--Narrador_
Cidade do Porto - Abril de 1460
A muralha de pedra granítica, cinzenta e fria, como aquele dia, erguia-se altiva e imponente sob a vizinhança. Por entre os merlões olhos atentos e cansados perscrutavam o horizonte, mas nada mais viam do que campos verdes envolvidos na neblina matinal e as águas do Douro, serenas e profundas. Nas torres da muralha ardiam tochas que, àquela hora, já não tinham qualquer utilidade, mais não eram do que vestígios de uma noite de vigília. O passadiço do portão principal estava descido e meia-dúzia de guardas sonolentos inspeccionavam os que chegavam e partiam da cidade, fossem mercadores, burgueses, ou camponeses. Nuvens grossas faziam prever um temporal, mas nem por isso havia menos algazarra nas ruas. A cidade acordara barulhenta, com as carroças cheias de vinho, lãs e madeira a troarem pela rua principal rumo ao mercado. Acompanhavam-nas mercadores tardos, cujas vozes se confundiam com o resfolegar dos cavalos e os silvos dos chicotes. Os pregões multiplicavam-se e os interessados regateavam. As galinhas pavoneavam-se por entre a multidão e, de vez em quando, um bacio era despejado para a rua.
Aos olhos menos atentos, pareceria um dia normal.
A muralha de pedra granítica, cinzenta e fria, como aquele dia, erguia-se altiva e imponente sob a vizinhança. Por entre os merlões olhos atentos e cansados perscrutavam o horizonte, mas nada mais viam do que campos verdes envolvidos na neblina matinal e as águas do Douro, serenas e profundas. Nas torres da muralha ardiam tochas que, àquela hora, já não tinham qualquer utilidade, mais não eram do que vestígios de uma noite de vigília. O passadiço do portão principal estava descido e meia-dúzia de guardas sonolentos inspeccionavam os que chegavam e partiam da cidade, fossem mercadores, burgueses, ou camponeses. Nuvens grossas faziam prever um temporal, mas nem por isso havia menos algazarra nas ruas. A cidade acordara barulhenta, com as carroças cheias de vinho, lãs e madeira a troarem pela rua principal rumo ao mercado. Acompanhavam-nas mercadores tardos, cujas vozes se confundiam com o resfolegar dos cavalos e os silvos dos chicotes. Os pregões multiplicavam-se e os interessados regateavam. As galinhas pavoneavam-se por entre a multidão e, de vez em quando, um bacio era despejado para a rua.
Aos olhos menos atentos, pareceria um dia normal.