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Aforas da Cidade do Porto - Paço dos Arcanjos

William_algrave


William acompanhou todo o rito fúnebre de preparação para o sepultamento. Procurou ser uma presença discreta junto dos outros azure, oferecendo sempre que possível os seus préstimos à família ali reunida. O momento era reservado apenas aos parentes próximos e amigos mais chegados. Sempre de trajes escuros por conta de seu luto pessoal, o hiberno parecia estar devidamente vestido para aquela triste ocasião.

Ele pedira apenas para lavar o rosto, e assim ficar um pouco mais apresentável. Precisava também trocar os curativos de seus ferimentos, mas manteve esse fato desconhecido dos demais. Os ferimentos em seu tórax ainda lhe incomodavam um pouco, mas essa era a menor de suas preocupações no momento.

As horas seguiam tediosas, enquanto preces eram dirigidas ao silêncio. William manteve-se desperto sem dificuldades, durante toda a vigília, graças a sua disciplina e determinação naturais.

Assim, ele continuou acompanhando os ritos fúnebres silenciosamente próximo da família até o sepultamento. Àqueles que se retiravam ele despedia-se com um aceno respeitoso de cabeça. A família do prior apesar da tristeza parecia conformada. As demonstrações de luto eram pesarosas, mas discretas, demonstrando força mas também união entre os familiares.
Sissiedelweiss
Uma carruagem pára nos portões fechados do Paço. O cocheiro identifica-se:

-Sou Carlos, estive aqui a pouco tempo com a senhorita Sissi. Volto com a senhorita e seus pais.

A carruagem entra e na frente do casarão pára novamente. Sissi, Dom Querobim e Dama Laylla descem da carruagem. Dom Querobim e Dama Laylla estão muito abatidos com a morte do tio e grande amigo de Querobim.

Sissi os guia aonde estava ocorrendo o velório. Após chegarem, cumprimentam os parentes ali presentes e Dama Laylla e Sissi ficam ao lado de Celly. Dom Querobim estava muito triste e quieto pela morte do amigo e tio.

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"O amor é fogo que arde sem se ver, é ferida que dói e não se sente, é um descontentamento descontente.. É dor que desatina sem doer"
Arcani


A primeira luz da alvorada clareava o horizonte após aquela noite de vigília ante a mortalha do Prior. Desde o alto da colina foi fácil para os três abençoados divisarem a primeira claridade que anunciava o fim da vigília, pois era naquela hora de penumbra quando o sol ainda não havia surgido no horizonte e a escuridão da noite iniciava sua retirada que os costumes tinham que seria realizado o funeral.

Benas, que havia feito voto de silêncio ergueu as mãos, as palmas voltadas para a alvorada e ergueu a cabeça, o olhar aos céus. À sua direita Bettino ergueu o lume que segurava enquanto à esquerda Bento fazia o mesmo.

Dos três Bento era o mais jovem e foi ele o primeiro a falar, e sua voz ressoou clara no silêncio da noite e todos puderam escutar aquelas palavras:

"- Foi no inicio quando não existia nada que tudo havia, no tempo fora do tempo surgiram a Luz e a Sombra pois apenas na existência de ambas existem as coisas e apenas no Equilíbrio delas existe a verdade da vida."

Foi então a vez de Bettino falar, e sua voz soou grossa em contraste com o tom juvenil de Bento.

"- Mas para que exista a vida deve haver a morte, para que haja a morte deve haver a vida, pois assim como na vida há morte, na morte há vida. Como na Luz há Sombra na Sombra há Luz, essa é a natureza do Equilíbrio, essa é a única Verdade do mundo."

Novamente Bento tomou a palavra e recitou:

"- Na eterna dança entre a Luz e a Sombra vivem os Homens, e nela interferimos e nela auxiliamos com nossas ações e nossos fazeres. A humanidade tem o poder de alterar o Equilíbrio e destruir-lo ou de manter-lo e salvar a existência."

Bettino então disse:

"- Hoje despedimos um servo do Equilíbrio, um protetor da Verdade, ele deu sua vida para que o Caminho do mundo não caia nos abismos do Nada. Hoje e para sempre o honraremos pois seu sacrifício permitirá que o Equilíbrio seja mantido."

O final daquelas palavras coincidiu com o aparecimento do disco solar sobre as colinas do oriente, dando um tinte dourado ao mundo naqueles primeiros momentos do raiar do sol. Benas abaixou as mãos e as velas mantidas acessas durante a vigília foram apagadas. Os três guiaram a procissão que desceu a colina, não por onde haviam subido, mas pelo caminho do lado oposto o qual findava em uma construção que se mimetizava com as ruínas logo acima, parecendo tão antigas como aquelas, mas tal era impossível, pois sobre o pórtico se podia ler uma única palavra talhada no mármore que cercava aquela boca aberta na lateral da colina 'VIANA', sobre o A central a figura de uma águia se erguia majestosa. Sem ser observada de perto aquela pequena passagem coberta parcialmente pela vegetação poderia ser facilmente passada desapercebida e portanto era possível não saber de sua existência ainda mesmo após longo tempo vivendo na propriedade. Os três se detiveram, e também o fizeram os que carregavam o corpo amortalhado que os seguiam, e após este os demais que seguiam a procissão.

Benas tocou a águia e fazendo uma ligeira pressão afundou um disco que a cercava e a girou uma volta completa, tal destrancou a porta de ferro que bloqueava a entrada e revelava o caminho para a antiga cripta da Família Viana. Da forma como estava construída a primeira luz do dia iluminava-a até o fundo do longo corredor, revelando a existência de um pilar de mármore branco sobre o qual estava colocada uma lanterna de bronze. Benas, de cabeça baixa, foi o primeiro a entrar carregando agora um lume que lhe havia sido entregue por um jovem cavaleiro da guarda do Paço. Utilizando-se daquela luz, ele acendeu a lanterna central. Nas paredes sombras bruxulearam nos nichos abertos, e ao fundo uma escada em espiral mergulhava nas profundezas da colina. A maioria dos nichos já estava lacrada com cal e canto e sobre este pequeno muro uma laje esculpida com a efígie do ocupante. Baixo um dos rostos que John poderia achar parecido ao seu se podia ler Raphael Vianna e duas datas, com três dígitos cada, uma a cada lado de uma cruz de azure de prata cujo brilho estava ofuscado por séculos de pó. Aquele era um dos primeiros Viana a se unir à Ordem no passado.

A procissão seguiria até a escada, e descenderia no frio seio da colina por duas voltas da mesma até chegarem a um novo corredor que como o primeiro possuía nichos cavados nas laterais, em um dos nichos foi colocado o corpo, e a parede foi fechada. Restaria ali apenas colocar a laje com a efígie do Prior. Aquele seria o local de seu repouso final.
Celestis_pallas


Incontidas emoções preenchiam sua alma. Conforme avançava pelo Paço naquele dia tão fatídico, lembrava-se de cada passo, de cada nuance de voz do prior, seu pai. O aroma da comida, sempre farta; a música dos jantares, cuja sequência já sabia decorada... e o exímio manejo das armas. Também era com profundo amor que se lembrava das vezes que fora arrebatada em seus braços, ainda miúda; o beijo sempre terno em sua face e os sorrisos abundantes. Sentir cada fragmento daquela saudade lhe doía o coração e doeria ainda mais conforme os dias avançassem, isso era certo. Mas ter de permanecer ali, mergulhada num luto que parecia nunca ter fim, era deveras dolorido também. Possuía, sobretudo, pena de Yochanan pelas batalhas que já não mais enfrentaria, os estudos que já não aproveitaria e os amores que não mais teria. Toda a atmosfera agora era vazia, como se o livro da vida tivesse uma de suas páginas arrancada pela ação da morte cruel.

- Terminem isso logo, será melhor para todos... - sussurrou. Duas lágrimas rolaram pelo seu rosto branco e abatido.

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Ava


Finalmente chegara o momento de se dirigir ao Paço. De passo confiante com o pedaço de pregaminho guardado na bolsa, Ava caminha. Por instantes apercebe-se de que não traja o negro tipico do luto, mas também não sabe se o deveria trajar ou não. Ao chegar ao Paço, é detida pelos guardas que apenas deixam passar os familiares.

- Por favor, poderia chamar a Dama Cellis para mim? Ela solicitou a minha presença no funeral do Prior.

Ava aguarda que um dos guardas volte juntamente com Cellis e lhe permita a sua entrada para finalmente cumprir com o que lhe fora pedido.

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Celestis_pallas


Celestis seguiu até os portões escoltada por dois robustos soldados. Assim que avista Ava, faz um gesto para que os guardas a deixem passar:

- Ava, és sempre mui bem-vinda ao Paço dos Arcanjos - profere Celestis, a realizar uma vênia - Adentre o recinto e perdoe-nos pelo excesso de segurança, faz-se necessário.

Durante o caminho, Celly se desculpa pelo ocorrido nas masmorras, sobretudo, pelo fato de seu primo ter sido tão rude. Já havia relatado em carta, mas pensou que seria melhor que a sua vizinha ouvisse de seus próprios lábios, apenas para que as desculpas não ficassem somente nas formalidades. Sua respiração era curta, a denotar certo cansaço físico e emocional.

Enfim, alcançam o mausoléu. A filha de Yochanan esperava que John Rafael não reagisse mal ante a presença de Ava. A fim de abrandar sua ansiedade, apresentou-a à prima Sissi Edelweiss, esperando que pelo menos fossem capazes de socializar para deixar Ava mais confortável naquele ambiente.

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William_algrave


William acompanhou com espírito contrito todo o ritual do funeral até seu momento derradeiro. Ele notou as lágrimas que brotaram nos olhos da jovem Celestis e isso apertou um pouco o seu coração. Ele pensou em sua própria família e em sua irmã. Pensou na perda de seu próprio pai. O Hiberno queria dar palavras que trouxessem alívio, mas sabia que as palavras que realmente trariam o refrigério não poderiam ser pronunciadas, não naquele momento. Assim, ele quedou-se, olhou para os arcani como se reforçasse o pedido que saiu dos lábios tristes da jovem Celestis.

William notou a presença da jovem Dama Ava. Sua chegada se dava no momento certo. Ele não queria manifestar que se conheciam, mas ele iria intervir, caso algum dos Viana não tratasse a jovem de maneira justa.

Sissiedelweiss
Sissi junto com sua mãe, amparam Celly neste momento difícil. Fala baixinho em seu ouvido:

- Cara prima, é um momento muito triste, mas tem de ser vivido até o final.. estarei contigo.

Sissi olha em volta e percebe a presença de uma dama que não conhece.. Não presta muito atenção, mas vê o olhar de Willian acompanhar a dama.
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"O amor é fogo que arde sem se ver, é ferida que dói e não se sente, é um descontentamento descontente.. É dor que desatina sem doer"
Johnrafael


Acompanhou os Azure na procissão até a Cripta da Família. Dentre os túmulos, havia um "Raphael Vianna". Decerto o parente de quem herdara seu nome de batismo. A visão o incomodou por um segundo, mas logo o desconforto passou. Os homens depositaram a pedra que sepultava o Prior e em seguida John saiu.

Ao encontrar-se no meio dos demais novamente, notou a presença de Ava. Olhou-lhe com desdém e cuspiu no chão.

-Quem deixou esta mulher entrar aqui? - perguntou, visivelmente irritado a um dos guardas.

-Foram ordens da senhorita Celestis, senhor.

Irritou-se mais ainda. Aproximou-se de Celestis, e tomando-lhe pelo braço, falou, em tom sério:

-A morte de teu pai enlouqueceu-te? Que pensas que está fazendo, trazendo aqui a assassina dele? Espero que tenhas um bom motivo, ou mando prendê-las agora mesmo!

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Querobim


Quêro, que acompanhava a cerimônia triste de exéquias de tio Yochanan, vê Rafael chamar Celestis de a parte parecendo muito irritado. Aproxima-se dos dois e cautelosamente fala.

-- Rafael, É um momento bastante difícil. Contenha-se. Não importam os motivos de Celestis, a escolha é sempre dela. Continue o que fazia antes, deixe Celestis em sua dor.

E olhando ao longe, num canto escondido, vê sua tia Vivian. Sabendo de seu sofrimento, aproxima-se e acolhe a tia num abraço.

-- Minha tia, venha, junte-se a nós, estaremos, eu e Laylla, sempre a teu lado.

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Johnrafael


Querobim não lhe descia. Sua presença nunca lhe fora agradável. Sua mania de conciliador irritava o jovem Viana, que impulsivo e irascível, controlava-se em respeito a mãe. Largou o braço da prima e dirigiu-se ao homem.

-Dom Querobim, não sei se sabes, mas foi essa mulher que assinou a sentença de morte de Dom Yochanan. Foi essa mulher que deixou que roubassem e profanassem o corpo de nosso tio, entregando-nos apenas um cadáver desfigurado. Ou nem isso, porque não foi por sua obra que ele chegou para ser sepultado. A vossa benevolência para com essa infeliz é odiosa.

Despejando todo o seu descontentamento, beijou o anel nos dedos de sua mãe e cumprimentou-lhe, o florido da cortesia que não era com ninguém mais.

-Bons olhos a veem, minha mãe e senhora.

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William_algrave


Ao notar que um burburinho se armou em torno da presença da Dama Ava, William aproximou-se e postou-se ao lado da Dama. Ele preferia que a própria família resolvesse aquele assunto, mas como prometera a si mesmo, não permitiria que a Dama fosse insultada nem agredida. Foi com alívio que viu que um dos parentes conteve o jovem Viana.

- Não há necessidade disso, acredite-me, essa Dama não carrega culpa pelo que aconteceu ao senhor vosso pai, nem estava em suas mãos evitar o que aconteceu.

William disse dirigindo-se especificamente a Celestis, que parecia ser mais racional que John Rafael naquele momento. Ficou ao lado de Ava, e não permitiria que nada de mal lhe acontecesse.

Ava


Ava acompanha Cellis, que se encontra visivelmente abatida e por momentos sente o seu coração apertado por ela estar a passar por todo aquele sofrimento, entendendo bem o que ela esta a passar, visto que perdera a sua mãe recentemente. Escutando-a atentamente, aceita as suas desculpas. Chegando perto do Jazigo de familia, encontram John, que não perde tempo e mostra toda a sua educação cuspindo no chão e falando de um modo que Ava não gosta com Cellis.

Rapidamente vários familiares se aproximaram e tentaram controlar a fúria do jovem Viana. Mas a presença que mais a conforta é a de William, que a acompanhou em tudo. De seguida dirige-se a John.


- Caro John, não precisa de gastar seu cuspo comigo, suas boas maneiras me deixam cada vez mais surpreendida. E esse feitio explosivo, me lembra tão bem seu pai. - Ava abre a bolsa que trás no braço. - Apenas lhe venho entregar um bilhete que encontrei caido na cela do seu tio e que estava dirigido a si. - Retira o pregaminho da bolsa e entrega nas mãos de John.

Citation:
"John, meu sobrinho, estas linhas as escrevo desde minha prisão e farei o possível para assegurar que cheguem em tuas mãos antes de minha morte. Mas se por um acaso tal não ocorrer, é meu desejo que cesses qualquer busca por vingança ou reproche. O que ocorreu, ocorreu porque assim estava determinado que ocorresse. Os tempos estão mudando em este Reino de Portugal. Um tempo de grande desequilibrio e perigos incontáveis se aproxima, somente espero que a Ordem esteja preparada para cumprir com seu comedido e que o pior possa ser evitado. És até o dia de hoje o único herdeiro varão da linhagem de Domingos e é portanto a ti a quem lego uma importante tarefa, confiando que a realizará com o esmero e a retidão de um Viana.

A relação entre nossa família e a Ordem de Azure se remonta há muitas gerações, e foi nosso antepassado Raphael Vianna quem doou as terras do Paço à Ordem e agora, como Prior dos Azure, a devolvo à família, baixo a vossa administração, para que se mantenha até o fim de nossa linhagem terras dos Viana. As ruínas no alto da Colina e as do templo romano não devem ser tocadas ou restauradas, serão o último e silencioso testemunho da existência da Ordem de Azure.

É meu desejo que, até que consigas pessoas de vossa confiança para esta tarefa, aceites que dez soldados da Ordem permaneçam para guardar o Paço, caso o pior chegue a ocorrer eles os guiarão a local seguro. Desde já o libero de teu juramento para com a Ordem; nossos inimigos se tornaram mais fortes e o fim da Ordem se aproxima, um fim que não desejo para si. Proteja aos jovens que treinam no Paço e ainda não juramentaram-se à Ordem, eles poderão conformar a base de vossa nova guarda. Teodoro sabe quem eles são e quais lhe servirão bem. Junto a esta envio uma mensagem à Teodoro, ele saberá o que buscar e o que fazer; permita-o que faça o que deve ser feito.

Diga à minha filha Celly o quanto a amo e que me perdõe a dor que meu Caminho lhe causou. Desejo a ambos que busquem a felicidade e que tenham a fortaleza para não fugir das tristezas pois apenas no Equilíbrio vive a Verdade do Mundo.

E meu sobrinho, caso surja um novo descendente que vos preceda em direito, não lhe negue o que lhe seja de direito, mas ajude-o, instrua-o e guia-o com a mesma fidelidade, honestidade e lealdade que me demonstraste.

De vosso tio,
Yochanan Flavius Viana."


Ava não se consegue conter e esboça um pequeno sorriso ouvindo o que John diz, enquanto numa atitude provocatória passa a mão na sua barriga e lhe diz:

- Acho que seu tio não compartilhava da mesma opinião. e creio que nos veremos mais do que deseja. - Ava não consegue disfarçar o contentamento em deixar a dúvida semeada.

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Vivian


Vivian, que assistia a tudo de longe e recolhida em seu sofrimento por perder o irmão, havia sido descoberta por seu sobrinho Querobim, que a foi buscar.

- Minha tia, venha, junte-se a nós, estaremos, eu e Laylla, sempre a teu lado. - disse Querobim.

- Obrigada, meu sobrinho... Mas diga-me que isto não é real, não pode ser... Lembro-me de ver meu irmão ser preso, mas não imaginava que a sentença iria tão longe e de forma tão rápida! Algo me dizia que eu não devia me afastar da cidade, mas eu tive que fazer a viagem a Chaves... Mal chego e me deparo com isto! - disse com a voz em tom quase inaudível, com lágrimas a escorrer pela face.

A irmã não queria acreditar no que via e não se perdoava por não ter estado presente nos últimos minutos de vida de Yo. Ela queria ficar só e tinha mesmo tendência de se isolar do mundo quando coisas ruins lhe aconteciam. Na verdade, acabou se habituando a agir de tal forma. Negava para si própria, como se algo de sobrenatural pudesse ser feito, como se o tempo pudesse voltar e ter o irmão vivo. Mas respeitava as designações de Jah, por mais que não concordasse ou as aceitasse.

Assim, quando se juntou aos demais, presenciou a cena que seu filho John Rafael acabara de fazer.

-Bons olhos a veem, minha mãe e senhora. - disse John.

- Boas, meu filho! - engoliu seco enquanto fechava os olhos e apertava a mão do filho, tentando se recompor - Quisera eu não estar presenciando essa situação fúnebre e muito menos a que acabei de ver... Creio que não seja o momento apropriado para discussões ou exaltações, já nos basta a morte de seu tio. A senhorita Ava é uma convidada, respeitemos a decisão de Celly e de seu tio também...

Em seguida, falou apenas para o filho, sem que os outros a ouvissem:

- Detesto quando vejo essas cusparadas ao chão! Não foi esta a educação que lhe dei. Porte-se bem se não me queres envergonhar... - finalizou mostrando seu descontentamento, mas sem aquele tom altivo que sempre usara para repreender o jovem.

Por conseguinte, apenas abraçou fortemente a sobrinha Celly e não conseguiu dizer mais nada. O lenço branco que trazia nas mãos e bordado com o sobrenome da família, foi visto cair ao solo.

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Johnrafael


-Senhora minha mãe, isto é pouco. Sabes muito pouco da história...

Controlando-se diante da reprimenda da mãe, recebeu a carta de Yochanan das mãos da mulher. Leu-a com calma e passou a perceber. Diante, enfim, de uma verdade que lhe haviam ocultado, respondeu.

-Sabes o que acho, Senhora Ava? Acho que devias ter feito esta carta chegar até mim mais cedo. Teria economizado-me tempo, cruzados e homens. Percebo, lendo tardiamente estas linhas, que provavelmente há mais a tratar sobre este caso, e que infelizmente, perdeste nesta história, tanto ou mais que os que aqui estão. Enviarei-te uma carta para sanar as minhas dúvidas sobre o caso.

Aquele velho estava escondendo isto... Pensou, e quase sorriu. Mas não era hora para sorrisos. Aproximou-se de William e perguntou-lhe em voz baixa.

-Não tenho mais Yochanan que me aconselhe, e sobre isto, diria que apenas alguém que esteve junto a ele saberá. Creio que ele foi ter com a excelentíssima Condessa Ava. Que me dizes?

Por fim, dirigiu-se a Maese Teodoro, entregando-lhe a outra carta.

-Maese. Faça o que tem de ser feito.

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