Terminada a cerimónia, Madalena separou-se da sua irmã e do seu acompanhante, Michael Casterwill, pois haviam chegado à Capela de São Valentim em carruagens separadas e a distância, ainda larga, até ao Solar dos Camões em Alcobaça assim o exigia. Esta situação não lhe era de todo desagradável, em boa verdade, sentia-se aliviada por ter aqueles momentos de solidão e silêncio após o seu evidente desequilíbrio emocional durante a cerimónia. Aquelas lágrimas e reacção emotiva não lhe ficavam nada bem.
Subiu rapidamente para o interior da carruagem e recostou-se no assento, aguardando impacientemente pela partida. Assim que estavam a alguma distância da Capela, Madalena ergueu o antebraço direito de forma a que a palma da mão ficasse voltada para si e abriu lentamente a mão. No seu interior o lenço amarrotado que Dinis lhe oferecera para ajudar a conter as lágrimas e soluços. Observou o lenço com zelo apercebendo-se de como o tecido era de boa qualidade, macio e ligeiramente lustroso, as bordas haviam sido cuidadosamente bordadas e a cor branca permanecia imaculada mesmo depois do uso que lhe dera. Aquilo não era suficiente para lhe acalmar a ira e a raiva que sentia daquele pequeno lenço, tinha vontade de o esfarripar, queima-lo, torna-lo insignificante. Não era propriamente o lenço que a incomodava, mas a lembrança que ele lhe trazia. Não era uma mulher emotiva e permaneceria dessa forma. Calmamente rodou o braço e deixou que o lenço caísse no chão da carruagem. Não voltaria a pensar nele nem no significado daquele surto.
A partir daquele momento a viagem foi novamente consumida pelo tédio e impaciência. Espaços apertados deixavam-na assim, precisava da liberdade de movimento. A inacção corroía-a. Passou o tempo como podia, oscilando posições, focando-se na paisagem, perdendo-se em divagações, já pelo final da viagem Madalena ocupou-se com o arranjo dos cabelos e alguns retoques no olhos que ainda estavam inchados do choro.
Foi com alívio que chegou ao Solar, abandonando a carruagem e contemplando com prazer a bela construção e a paisagem algo diferente daquela onde a cerimónia decorrera. Não encontrou a sua irmã e decidiu esperar por ela ali no exterior, afinal a carruagem dela partira depois da sua e devia estar ligeiramente atrasada. Enquanto esperava, Madalena apercebeu-se de um senhor que recitava uma ementa, talvez a da festa, pareceu-lhe estranho e num estado mental desequilibrado, pelo que se afastou o suficiente sentando-se num banco de pedra.
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