Assim que a sua senhora abandonou o quarto, Adelaide precipitou-se escadas a baixo e seguiu em direcção à cozinha pelo corredor dos criados. Aquelas pequenas trajectórias alternativas tornavam o trabalho de serventia muito mais célere. Ia um pouco preocupada, pois fazia tempo que a senhora Matilde andava cabisbaixa e o senhor Dinis carrancudo. Nas conversas de cozinha falava-se mal da senhora que, após 5 anos de casamento, ainda não dera um herdeiro ao senhor. Havia até quem afirmasse que a senhora não era acometida pelas regras. Adelaide sabia que tal não era verdade, crescera com Matilde e vira-a despontar e florescer como mulher. Contudo, permanecia calada, por respeito à senhora e à sua honra.
Maria, a senhora vai tomar o pequeno-almoço no alpendre! - exclamou assim que entrou na cozinha.
A gorda cozinheira resmoneou qualquer coisa que Adelaide não ouviu pois, no momento seguinte, estava já atarefada com a preparação do tabuleiro.
Ora... uma jarra de flores, a sua compota preferida, o pote do mel... que mais? - ia pensando à medida que trabalhava.
Toma rapariga, o chá de camomila da senhora. - disse-lhe Maria ao entregar a xícara que fumegava.
Adelaide pegou-a com cuidado e juntou-a aos restantes elementos que compunham aquele belo tabuleiro. Faltava apenas o pão escuro e coberto por sementes, cozido naquela mesma manhã, e a aia apressou-se a cortá-lo em finas fatias.
Satisfeita com o resultado do seu trabalho, dirigiu-se para o alpendre onde Matilde já estaria.
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