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[RP] No encalço da sombra

Leticia


- Maria, não descarto que ele tenho assassinado o irmão, mas o uso do instrumento me diz muito sobre o assassino. Os que usam veneno gostam de sutileza, discrição e são um pouco covardes. O curioso é fazer uma revelação como essa. Talvez ele seja um bocado narcisista. Eu não o descarto, mas tenho meu suspeito.

Diante do susto e do medo de Maria, Letícia riu.

- Ele sem dúvida seria capaz. Mas creio que pelas informações que obtive, está longe no momento. O que pretende fazer para convencer nosso prisioneiro a cooperar?

Letícia comentou e se aproximou do homem, ele estava vendado, além de amarrado. A mulher desabotoou a camisa suja e mal-amanhada e deslizou a unha sobre o peito dele, marcando a pele com um vinco vermelho. Aquilo não provocava tanta dor, mas deixou o homem desesperado, temendo o pior. Para alguns aquilo seria uma carícia, para o prisioneiro era o prenúncio da dor.

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"Sabe o medo que algumas pessoas tem da escuridão? Às vezes ele é verdadeiro. Nunca negue seus instintos, pois eles não mentem."
Maria_madalena
Madalena continuava encostada à parede, mortificada e com uma expressão de horror, quando a sua mentora se riu. Sentiu o rosto adquirir um tom escarlate e não gostou da forma como Letícia troçava do seu medo. Só alguém que não conhecia o poder e o sadismo de Adrian Casterwill poderia rir-se daquela forma à menção do seu nome. Obrigou-se a relaxar e a esquecer aquele receio, dando um passo em frente. Não mais insistiu na versão sobre o barão do Cruzeiro, pois Letícia estava demasiado convicta de que ele não era o culpado pela morte de Marilu.

- Esperamos que assim seja, Letícia.

Seguiu atrás da sua mentora e examinou a forma como ela despiu a camisa do homem, atirando-a para um dos cantos da cela, não havia dúvidas quanto à actividade profissional de Letícia, tão graciosa foi a forma como o despojou da veste. Não estremeceu quando a loira fez deslizar uma unha pelo peito do homem, deixando um rasto de sangue. Era um ferimento simples, mas o homem ficou assustando, temendo o pior.

Madalena achou que não precisava de explicar a Letícia como pretendia torturar o homem, sabia que a sua mentora apreciaria uma boa exibição e estava desejosa de vingança. Segurou o rosto do homem firmemente com uma mão, apertando-lhe as maxilas e escarrou-lhe em cima. Colocando naquele gesto todo o desprezo que sentia por ele, criatura vil capaz de tamanha atrocidade.

- Seu desgraçado! - Silvou ao mesmo tempo que lhe pontapeava o abdómen repetidamente. As grilhetas de ferro que o prendiam, impediam que curva-se o corpo e protegesse a região atingida. Os sapatos de Madalena eram ligeiramente pontiagudos e a cada golpe o homem soltava um gemido abafado. Com uma mão puxou-lhe os cabelos e obrigou-o a erguer o rosto, se o homem não estivesse vendado poderia ver o tecto húmido da cela. - Filho da mãe, quem te ordenou a morte dela?! - Pontapeou-o com renovado vigor, arrancando um grito de dor ao homem.

Quando o homem não lhe respondeu, Madalena projectou violentamente a cabeça dele contra a parede e deu-lhe um novo pontapé, desta vez na região da genitália. Tentou encolher as pernas e o corpo e antes que o fizesse, Maria ripostou de novo, calcando-lhe uma das coxas. Olhou em volta e retirou uma das velas da parede, aproximou-se, sedenta de vingança e deixou que algumas gotas de cera quente caíssem sobre o peito do homem, queimando-lhe pele e pêlos.

- Diz-me, seu verme!
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Narrador, roleplayed by Beatrix_algrave


O homem que acompanhara em silêncio a conversa das duas, sente que sua hora chegou. O corte de Letícia em sua pele provoca um gemido de desespero, os golpes e aguilhoada de Maria, arrancam-lhe gritos de dor, que ele não se esforça em conter. Ele gritou com força.

- Ela teve o que mereceu. Rameira, maldita!

O detalhe da venda colocada por Letícia servia como um tempero a mais em seu desespero, pois ele se contorcia sem saber de onde viria o próximo golpe, indefeso e acorrentado.

- Eu não sei, não sei quem ele é. Acho que era um anjo do céu...Ele me escolheu.

Ele murmurou em um tom abafado, finalmente começando a falar. Mas negando a informação desejada, tornando as coisas mais difíceis, parecendo delirar e rindo entre as frases, como um possesso. Após o riso, a respiração dele tornou-se sôfrega e lenta.

- Ele me pagou bebida, me ouviu desabafar, falei da minha raiva da rameira maldita, de todas as rameiras. Ele me disse que se eu fosse lá, e dessa a ela o que merecia, que ia me pagar, que ia me dar ouro...

Ele parou tomando fôlego e cuspiu sangue, com muita dificuldade, por causa das correntes.

[b]- Eu podia fazer o que quisesse, quanto pior melhor...Era a punição...O castigo divino. Ela mereceu. Nem foi pelo ouro, mas o ouro foi bom, mas não tão bom quanto ver os olhos dela, estar dentro dela...
Maria_madalena
O homem era um lunático. E as respostas que dava mais não eram do que os delírios de uma mente doentia. Invocava uma demanda divina, falava como se aquele homicídio, tão hediondo nos seus contornos, fosse uma obra da graça de Jah. Madalena sabia que assim não o era, pois nem uma meretriz merecia aquele tratamento. Nenhuma mulher merecia, pois estas eram o receptáculo que acolhia as vontades dos homens, favoritos na criação divina, e, como tal, não mereciam castigo tão cruel. Esbofeteou-o com vontade, ora de um lado ora do outro, fazendo com a cabeça oscilasse e por vezes batesse contra a parede.

- Diz-me quem te pagou essa bebida! - Ordenou enquanto lhe deixava cair mais cera quente sobre o tronco nu, aproximando a vela perigosamente da pele. - Os anjos não frequentam tavernas, seu animal! Achas que me enganas com essa conversa? - Deixou que a chama da vela ardesse sobre o mamilo direito do homem e não tardou para que cheirasse a carne assada. A morte de Marilu trouxera um prazer indescritível àquele verme e era sobretudo esse deleite que horrorizava Madalena. - Fala, filho da mãe, ou eu juro que te desfaço da mesma forma que a desfizeste!

Pontapeou-lhe a barriga repetidamente até o homem estar quase sufocado no sangue que tentava cuspir. A mão que segurava a vela estava queimada pela cera quente que caía quando impulsionava o corpo, mas Madalena parecia não se importar. Puxou-lhe os cabelos com a mão livre e usou a outra para inclinar a vela e verter cera quente no rosto do homem, deixando-lhe as bochechas ruborizadas.

- Diz, seu canalha, quem te pagou?!
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Narrador, roleplayed by Beatrix_algrave


O homem suportou como pode as torturas que lhe eram destinadas entre urros de dor e xingamentos contra Maria e todas as meretrizes da terra. Ele mais parecia um possesso. Alguém que vivia em um mundo de delírios com raros instantes de sanidade. Apesar do aspecto imundo de mendigo ele falava com um vocabulário que indicava outra procedência, talvez algo o fizera enlouquecer e cair em desgraça, tornando-se aquele farrapo humano, bêbado e desvairado.

Então ele gritou, enquanto se contorcia de dor por conta da queimadura em seu mamilo.

- Eu sei que vou morrer..."Dies iræ! dies illa./ Solvet sæclum in favilla:/Teste David cum Sibylla!/ Quantus tremor est futurus/ Quando iudex est venturus/Cuncta stricte discussurus!..."

Ele murmurou roucamente, arfante entre uma frase e outra cantarolando a última parte.

- Mas eu vou dizer, pois vocês não podem fazer nada contra o anjo. Ele é do alto, nada pode atingi-lo, nada. A minha recompensa me espera. O nome dele é Celestino.

Ele murmurou e quedou-se, por causa do sangue que lhe sufocava a garganta e que ele não conseguia mais cuspir. Ele que já era pavoroso, tinha agora uma figura ainda mais tenebrosa de se ver.


Esses são trechos do "Dies Irae" de Celano, parte da Missa de Réquiem.
Maria_madalena
A cada insulto proferido contra si e contra as suas mulheres, Madalena arranjava uma nova forma de tortura que provocasse ainda mais dor no homem. Não se julgara capaz de executar uma tarefa assim até ser confrontada com a morte de Marilu. E agora que estava perante o homem que matara a pobre meretriz, Madalena sentia-se deleitada por poder magoá-lo. Em boa verdade, tudo aquilo que desejava era fazê-lo sofrer tanto quanto Marilu sofrera.

Apesar do aparente estado de delírio do homem, esteve revelava um vocabulário que não era comum num mendigo, chegando mesmo a proferir frases em latim. Por fim, entre entusiasmos febris, revelou um nome. Madalena parou com a tortura por instantes e encarou Letícia:

- Achas que é este o nome? Ou esta peste está a inventar? - Perguntou à mentora e pontapeou o homem no chão, como se antevesse que o nome era apenas mais um dos seus delírios.
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Leticia


Letícia apenas acompanhara em silêncio, seu rosto não tinha nenhuma expressão, nem de prazer nem de desagrado. Ela era mesmo uma mulher muito estranha. Contudo ela analisava friamente cada parte do interrogatório e as técnicas empregadas pela pupila. Não deixou de notar que o tempo de Maria com Nicole causara o seu efeito. Ela aprendera algumas coisas com a meia-irmã e isso era inegável.
Letícia, só esboçou reação quando o prisioneiro finalmente revelou um nome. Diante da pergunta de Maria, ela respondeu.

- Não, curiosamente ele está dizendo a verdade, o homem que procuro é Apolinário Celestino. Vamos deixa-lo aqui um pouco, descansando, antes que ele resolva entoar o Réquiem inteiro para nós.

Com isso, Letícia indicava que queria conversar a sós com Maria, longe do prisioneiro.

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"Sabe o medo que algumas pessoas tem da escuridão? Às vezes ele é verdadeiro. Nunca negue seus instintos, pois eles não mentem."
Maria_madalena
Madalena ficou espantada pelo prisioneiro revelar o nome do homem que lhe pagara tão rapidamente.

- Que espírito fraco o teu, vergas mais depressa do que uma menina. - Atirou furiosamente ao homem e deu-se por contente pelos delírios religiosos deste. Afinal, o prisioneiro julgava que o seu mestre era um anjo intocável pela justiça terrena e somente por esse facto revelara a sua identidade.

À indicação de Letícia, Madalena largou o prisioneiro e devolveu a vela ao seu local original, limpando depois a cera que lhe cobria a mão com a saia do vestido. A pele naquela região estava vermelha e queimada e a meretriz levou a mão à boca, apaziguando a dor com saliva. Percebendo que a sua mentora queria distância do prisioneiro, seguiu-a.
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Leticia


Letícia ouvia em silêncio as palavras de Madalena. No seu rosto um sorriso ferino se desenhou. Estava satisfeita com o resultado da primeira "experiência prática" de Maria.

Depois que se afastaram da cela, chegaram ao grande salão, onde Maria tivera sua lição teórica com o Renné.

- Eu trouxe você aqui, pois essa informação é bastante pertinente. Prefiro interromper agora, pois já obteve o que eu tanto precisava. Vou enviar imediatamente uma carta aos azure informando o que se passa. Isso no momento é mais importante do que dar àquele maldito o destino que ele tanto merece.

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"Sabe o medo que algumas pessoas tem da escuridão? Às vezes ele é verdadeiro. Nunca negue seus instintos, pois eles não mentem."
Maria_madalena
Madalena gostou do sorriso de aprovação de Letícia, sentindo-se satisfeita consigo e com o seu desempenho. Estavam agora no salão principal, onde a primeira lição decorrera. Não fora tão bem-sucedida como Renné, mas a tortura daquele homem desprezável fora fácil para si.

- Não é como se ele fosse fugir. - Gargalhou com vontade e o som propagou-se pelas salas semi-vazias, fazendo eco.
- Quem é esse tal de Apolinário Celestino?

Perguntou com curiosidade e segurou a mão queimada entre o tecido da saia.
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Leticia


- Alguém muito, muito perigoso, pois ainda não sabemos o que ele quer. É uma forma de nos deixar confusos e não sabermos qual o seu próximo passo. Essa é a primeira vez que ele se mostra de fato. Eu o espionei, infelizmente não a tempo de descobrir o que ele realmente planejava. Descobri um plano dele, aparentemente para assassinar o prior. Mas era algo que ele sequer colocou em prática. Era um ardil para nos despistar, talvez. E ele estava tão perto... Ele trabalhava havia mais de três anos nas imediações da Heráldica. Então, simplesmente ele sumiu novamente como se nunca tivesse existido.

Letícia conta a Maria mais detalhes sobre o sujeito que parece ser a mente por trás do crime que ocorreu na Babilônia.

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"Sabe o medo que algumas pessoas tem da escuridão? Às vezes ele é verdadeiro. Nunca negue seus instintos, pois eles não mentem."
Maria_madalena
Madalena ficou pensativa durante alguns momentos.

- Esse tal de Apolinário parece ser um homem ardiloso e cheio de recursos. Como o iremos descobrir? Não sei se o nosso prisioneiro saberá por onde costuma pairar esse homem.
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Leticia


- Essa também é uma resposta que eu gostaria de ter.Só uma coisa que está me inquietando. O Apolinário Celestino que trabalhava perto da Heráldica tinha uma aparência insignificante, voz baixa, era meio calvo, estatura baixa, era um sujeito que não chamaria a atenção de ninguém. Como ele poderia ser considerado uma figura angelical é um mistério. Talvez o que ele não tenha de aparência tenha de lábia e soube minar a mente desse sujeito doente. No momento tenho que me contentar em enviar uma carta para a França.

As últimas palavras de Letícia não tiveram um sentido claro para Madalena. Ela pediu que ela se sentasse, em uma cadeira próxima e ofereceu-lhe uma caneca de vinho.

- Aquele sujeito está a sua disposição se quiser vingar-se dele. Se não quiser ele irá encontrar a morte do mesmo jeito, é sua escolha. Não se se ainda vale arrancar alguma informação de mente tão perturbada.

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"Sabe o medo que algumas pessoas tem da escuridão? Às vezes ele é verdadeiro. Nunca negue seus instintos, pois eles não mentem."
Maria_madalena
- Não seria preciso muito para enganar aquele sujeito. Por desígnio natural ele já considera as mulheres da nossa condição indignas, merecedoras de castigo e morte. Talvez a mãe dele tenha sido uma de nós, talvez tenha sido rejeitado consecutivamente por mulheres. - Encolheu os ombros, retirando importância àquelas teorias. - Não seria necessária muita lábia para o convencer a matar uma de nós, é algo que faria de bom grado. E o juízo? O juízo perdeu-o faz tempo, esse tal de Apolinário não precisaria de ser bonito, nem possuir uma aparência adequada, bastaria sussurrar-lhe da forma certa, apelando-lhe aos medos e às mágoas.

Não percebeu porque Letícia enviaria uma carta para a França, mas não a questionou. A seu tempo receberia as respostas porque tanto ansiava. Bebeu do vinho que lhe foi oferecido e relaxou na cadeira, por instantes.

- A mente dele é tão instável que teríamos de ouvir horas e horas de conversa sobre anjos, inferno e pecado até ele dizer alguma verdade. Verdade que mal saberíamos reconhecer. O melhor é matá-lo.

Aquelas palavras soaram-lhe absurdamente normais e Madalena limitou-se a beber um pouco mais do vinho, erguendo o olhar para encarar Letícia.
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Leticia


- Que seja. Ele é todo seu.

Letícia disse e entregou um punhal de cabo de madre-pérola à Maria. Provavelmente sua pupila estava armada, mas não custava providenciar-lhe o necessário. Em seguida, Letícia separou papel para uma carta, pegou da gaveta um envelope, pena, tinta, além de um pedaço de cera vermelha que usaria para selar o envelope.

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