Homem de verde, roleplayed by Maria_madalena
Ele tinha estado a observá-la desde que entrara, os longos cabelos castanhos emolduravam na perfeição o rosto de formas redondas e o olhar vivo. Era costume vê-la por ali todas as noites, movimentando-se entre os homens, sorrindo, tocando e seduzindo. Os rumores corriam rápido na cidade e ele era os ouvidos e os olhos, a alma do Porto, de tudo sabia, tudo conhecia. Conhecia-lhe os vícios e os trejeitos, sabia quais os homens que ela preferia e os que odiava, sabia até das cicatrizes que lhe flagelavam agora as costas. O olhar dela perdera um pouco do brilho. Os seus lábios tocaram a caneca fria e a língua deliciou-se no travo daquele líquido de cor dourada. Estava bêbedo, bêbedo como em todos os dias, como em todas as horas, como em todos os minutos. Tinha dificuldades em lembrar-se da última vez que estivera sóbrio, na verdade, julgava ter nascido embriagado. O álcool tornava-o mais desperto, ou pelo menos assim o julgava.
Foi naquele momento que David entrou na taverna, assim que os olhos dele pousaram na meretriz, houve uma súbita hesitação. Bebeu uma grande gole da sua caneca e soltou uma gargalhada estridente, a noite prometia ser divertida. As acções sucederam-se de forma previsível, não houve espanto quando Madalena se levantou para interpelar David, menos espanto houve ainda quando ela ajeitou as mamas no decote e fez um dos seus sorrisos indecentes. Ele achava aquilo divertido. O contraste de ideias e personalidades, o à vontade dela e o constrangimento dele, o torpor dele e a energia dela, a loucura dela e a pacatez dele. Não havia espectáculo que lhe desse mais prazer.
Estremeceu quando o ambiente murchou e o sorriso que lhe era tão característico, desdenhoso e alegre, assumiu contornos mais graves. Com as mãos trémulas e a visão turvada retirou do alforge uma pequena carteira de pele de porco, gasta pelo tempo, manchada pela bebida. Desajeitadamente virou-a ao contrário e deixou que o seu conteúdo rolasse pela mesa, o tinir de várias moedas fez-se ouvir e ele voltou a sorrir, satisfeito com ruído tão agradável. Pacientemente, contou os cruzados que ali tinha, enganou-se várias vezes, confundiu o valor das moedas e perdeu mesmo algumas que rolaram sobre a mesa e fugiram do controlo dos seus reflexos entorpecidos. A quantia que ali tinha pareceu-lhe suficiente e o homem de capuz verde estalou os lábios e levantou-se. Cambaleou de imediato, o chão parecia ter vontade própria e as pessoas à sua volta movimentavam-se de forma lenta e desconexa, não pareciam mais do que sombras e espectros. Em passos lentos e inseguros caminhou até ao fundo da taverna, levava o olhar fixo na mesa de Madalena e David, a caneca na mão esquerda e a carteira no bolso direito.
- Boas *hips* boas *hips* noites... - balbuciou numa voz embargada assim que chegou ao seu destino.
De imediato apoiou a mão direita na mesa e sentou-se de forma desastrada na cadeira mais próxima. Um suspiro de alívio deixou-lhe os lábios, caminhadas eram complicadas. Molhou os lábios na bebida, não que precisasse de ganhar coragem, mas por sentir saudades da carícia gelada daquele líquido. De seguida, retirou a carteira do bolso e atirou-a pela mesa até bater em David.
- 'Tás *hips* todo *hips* murcho... Tens saudades *hips* da Madalena é? *hips* Muito *hips* jeitosa ela. *hips* - sorriu-lhe de forma cúmplice e esperou.