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Vila Cruzeiro [RP]

_beatrix_algrave


Beatrix se despede do barão com uma vênia, e ficando a sós com o primo resolve terminar um pouquinho que falta do desenho antes de ir almoçar. Benoit ainda com a xícara de chá na mão se aproxima dela para ver os desenhos.

- Atriz? Acho que você quis dizer artista.

Beatrix comenta meio confusa, com a profusão de elogios de Benoit. O primo aproxima-se mais do que devia e empolgado derruba o chá, sobre seus rascunhos. Ela levanta-se sacudindo as saias e o chá que escorre pelo último rascunho, tentando salvar o desenho.

- Ai! Benoit, o que me fizeste?

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Primo_benoit


Benoit não acredita no que acabara de fazer.

— Oh pardon-moi mademoiselle! Pardon, Pardon! — exclama o franzino tresloucado balançando as mãos de envergonhado com a confusão que causou. Benoit oferece ajuda a Beatrix para se reorganizar.

— Perdão, meu português ainda está se reformando, e parece que minha coordenação também. Prometo-lhe que a ajudo com ainda mais assiduidade.



Oh! Perdoe-me senhorita! Perdão, perdão!
_beatrix_algrave


Benoit, por favor, vai e fala com a criada do barão, traz-me uma toalha e umas folhas de mata borrão. Depois almoçaremos enquanto o rascunho seca. Ela ficou aguardando enquanto o primo a acudia com essas coisas. Deixou os rascunhos secando entre folhas de mata borrão. Colocou pesos de papel por cima e em seguida disse.

- Agora vamos almoçar. Torcer para que sequem enquanto almoçamos e enquanto preparo as telas.

Ela disse sem aborrecer-se com Benoit, afinal ele não fizera por mal, e aquilo podia ser remediado, e o que não tem remédio, remediado está.

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Grigori


O tempo transcorria nas terras da Vila do Cruzeiro, e os sempre atentos Grigori observavam a aqueles a quem o Prior havia encarregado a sua vigília. Mas naquele dia uma mensagem alcançou aqueles homens. Era chegado o momento de fazer chegar ao Barão e aos artistas a mensagem do Prior.

Eles aguardaram o retorno do Barão, anunciado pelo igual retorno de seus companheiros que aquele dia haviam seguido o Barão a onde quer que ele fosse. Por vezes ocultos nas sombras, por outras a plena vista, os Grigori eram mestres em ver sem serem vistos.

Naquela noite duas cartas chegariam às portas da casa do Barão do Cruzeiro, sem que o mensageiro fosse visto sequer. Ambas cartas estavam lacradas com um selo cuja imagem apenas um dos presentes conhecia, pois a bibliotecária do Colégio Heráldico Português levava consigo aquele mesmo símbolo. A Cruz de Azure.

Uma era dirigida ao Barão, a outra ao senhor Benoit, mas em ambas missivas apenas as mesmas três linhas estavam escritas em uma caligrafia fina:

"O momento de vossa provação há chegado.
Aguarde instruções.
Estamos observando."
Primo_benoit


Benoit ajudou a prima da forma que conseguiu, ainda nervoso pelo que havia feito. Felizmente, a prima pareceu resolver o problema. Agora eles fariam uma pausa para almoçar.

Na mesa havia muita fartura e Benoit comeu como se não houvesse amanhã.
A sobremesa deixou-o exultante.

- C'est magnifique!

Ele dizia entre uma colherada e outra de pudim de ameixa. Mas quando terminou a última garfada, ele se viu obrigado a dirigir-se rapidamente para o quarto, onde permaneceu com dores e mau estar. Sobre a mesinha de cabeceira estava uma carta que fora recebida e deixada ali para ele ler.


Magnífico!
_beatrix_algrave


Beatrix deixou os trabalho e foi almoçar com Benoit. Ela comeu da deliciosa refeição que lhe foi oferecida pela criada do barão. Notou a avidez de Benoit com a comida, mas era justo que ele aproveitasse aquela agradável fartura.

Ao notar durante o final da sobremesa a mudança na cara do primo e a rapidez com que ele correu para o quarto, não teve dúvidas. A comida caíra mal. Esperava que na casa do barão houvessem vários vasinhos de loiça para o alívio do primo.

- Por favor, senhora Maria, faça um chá para meu primo, parece que a comida não lhe caiu bem.

Ela pediu, e em seguida após terminar, foi dar andamento a atividade que deveria desempenhar. Foi uma tarde bem trabalhosa, pois ela não contaria com a ajuda do primo como tanto almejava. Mas a noite, próximo do jantar, o quadro estava quase pronto, só faltavam alguns detalhes que ela completaria quando o barão posasse para ela, na manhã seguinte.

Beatrix estava cansada mas satisfeita. Ela pensava enquanto enxugava as mãos um pouco sujas de tinta em seu avental de trabalho. Era hora de se limpar e em seguida vir como estaria o primo Benoit.

Ao bater no quarto, ele parecia adormecido. Quando abriu estava com uma cara péssima. Mas provavelmente na manhã seguinte estaria melhor. Ela pensou enquanto despedia-se dele que receberia uma sopinha rala no quarto.

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Dalur


O barão regressou depois de um longo dia de trabalho, a sombra do dinheiro retido da Coroa ainda pesava, e longas discussões aconteciam, as quais o nobre tinha o dever de anotar tudo que acontecia. Foi com alívio que regressou, e tão logo chegou foi comer.

Quando foi até a cozinha, seus convidados já haviam jantado, e assim comeu sozinho. Foi então que Maria informou que todos comeram e Benoit parecia ter tido um leve mal estar. Julgando a arista sofrer do mesmo destino, instruiu seus criados a desejarem uma boa noite à ela, e melhoras ao ajudante. Queria pessoalmente o fazer, mas não seria conveniente ir até lá sendo ela uma mulher, e ainda mais sendo reservada, ou isto não seria um impedimento.

Levantando-se da mesa, foi até a escada quando lhe foi informado que chegou correspondências. Já tinha um bom volume de correspondências acumuladas por ler, por pura preguiça do barão, que as deixava empilhar sobre sua escrivaninha. Pegou a carta com o símbolo estranho, era-lhe familiar de algum lugar, mas estava tão cansado que deixou para o outro dia a leitura desta.

Foi até seu quarto, e vestindo roupas adequadas, deitou-se na cama e dormiu. Quando raiou o dia, novamente desceu as escadas exultante, com a certeza que finalmente chegava o momento em que o quadro ficaria completo, sentou-se na mesa para o café da manhã e aguardou
_beatrix_algrave


Na manhã seguinte, Beatrix estava muito bem disposta, ao contrário de seu primo, que ainda amargava o mal estar da noite anterior. Benoit havia melhorado mas não era a imagem da saúde, ele que já tinha um aspecto franzino e adoentado.

Beatrix foi informada que ele ainda dormia e que desceria mais tarde.

Ela desceu para o desjejum e deparou-se com o barão Dalur, que já se servia. Beatrix fez uma vênia ao barão, cumprimentando-o.

- Bom dia, vossa graça. Espero que sua noite de descanso tenha sido agradável. Infelizmente, meu primo continua indisposto. Quanto ao quadro falta pouco para a sua conclusão, preciso apenas que pose novamente para os últimos detalhes que necessito.

Beatrix prefere não comentar nada sobre o acidente com os seus rascunhos, mesmo por que nada significativo se perdeu.

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Dalur


O barão tomava o desjejum quando escutou a artista aproximando-se. Comia uma maça no exato momento que Beatrix adentrou o local, e logo lhe convidou a sentar. Pedindo um pouco de suco o barão terminou de comer a maça

- É claro! Posarei assim que tu servires e estiveres farta de comer. Como foi a tarde passada? Espero que tudo tenha corrido bem, e que estejas satisfeita com a hospitalidade como estou com a vossa presença. Espero que nada tenha faltado neste período.

E tomando algumas sementes, o barão completa seu desjejum, pronto para continuar o trabalho assim que a artista estivesse em condições. Tentou imaginar como estaria o quadro neste instante, se já estava concluso ou se faltava alguns mínimos detalhes. Tomou um pouco de suco, e tentou relaxar, certo que logo o resultado seria-lhe mostrado, possibilitando sua exposição nas paredes de sua residência
_beatrix_algrave


Beatrix agradeceu com um sorriso satisfeito e se serve, então comentou.

- Fui muito bem recebida e estou agradecida pela vossa hospitalidade.

Em seguida serviu-se de pão, queijo e algumas frutas e bebeu um copo de suco de pêssego. Quando estava satisfeita, levantou-se, e fez uma vênia ao barão.

Estou pronta. Terminarei sozinha o trabalho. É melhor que meu primo descanse para que possamos partir juntos assim que o trabalho se encerrar.

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Dalur


Terminado o desjejum, o barão levantou-se e pediu que a artista o acompanhasse, para que terminassem o projeto que haviam iniciado. Quando atravessaram o salão de festas, o barão novamente sentiu a necessidade de adquirir uma estátua para adornar o salão, e logo pensou em uma escultura que havia visto durante suas viagens, quem sabe um dia teria uma de igual resplendor. Chegando até a sala, que fora improvisada de estúdio, o barão logo acomodou-se, sentando no divã

- Bem, precise que eu faça alguma pose em específico? Acho que não sei bem qual o procedimento neste momento. Estou a vossa disposição.

E sorrindo, o barão aguardou a resposta de Beatrix
_beatrix_algrave


Depois que chegam a sala, Beatrix dá as instruções para o que precisa que o barão faça.

- Sim, há uma pose, gostaria que sentasse reclinado novamente. Lembra da primeira pose que fez? Acabei me decidindo por ela. Não precisa ficar totalmente despido novamente, mas eu preciso que fique sem camisa.

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Dalur


O barão sentiu-se confortável por ter de permanecer no divã. E graças a leve refeição que fizera, dificilmente iria adormecer, algo que era convidativo nesta hora da manhã, e principalmente naquele confortável divã. Foi com calma que levantou-se e tirou a blusa por completo, deixando-a em cima da escrivaninha. Voltando-se ao divã, o barão fica na posição indicada, reclinando-se com perfeição, apenas repetindo o que dantes havia feito. Acabou preferindo manter a calça, afinal de contas estava um pouco frio, e não havia razões aparentes para desnudar-se como outrora fizera. Ficou imóvel e aguardou que Beatrix iniciasse sua pintura.

- Tenho de admitir que esta posição é muito mais confortável que as outras. Assim não me canso, e a única preocupação real é manter-me desperto.

E observou os movimentos de Beatrix, novamente utilizando sua técnica de lançar sua mente em um turbilhão de pensamentos para distrair-se enquanto era retratado pela artista.
_beatrix_algrave


- O único problema é que vossa graça poderia cair do divã.

Beatrix comenta com uma expressão leve, e em seguida começa a pintar o que falta, atenta ao que é necessário captar do modelo para concluir a pintura.

Normalmente ela demoraria mais, por conta da ausência do ajudante que tanto precisava para acelerar seu trabalho, mas ela adiantou bastante da pintura e agora só precisa conferir mais vida aos detalhes que tornarão o quadro do barão memorável. Ao menos esse é seu objetivo e desejo. Todos os detalhes da paisagem estão praticamente terminados, apenas a figura ao centro precisa ser concluída. Detalhes do rosto, do peito e da textura da pele. É necessário capturar o olhar do modelo e dar-lhe uma expressão mais vívida. As linhas de expressão recebem um acabamento delicado e a elas a artista dá uma atenção especial. Em seguida ela dedica-se a traçar os detalhes da musculatura que ainda não estavam finalizados, conferindo mais realismo ao corpo desnudo, captando sua força e sua beleza naturais.

O processo é mais demorado do que o barão poderia calcular talvez por conta do perfeccionismo da artista. Felizmente a posição é confortável e ele se encontra bem disposto e descansado.

Depois de uma longa hora e meia, Beatrix suspira, indicando cansaço, mas também que a obra foi finalizada. Ela pousa com cuidado a paleta e os pinceis sobre a mesa, em seguida pega um lenço para limpar a testa.

- Pronto, senhor barão. Creio que finalmente poderá ver meu trabalho.

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Dalur


Com um pouco de curiosidade e uma mistura de ansiedade, o barão diz com uma voz um tanto tremula

- Estou pronto para ver o quadro, acredito eu...

E engolindo em seco, levanta-se e fica parado, aguardando que fosse-lhe mostrado o resultado artístico daqueles dias que passaram juntos no baronato do Cruzeiro.
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