de Yochanan, era apenas escudeiro. Sua lealdade maior, desde sempre e para sempre, seria com a Águia Negra dos Viana e não com a cruz prateada de Azure. Assim sendo, deixou que os verdadeiros cavaleiros da Ordem seguissem com as exéquias à sua maneira. Mas Celestis poderia querer estar lá. Subiu então aos aposentos onde Sissi Edelweiss e Celestis Pallas estavam.

-Os Azure velarão o senhor por toda a noite, e perguntam se sua filha e sobrinha desejam acompanhá-los em vigília. Sissi, enviaste os mensageiros para nossos parentes?

Notou por fim que Celestis parecia abatida. Tocou-lhe o ombro e falou:

-Nos tempos de tormenta, a força prova seu valor, minha pequena Celestis. Não és mais uma criança ávida por bolos, mas uma Viana, forte e impetuosa como o sangue manda. Seja por vosso pai a filha forte que ele sempre sonhou. Este é o vosso sangue, é o vosso destino.

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Sissiedelweiss
-Os Azure velarão o senhor por toda a noite, e perguntam se sua filha e sobrinha desejam acompanhá-los em vigília. Sissi, enviaste os mensageiros para nossos parentes? diz John

-Sim, John, mandei mensageiros para todos os nossos parentes. Irei a cerimônia dos Azure, se Celly quiser ir..


E espera uma resposta da prima..

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"O amor é fogo que arde sem se ver, é ferida que dói e não se sente, é um descontentamento descontente.. É dor que desatina sem doer"
Celestis_pallas


Celestis sabia, no fundo de suas entranhas, que o sangue Viana corria por aquelas veias. Entretanto, convinha não superestimar-se, o evento era deveras recente e não estava livre, portanto, de fraquejar... Como qualquer ser humano.

Sentindo ali também alguma humanidade no primo, ao qual outrora julgara tão mal por sua aparente frieza, proferiu:

- Muito agradecida pelas alentadoras palavras, John. Pode não parecer, mas estive, durante dias, a preparar-me para tal momento. Não é necessário preocupar-se, farei o possível para sempre corresponder às expectativas de meu pai em vida.

Suas palavras eram muito assertivas. Possuía o claro desejo de, cada vez mais, estabelecer-se como uma mulher Viana, embora se sentisse dilacerada.

Sissi, carinhosamente, deu-lhe a mão como se fosse uma irmã e rumaram ao local da cerimônia fúnebre.

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Johnrafael


Saindo as donzelas para as exéquias de Yochanan, Johnrafael tomou ele próprio seu manto negro e pôs-se a caminho da colina, para unir-se à prece silenciosa dos Azure pela alma de seu tio, deixando aos intendentes do paço a responsabilidade de receber os parentes que porventura viessem.

-O Portão só deve ser aberto para a família do prior, entendido?

-Sim, senhor.

-Que haja comida para os que sentirem fome e vinho para os que sentirem sede ou fraqueza. Não deixe que falte nada a nenhum Viana.

-Perfeitamente, senhor.

Recomendações entregues, juntou-se às primas, próximo a mesa de pedra onde seu segundo pai jazia, sem vida.


OOC: Espera-se a presença de mais familiares neste funeral.

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Sissiedelweiss
A noite velando do corpo do tio, passou muito rápido. Sissi sentia-se cansada e necessitava chegar em casa, tomar um banho e quem sabe descansar.

Com esse intuito, fala baixinho a prima:

-Celly, tenho de ir na casa de meus pais. Devem querer noticias nossas.. Vou até a casa dos meus pais, tomo um banho e volto com eles.. Vais ficar bem?

Celly balança a cabeça afirmativamente. Sissi lhe dá um beijo no rosto e sai silenciosamente do local.

Perto do casarão, Carlos à espera com os cavalos prontos. Sissi sobe em seu cavalo e diz a Carlos:

-Logo voltaremos. Vamos a casa dos meus pais o mais rápido possível.

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"O amor é fogo que arde sem se ver, é ferida que dói e não se sente, é um descontentamento descontente.. É dor que desatina sem doer"
Celestis_pallas


Citation:
-Celly, tenho de ir na casa de meus pais. Devem querer noticias nossas.. Vou até a casa dos meus pais, tomo um banho e volto com eles.. Vais ficar bem?


Celestis assentiu com a cabeça, mas não com o coração. O dia avançava, o que a deixava cada vez mais angustiada. E os parentes demoravam a vir. Certamente a última coisa que Yochanan pensara era em morar num lugar mais próximo. Esperava, entretanto, que já estivessem a caminho. Quanto antes o corpo fosse sepultado, melhor. E agora a prima já não estava mais com ela. O que a confortava era saber que John não abandonaria o funeral até que o mesmo fosse completamente consumado.

As velas derretiam numa velocidade assustadora. A brisa da noite fazia as honras de soprar aquelas chamas. Um cavaleiro da ordem, de tempos em tempos, fazia o favor de reavivar o fogo. Afinal, as lembranças do velho prior não poderiam se apagar.

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