Aristarco
Mais um pouco, só mais um pouco, pensava lá consigo, e Aristarco media a distância a se findar até a chegada ao Paço dos Arcanjos, o lusco-fusco lhe abraçara em definitivo para tão logo dar passagem à escuridão da noite que se iniciara: devia ser quase a hora das Vésperas...
Enquanto Graelent dava uma passada tranquila, o trovador assoviava uma canção de al-Gharb, tão plácido quanto se encontrava seu espírito, a despeito de sua saúde física já bem mais disposta apesar de incompleta, ao se comparar naquel primeiro dia em que chegara ao Porto em lastimável estado, pois vejais quanta diferença os ares podem fazer e aqui se bem pode dizer, sem sequer tratar de cousas do temperamento.
Durante o trajeto, mesmo debaixo da claridade do sol na altura, notou que algo diferente acontecia à medida que se aproximava de seu destino, naquela velha comarca minhota de Portugal, quando vulto ou outro não lhe passava à rabeira dos olhos de seu rosto encapuzado; por instantes segurava o pomo da espada a se preparar pelo pior e assim ficou rígido e alerta durante algum tempo.
Até que finalmente concluiu que deviam ser os homens de negro ao véu do comando de Mestre Yochanan, ainda com mui discrição a deixarem ser vistos (para olhos sagazes, há que se bem dizer) talvez como alerta ou aviso de segurança ao caminho; já não mais se preocupou com a lâmina que trazia consigo Aristarco.
E na escuridão que rapidamente a tudo tomava, do assovio passou com boa voz, sem receios:
♪ Amor eterno ao coração,
Graelent notou a diferença de sopro e voz de música, levantou um pouco mais sua cabeça.
Tal qual Sirius, duração... ♫
O cavalo relinchou, parecendo que dava uma resposta...
Então um riso baixo, para não dizer quase imperceptível, deu-se próximo à margem do caminho, porém de invisível portador; e o próprio Aristarco riu junto, mas sem peias, notai que observado e observador(es) trocaram gentilezas sem prosa alguma, mas que cousa, acontecimentos inusitados de histórias de viajores.
E a cada pedaço de chão que avançava e vencia a faltar bem pouco, cantava com boa voz sem interrupções, seja por riso dalguém, seja por sua própria montaria.
À sua frente, por onde o caminho seguia ao norte, já se encontrava a Estrela do Norte mui brilhante, indicando-lhe o futuro prestes a encontrar, junto das terras de Mestre Yochanan, quando ao virar rosto para o oeste lá se assentava ainda por algum tempo Héracles a se encontrar com o Oceano Ocidental, não tão distante dali, que tão logo o acolheria; e claro, para o belo lado nascente, donde nasciam também os bons conselhos ou a esperança, Andrômeda subia a prenunciar al-Dabarān de Touro, assim como às Matinas com o velho Orionte em companhia de seus cães fiéis que chegariam para velar o novo dia.
Sentiu calor dentro de si, ao lembrar mais uma vez do brilho de al-S̲h̲iʿrā (e não apenas por canção), como ao latim era mais conhecida por Sirius, no mais ainda avançar matinal da noite. Era a mesma estrela em que confidenciara seu coração em al-Ândalus, a um passado tão breve que um homem tem consigo, pois é efêmera a vida humana como sopro fugaz de finitude naquel mar interminável do cosmos...
O trovador encontrava-se feliz porque lhe havia certeza que tão logo experimentaria sentimentos fraternalmente elevados.
Mais um pouco, só mais um pouco, pensava lá consigo...
_________________
| Secrétaire Royal | Minstrel of Gharb al-Ândalus | Flemish-breton of Iberia: al-Musta'rib |
Enquanto Graelent dava uma passada tranquila, o trovador assoviava uma canção de al-Gharb, tão plácido quanto se encontrava seu espírito, a despeito de sua saúde física já bem mais disposta apesar de incompleta, ao se comparar naquel primeiro dia em que chegara ao Porto em lastimável estado, pois vejais quanta diferença os ares podem fazer e aqui se bem pode dizer, sem sequer tratar de cousas do temperamento.
Durante o trajeto, mesmo debaixo da claridade do sol na altura, notou que algo diferente acontecia à medida que se aproximava de seu destino, naquela velha comarca minhota de Portugal, quando vulto ou outro não lhe passava à rabeira dos olhos de seu rosto encapuzado; por instantes segurava o pomo da espada a se preparar pelo pior e assim ficou rígido e alerta durante algum tempo.
Até que finalmente concluiu que deviam ser os homens de negro ao véu do comando de Mestre Yochanan, ainda com mui discrição a deixarem ser vistos (para olhos sagazes, há que se bem dizer) talvez como alerta ou aviso de segurança ao caminho; já não mais se preocupou com a lâmina que trazia consigo Aristarco.
E na escuridão que rapidamente a tudo tomava, do assovio passou com boa voz, sem receios:
♪ Amor eterno ao coração,
Graelent notou a diferença de sopro e voz de música, levantou um pouco mais sua cabeça.
Tal qual Sirius, duração... ♫
O cavalo relinchou, parecendo que dava uma resposta...
Então um riso baixo, para não dizer quase imperceptível, deu-se próximo à margem do caminho, porém de invisível portador; e o próprio Aristarco riu junto, mas sem peias, notai que observado e observador(es) trocaram gentilezas sem prosa alguma, mas que cousa, acontecimentos inusitados de histórias de viajores.
E a cada pedaço de chão que avançava e vencia a faltar bem pouco, cantava com boa voz sem interrupções, seja por riso dalguém, seja por sua própria montaria.
À sua frente, por onde o caminho seguia ao norte, já se encontrava a Estrela do Norte mui brilhante, indicando-lhe o futuro prestes a encontrar, junto das terras de Mestre Yochanan, quando ao virar rosto para o oeste lá se assentava ainda por algum tempo Héracles a se encontrar com o Oceano Ocidental, não tão distante dali, que tão logo o acolheria; e claro, para o belo lado nascente, donde nasciam também os bons conselhos ou a esperança, Andrômeda subia a prenunciar al-Dabarān de Touro, assim como às Matinas com o velho Orionte em companhia de seus cães fiéis que chegariam para velar o novo dia.
Sentiu calor dentro de si, ao lembrar mais uma vez do brilho de al-S̲h̲iʿrā (e não apenas por canção), como ao latim era mais conhecida por Sirius, no mais ainda avançar matinal da noite. Era a mesma estrela em que confidenciara seu coração em al-Ândalus, a um passado tão breve que um homem tem consigo, pois é efêmera a vida humana como sopro fugaz de finitude naquel mar interminável do cosmos...
O trovador encontrava-se feliz porque lhe havia certeza que tão logo experimentaria sentimentos fraternalmente elevados.
Mais um pouco, só mais um pouco, pensava lá consigo...
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| Secrétaire Royal | Minstrel of Gharb al-Ândalus | Flemish-breton of Iberia: al-Musta'rib |