O barão pegou a mão delicada e alva da sobrinha, já não era uma garota pequena que corria ao seu lado procurando comeres em seu bolso, não. Era uma moça bela, de cabelos ardentes e olhos abrasadores, e com uma voz que fazia a própria música ganhar vida. Passou o braço por sua cintura e a puxou gentilmente mais perto, e foi com grande espanto que uma lufada de ar o atingiu, com um cheiro doce que fez o chão girar por um instante.
Trocaram o salão de dança por um ambiente aberto, o lustre veneziano pomposo pela lua minguante, os músicos pelos sons da própria natureza. Parecia um baile incomum, feito para atitudes incomuns e pessoas incomuns, mas que apenas eles compreendiam. Quando as primeiras notas saíram da boca daquela garota, foi como embalar em uma canção divina, desmoronando tudo a volta, e deixando na existência apenas aquele momento. Dançou rodopiando-a, carregado pela melodia mágica de sua voz e pelo aroma doce de sua boca, e por aqueles momentos, foi feliz.
A dança foi primorosa, digna de uma plateia ilustre, mas apenas a lua foi testemunha naquela noite. Não se importaram com o tempo que passava, ou mesmo com um erro ocasional na letra da canção, afinal para que a pressa? Não era aquele momento, algo único e sem explicação, do qual relembramos tantas vezes em nossa velhice?
O barão olhava fixo no olho da sobrinha, via duas chamas lançando seu calor sobre ele, revelando uma alma que conhecia como se fosse a própria, desfazendo qualquer outro pensamento que não fosse ela. Quando a dança aproximou de seu final, ele apoiou o corpo da sobrinha no braço que estava em suas costas, e lentamente a abaixou enquanto cantava sua nota final.
Quando a trouxe de volta, olhou em seus olhos em chamas, sorriu deixando os dentes brancos a vista, e sentiu uma alegria tão genuína que deu a noite como completa ali mesmo. Depois, em um gesto tão inexplicável como o próprio convite para a dança, deu um beijo breve em seu pescoço e lhe perguntou
- Você confia em mim?